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Este é o lugar onde a história começa. Winterfell, é gótica. Suas senhoras e senhores gostam de visitar as criptas, de vestir-se com roupas escuras, de andar com lobos e rezar para suas árvores pagãs. E ali estão eles, a 630 milhas do perigo conspícuo, cientes, atentos, resolutos. Em alerta para a chegada do fim do mundo.

Bran e Jon

Todos os sentimentos que você criou por Game of Thrones ou As Crônicas de Gelo e Fogo, começam neste lugar. Seu bosque sagrado, milenar. Suas torres em pedra, tão velhas quanto a história dos reinos. Os barulhos das atividades no pátio, onde as crianças treinam, correm e seus pais os observam com amor e cuidado, cheio das expectativas mais absurdas para cada um deles. A aspereza de um mundo antigo, em uma primeira vista, tão diferente do nosso. E no mesmo compasso das sutilezas descritas, somos despertos: O inverno está chegando. São as palavras de um lorde pessimista, que veste roupas pesadas, que exibe uma espada grande demais para ser utilizada, e por isso cada gesto e escolha que ele faz, parece levar com ele o peso de toda uma vida. Um homem que elevou o ideal de todas as grandes histórias de época que vieram antes.

Eddard Stark era um senhor de olhar triste, e ainda afetuoso. Me lembro desta passagem de ‘A Guerra dos Tronos’, quando Bran o descreve: “Tirara a cara de pai, pensou Bran, e colocara a de Lorde Stark de Winterfell“. Catelyn, era diplomata, astuta, orgulhosa. Todos os seus filhos vivos são seus espelhos. Ned tinha um segredo que não podia confidenciar a ninguém. Catelyn, em sua última jornada, colecionou os seus. E, todos esses anos mais tarde, os seus filhos seguem suas vidas, com roupas pesadas demais, e outras histórias impossíveis de ser contadas. E todos retornam às criptas, para confidenciar no escuro, o que ninguém imaginaria escutar.

Jon e Arya

Catelyn Tully e Ned Stark parecem, na teoria, retratos indeléveis de Winterfell. Ainda assim, na reta final de suas vidas, descobrimos que ainda havia muito mais ali do que conseguíamos ver. E se você passou tempo suficiente na linha de história que se seguiu, assistiu suas escolhas ecoando pelo mundo.

Se a história começasse hoje, se essa que vemos agora fosse a 1ª temporada de Game of Thrones, como as crianças que vivem no castelo pensariam em seus senhores? Em Arya, uma Mulher Sem Rosto, assassina treinada em terras estrangeiras. Em Sansa, que casou-se duas vezes, com homens terríveis, se livrando dos dois para sempre, com venenos e festim de carne humana. Em Bran, uma entidade milenar que invade corpos. Em Jon, que morreu e ressuscitou, lutou mil batalhas, viveu amores e inimizades impossíveis. Será que esses segredos permaneceriam escondidos abaixo de peles grossas, e olhares distantes?

Quando mais penso nestes personagens, mais tenho a sensação de que este é um mundo de infinitas possibilidades. Um ciclo de histórias muito poderoso, que reúne tantas milhões de pessoas ao redor da TV todos os anos. Por isso, não acredito em um personagem me dizendo que não há mais tempo para que essa infinitude seja contada.

 

“Não temos tempo pra isso”

O gesto de Jon ao ver Bran, o beijo. A maneira como Arya corre ao encontro do irmão, o orgulho ao exibir Agulha intacta. Arya conhecendo Garralonga. Como queríamos vê-los juntos. Ah, uma Targaryen em Winterfell. Há tanto a ser dito uns aos outros.

Quase todos principais críticos de TV apontaram durante esta ideia durante a semana: Game of Thrones está mais interessada em finalizar a história do que em contar a história. Ao ler o parágrafo acima, não parece ser o caso. Mas mesmo na superfície nos alicerces da trama, é fácil perceber que algo está errado.

O órfão em Winterfell

Se Westeros foi invadida por seres mágicos movidos pela morte e devastação, se a Muralha caiu, qual a diferença da Westeros antes disso para Westeros de agora? A quem os outros reinos respondem? Se o inverno chegou, onde está a neve e a escuridão, que eram mais intensos quando Stannis ainda tentava salvar o mundo? Não temos ideia sobre como Theon conseguiu resgatar sua irmã. Não sabemos nada sobre como são as viagens de Daenerys através do continente que ela deseja governar. Não temos a história sobre como o povo de Cersei se preparou para o inverno que começou a ser anunciado há oito anos. Após a passagem do Alto Pardal, e a destruição de uma religião, qual o legado da Guerra dos Cinco Reis em Porto Real, no funcionamento da cidade? Vemos um personagem declarar que ele vai fazer algo e, da próxima vez que o encontramos, ele terá feito isso sem que nenhuma questão narrativa importe. Onde estão os imprevistos dos caminhos que levam a um mesmo castelo?

Sansa enviou uma criança para o castelo mais próximo da invasão, e esta criança morreu. Isto não é imprevisto, é imprudência.

Quando há algum tipo de situação lúdica que conte algo novo, todo tipo de lógica interna é esmagado para que a questão seja resolvida rapidamente. Quando Robb Stark precisou passar com seu exército por um lugar e, para isso, teve que assinar um contrato de casamento, esta era uma história. Quando o luto de uma criança era tão perturbador que ela pegou um barco, fugiu, e se vestiu com a própria morte, para só então voltar para casa, esta era uma história. Ou quando Tyrion Lannister foi preso em uma emboscada e levado para o castelo inexpugnável, fazendo alianças improváveis no caminho para se livrar de seu destino, esta era uma história.

Todos esses caminhos foram trilhados há muitos anos. Mas voltar para casa deveria ser mais difícil do que sair dela. Estamos correndo da história, ou em direção a ela?

O povo do Norte correndo dos dragões

Em mais um exemplo, sabemos através de diálogos simples e deliberadamente inocentes que Daenerys sente-se muito feliz na companhia de Jon Snow. Também sabemos que ela se ressente pela falsa cortesia de Sansa Stark. Mas quem realmente gosta de Daenerys não poderia se importar menos com isso. Daenerys é a Mhysa. Sua missão é com o povo, não com grandes senhoras em grandes vestidos. Desde os pescadores, plebeus e pequenos senhores das Terras da Coroa, até as orgulhosas crianças no Norte. A Daenerys de Emilia Clarke é doce, sentimental, principesca. Em muitas fases, é o oposto da personagem dos livros. Mas é cheia de força, e sua beleza e ruína estão por toda parte, em tudo o que ela faz. Sua campanha por liberdade e justiça é o coração da história. É impossível olhar para ela com desdém. Deveria haver o menor traço de curiosidade sobre sua presença, sua vida pregressa. Mesmo que cause raiva, medo e intolerância, sua chegada a Winterfell merecia ser ainda mais ensurdecedora.

Daenerys Targaryen

Na 5ª temporada, Dany encontra pessoas crucificadas ao longo do caminho pela Baía dos Escravos. Em resposta, ela crucifica 163 homens que traficavam escravos em Meereen. Na mesma temporada, Dany alimenta um escravagista para seus dragões quando os Filhos da Harpia matam Barristan e os Imaculados. Na 6ª temporada, Dany queima os khals vivos. Todas essas tramas fazem parte da retórica sobre o poder. Queimar os Tarlys foi algo terrível, mas Daenerys já fez sacrifícios ainda mais dantescos. Eu gostaria de ver Daenerys ser verdadeiramente temida. Se é para ser desagradável, seja.

Mas veja, eu acredito que esse anti-clímax seja intencional. É claro que ela será amada. Mas o que terá que fazer para tal?

“Eu queria aqueles elefantes”

Lena Headey, sempre entre os talentos mais fortes da série, abraçou a vilã que incomoda até ela mesma. “Você pode ser o homem mais arrogante que já conheci“, ela diz a Euron após se deitar com ele. “Eu gosto disso”.

Cersei em seu espetacular novo figurino

Em entrevista com a Entertainment Weekly, Lena Headey disse que não concordou em ter Cersei e Euron como parceiros sexuais, sentindo que ela não se rebaixaria a este nível, e que só fez sexo com duas pessoas a vida inteira, o rei Robert e seu irmão Jaime. Ela disse que os showrunners Benioff e Weiss tiveram que gastar muito tempo argumentando que a personagem faria qualquer coisa para sobreviver. Lena se esqueceu que teve relações com Lancel, verdade seja dita. E a personagem original de Martin flertou e teve relações com homens e mulheres, ora por tédio, ora por política. Independente disso, é interessante como a cena com Euron reflete a incerteza da atriz. É uma cena feita para incomodar, e consegue.

Desde a temporada anterior, tenho achado interessante que Cersei não comente sobre os dragões de Daenerys. Cersei tem essa peculiar mania por fogo, destruição, monstruosidades. Gostaria muito de ver espaço para que isso seja desenvolvido nestes últimos capítulos.

Um quadro feio: Grávida do bebê de seu irmão, sozinha, alcoólatra, e com um último motivo para viver, mesmo que esse motivo se anule se a profecia de Maggy a Rã estiver correta (e se realmente lemos a profecia com o cuidado suficiente). Cersei tem tudo pra ter um arco final surpreendente.

Quando Harry Strickland fala sobre ter perdido homens no caminho, e não poder trazer seus elefantes, pensei em um primeiro momento que Varys, Daario ou Tyrion pudessem ter sabotado sua viagem. Tyrion no entanto realmente parece estar em outro momento.

Sansa está certa, ele sempre esteve um movimento à frente. O que aconteceu?

“Lutar pelos Starks”

O que está morto não pode morrer.

Com o tempo, a estreia revela o paradeiro de personagens incluindo Theon (Alfie Allen), Yara (Gemma Whelan), além de Tormund (Kristofer Hivju) e Beric (Richard Dormer) e várias das figuras que estavam na Muralha quando Viserion transformado aniquilou um dos pilares da civilização.

As cenas com Euron e o resgate no Silêncio são problemáticas por inconsistência, mas o diálogo dos irmãos Greyjoy é muito bonito. Ambos ótimos atores, se entreolhando com muita verdade e beleza. A certeza que Theon precisa voltar ao Norte para lutar pelos Starks é quase engraçada, porque na teoria ele sequer é necessário ali. Há muita gente para ajudar, e ele não tem relação com ninguém. Mas na prática, ele tem motivos para lutar, mesmo que ninguém se importe. Um reencontro dele com Bran teria condições de ser interessantíssimo, como monólogos internos do personagem nos livros, perambulando ao redor do represeiro.

Além disso, a cena com Yara tem ares de despedida. Ele sabe que não há outra pessoa que Robb queria a seu lado na guerra. E agora ele poderá lutar, nem que seja pela última vez.

A minha parte preferida da cena em Última Lareira são os audíveis ventos de inverno. Depois disso, os gritos soando antes que muitos percebessem o que havia errado ali. Que cena impressionante. Quando Game of Thrones faz terror, ela é certeira.

A história da Casa Umber na série é bastante arrevesada. Greatjon Umber é icônico na 1ª temporada. Smalljon mancha a memória do pai ao se aliar aos Boltons, eliminando Rickon com covardia. Nunca superamos isso. O pequeno Ned (Harry Grasby) era uma promessa muito bem-vinda até que deixa de ser. Sua presença em Winterfell foi muito interessante, e sua cena no começo do episódio muito espirituosa. Em vários núcleos vemos esses personagens muito jovens carregando sozinhos o legado de suas Casas. Arryn, Mormont, Karstark. Que desconsolo ver a morte de mais uma criança, quanta tristeza.

O episódio consegue desenhar um bonito tecido ao mostrar o árduo trabalho de preparação em Winterfell, com a chegada de Daenerys e a preparação das armas, valas e catapultas (além da curiosa argamassa de vidro de dragão).

Cada um dos personagens parece estar preparado para o que está por vir. Mesmo que isso condense suas próprias individualidades, como a de Arya.

Sua cena com Gendry é açucarada, assim como foi parte das cenas de Arya na 7ª temporada.

Mas o encontro que a personagem tem com Clegane é a cena mais difícil do episódio pra mim. Entendo que tenha sido um espelho de diálogos antigos, e que ambos possuam problemas severos de traquejo social. Mas Sandor, você está na casa dela.

A simplicidade de algumas falas são muito evidenciadas quando combinadas com o espetáculo visual que a equipe técnica da série proporciona. Além disso a própria estrutura da história idealizada por George R. R. Martin é um convite para que, constantemente, busquemos desvendar cada centímetro da história. Dizer que Daenerys é a única chance, por exemplo. Isso é óbvio. Para que andar em círculos com isso? Se Sansa é tão inteligente como Arya diz, porque não traçamos um caminho para que ela descubra isso em seus próprios méritos, sem a bengala do diálogo expositivo?

Toda hora esse texto sobre alguém ser a pessoa mais forte ou a pessoa mais inteligente.

“Poderíamos ficar aqui por mil anos”

Arya Stark

A cena mais bonita do episódio é a primeira. O desfile de personagens entrando em Winterfell a cavalo, cada um deles passando por Arya, escondida sem ser notado na multidão. Sua curiosidade pelo mundo é uma das coisas mais bonitas que a história contou. Ela expressa tanto, mesmo com tão pouco. Aqui está a cena que Dave Hill acertou.

Então temos a rainha Daenerys  e seu sobrinho Jon Snow  chegando em Winterfell, alimentando Sansa com uma justificada insegurança e todos os outros personagens com uma espécie de demanda final.

O exército de Daenerys

O confronto velado entre a Senhora de Winterfell e a Rainha Targaryen dá o tom de tudo o que é indigesto no episódio. Não há como alimentar a todos os que acabam de chegar ao castelo. Mesmo se ninguém chegasse, talvez não houvesse como. Na 5ª temporada, a falta de suprimentos é o principal fator que leva Stannis à queda, moral, física, espiritual.

No conselho de Winterfell temos os melhores: Tyrion que foi mestre da moeda, Varys sempre soube de tudo o que acontece em Westeros e além, Davos que viveu na miséria e tem conhecimento em comércio e negociações. Por que não têm opinião sobre isso? Esta dinâmica não é justa estes personagens, que se limitam a comentar sobre casamentos, e piadas com pênis. Mas gosto de Varys. Comento sobre isso no final.

Jon e Daenerys podem ser imprudentes o quando for necessário, são jovens, cheios de ego e paixões, renasceram para estar aqui. Mas espera-se mais dos velhos sábios. Eles fizeram essa história acontecer.

Tyrion entre Sansa e Daenerys

É como se Tyrion tivesse desaprendido a calcular o jogo a partir do momento que passou a ser respeitado por alguém que ama. Dado o completo fracasso de seu governo na ausência de Daenerys em Meereen, e ainda assim ganhar o cargo de mais alta confiança da rainha, é notável que algo mudou dentro dele. Antes, Tyrion não tinha permissão de errar. E este constante estado de culpa e miséria o fazia desafiar a família que o esmagava, em um clássico caso de tortura emocional. Ele era bom, porque sua mente e língua eram as coisas que podia usar para se fazer presente. Apenas viver não era o suficiente.

Me pergunto se, nas batalhas que estão por vir, Tyrion poderia retornar ao estado de completa engenhosidade como fez em Água Negra.

Outro questão que o episódio levanta são variadas pessoas que agora são Winterfell. No começo a história, Winterfell basta em si. As pessoas que servem aos Starks são pessoas que sempre estiveram ali. Mikken, Luwin, Jory e Rodrik Cassell, Mordane. Mas agora vemos Tyrion, Sandor Clegane e Brienne de Tarth, que vieram do sul, para protegê-los. Winterfell agora é a casa de todos.

Sansa, Jon, Daenerys e Tyrion

Dave Hill omite do texto o fato de Dany ter prometido ajudar Jon na guerra contra o Rei da Noite antes que ele dobrasse o joelho. Em sua conversa com Sansa, Jon não esclarece para a irmã com argumentos claros como Daenerys poderá ser uma boa rainha. Se esta é a mulher que ele ama, gosta e quer bem, e ele teve semanas ou meses de viagem para pensar no que dizer. Por que então as palavras parecem não fazer justiça à realidade? Daenerys arriscou sua vida e seus dragões, e perdeu um de seus filhos para salvá-lo. Apenas depois deste gesto, Jon resolveu dobrar o joelho.

“Ninguém sabe, até montar um.”

Ambos personagens passaram por jornadas espirituais inimagináveis. Mas no episódio, seus diálogos foram muito simplificados. É como se não houvesse mais o que ser dito. Há tanto a ser dito.

O romance entre Daenerys Targaryen e Jon Snow está condenado, e isto é evidente. O mundo está acabando e suas interações são quase irresponsáveis. Pra mim está claro que algo terrível irá acontecer, e quando acontecer, ficaremos muito confusos ao perceber que não foi justo. Que queríamos tê-los juntos. Que queríamos vê-los felizes.

Mesmo que este seja o caso de duas pessoas muito jovens que estão apenas dançando nos portões do fim do mundo, gritando para o abismo, experimentando uma falsa liberdade juntos. Suas cenas sugerem que esta é a melhor experiência amorosa que já tiveram. Como qualquer tragédia shakespeariana, a ideia é a completa imprudência em detrimento da natureza do sentimento. Jon não sabe nada sobre Daenerys, e Daenerys não sabe nada sobre Jon. E eles não parecem interessados em descobrir. Tudo aqui é construído em diálogos jamais filmados e aqui temos mais uma história que não está sendo contada. Mas que muito provavelmente será sentida no final.

Daenerys não tem opinião alguma sobre Westeros, exceto sobre Pedra do Dragão não tê-la agradado, e o Norte ser belo. Todos ao redor de Jon acreditam que ele tem mais qualidades do que a filha da Aerys. E ela continue expandindo o mundo de Jon de maneiras que eles jamais imaginou, mesmo sendo uma das pessoas que mais tiveram coragem de desbravar o mundo.

Jon e o dragão nomeado em homenagem ao próprio pai.

Este é um episódio em que Jon Snow está cercado de afeto. Apesar dos confrontos com Sansa e os nobres, outros personagens distribuem generosos sentimentos. Jon acostumou-se a impôr o que pensa. Morreu por isso, afinal. Há algo nele que sabe que voltou à vida para que pudesse continuar a lutar. Gostaria muito de ver como esse tipo de pensamento ecoa dentro dele, como se vê após encarar o assustador vazio da morte, e onde sua relação com os velhos deuses se alinha dentro de todas essas questões. Quando ele olha para a árvore, o que pensa?

No vídeo especial para a HBO, David Benioff implica que apenas Targaryens podem montar dragões. Por qual motivo o produtor da série estabelece esse tipo de regra na história? Daenerys convida Jon a montar, logo, nem ela sabe desta regra. Dinastia, ancestralidade e legado são temas centrais em Game of Thrones, justamente porque estamos constantemente discutindo se o sangue de uma pessoa define seu valor. A série, desde o começo, nos convida a conversar sobre o que faz um bom líder. Jon Snow sempre foi este homem que excedia valores e humanidade, como nenhum outro, um governante corajoso e carismático. Então porque o produtor da série se apressa em consagrar o sangue de uma pessoa como o ingrediente que define quanto poderosa ela pode ser?

Nos livros de Martin, ao que tudo indica, você também precisa ter sangue valiriano para montar um dragão. No entanto, os horizontes dos livros são mais largos, e temos centenas de milhares de pessoas nas Cidades Livres que poderiam fazer fila para experimentar um, afinal, o império valiriano existiu ali. Em Westeros, muitas sementes de dragão criaram vínculos especiais com as mais belas criaturas.

Seu sangue define o que você é capaz de fazer no mundo? Sim. No caso de grande parte dos reis Targaryen, foi usado para perpetuar práticas de eugênia que justificavam o abuso de pessoas especialmente mulheres. Por que definir algo que é tão melhor quando é apenas um discurso?

“O Sexto de Seu Nome”

No episódio 1.02 ‘The Kingsroad’, Ned promete a Jon que “da próxima vez que nos virmos, falaremos sobre sua mãe, eu prometo“. No episódio desta semana, Jon olha para a estátua de Ned nas criptas de Winterfell; Naquele momento, Sam chega para responder à pergunta de Jon.

Eu não acho que, para o personagem, a informação importante seja sua legitimidade como rei. A minha parte preferida da história é descobrir que ele foi gerado por Lyanna. Que era amado, esperado, como todos os outros Starks. E que seus pais eram lunáticos varridos. Esta é a essência de Jon. O segredo e os desdobramentos sobre a rebelião do Robert também são fascinantes, eu sei. A discussão sobre o trono não é, para mim, tão interessante agora.

Deixei Sam para último, porque acho que foi a cena que mais me deixou pensando durante a semana. A questão que mais me fascina é a sobreposição entre o que Sam sente em relação a família, e o que Cersei sente em relação a família. Enquanto Cersei invoca as armas de Joffrey e contrata Bronn para assassinar os irmãos, Sam se quebra quando a violência do mundo atinge aqueles que ele considerava mais fortes que ele.

Esta foi uma atuação muito interessante, mais uma sequência de pequenos súbitos de raiva que Sam demostra desde a temporada passada. Ele roubou a espada, os livros, deixou um sentimento de ódio genuíno florescer. Essa é uma das poucas partes da história que continuam germinando. Estou ansiosa para ver a atuação do personagens nestes derradeiros episódios.

Se, como muitos acreditam, ele será um dos escritores desta história, sua relação estranha com Daenerys demonstra os lados que inevitavelmente tomará, assim como Gyldayn, Yandel, e tantos outros. Interessantíssimo.

Eu jamais concordei com o ideário de jornalistas que colocam os episódios de estreia de Game of Thrones em caixas como “episódio que reordena os personagens no tabuleiro”. Que profunda preguiça disso. Mesmo quando se trata disso, acho esta descrição pouco sólida. Neste episódio, por exemplo, demos boas risadas, presenciamos várias hostilidades e escaramuças verbais bem merecidas, além de algumas revelações, encontros e reencontros que esperávamos há muitos anos. O episódio foi um literal desfile de pequenos prazeres, com um bom punhado de emoções, um bom susto e dramas pontuais temperados (alguns doces demais ou amargos demais).

No entanto, é possível perceber que, no conceito, muitos personagens voltaram para ao ponto zero neste último ato. Ninguém ouve Tyrion, e ele terá que se provar. Jaime tem que prestar contas pra um Stark, e ele odiará cada segundo. Daenerys precisa conquistar uma população inteira e provar seu valor. Sansa é soberba sim, mas foi ensinada pela vida a garantir o que lhe é de direito, e lutará por isso. Arya se sente mais a vontade entre o povo do que em trajes finos na mesa de jantar. Clegane é arrogante e uma triste figura, que perambula em busca de servir por servir. Davos é um agregado. Cersei esconde um segredo sobre um filho.

A melhor fala do episódio é a declaração de Varys de que os jovens usam o “respeito” como um mecanismo para manter os mais velhos afastados, “para que não os lembremos de uma verdade desagradável: nada dura“. É uma ótima frase, é talvez a melhor fala escrita para o episódio. Não concordo com ela, e gosto da provocação. As coisas duram sim, caro Aranha. Olha como os filhos da Casa Stark estão dando continuidade ao legado dos pais. Esta é uma casa que sobreviveu a tanta coisa. Como disse Meistre Aemon:

O fogo consome, mas o frio preserva.
(O Festim dos Corvos, capítulo 26)

 

NOTAS FINAIS

Sansa, where is Arya?

E mais dos principais callbacks do episódio, aqui.

– É muito interessante comparar Daenerys sendo vendida e Daenerys escolhendo como viver sua vida. Recomendo.

– Também é interessante comparar Arya e sua relação com dragões.

– Richard Dormer revelou que Beric Dondarrion profere um feitiço para sua espada antes de acendê-la. É um termo em alto valiriano, para “luz do senhor“. Escreve-se “āeksiō ōños,” e pronuncia-se “assundeh-oh.”

Compare as localidades das cenas de abertura, antes e depois.

Perceberam o homem preparando uma espécie de pasta de vidro de dragão?
A obsidiana do nosso mundo não se comporta como a obsidiana de Game of Thrones, e, possivelmente, e nem com a de As Crônicas de Gelo e Fogo. Não há informações sobre os Primeiros Homens utilizares armas feitas de vidro de dragão, apenas o bronze. Isso porque o material usado pelas Crianças da Floresta não é tão maleável, e provavelmente por isso, apenas adagas rústicas são conhecidas na história dos livros. Mas… é magia!

– Eu não só acho que o figurino da Daenerys é uma homenagem as árvores-coração, como também nos faz recordar de ilustrações da personagem Val, dos livros.

– Uma fala foi cortada da cena do vôo dos dragões, mas pode ser ouvida no episódio “Game Revealed” dos bastidores deste episódio. Após Jon desmontar de Rhaegal e dizer “Você arruinou completamente os cavalos para mim“, ele originalmente fala “parecia que ele sabia onde eu queria ir“. A fala cortada deixaria óbvio que Jon tem algum tipo de vínculo especial com o dragão.

– George Lucas visitou os estúdios de filmagens na cena em que Daenerys e Jon conversam no pátio antes da cena do vôo:George Lucas Game of Thrones

– Há um erro de continuidade quando Daenerys está chegando em Winterfell: entre diferentes cenas (aparentemente filmadas em dias diferentes), seu cabelo muda entre ter uma trança dupla em volta de sua cabeça e um coque mais complexo:

– Na cena do resgate de Yara, três dos homens derrubados por Theon são conhecidos da audiência. Um é  Rob McElhenney de It’s Always Sunny in Philadelphia. O outro é o comediante Martin Starr. E o último é Dave Hill, roteirista do episódio.

 

Faltou algum detalhe no texto? Sabemos que vocês são sempre afiadíssimos. Divida com a gente nos comentários suas impressões.


E escute nosso podcast sobre o episódio.

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Análise do Episódio 7.07: "The Dragon and the Wolf" (Season Finale) https://www.geloefogo.com/2017/08/analise-do-episodio-7-07-the-dragon-and-the-wolf-season-finale.html?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=analise-do-episodio-7-07-the-dragon-and-the-wolf-season-finale https://www.geloefogo.com/2017/08/analise-do-episodio-7-07-the-dragon-and-the-wolf-season-finale.html#comments Fri, 01 Sep 2017 02:55:00 +0000 http://www.geloefogo.com/?p=41199 Certa vez, Tywin Lannister disse que a família é a única coisa que sobrevive ao homem. O legado é tudo, […]

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Certa vez, Tywin Lannister disse que a família é a única coisa que sobrevive ao homem. O legado é tudo, e esse parece ter sido o tema recorrente da sétima e penúltima temporada de Game of Thrones. Escrito por David Benioff e D. B. Weiss, o episódio exibido no último domingo brincou com essa ideia ao colocar irmãos que se odeiam frente a frente e irmãs que (aparentemente) se odiavam, lado a lado. Enquanto algumas dessas relações parecem ter atingido um ponto de ruptura, outras se fortaleceram, e algumas se tornaram ainda mais complicadas, mesmo não sendo ligadas pelo sangue.

Do nascimento de Viserion, Rhaegal e Drogon à devastadora explosão do Septo de Baelor, todos os season finales podem ser considerados experiências memoráveis, mesmo quando não são carregados de sequências épicas de batalha. Esse foi o caso de “The Dragon and the Wolf”, que teve seus 80 minutos sustentados pelo diálogo, pelos vínculos e confrontos estabelecidos entre os personagens. De uma forma ou de outra, a série sempre conseguiu encerrar as temporadas da maneira que nós esperávamos: com um enfático ponto de exclamação.

Ao longo dos últimos sete episódios, David e Dan vieram alimentado nossas expectativas com relação ao inevitável choque entre Jon, Cersei e Daenerys — três forças opostas no lado dos vivos, lutando entre elas enquanto os mortos marchavam inexoravelmente rumo aos Sete Reinos. Muitos acreditavam que o primeiro encontro da tríade fosse acontecer no campo de batalha, e estou feliz que isso não tenha acontecido. Além de educativo, observar os movimentos das diferentes peças no grande tabuleiro (representado aqui pelo Fosso dos Dragões) foi pura diversão.

Tivemos muito o que desfrutar nas reuniões de Tyrion com seus antigos companheiros Podrick e Bronn (que já tinha ajudado o anão ao acertar detalhes do acordo com Jaime). A interação entre Sandor e Brienne também foi aprazível, especialmente pelo fato de eles terem encontrado um terreno comum em Arya (que, ao possibilitar esse diálogo, deu sua maior contribuição à temporada). E por falar no Clegane, as ameaças que ele disparou contra o irmão sugeriram algo que os fãs esperaram por muito tempo: #CLEGANEBOWLCONFIRMED. São momentos satisfatórios como esses que fazem os acelerados desfechos da história valerem a pena.

A tensão inicial provocada pelo atraso de Cersei (vocês lembram o que aconteceu quando ela se atrasou para o próprio julgamento), e pela eventual chegada de Daenerys, foi bem pontuada pelo diretor, Jeremy Podeswa. Esse sentimento nos levou às negociações iniciais, agravadas pelo fato de que quase todos ali pareciam levar a discussão a sério. Todos, exceto Euron, é claro. Porque é isso que Euron faz: piadas de anão e de eunucos.

Felizmente, Tyrion não se deixou abalar, afinal, ele nunca se esquece do que ele é. “Use isso como se fosse uma armadura, assim nunca poderão usar isso para te ferir”, lembram?

Todas as distrações da abertura foram postas de lado quando o Cão de Caça apresentou o wight. Um lance decisivo, que poderia ter sido facilmente menosprezado por Cersei — assim como a chegada da Mãe de Dragões que, como de costume, veio montada em um de seus filhos —, mas mesmo a rainha deixou a máscara cair quando a criatura correu até ela, provavelmente por medo do que aconteceria com a criança que ela carrega. Ainda assim, as reações de Cersei, Jaime e (especialmente) Qyburn soaram autênticas, e o crédito disso é tanto dos roteiristas quanto dos atores. Tudo foi encenado efetivamente para não deixar dúvidas de que os personagens estavam diante do perigo real.

O episódio parece ter concluído uma etapa ao transpor o singelo casamento de Lyanna e Rhaegar com a singela cena de sexo entre Daenerys e Jon (os dragões e lobos referenciados no título). Entretanto, este ciclo só é fechado adequadamente quando percebemos que “The Dragon and the Wolf” repercutiu os atos do primeiro protagonista da saga: Lorde Eddard Stark.

Embora a antiga Mão seja lembrada pela sua honra inabalável, existe uma falsa noção de que a ingenuidade dele foi o que levou à queda da Casa Stark — um argumento que cai por terra se analisarmos o legado de um homem mais inescrupuloso, como Tywin. Enquanto os leões foram desmembrados pelas guerras no Sul, os lobos se levantam no Norte. Ned e Catelyn criaram filhos que, como aço, podem dobrar, mas nunca quebrar. Filhos que terão um papel determinante no futuro de Westeros.

Contudo, é numa mentira que reside o maior ato de heroísmo do então Senhor de Winterfell, uma mentira que, para o bem ou para o mal, levou o principal herdeiro do Trono de Ferro à linha de frente da segunda grande batalha pela alvorada.

Ao contrário do pai, Jon Snow foi incapaz de contar uma mentira necessária para garantir a aliança com Cersei, que jogou sabiamente com a memória de Eddard, dizendo repetidamente o quanto ela confiaria na palavra de seu filho.

A irritação dos aliados de Jon é compreensível, por mais nobre e respeitável que o Rei do Norte tenha sido. O discurso de que palavras e juramentos devem significar alguma coisa fez jus ao alinhamento moral do personagem, que é um incontestável Gary Stu. Porém, esse idealismo contrapõe a realidade daquilo que ele tem lutado por tantos anos. Ideais não poderão deter a Longa Noite. Exércitos podem.

A integridade de Jon ainda serviu outro propósito. Esse ano, vimos as decisões táticas de Tyrion serem questionadas por todo mundo, dentro e fora da tela. Uma vez que Cersei descartou a possibilidade de enviar suas tropas para o norte, o “campeão dos oprimidos” teve a chance de brilhar. E ele brilhou — ainda que, no final, a negociação com Cersei tenha fracassado. A cena entre os irmãos foi, sem sombra de dúvida, a melhor de toda a temporada, e necessária por variadas razões. A química entre Peter Dinklage e Lena Headey é forte, e o encontro deles remeteu a várias discussões da época em que o Duende ainda servia como Mão de Joffrey na capital.

Se Cersei ainda suspeitasse do envolvimento do irmão na morte do filho, Tyrion certamente teria perdido a vida naquela sala (obrigado, Olenna). No fundo — bem, bem, bem lá fundo, eu ainda tive medo de que algo do tipo pudesse acontecer, visto que a rainha continuou a culpar o anão pela morte da mãe, do pai (da qual ele é realmente culpado) e, indiretamente, das mortes de Myrcella e Tommen.

No episódio anterior, Daenerys enalteceu o heroísmo dos homens com que ela se envolveu. Tyrion foi bravo ao enfrentar a mulher que tentou matá-lo uma dezena de vezes, talvez por ter enxergado neste ato uma maneira de provar a rainha dragão que ele também pode ser um herói. Sem falar ele era, de fato, o único qualificado para a tarefa. Nenhum outro membro do séquito de Dany conhece a inimiga como ele conhece. Não foi à toa que ele conseguiu descobrir a gravidez da irmã. Bem, na verdade, os produtores revelaram que Cersei levou Tyrion à descoberta. 

O que quer que tenha acontecido depois desse ponto, nós não sabemos. Sabemos que a infertilidade de Daenerys tem sido um problema frequentemente destacado ao longo da temporada. Dividir essa informação com Cersei pode ter dado a ela uma esperança de que seu filho possa, um dia, sentar no Trono de Ferro. Na Dança dos Dragões, foi o filho de Rhaenyra, Aegon, que sucedeu o tio (outro Aegon), mesmo depois que a mãe foi derrotada na guerra. Talvez Tyrion tenha oferecido Rochedo Casterly ao bebê, ou até à própria Cersei, mas qualquer promessa feita perderá o valor no momento que ela desonrar o acordo.

Além disso, se considerarmos a profecia de Maggy, a Rã, o filho de Cersei não deve chegar a nascer. A forma como o zumbi correu em direção à rainha pode ter sido um presságio sombrio para o bebê que ela carrega.

Eu não sei se discordo totalmente da atitude da Cersei. Mentir sob juramento não é nada legal, mas por que desperdiçar seus exércitos se ela pode usá-los depois para finalizar o inimigo que sobreviver à Grande Guerra? Quem quer que seja, certamente sofrerá grandes baixas e, se ela tiver alguma sorte, Daenerys pode perder mais um de seus dragões. Com os 20 mil homens, cavalos e elefantes da Companhia Dourada a caminho dos Sete Reinos, a filha de Tywin tem um grande trunfo nas mangas, sem falar na Frota de Ferro do Euron. Podemos até duvidar da lealdade destes aliados, mas não de seus números.

O fato de Cersei ter manipulado Tyrion e colocado Daenerys a frente do irmão na sua “kill list” mostra que ela está pensando estrategicamente, sem se deixar levar pelos sentimentos — o que, talvez, não possamos dizer de seus oponentes apaixonados.

O nome de Ned foi pronunciado a torto e a direito no Fosso dos Dragões, mas foi em outros lugares que ele ressoou mais alto.

Se existe alguém que conhece as dificuldades da lealdade familiar, esse alguém é Theon. Imaginem como deve ser nascer na mesma família de homens como Euron e então virar refém na casa de um dos homens mais honrados do Mundo Conhecido. Pedir perdão ao Jon não deve ter sido fácil, mas Theon teve a coragem necessária para tanto, ainda que esta tenha lhe faltado na noite em que Yara foi capturada.

O modo quase messiânico como Jon vem sendo retratado me incomoda um pouco. Além de ser o herdeiro do Trono de Ferro, o Último Herói, o Príncipe que Foi Prometido e, provavelmente, o futuro marido de Daenerys, o bastardo ainda é o cara mais honesto, digno e clemente de toda a série. A forma como ele ofereceu a Theon a absolvição que ele precisava para seguir em frente foi muito… plena e simples. O Greyjoy passou por muita coisa para que todos os seus conflitos fossem resolvidos de uma maneira tão polida. Eu queria ter visto Theon conversando com homens como Varys ou Verme Cinzento, que vivem na mesma condição que ele e, a despeito disso, são excelsos nos papéis que desempenham. Três episódios fazem falta!

Claro que a cena na Sala do Trono de Pedra do Dragão merece ser exaltada pelos desempenhos dos intérpretes. Poucos atores no elenco conseguem passar tanta emoção quanto Alfie Allen e, ainda que um pouco restrito nos primeiros anos da série, Kit Harington encontrou camadas em Jon Snow, camadas que lhe permitem parecer elevado e confiante, mas também capaz de oferecer uma empatia calma, mas firme, para o filho pródigo de Ned Stark.

No final, eu fiquei feliz de ver como o filho de Balon foi encorajado, fortalecido e (pelo menos um pouco) curado pelas palavras do irmão e pela determinação em resgatar a irmã. Na terceira temporada, em uma das sequências mais absurdas de toda a série, Yara tentou tirá-lo das garras de Ramsay, e agora ele quer retribuir o favor. Aqueles que jogaram o game da Telltale provavelmente se lembraram de Rodrik Forrester enquanto Theon, mesmo fustigado por Harrag, manteve-se de pé. Com toda a carga emocional do seguimento, eu não pude deixar de rir do chute “no saco”. Talvez tudo se resuma mesmo a pintos.

A história de Mindinho estava fadada a terminar como terminou. Nas últimas temporadas, o personagem foi pouco mais que um plot device utilizado pelos showrunners sempre que eles precisavam de alguém com tempo livre para atravessar o reino ou dar discursos enfadonhos sobre poder. Brincadeiras à parte, Petyr Baelish foi, talvez, o jogador mais experiente no jogo dos tronos e, diferente do Theon, nunca sofreu consequências pelos atos terríveis que cometeu. Como todo bom manipulador, ele foi derrubado pelo excesso de autoconfiança.

Mindinho sempre soube como ler pessoas, e usou esse talento ao longo dos anos para fazer estragos em nome do seu próprio benefício (o caos é uma escada). Sejamos honestos: se você vai jogar esse jogo em particular, você não pode duvidar de si mesmo. A confiança de Petyr na sua habilidade de manipular o ajudou em muitas ocasiões, mas também o impediu de perceber quando seus esforços estavam falhando.

O cara não foi capaz de colocar Sansa contra Arya, como fez com Lysa e Catelyn no passado, e esse insucesso monumental foi o que levou ele a morrer da mesma forma que sua amada. A morte de Mindinho também marcou pontos por dar continuidade ao principal tem dessa temporada. Assim como Daenerys e Jon, as irmãs Stark, com a ajuda quase onisciente de Bran, representam a nova geração condenando e evitando os erros da geração anterior. Adequadamente, em um episódio que centra o legado de Ned Stark, vimos justiça ser levada ao seu traidor.

O arco de Winterfell foi, definitivamente, o mais fraco de toda a temporada. A rivalidade entre Sansa e Arya, por mais justificável que fosse em seu conceito, foi trabalhada de maneira preguiçosa e desnecessária. No Inside the Episode, D&D se mostraram empolgados com a ideia de surpreender a audiência, revelando que tudo não passava de uma farsa para enganar Mindinho. Em uma entrevista recente, o ator Isaac Hempstead-Wright revelou que teve cenas cortadas e que, em uma delas, Sansa pediu ajuda de Bran (possivelmente, para lidar com Arya). Com essas informações, fica difícil saber se Arya representou de fato algum perigo para a irmã, ou a partir de que momento elas deixaram de ser “inimigas”. A prédica de Mindinho sobre esperar sempre o pior parece ter sido fundamental para virar Sansa contra ele, mas sem uma cena para servir como “cola” entre este momento e o julgamento no Grande Salão, jamais poderemos ter certeza.

Embora a intenção dos produtores tenha sido mostrar como Sansa conseguiu superar o seu “mestre”, ela não fez nada que demonstrasse isso de maneira categórica. As únicas evidências apresentadas contra Mindinho foram as visões literalmente mágicas de Bran, que nenhum dos presentes poderia confirmar ou negar. Suponho que devamos contar com o que ela fez fora da tela, não é mesmo? Como diabos isso pode ser certo?

Por mais ignóbil que o enredo tenha sido, ver Mindinho implorar e chorar como a própria Sansa fez diante de Joffrey em “The Pointy End” foi incrivelmente gratificante, e uma oportunidade fantástica para Aidan Gillen, que se superou ao mostrar um lado do personagem escondido para nós por sete anos. É uma pena que esse momento tenha custado tanto para os personagens, que acabaram virando paródias de si mesmos, tudo para que nós tivéssemos um plot twist que nunca pedimos (e que, diga-se de passagem, não surpreendeu quase ninguém no final).

Sansa ainda pode acreditar que Arya é “estranha e irritante” (e eu concordo), mas o vínculo familiar entre elas persistiu. O momento compartilhado por elas nas muralhas de Winterfell foi uma rima visual com aquele que vimos em “The Winds of Winter”, onde Sansa observou Melisandre partir de pé naquele mesmo lugar, com Jon. Uma cena consoladora em um núcleo que mergulhou de cabeça na catarse para emergir com as mãos vazias. Game of Thrones pode tropeçar no desenvolvimento de tramas maiores e mais complicadas, mas ainda sabe como vender esses momentos um a um que, depois de tantos anos, continuam sendo a força vital da série.

A frase dita por elas sobre união e inverno foi a mesma dita por Ned no episódio “Lord Snow”.

Também em Winterfell, com a esperada chegada de Samwell, vimos, pela primeira vez, a série tocar diretamente os detalhes da linhagem sanguínea de Jon.

Como Theon, Jon é um Stark e outra coisa além. Sua descendência Targaryen pode ser essencial para os futuros desdobramentos da trama, mas independente da herança que este sangue lhe traga, Jon ainda será um homem que honra seus juramentos, e nós vimos ele “dobrar o joelho” para a tia (ele até assinou a carta enviada para Sansa como “Protetor do Norte” em vez de “Rei”). Eu espero que a verdade cause um certo atrito entre ele e Daenerys — principalmente se os dois permanecerem como um casal — mas é difícil acreditar que Jon, como o herói relutante que é, chegue a reivindicar pessoalmente qualquer direito ao Trono de Ferro.

A revelação em si foi um pouco anticlimática, já que a série tinha confirmado essa informação anteriormente através da Gilly, que além de ignorada, ainda teve o crédito da descoberta roubado pelo Sam. E enquanto a expectativa de ver o próprio Jon saber a verdade nos mantém intrigados, é difícil imaginar como isso pode ser trabalhado satisfatoriamente nos seis episódios que restam.

Não há, efetivamente, nenhuma prova real da verdadeira filiação de Jon. O único homem vivo que sobreviveu aos eventos na Torre da Alegria é o pai de Meera, Howland Reed, que a série ainda pode introduzir na última temporada, se tiver tempo. Sinceramente, eu só espero que não inventem uma certidão de nascimento autenticada perdida entre os documentos do Meistre Luwin.

Especialmente incômoda foi a escolha de revelar a verdade sobre Jon em um voiceover, sobrepondo a cena onde ele e Dany consumaram sua relação incestuosa. O flashback que mostrou a cerimônia secreta do casamento de Rhaegar e Lyanna foi muito bem encaixada na montagem emplacada por uma das mais belas faixas compostas por Ramin Djawadi, apropriadamente chamada “Truth”. O cara é uma lenda.

Muitos reclamaram da caracterização simplória de Rhaegar, mas eu o achei bem fiel à aparência dos outros Targaryens, principalmente Viserys, que teve a semelhança com o irmão explicitada nos livros, quando Daenerys confundiu os dois em uma visão no Palácio de Poeira.

Seu primeiro pensamento, na vez seguinte em que parou, foi Viserys, mas um segundo olhar fez Dany mudar de idéia. O homem tinha os cabelos do irmão, mas era mais alto, e seus olhos eram de um tom escuro de índigo, e não lilases.

– Aegon – ele disse para uma mulher que amamentava um recém-nascido numa grande cama de madeira. – Que nome seria melhor para um rei?

– Fará uma canção para ele? – a mulher perguntou.

– Ele já tem uma canção. E o príncipe que foi prometido, e é sua a canção de gelo e fogo – ergueu o olhar quando disse aquilo, e seus olhos encontraram os de Dany, e pareceu que a via ali em pé através da porta. – Terá de haver mais um – ele disse, embora Dany não soubesse dizer se estava falando para ela ou para a mulher na cama. – O dragão tem três cabeças – dirigiu-se ao banco da janela, pegou uma harpa e seus dedos correram com leveza sobre as cordas prateadas. Uma doce tristeza encheu o quarto enquanto homem, esposa e bebê se desvaneciam como a neblina da manhã, deixando para trás apenas a música a fim de apressá-la.

(A Fúria dos Reis, capítulo 48, Daenerys IV)

O trecho acima foi provavelmente levado em consideração pelos designers da produção, visto que Wilf Scolding parecia estar usando a mesma peruca de Harry Lloyd, além de roupas similares que, segundo Michelle Clapton, correspondem às vestimentas da família real na época da Rebelião, estilo que Viserys — uma criança na época — adotou para lembra-lo de casa.

A decepção de alguns provavelmente deriva do fato de que Rhaegar, na grande maioria das vezes, foi descrito por pessoas que realmente enxergavam ele como o príncipe brilhante e prateado que ele não era. Sim, ele amava Lyanna, e ela o amava, mas o amor deles custou as vidas de muitos, incluindo a dos filhos que Rhaegar parece ter renegado ao anular seu casamento com a pobre Elia Martell. Quando a série pretende falar disso? Oberyn culpou os Lannisters, e sabemos tudo e mais um pouco sobre Oberyn e sobre os Lannisters. No entanto, Elia é quase uma abstração.

O legado de Ned não afetou apenas seus filhos — entre os quais também incluo Theon e Jon. O mesmo código de ética que serviu para criar as crianças também condenou Jaime desde o dia que Eddard pegou ele sentado no Trono de Ferro, com a espada e o manto maculados pelo sangue do rei. Uma mancha que ainda parece assombrá-lo, mesmo depois de 20 anos.

O Regicida até parece ter aceitado o papel de paria por um tempo, ou vocês já esqueceram como ele empurrou Bran Stark da Torre Quebrada? Nós sabemos que ele só matou Aerys para proteger os moradores da capital e que, desde a jornada com Brienne, ele tem feito o possível para reclamar sua honra — o que inclui armar a Donzela de Tarth para procurar pelas filhas de Catelyn e libertar o irmão de sua cela contra a vontade de Tywin. Todavia, o compromisso com Cersei impediu que ele abraçasse completamente esse seu arco de redenção.

Neste episódio, provavelmente motivado pelo reencontro com Brienne, Jaime finalmente se livrou do relacionamento tóxico que tinha com a irmã gêmea, desafiando ela a executá-lo, como Tyrion fez algumas cenas antes (sim, os caras estão escrevendo callbacks dentro de um mesmo episódio, agora). O rompimento de Jaime e Cersei marcou um dos momentos mais tensos de todo o episódio, e serviu para contradizer diretamente as palavras da rainha quando afirmou que “ninguém virava as costas para ela”.

Nos livros, a “libertação” de Jaime também foi pontuada pela neve caindo nas Terras Fluviais. Finalmente, a adaptação mostrou o inverno chegando a Porto Real, em uma sequência carregada de beleza e lirismo que contrapuseram a chegada do verdadeiro inverno à Atalaialeste do Mar.

“The Dragon and the Wolf” terminou com um grande cliffhanger, como todo season finale que se preze. Nós sabíamos que Viserion estava sob o controle do Rei da Noite, mas saber é uma coisa, ver o dragão em ação foi outra bem diferente. A sequência de fechamento entregou todo o espetáculo cinematográfico e o horror que eu esperava do momento em que a Muralha caísse, e o exército dos mortos invadisse os Sete Reinos. E gostei do fato de que apenas uma porção da massiva estrutura de gelo tenha sido derrubada, o que torna o poder de Viserion um pouco mais crível. Me pergunto o que o Arquimeistre Ebrose diria se visse essa cena.

As pessoas vêm discutindo intensamente o que diabos o dragão estava cuspindo e como isso foi capaz de derrubar a Muralha. Para mim, é um mero caso de magia contra magia. As Crônicas de Gelo e Fogo sempre estabeleceram que os dragões são seres mais mágicos que naturais. Essa magia, aliada à magia dos Caminhantes Brancos, parece poderosa o suficiente para derrubar qualquer coisa que esteja no caminho. E por que devemos empregar lógica aqui quando tantas outras coisas mais simples fugiram da mesma?

Para aqueles que estão preocupados: Tormund e Beric estão vivos. A dupla conseguiu alcançar parte segura da Muralha, e seria bem improvável que eles morressem sem nenhuma cerimônia à essa altura do campeonato (principalmente o Tormund).

Viserys costumava dizer que “homens corajosos não matavam dragões, mas montavam neles”. Tendo feito as duas coisas, o Rei da Noite parece ser, de fato, um perigo maior que todos os outros combinados. E é com ele que a temporada termina. Mais do que qualquer outra, a sétima temporada foi a que mais dependeu de imagens poderosas e dos temas estabelecidos nos primeiros anos da série para preencher as lacunas deixadas pelo roteiro. A ancestral Muralha de gelo não foi a única barreira derrubada por este episódio. Com a morte de Mindinho e quase todos os subplots amarrados de uma maneira ou de outra, não há óbice que detenha o irrefreável fim dessa história.


NOTAS FINAIS

✖ DRAGÕES, LOBOS E LEÕES: Esse foi o terceiro episódio de toda a série que recebeu um título baseado nos símbolos de duas grandes Casas. O primeiro deles, “The Lion and the Wolf”, curiosamente, possui um dos melhores diálogos de toda a série acerca de Rhaegar, Lyanna, Targaryens e dothrakis. Cliquem aqui para morrer de saudades da primeira temporada!

✖ O QUE ESTÁ MORTO NÃO PODE MORRER: A queda da Muralha foi impressionante, mas o morto-vivo no Fosso dos Dragões foi um dos melhores trabalhos de CGI que eu já vi na série!

✖ NÚMEROS: Jon pergunta a Tyrion quantas pessoas vivem em Porto Real, e ele responde “um milhão”. No entanto, no episódio “The Bear and the Maiden Fair”, Jaime Lannister afirmou que a população da cidade era de meio milhão de pessoas, fato que está de acordo com os livros. Podemos assumir que Tyrion incluiu um número de recente de refugiados que possam ter ocupado a cidade por conta das guerras e do inverno, mas o que realmente importa é: onde estava o povo quando a comitiva de Daenerys chegou à capital? Eu teria gostado MUITO de ver a reação das pessoas aos senhores dos cavalos e, principalmente, aos dragões.

Jon Snow conta que “um milhão” é mais do que toda a população do Norte, maior dos Sete Reinos de Westeros. Curiosamente, nos livros, estima-se o Norte seja habitado por cerca de 3 a 4 milhões de pessoas.

Cersei afirma que a Companhia Dourada tem 20 mil homens. Quando foram mencionados pela primeira vez na 4ª temporada, no entanto, Davos e Stannis declararam que eram 10 mil homens — número que estaria de acordo com o que lemos nos livros.

✖ ESPÓLIOS DA GUERRA: Olhando de perto, é possível perceber que os dothraki presentes em Porto Real estão vestindo roupas Lannister embaixo do figurino habitual. As roupas provavelmente são parte dos despojos obtidos dos soldados Lannister mortos durante a batalha na Estrada do Ouro. As peles se assemelham as usadas pelos selvagens, o que demonstra que eles assimilaram o figurino de Jon Snow e estão prontos para enfrentar o inverno westerosi.

✖ DRAGÕES NÃO SÃO ESCRAVOS: Daenerys repete sua famosa frase, “Zaldrīzes buzdari iksos daor”, traduzindo para Jon: “Um dragão não é um escravo”. Ela havia dito isso no episódio “And Now His Watch Is Ended”, quando declarou aos escravos de Astapor que não venderia Drogon. “Buzdari” na verdade é  o baixo valiriano astapori para a palavra “escravo”; no alto valiriano, se pronuncia “dohaeriros”.

✖ A ALCATÉIA SOBREVIVE: A única pessoa que mencionou o nome ‘Rickon’ em toda a temporada foi Jaime Lannister, e ele só fez isso para zoar o filho do Randyll, o que é bem triste.

✖ REI SNOW OU REI JON?: Aegon VI. Esse será o nome de Jon se ele chegar a sentar no Trono de Ferro. Vários fãs no Reddit acreditavam que o nome verdadeiro do filho de Rhaegar seria “Jaehaerys” dada as semelhanças entre os reis Jaehaerys I e II e o próprio Jon Snow. Uma alternativa bem popular, e talvez minha preferida, teria sido Aemon, evocando não apenas o adorado meistre da Patrulha, mas também o lendário Cavaleiro do Dragão, que nos livros era uma espécie de herói para o Jon, tal qual o Jovem Dragão, Daeron Targaryen.

Em todo caso, como o diálogo com Davos no episódio “The Spoils of War” parece ter adiantado, seu nome pouco importará. Para nós, ele sempre será Jon I.

✖ JON SAND: A afirmação do Bran de que o sobrenome de Jon seria “Sand” pelo fato de ele ter nascido em Dorne não é exatamente acurada. Para saber mais sobre o assunto, confiram este artigo que publicamos no ano passado, na mesma época em que “R+L=J” teve sua confirmação.

✖ O SEXTO DE SEU NOME: Mesmo aqueles que não leram os livros sabem que o primeiro filho de Rhaegar com Elia Martell também se chamava Aegon (Thoros de Myr mencionou o nome dele na terceira temporada). Embora existam casos de irmãos com o mesmo nome no universo fictício de George R. R. Martin, é estranho que Rhaegar tenha escolhido o mesmo nome para os seus dois filhos.

Rhaegar era um homem supersticioso, que queria um terceiro filho para remeter às três cabeças do dragão Targaryen. Ele provavelmente chamaria Jon de Visenya, caso ele fosse uma garota.  Mas Rhaegar estava morto quando o bebê nasceu, assim como o príncipe Aegon e a princesa Rhaenys (assassinados por Gregor Clegane depois da morte do pai), então é inteiramente possível que a própria Lyanna tenha dado nome ao filho, como forma de homenagear o irmão mais velho que ele nunca conheceria, assim como o Conquistador que subjugou seis dos Sete Reinos de Westeros e outros quatro grandes reis, bons e ruins, além dele.

Os produtores provavelmente escolheram o nome para homenagear o Jovem Griff, personagem importantíssimo dos livros que teve seu arco cortado da série. É impossível afirmar que nome George R. R. Martin dará ao bebê no cânone, visto que nem mesmo a paternidade de Jon foi confirmada a altura do último livro publicado.

Em todo caso, existe uma citação famosa do Meistre Aemon que, embora se refira ao rei Aegon V (Egg), pode servir como prenúncio tanto para Jon quanto para o Jovem Griff:

É preciso um homem para governar. Um Aegon, não um Egg. Mate o menino e deixe o homem nascer.

(A Dança dos Dragões, Capítulo 7, Jon II)

✖ VALE TUDO: A desconfiança que Bronze Yohn Royce sempre nutriu pelo Senhor Protetor do Vale (como apresentado em “The Mountain and the Viper”) pode ser um bom motivo para explicar porque ele aceitou o testemunho de Sansa sobre a morte de Lysa sem contestar.  

O fato de a série ter mostrado os dois confabulando em “Eastwatch” não significa que eles eram amigos. Certo?

✖ FOGO-FÁTUO: O fogo azul é simbólico por uma série de razões, especialmente por remeter ao ignis fatuus, fenômeno geralmente ligado à decomposição orgânica que é cercado por lendas e mitos.

✖ BRAN-EX-MACHINA: Algumas mecânicas dos poderes de Bran ficaram claras nesse episódio. Muita gente (incluindo eu) têm afirmado erroneamente que o garoto sabe de tudo o que está acontecendo e o que já aconteceu, contudo, ele não sabia do casamento de Lyanna e Rhaegar, e parecia não saber da traição de Mindinho previamente. O poder do Corvo de Três Olhos é tão grande que ele só pode acessar as memórias se souber onde procurá-las.

Ah! Ele também não precisa dos olhos nos represeiros para enxergar o que quer que seja. O que é uma pena, visto que detalhes como esse enriquecem a mitologia da saga.

✖ SANGUE DO MEU SANGUE: Enquanto o resto de Westeros abomina os relacionamentos incestuosos entre tios e sobrinhos, os Targaryens nunca tiveram problemas com isso. A própria Rhaenyra Targaryen foi casada com o tio, Daemon, e com ele teve dois filhos que sentaram no Trono de Ferro.

✖ ELE É MUITO PEQUENO PARA MIM: Depois da cena no barco, muitos acreditam que Tyrion, talvez, esteja apaixonado por Daenerys – o que foi sugerido em diálogos com Cersei e Bronn neste mesmo episódio.

No argumento original das Crônicas de Gelo e Fogo, George R. R. Martin planejava incluir um triângulo amoroso entre Jon, Tyrion e Arya. Não é impossível que David e Dan tenham se inspirado nisso para fazer o mesmo na adaptação.

Particularmente, eu duvido dessa “teoria”. A série mal terá tempo de retratar os conflitos que já foram estabelecidos na narrativa, quem dirá um novo plot deste tamanho, envolvendo três dos principais personagens de toda a série.

O olhar de Tyrion provavelmente reflete a preocupação de que o envolvimento amoroso entre os dois monarcas atrapalhe o julgamento de ambos, como já fez com Jon no Fosso dos Dragões.

✖ QUANDO O SOL NASCER NO OESTE: Com repetidas menções à esterilidade de Dany, a série pode estar sugerindo que apenas Jon dará a ela o filho tomado por Mirri Maz Duur. Se confirmada, essa particularidade pode ser apresentada como resultado dos muitos anos de endogamia Targaryen… ou simplesmente como “o poder do amor”.

Que os deuses nos defendam.

✖ THEY COME DOWN THE WALL: A banda Mastodon fez uma nova participação especial em Game of Thrones neste episódio, como parte do exército de wights:

✖ BASTILLE: Os meninos da Bastille também participaram da marcha dos mortos atravessando a Muralha, mas aparentemente foram cortados da edição final:

✖ A LONGA NOITE: Relatos indicam que as filmagens da última temporada se encerrarão em meados de 2018. Com o tempo necessário para a pós-produção, é possível que a série só retorne no ano de 2019.

Seja como for, nós estaremos aqui. E esperamos que tenhamos um certo livro para discutir no caminho…


O Podcasteros do episódio deverá sair em breve.

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Se existe uma qualidade que define a sétima temporada de Game of Thrones, tal qual os doze condenados que atravessaram os portões de Atalaialeste rumo ao desconhecido, é a pretensão. Às portas do fim, a série vem assumindo riscos tão grandiosos quanto os conflitos que ela apresenta. Já foi o tempo em que a audiência esperava cegamente que diferentes personagens se encontrassem nas infinitas viagens pelo Mundo Conhecido. Ultimamente, “vilões” e “mocinhos” tem se cruzado pelo mapa com a velocidade da câmera que percorreu a mesa pintada de Pedra do Dragão no primeiro plano do episódio. Mesmo entendendo como essa rapidez favorece o grand finale, são os longos interlúdios que mais fazem falta.

A série vende momentos marcantes – batalhas teatrais, casamentos traiçoeiros e mortes dramáticas –, mas estes só têm significado por causa de eventos menores. Estes nos dão motivo para amar ou odiar os indivíduos que movimentam as engrenagens desse sistema.

No geral, a sétima temporada tem sido um turbilhão que evita tramas elaboradas em favor de grandes acontecimentos. Depois de temporadas de atrasos e promessas, David Benioff e Dan Weiss estão entregando clímax após clímax, com um fanservice a cada turno. É preciso cuidado para que isso não se torne tão emocionante quanto exaustivo.

Pior que esperar temporadas inteiras para que certos personagens cruzem caminhos, é perceber que os roteiristas não sabem bem o que fazer com eles quando isso finalmente acontece. Esse problema pode ser bem observado em Winterfell, onde vimos a implume disputa de poder entre Jon e Sansa ser transferida, sem muita cerimônia, para Sansa e Arya. A divergência entre os irmãos Stark era mesmo tão necessária?

É fácil condenar Arya pela facilidade com que ela se deixou levar pelas tramoias de Mindinho, mas, como Daenerys disse, “É preciso ver para conhecer”, e Arya não testemunhou a transformação de Sansa como nós fizemos. Assim como Sansa não conhece as circunstâncias sob as quais a irmã adquiriu suas habilidades. Esse choque entre as duas era esperado, assim como seria em qualquer outra família, mas é estranha a maneira como esse plot está sendo conduzindo enquanto o único irmão que de fato pode enxergar a verdade está sendo (propositalmente?) deixado de lado.

Arya e Sansa foram forçadas a crescer muito rapidamente, em circunstâncias brutais, mas os mesmos padrões restabelecem-se agora que elas estão juntas. Arya não confia muito nos motivos de Sansa, e sabe o quão poderosa — e perigosa — seria a carta escrita pela irmã, se mostrada aos senhores nortenhos. Sansa estava certa ao afirmar que essa rixa só ajuda os inimigos, mas esqueceu que ela mesma “desafiou” Jon quando viu problemas na liderança dele. As duas são mais parecidas do que pensam.

Mas então, nenhum lado da guerra (a não ser, curiosamente, o do Rei da Noite) está mostrando uma frente unificada. Em Pedra do Dragão, Tyrion e Dany discutiram sobre a brutalidade nas ações da rainha no último episódio, e o anão argumentou de forma convincente que é importante enxergar as coisas do ponto de vista do inimigo se quiser derrotá-lo. Também vimos Cersei ameaçar Jaime no final do episódio passado. É natural que relações relativamente novas (ou recentemente renovadas) estejam mostrando esses tipos de fraqueza. Do ponto de vista dos inimigos em cada lado, no entanto, essas cisões são invisíveis, e o verdadeiro medo de Sansa não deveria ser rachar primeiro, mas sim rachar primeiro na frente dos outros.

No fim deste episódio, Jon finalmente dobrou o joelho para Daenerys, em um ato mais simbólico que físico. Arya não parece confiar completamente em Sansa, mas entregou a ela a adaga dada de presente ao Bran, o que pode (ou não) representar o início/confirmação de um acordo entre elas.

É importante ressaltar que, ao contrário de Sansa, Arya e Bran mudaram a ponto de perderem parte da humanidade, mas isso não significa que o sofrimento deles foi pior. Como a própria personagem testificou, Sansa sofreu horrores indescritíveis, mas os roteiristas ainda não encontraram uma boa maneira de mostrar sua progressão — exceto quando ela mostra ser uma líder competente na ausência de Jon. A direção também parece favorecer o ponto de vista da Arya, e o resultado disso é uma Winterfell caliginosa, suscetível às intervenções de Mindinho.

Para mim, a hostilidade excessiva da Arya ainda parece incoerente e infantil, uma conveniência de roteiro implementada depois de momentos que indicaram uma aparente ruptura da personagem com as múltiplas identidades que ela assumiu ao longo dos anos. Para alguém que nunca quis ser uma lady, ameaçar tomar o rosto, o título e os belos vestidos de Sansa não faz o mínimo sentido — a não ser que a ameaça tenha outro intento.

Sansa foi sincera quando ressaltou que ela recuperou Winterfell. Se ela quisesse mesmo roubar o lugar de Jon, ela já o teria feito. Arya pode ser jovem, mas suas viagens deveriam tê-la endurecido para as realidades do mundo, as complicações da corte e os compromissos da honra. Tanto tempo longe de casa parece desperdiçado se a garota retoma os preconceitos que tinha na primeira temporada, principalmente no que diz respeito à irmã.

Essas inconsistências fizeram com que a própria Sansa tomasse decisões um tanto questionáveis. Ela não dá crédito aos vassalos do Norte, não querendo confrontá-los com o significado e o contexto da carta que foi forçada a escrever anos atrás. Tudo bem. Como o próprio texto reconhece, os lordes nortenhos são uns cretinos, mas a Senhora de Winterfell tem sido retratada como uma governante idônea, e o receio de confrontar homens aparentemente satisfeitos com seu trabalho meio que contradiz isso. Enviar Brienne a Porto Real também pareceu controverso, mesmo que isso a mantenha fora dos jogos de Mindinho. Não existe ninguém mais capaz de defender (e até unir) as filhas de Catelyn do que a Donzela of fucking Tarth.

O talento de Gwendoline Christie está sendo desperdiçado com a monumental quantidade de nadas que Brienne tem feito nessa temporada. O lado bom dessa jornada à capital é que, pelo menos, poderemos vê-la interagir com personagens diretamente envolvidos na trama principal (incluindo Jaime).

Eu acredito e torço para que este subplot não passe de uma distração, fazendo o público acreditar na inimizade entre Arya e Sansa, apenas para surpreendê-los com a eventual morte de Petyr Baelish. Uma falsa contenda entre as irmãs é, certamente, a maneira mais preguiçosa de alcançar este fim, mas condiz com o estilo dos nossos showrunners, que preferem um choque final a um desenvolvimento coeso. Teria sido muito mais interessante ver as irmãs Stark (e até Bran) em plena cooperação, usando suas habilidades complementares de corte e espada para derrubar Mindinho, mantendo os cavaleiros de Robin Arryn leais a Winterfell. Isso certamente faria jus às jornadas das personagens, e tornaria a queda do Senhor Protetor do Vale muito mais gratificante.

Em suma, essa briga de irmãos não é apenas chata, mas também vazia considerando tudo o que está acontecendo em outros lugares. Por que lutar um contra o outro quando todos sabem que, de fato, a morte está literalmente chegando aos Sete Reinos? A morte é o inimigo real, o primeiro e o último. E o que dizemos ao Deus da Morte?

E por falar na batalha real… Apesar da oportunidade de ver personagens tão interessantes lutando lado a lado e testemunhar o primeiro confronto direto com o exército dos mortos, a parte épica de “Beyond the Wall” pareceu meio oca depois de pesados os sacrifícios necessários para alcançar esse momentum. Não, eu não estou me referindo ao Viserion, mas à lógica em si. As licenças poéticas sempre foram uma parte intrínseca da série, onde personagens e informações sempre viajaram na velocidade do plot, mas, ainda é um pouco fácil acreditar que Gendry tenha conseguido enviar uma mensagem a Daenerys no tempo certo para que ela e seus dragões chegassem e salvassem o dia.

O tempo em si não é nem o maior problema. Segundo Linda Antonsson, co-fundadora do fórum Westeros.org, que colaborou com George R. R. Martin em “O Mundo de Gelo e Fogo”, seriam necessárias 28 horas ininterruptas de voo para que a rainha chegasse a Atalaialeste. Mais as horas de voo (e de descanso) do corvo que carregou a mensagem de Gendry, podemos estimar que toda a jornada levou de 3 a 4 dias, o que me parece tempo suficiente para um lago congelar (especialmente na presença de Caminhantes Brancos). Não obstante, é nas variáveis que mora o perigo. Qual a probabilidade de Gendry chegar a Atalaialeste no tempo, viajando sozinho, sendo esta a primeira vez que ele pisou no Norte, em absoluto?

Usar cálculos, para explicar tais coisas, está longe de ser o ideal, posto que a história não se passa no nosso mundo. Porém, mesmo uma série de fantasia com dragões, mortos-vivos e sídhes de gelo, precisa responder racionalmente por elementos que jamais foram estabelecidos dentro de sua dimensão ficcional. E já que é uma série de fantasia, teria sido muito mais crível ver Daenerys seguir a própria intuição, ou mesmo sonhar com os acontecimentos além da Muralha, partindo para o Norte antes que o esquadrão suicida alcançasse a montanha com ponta de flecha. Ela não seria a primeira Targaryen a sofrer com os chamados “sonhos de dragão” que, ao contrário dos teletransportes, fazem parte da diegese d’As Crônicas de Gelo e Fogo. Brincando com essa possibilidade, a séria ainda levantaria um dilema interessante: a rainha seguiria viagem se soubesse que um de seus filhos poderia morrer?

Outra pergunta que, com o perdão do trocadilho, ficou martelando minha cabeça foi: por que diabos o Cão não quebrou o gelo com o martelo de guerra quando a hora chegou? Certo. “Homens inteligentes não caçam zumbis do outro lado da Muralha”, apenas os bravos. É neste ponto que a semelhança entre os sete samurais e os criadores da série, supracitada no primeiro parágrafo desta análise, termina.

David e Dan foram pretensiosos ao arrancar personagens queridos de suas terras, despindo-os de suas antigas motivações e atirando-os em uma clássica missão kamikaze pela salvação da humanidade. O que faltou foi a coragem para fazer com que o grupo sofresse as consequências dessa insensatez heroica. Depois que os figurantes sem nome (ou número exato) começaram a morrer, foi meio difícil acreditar que os protagonistas compartilhariam o mesmo destino, mesmo depois que Thoros de Myr, o único healer membro do grupo capaz de ressuscitar os demais, acaba vítima de um urso da neve zumbi. Funny old life.

O sacerdote foi um dos poucos personagens da adaptação que, para mim, conseguiu superar a versão original dos livros, e parte disso se deve ao carisma do comediante Paul Kaye. Eu ainda não entendo porque matar ele quando Beric deveria estar morto há anos. Acredito que Thoros tinha uma importância muito maior para a trama do que seu companheiro, sem falar na singularidade de ser o único servo masculino do deus vermelho. Além disso, a morte de Beric, depois de revivido tantas e tantas vezes, daria uma cena interessantíssima, que simbolizaria a falta de poder de R’hllor sobre as terras dominadas pelo Grande Outro.

Enfim, os personagens remanescentes tiveram imunidade suficiente para completar a missão sem perder um dedo sequer. E quando a coisa pareceu apertar, o deus ex machina entrava em ação. Essas previsibilidades tiraram parte da graça dos momentos mais catárticos de “Beyond the Wall”. Claro que se analisarmos aspectos técnicos como cinematografia, efeitos visuais, direção, atuações e até a escolha das locações, a última metade do episódio foi uma verdadeira obra-prima.

Entretanto, em termos de narrativa, o ouro esteve nas interações que serviram como prelúdio para a catarse, aqueles que simplesmente restabeleceram as conexões entre os personagens e nos deram razão para nos preocuparmos com suas vidas, a despeito de suas plot armors.

O destaque vai para cena em que Jon tentou devolver a espada da Casa Mormont para Jorah, demostrando, de maneira menos estulta, o senso de honra dos Starks. Por vergonha, respeito e amor pelo pai, Jorah recusou o presente. Iain Glenn é um puta ator, e o mesmo pode ser dito de Kristofer Hivju (Tormund) e Rory McCann (Sandor Clegane), dois homens aparentemente rudes que disputaram, praga por praga, as falas mais divertidas do episódio.

Game of Thrones sempre teve um interesse secundário no divino e no papel que os deuses aparentemente desempenham na vida dos personagens. Esse tópico apareceu quando Tyrion classificou as divindades de Westeros como o equivalente onipotente de seu primo simplório, que esmagava besouros sem motivo ou cuidado. Está presente também nos poderes sobrenaturais de Melisandre, ou no Cão, que vive questionando o tipo de justiça ou propósito divino que pode existir em um mundo onde coisas tão terríveis acontecem. E vem à tona mais uma vez quando dois homens que retornaram dos mortos se mostram loucos por assumirem o que aconteceu com eles, mas sem saberem o por quê.

Jon e Beric sugerem que, talvez, seja suficiente saber que há pessoas a serem protegidas e que suas segundas chances deram a oportunidade de continuar protegendo-as. Esse discurso é um pouco florido, mas dá sentido à luta que eles estão prestes a embarcar, além de funcionar como uma bela pedra sobre um assunto que a série não tem tempo para trabalhar (ou talvez nem saiba como). “Nós somos o escudo que guarda os reinos dos homens.” Claro e simples.

Em um episódio chamado “Beyond the Wall”, era de se esperar que víssemos pouca coisa dos outros pedaços de Westeros. O debate sobre a sucessão de Daenerys foi o único que aconteceu, geograficamente, ao sul do Gargalo, o que não diminui em nada sua relevância.

Engraçado notar que, na adaptação, a esterilidade da rainha nunca foi propriamente estabelecida. Até a profecia de Mirri Maz Duur omitiu a parte em que o ventre de Dany “ganharia vida e daria à luz um filho vivo”.  D&D não dão ponto sem nó (bem, só alguns). Se essa questão foi levantada a essa altura, significa que 1) Daenerys pode nomear Jon seu sucessor quando souber das origens do bastardo ou 2) o casal logo terá um filho.

Pensar nisso me fez lembrar algo um tanto perturbador: na Casa dos Imortais, onde foi que Daenerys reencontrou Khal Drogo e o bebê que, supostamente, seria Rhaego? Isso mesmo. ALÉM DA MURALHA. Será que aquilo significou alguma coisa?

Tyrion estava certo sobre os riscos que a Daenerys estava disposta a tomar, e ele não continuaria repetindo essas advertências sem que algo acontecesse para justificá-las. Game of Thrones não funciona bem se um lado tiver uma grande vantagem sobre o outro, e a Mãe de Dragões tinha três grandes vantagens. Para nossa tristeza, o jogo precisava virar.

Foi a partir do resgate que o episódio entrou em plena marcha. Eu desafio qualquer um a dizer que o coração não pulou um centímetro quando o fogo começou a cair sobre o exército do Rei da Noite. Nós sabíamos que ia acontecer (a cena anterior fez questão de deixar isso explícito), mas, ainda assim, foi extraordinário. Saber que as vítimas do ataque eram pilhas de ossos reanimados foi um benefício que não tivemos em “The Spoils of War”, e isso certamente minimizou o horror de presenciar, mais uma vez, a glória terrível dos dragões em voo.

Todavia, os heróis não tiveram uma vitória limpa. Se Daenerys tivesse simplesmente chegado, matado centenas de wights, e saído dali com todo mundo, a sequência teria sido ainda mais criticada.

A batalha propriamente dita, que aconteceu com atores de verdade, no chão, foi marcada por vários clichês dos filmes de ação, além de várias rimas visuais com a Batalha dos Bastardos (como Jon e Tormund lutando lado a lado, ou a montanha de corpos) e com o ocorrido na Arena de Daznak (o grupo principal cercado pelos inimigos quando Drogon finalmente chega).

Vimos Tormund ser salvo pelo Cão assim como o grupo foi salvo pelos dragões de Daenerys e assim como Jon foi posteriormente salvo por Benjen. O tumulto gerado pelo engalfinhamento de homens e zumbis usando praticamente o mesmo figurino não ajudou muito, mas o diretor tirou vantagem disso para realçar o enxame inabalável de criaturas que ameaçavam os protagonistas.

Muitos não aceitaram bem a brevidade do retorno de “Mãos-Frias”, que se despediu do sobrinho para morrer logo em seguida. Eu admito que fiquei um pouco triste com o fato, mas se pensarmos que o cara estava condenado a uma sobrevida solitária nas Terras do Sempre Inverno, fica mais fácil aceitar que ele provavelmente queria aquela morte. Uma morte heroica, digna do Primeiro Patrulheiro que Benjen um dia foi. A cena em que ele manda Jon partir sem ele até lembrou um pouco a última aula de Arya e Syrio Forel, em “The Pointy End”.

Daenerys não poderia continuar exibindo seus dragões sem uma perda, e, tematicamente, ver um dragão morrer pelas mãos do Rei da Noite foi melhor do que teria sido ver um deles cair por causa do scorpio de Qyburn. Embora tenha servido para instaurar uma espécie de equilíbrio entre gelo e fogo e feito Dany aderir à causa de Jon, a morte de Viserion foi muito, muito triste de se assistir. Muito mais do que eu podia imaginar.

Eu não gostei muito da atuação contida de Emilia Clarke na primeira vez que assisti, mas depois de rever a cena algumas vezes, percebi que a rainha estava em estado de choque pela morte de um dos filhos. Uma cena posterior, com a mãe lamentando sua perda, teria sido muito bem-vinda para reforçar a importância que os dragões têm para ela, mas os produtores não acreditam que seja possível expor os sentimentos de um personagem forte sem que este pareça fraco — principalmente se o personagem for uma mulher. Por isso, preferiram uma cena em que Daenerys espera pelo crush no topo da Muralha (prioridades).

Se você acompanha o site a mais tempo, lembra que eu sempre tive certa aversão ao possível relacionamento amoroso de Daenerys e Jon, mesmo admitindo que o cânone deva seguir na mesma direção. Contudo, como dois dos personagens em que a série mais investiu ao longo dos anos, as cenas envolvendo o “casal” tem se sobressaído se comparadas a outras — ainda que personagens igualmente interessantes tenham tido seus papéis sacrificados em prol dessa união (como Tyrion, que tem servido como pouco mais do que um cupido ultimamente). Parte disso se deve à inegável e surpreendente química entre os atores, e o incrível trabalho de Ramin Djawadi com a trilha sonora amarra de maneira satisfatória mesmo aquilo que, de outra maneira, poderia parecer forçado ou fora do lugar.

Falando em coisas forçadas: Dany estava olhando a barriga trincada do Jon ou as cicatrizes do atentado que ele sofreu em Castelo Negro? Ela provavelmente o confrontará a respeito de qualquer uma das duas coisas no próximo capítulo dessa novela.

Ah! A conversa de Jon com Tormund sobre o orgulho de Mance Rayder parece ter sido fundamental para que ele decidisse dobrar o joelho. Os dragões fizeram o resto.

Quem escreve histórias de fantasia entende que promover o enfrentamento entre seres místicos é complicado, pois você nunca sabe que tipo de poder vai nascer deste encontro, ou que tipo de poder será considerado “um pouco demais”. Game of Thrones passou por cima dessas complicações audaciosamente ao mostrar o Rei da Noite transformando Viserion em seu novo animal de estimação, tirando proveito das lendas e teorias relativas ao Dragão de Gelo de uma maneira que não pareceu tão estapafúrdia ou distante do universo da série.

Na minha última análise, eu fiz alguns comentários acerca da lenta marcha dos Caminhantes Brancos em direção aos reinos dos homens. Talvez eles estivessem esperando por esse momento? O Rei da Noite sempre esteve um passo à frente de Bran em suas visões, então eu não me surpreenderia se soubesse que a criatura previu a chegada dos dragões de Daenerys. Os caminhantes até tinham duas lanças extras para os irmãos de Viserion.

Como o príncipe “Ragger” dizia nos livros: “o dragão tem três cabeças”. Agora, uma delas possui olhos azuis profundos e gélidos como a morte. 


NOTAS FINAIS

✖ Making the Eight: Esse foi o oitavo (e provavelmente último) episódio em que Porto Real não foi mostrada. Os outros foram “The Kingsroad” (primeira temporada); “The Rains of Castamere” (terceira temporada); “The Watchers on the Wall” (quarta temporada); “Kill the Boy” e “The Dance of Dragons” (quinta temporada); “The Door” e “Battle of the Bastards” (sexta temporada).

✖ O Norte não lembra bem: Foi bizarro ver Arya acusar Sansa de estar posando na manhã da execução de Ned Stark sendo que, na ocasião, a garota estava gritando desesperada — e até desmaiou. Arya não chegou a ver o desmaio, mas eu revi a cena algumas vezes para ter certeza. A garota, escondida nos pés da estátua de Baelor até olhou para o estrado enquanto Sansa implorava pela vida do pai, mas os gritos dela podem ter sido abafados pela multidão — ou Arya achou que tudo não passava de encenação.

Pouco importa. Não podemos exigir que Arya lembre de tudo o que aconteceu naquele dia, embora, neste mesmo episódio, ela lembre bem de momentos com o pai que, obviamente, antecederam a execução dele. Talvez, a raiva de ver que Sansa agora é Senhora de Winterfell no lugar de Catelyn esteja obscurecendo o julgamento da jovem que, por anos, não pensou em nada além de vingar a morte dos pais. É irritante, mas compreensível.

✖ Vocês Starks são difíceis de matar: O modo como Jon saiu da água lembrou a cena do episódio “The Broken Man”, onde Arya fez o mesmo depois de ser esfaqueada numa ponte, em Bravos.

✖ São seus olhos: Não. Bran não estava “wargando” Garralonga na cena do gif acima. Era só neve.

✖ 20 mil bons homens: Sansa afirmou que “20,000 homens” lutam pelos Stark, o que não parece coincidir com números anteriores e pode se tratar de um erro de cálculo ou um simples exagero. No início desta temporada, Jon disse que havia menos de 10 mil soldados deixados no Norte – embora seja possível que este número se refira exclusivamente aos soldados do próprio Norte, e não aos Cavaleiros do Vale, que chegaram a Winterfell durante a batalha contra Ramsay Bolton.

Visto que o Vale permaneceu neutro durante a maior parte da Guerra dos Cinco Reis, seu exército deve conter uma força total de 20 ou até 30 mil homens.

✖ Kill the masters: A descoberta de que matar um Caminhante também destrói os wights revividos por ele foi bem interessante. O fato de um único morto-vivo ter sobrevivido a essa descoberta para ser levado a Porto Real foi inacreditavelmente oportuno.

✖ Implausível: Em entrevista à Variety, o diretor Alan Taylor admitiu que a linha do tempo do episódio é confusa, e afirmou que a série fez uso de “uma coisa chamada de impossibilidades plausíveis, que é o que você tenta obter no lugar das possibilidades implausíveis”. Beleza. Agora está tudo explicado.

✖ Em tempos de Jonerys: Os fãs de “SanSan” não ficaram muito felizes quando Sandor afirmou que não gostava de ruivos. Por outro lado, fãs de “Briemund” se deleitaram com o diálogo entre ele e Tormund.

✖ Creme e dourado: O vestido que Daenerys usou para montar seus dragões rumo ao Norte possuía cores parecidas com as das escamas de Viserion, contrastando com o preto que ela comumente usa para evocar a imagem de Drogon.

✖ A sombra de uma cobra: É triste e poético que Viserion tenha morrido no mesmo episódio em que seu “homônimo” foi lembrado por ser um irmão cruel para Dany. Coincidentemente, a última vez que Viserys a chamou desse jeito foi na cena em que ele morreu.

✖ “Tem de haver outro”: Rhaegal não morreu por que é claro que Jon vai montar o dragão com o mesmo nome do pai dele, certo?

✖ Fazedor de Correntes: Muitas pessoas tiveram dúvidas a respeito da corrente usada pelo Rei da Noite para “pescar” o cadáver de Viserion. Mas quem disse que os elos da corrente eram feitos de ferro? Com a habilidade de manipular gelo dos Caminhantes, tudo é possível.

“Gelo. Mas não como um gelo comum. Os Outros podem fazer coisas com gelo que não podemos imaginar e criar substâncias com ele”

(George R. R. Martin, quando perguntado em uma entrevista sobre o material utilizado para criar as espadas dos Caminhantes)

Mais inacreditável ainda é o fato de terem conseguido recuperar o corpo dragão sendo que, minutos antes, ninguém ali sabia nadar.

✖ Quebradora de Rodas: Se a série precisa referenciar a si mesma, poderia escolher uns discursos melhores…


O Podcasteros do episódio deverá sair em breve.

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Mesmo com o conflito duradouro que tem devastado os Sete Reinos e colocado reis e rainhas (e dragões) de lados opostos do tabuleiro, Game of Thrones, estranhamente, também fala de cooperação. Desde o começo, a série tem mostrado que interesses em comum servem para unir pessoas que, sob outras circunstâncias, estariam se enfrentando no grande jogo. Isso é, em parte, uma pretensão da série, que tira grande proveito das emoções e novidades de alianças inesperadas. Para ser honesto, os roteiristas nem sempre conseguem explicar satisfatoriamente a motivação por trás dessas uniões, em termos de narrativa. Ainda assim, é simplesmente emocionante ver personagens que conhecemos e nos importamos encontrando-se (ou reencontrando-se) pela primeira vez em tanto tempo.

Era de se esperar que, depois de “The Spoils of War”, teríamos um episódio menos explosivo, que passaria por cima do espetáculo visto semana passada e aceleraria os acontecimentos, dado o fim precipitado dessa temporada. Essa pressa talvez tenha sido a maior inimiga deste episódio que se destacou pela magnitude de seus retornos e revelações.

Os primeiros minutos nos levaram diretamente ao Regicida, que, como muitos esperavam, sobreviveu à sua insensatez valente graças ao heroísmo de Bronn. O fato de ambos terem saído incólumes da batalha contra os dothraki e de confrontos diretos com o Drogon contradiz a máxima da adaptação de que “ninguém está seguro” e que “todos os homens devem morrer”. Sem falar no nível de incredibilidade da cena. Jaime não só tentou matar Daenerys, como ainda é o homem que matou o pai dela, além de ser irmão e amante da usurpadora no Trono de Ferro. Por que diabos os homens de Daenerys não procuraram pelo corpo dele no lago? E como o mercenário conseguiu arrastar o companheiro até a margem oposta? O cara estava vestindo armadura!

Tudo bem, aquela não era uma armadura propriamente dita, como Nikolaj Coster-Waldau atestou em uma entrevista. Só uma placa de metal que cobre roupas regulares de couro.

Todavia, Bronn merece, no mínimo, um castelo pelo feito.

Com a fumaça e as cinzas da guerra ainda pairando no ar e o Rei da Noite cada vez mais próximo da Muralha, “Eastwatch” marcou o momento em que os personagens deixaram de falar sobre o problema para, finalmente, fazer algo a respeito dele. A iminente chegada do Exército dos Mortos até diminuiu a tensão entre Daenerys e Cersei — mas não o suficiente. As duas rainhas são espelhos óbvios nesta temporada: os desejos populistas da Mãe de Dragões de quebrar os ciclos do passado contrastam com a atitude elitista de sua rival, que luta com todas as forças para manter o legado estabelecido pelo pai. Sei que são personagens com conceitos contraditórios, mas  contrassenso de seus ideais estão sendo apresentados desde o começo na história: Daenerys sempre tão orgulhosa em exibir sua herança valiriana e monarca e, ao mesmo tempo, desprezando e renunciando fundamentalmente à escravidão e estruturas sociais. Cersei, tão apegada ao legado da família, abdicou de membros da família e do próprio castelo e suas memórias.

Esse legado também exerce seu peso sobre Daenerys, uma preocupação que certamente cruzou os pensamentos de Tyrion enquanto ele caminhava horrorizado em meio à devastação. A angústia do anão cresceu ainda mais quando a rainha queimou Randyll e Dickon Tarly depois que eles recusaram sua oferta de dobrar o joelho pela própria sobrevivência.

A maneira honrosa com que a morte do pai de Samwell foi tratada me confundiu um pouco, mas o roteiro foi coerente ao usar o mesmo jingoísmo que levou Randyll a trair Olenna como justificativa de sua recusa à Daenerys. Os motivos de Dickon para ter seguido o destino do pai ainda são meio nebulosos já que nunca tivemos oportunidade de conhecer o personagem, mas sua morte foi conveniente para que o próprio Sam – agora dissuadido do desejo de se tornar um meistre – assuma a senhoria de Monte Chifre sem grandes entraves.

No fim, a cena não foi sobre Randyll ou Dickon, mas ainda sobre Daenerys e Cersei. Enquanto a segunda tem as vantagens de ser conhecida pelas pessoas e transmitir medo a elas, a primeira precisou calcular seus passos e usar de estratégias mais “nobres” para mostrar que não é mais do mesmo. Ir contra esses princípios tornou Dany mais parecida com sua inimiga – o que pôde ser visto no terror daqueles soldados –, mas, em contrapartida, conseguiu sua primeira vitória real em Westeros. Por mais que eu, você ou Varys discordemos das atitudes tomadas pela rainha dragão, Tyrion estava certo ao afirmar que ela não é como Aerys. Ela pode ter queimado centenas de homens vivos, mas, até agora, fez isso racionalmente, e não por causa das vozes imaginárias em sua cabeça.

Preciso dizer que, apesar das reservas que tenho a respeito da atuação de Emilia Clarke, a atriz foi muito bem no momento do discurso, o que é bom e, ao mesmo tempo, alarmante. Daenerys tem sido tão comumente retratada como tirânica na adaptação que sua interprete parece ficar à vontade nesse papel.

No que diz respeito aos monarcas, Jon é mostrado na série como a melhor escolha entre Daenerys e Cersei. Tendo a paternidade comprovada, ele se encaixaria nos requisitos da linhagem de Daenerys, mas também teria o status de “nativo” que permite que as pessoas o aceitem muito mais do que “a invasora que trouxe eunucos e bárbaros para suas costas”. O parentesco entre Jon e Dany foi um fio de trama crucial abordado essa semana. Cenas como a da aceitação de Drogon e a da quase descartável descoberta de Gilly na Cidadela aludiram às sérias implicações do sangue Targaryen de Jon e onde isso o colocaria na linha de sucessão ao Trono de Ferro (isso ainda existe?).

Para o fã casual, é possível que nenhuma das duas cenas tenha gritado algo especial. Na primeira, vimos Jon encarar Drogon, que pareceu aceitá-lo de alguma maneira. Um momento poderoso de conexão entre o bastardo, a besta e sua mãe, mas que não comprova a ligação entre Jon e Rhaegar, afinal, os dragões também pareceram aceitar Tyrion em Meereen, e ele está longe de ser um Targaryen… certo?

A segunda cena mostra Gilly lendo a passagem de um livro que trata do divórcio entre um príncipe e sua esposa, para que este pudesse se casar com outra – até ser interrompida pelas lamúrias de Sam. Eu e você, leitor deste site, sabemos muito bem que o tal “Regger” é Rhaegar Targaryen, que amava Lyanna Stark e era casado com a pobre Elia Martell (que, além de ter sido trocada pelo marido, ainda teve a família destruída na adaptação). Também sabemos que um casamento consumado, com duas crianças nascidas dele, dificilmente seria anulado, principalmente sem o apoio do rei, que dificilmente trairia a aliança com os dorneses. Espera-se que a série responda algumas perguntas acerca deste acontecimento, e a primeira delas seria: por que diabos uma informação como essa estaria escondida entre os registros das evacuações de um Alto Septão???

Por agora, tudo que podemos fazer é imaginar como outros personagens reagirão à descoberta. Principalmente Daenerys.  Ela aceitará outro governante de mesma dinastia? Sua determinação em presidir sobre os Sete Reinos é verdadeiramente para o povo, ou para seu próprio ego?

A cena do livro não foi a única que se passou em Vilavelha. A carta de Wolkan, que alertou o reino a respeito dos Caminhantes Brancos nas visões de Bran, foi recebida pelo Conclave como todos os apelos de Samwell. Esse foi o estopim para que o noviço abandonasse de vez o lugar. A trilha que embalou a despedida de Sam da grande biblioteca foi uma versão mais triste daquela que ouvimos quando ele pisou pela primeira vez no lugar, traduzindo perfeitamente o desapontamento do rapaz.

Por mais que eu tenha apreciado a brilhante contribuição de Jim Broadbent para a série, a maneira como ele foi aproveitado não me agradou tanto, ainda que eu tenha entendido a mensagem por trás dela. Se Ebrose não teve um papel significativo na cura de Jorah, por que não trazer Marwyn para a série no lugar dele? No livro, poucas pessoas acreditam nas histórias do Sam, mas pelo menos alguém acredita.

De qualquer forma, Tarly estava certo quando, ecoando as palavras do pai, concluiu que tudo o que aqueles velhos fazem é “ler sobre os feitos de homens melhores”.

Em Winterfell, vimos Mindinho retomar a boa forma ao estabelecer as bases de um plano para separar Sansa e Arya. Diante do misticismo que tomou conta do lar dos Starks com a chegada dos irmãos dados como mortos, as maquinações de Lorde Baelish perderam espaço. Incapaz de tomar parte nas políticas nortenhas dada a atual resistência de Sansa, o Senhor Protetor do Vale encontrou uma forma duvidosa de usar a desconfiança de Arya a seu favor. A montagem tosca que, inicialmente, parecia uma missão stealth da Arya, revelou-se como um estratagema do próprio Mindinho.

Enquanto os detalhes do plano de Baelish ainda são desconhecidos para nós, o conteúdo da carta encontrada por Arya não é. Quando Cersei prendeu Ned Stark na primeira temporada, Sansa tornou-se refém de Casa Lannister, e foi forçada a escrever uma carta para Robb, implorando que ele dobrasse o joelho para o novo rei, Joffrey. Robb e Meistre Luwin sacaram de imediato que aquelas eram as palavras da rainha, mas Arya não tem conhecimento disto.

Robb, eu te escrevo com um coração pesado. Nosso bom rei Robert está morto, morreu com várias feridas em uma caçada de javali. Nosso pai foi acusado de traição. Ele conspirou com os irmãos de Robert contra o meu querido Joffrey e tentou roubar seu trono. Os Lannisters estão me tratando muito bem e me proporcionaram todo o conforto. Peço-lhe: venha para Porto Real, jure lealdade ao rei Joffrey e evite qualquer conflito entre as Casas Lannister e Stark.

Na sexta temporada, Arya ficou dividida entre o ser “ninguém”, que significaria matar Lady Crane, e o ser ela mesma, que significaria seguir sua vingança e voltar para casa. Para que serviu toda aquela batalha interna se, neste episódio, tudo o que ela sugere quando ouve os vassalos reclamarem da ausência de Jon é cortar as cabeças deles (duh!)? Para mim, ela soou exatamente como a Criança Abandonada que a perseguiu pelas ruas de Bravos em “No One”. Esvaziar os personagens de caráter é a maneira mais fácil de fazer com que eles atendam a qualquer demanda do roteiro, e seria triste ver uma das personagens mais queridas dos fãs como outro exemplo desse processo.

Sobre “Eastwatch” e a força da cooperação, um dos temas mais otimistas em Game of Thrones: é interessante perceber que, no fim no episódio, vemos como um grupo improvável de homens, que não teriam motivo para valorizar as vidas um do outro, consegue se unir nesta era da escuridão, segundo ato de suas jornadas. Arya e Sansa não conseguem.

Falando na Arya, seu amigo perdido, Gendry, fez sua primeira aparição depois de quarto temporadas. O paradeiro do personagem foi amplamente discutido durante esse tempo e, ao contrário do que muitos acreditavam, ele não estava remando. A melhor parte deste retorno é que, mesmo depois de anos, ele ainda tem um valor narrativo real. Com tantas outras Grandes Casas extintas, Gendry representa uma última chance para os Baratheons. Sob as circunstâncias certas, ele poderia se tornar o novo Senhor de Ponta Tempestade. E quem melhor para fazer isso acontecer do que um certo rei bastardo?

Ignorando todos os avisos de Davos, Gendry, em um movimento ousado, apresentou-se para Jon como filho do Usurpador, bem debaixo das asas de Daenerys. A camaradagem rápida e fácil entre Jon e Gendry foi palpável e a conexão entre eles lembrou alguns dos bons momentos entre Eddard e Robert, principalmente a cena do primeiro episódio em que os dois se cumprimentam no pátio de Winterfell.

Engraçado notar também que, enquanto os rapazes se reconhecem como filhos de dois velhos amigos, Gendry é, na verdade, filho do homem que matou o pai biológico de Jon.

A dinâmica de pai e filho entre o Cavaleiro das Cebolas e “Clovis” (seria mais legal se tivessem escolhido “Edric”) também foi cativante. Enquanto um é o filho não reconhecido de um Baratheon, o outro perdeu o filho enquanto lutava pelos Baratheons. Pode ser viagem minha, mas, talvez, Gendry seja mais do que um “filho postiço” para o Davos. Talvez, o jovem seja, também, uma forma do contrabandista se manter fiel à Casa que serviu por tantos anos.

Em várias ocasiões, os showrunners decidiram beber da rica mitologia de George R. R. Martin, roubando pequenos pedaços da história westerosi, e adaptando-os à narrativa atual. A explosão do Septo de Baelor ecoou uma passagem de “O Festim dos Corvos” em que Cersei queima a Torre da Mão, bem como a já mencionada destruição do Septo da Memória por Maegor, o Cruel. O episódio anterior também reviveu acontecimentos da batalha conhecida como Campo de Fogo, e, agora, vemos Gendry e seu martelo de guerra servirem como reflexo de Robert Baratheon em seus anos áureos.

O plano de Tyrion também surgiu a partir de um acontecimento dos livros (como David e Dan confirmaram no Inside the Episode) que até foi mostrado na série, mas não teve grandes repercussões. Depois que os mortos tentaram matar o Senhor Comandante Jeor Mormont em Castelo Negro, ele enviou Alliser Thorne para Porto Real, carregando a mão de uma das criaturas. Em “A Fúria dos Reis”, Thorne chega à capital, mas a mão que carrega com ele está apodrecida, e isso faz com que ele seja zombado pelo próprio Tyrion. Poético.

Por mais ruim, preguiçoso, incoerente e logisticamente improvável que seja, o planoTM ainda nos ofereceu alguns desdobramentos interessantes. O reencontro entre os irmãos Lannister foi o primeiro deles (obrigado mais uma vez, Bronn). Como de costume, Peter Dinklage e Nikolaj Coster-Waldau tiveram ótimos desempenhos. Depois de um ano inteiro bebendo vinho e contando piadas ruins em Meereen, eu fiquei feliz de ver o anão em uma cena com a carga dramática que ele merece. Pena que foi rápida.

Assim como Dinklage e Waldau, Lena Headey foi pontual ao conduzir a cena em que Cersei revela sua gravidez para Jaime, assim como fez na cena anterior do casal, onde permitiu que a personagem sofresse de maneira contida ao saber do envolvimento de Olenna na morte de seu primogênito. Me pergunto se esse novo filho não é um plot device para manter Jaime ao lado da irmã por mais tempo. Em “Dragonstone”, o Regicida denotou preocupação com o legado da Casa Lannister. Para quem o reino seria deixado? Agora, ele tem uma resposta. Contudo, tanto Cersei quanto a audiência sabem que essa criança não vai vingar.

Lembram das palavras de Maggy, a Rã?

“O rei terá vinte filhos. E você terá três. Suas coroas serão de ouro. De ouro serão suas mortalhas.”

Talvez a rainha tenha recorrido à Qyburn para encontrar um meio de contornar a profecia, mas, como outro grande autor gosta de escrever, “o destino é inexorável”. Tendo isso em mente, é bem provável que a criança morra antes de nascer – e eu não queria ser o Jaime quando isso acontecer.

Assim como na semana passada, foram os minutos finais que ficaram na minha cabeça quando o episódio acabou. Contrapondo o final de “The Spoils of War”, Matt Shakman fechou “Eastwatch” com um momento mais íntimo, que sintetizou perfeitamente o emaranhado de linhas que ligam os personagens de Game of Thrones.

Em nome do rei Robert, Ned Stark, “pai” de Jon, enviou Beric e Thoros às Terras do Rio para que eles caçassem o irmão de Sandor Clegane. Foi a Irmandade formada por eles que “vendeu” Gendry, filho de Robert, a Melisandre – tudo segundo a vontade do Senhor da Luz. Esse mesmo deus foi o responsável pelas ressurreições de Beric e Jon, além de ter tomado a vida do rei a quem Tormund servia. Sandor era o “cão” do rei que sentenciou o pai de Jon à morte, e também é o homem que salvou as vidas de suas irmãs. Ned Stark condenou Jorah à morte pela venda de escravos. Jon serviu na Patrulha da Noite sob o comando do pai de Jorah, frequentemente combatendo forças lideradas pelo Terror dos Gigantes. Tormund ama Brienne, e o Cão lutou contra ela. Sor Jorah e Thoros, por sua vez, lutaram juntos na Rebelião Greyjoy. Jon carrega a espada que era destinada à Jorah, e ainda podemos esperar uma leve tensão entre eles visto que ambos são tidos como parceiros românticos “extraoficiais” de Daenerys.

Desatar esse nó pode ser complicado, mas renderia ótimos diálogos, diálogos que alimentariam uma temporada inteira, mas que, infelizmente, terão de ser condensados nos dois últimos episódios. Mesmo assim, qualquer pessoa que tenha jogado Final Fantasy ou assistido a “O Senhor dos Anéis” reconhece a importância de ver esse grupo de heróis desajustados reunindo-se e partindo para completar uma quest.

Apesar das escassas probabilidades de sucesso, esta missão além da Muralha mostra que, mesmo em meio ao caos, alguns estão preparados para fazer o sacrifício necessário para salvar a humanidade. Como vimos através dos olhos de Bran naquela incrível sequência de CGI, a morte espera por estes homens, e o destino deles pode representar o destino de todos que vivem no sul. Até o número de membros da expedição evoca o simbolismo dos Sete Reinos que eles pretendem proteger.

Um detalhe relevante que pode ter passado despercebido é que, contando os personagens conhecidos e os figurantes, cerca de doze homens atravessaram os portões de Atalaialeste – um número semelhante ao de seguidores do Último Herói, guerreiro lendário que viveu no período da Longa Noite e que pode (ou não) ser uma figura análoga à de Azor Ahai e do Príncipe que Foi Prometido.

Segundo a Velha Ama, o herói partiu com uma dúzia de companheiros para buscar ajuda dos Filhos da Floresta contra os Outros, vencendo a Batalha pela Alvorada e dando origem, posteriormente, à própria Patrulha da Noite.

E assim, enquanto o frio e a morte enchiam a terra, o último herói decidiu procurar os filhos da floresta, na esperança de que sua antiga magia pudesse reconquistar aquilo que os exércitos dos homens tinham perdido. Partiu para as terras mortas com uma espada, um cavalo, um cão e uma dúzia de companheiros. Procurou durante anos, até perder a esperança de chegar algum dia a encontrar os filhos da floresta em suas cidades secretas. Um por um os amigos morreram, e também o cavalo, e por fim até o cão, e sua espada congelou tanto que a lâmina se quebrou quando tentou usá-la. E os Outros cheiraram nele o sangue quente e seguiram-lhe o rastro em silêncio, perseguindo-os com matilhas de aranhas brancas, grandes como cães de caça.

(A Guerra dos Tronos, Capítulo 24, Bran IV)

Como vocês podem ver no trecho em destaque acima, a lenda também conta que, de todos os homens que se aventuraram naquela jornada, apenas um sobreviveu. Vamos torcer para que D&D tenham esquecido este ponto.



Notas Finais

✖ Onde a Muralha encontra o mar: Atalaialeste ficou o máximo! E até fez sua primeira aparição na abertura. Queria que Rochedo Casterly e Jardim de Cima tivessem recebido o mesmo carinho.

✖ Até que o Martin nos separe: A título de curiosidade, GRRM já afirmou que divórcios não são nada comuns em Westeros, embora eu imagine que, pelo menos na série, esse costume possa se dobrar à vontade de reis – ou, quem sabe, até de príncipes.

Poligamia, por outro lado, foi bastante usual por um tempo, inclusive entre Targaryens. Se a tal legitimação de Jon ocorrer nos livros, acredito que este será um dos caminhos mais possíveis.

Além do pedido de anulação ao Alto Septão, outra forma de terminar um casamento seria obrigar a esposa a se juntar às Irmãs Silenciosas, mas “Ragger” não faria isso… Faria?

✖ O Príncipe que Não Foi Prometido: Em quase todos os episódios escritos pelo Dave Hill, vimos personagens dividirem suas visões romantizadas do Príncipe Rhaegar. Seria legal se, para variar, víssemos alguém (além de Robert e Oberyn) ressaltar o quão sacana ele foi por ter feito o que fez com a Elia.   

 ✖ Nossas mãos fedem: O caranguejo fermentado do Davos foi uma clara homenagem ao pai dele.

 ✖ Poor Old Dead Ned: Um dos mantos dourados assassinados pelo martelo de Gendry foi interpretado pelo comediante Kevin Eldon, “ator que interpretou o ator que interpretou” o Ned Stark na peça de Izembaro, em Braavos.

 ✖ Irmão mais novo: Alguns fãs acham que o novo filho da Cersei pode ser o valonqar da profecia, e que a rainha morrerá em decorrência da gravidez.

  1. A parte da profecia que se refere ao valonqar (ainda) não foi mostrada na série.
  2. Como o bebê vai enrolar as mãos na pálida garganta branca da Cersei e estrangulá-la até roubar-lhe a vida?

✖ Anônimo: No cânone, Altos Septões não utilizam nomes próprios. O Maynard visto na série pode ser referência a um personagem importante das Aventuras de Dunk & Egg.

✖ Movimentos peristálticos: O livro que Gilly estava lendo deve ter sido uma piada dos produtores com o livro que Sam encontra na livraria de Castelo Negro em “O Festim dos Corvos”.

Depois de passar horas na cadeira, as costas de Sam estavam rígidas como uma prancha, e ele sentia as pernas meio adormecidas. Sabia que não seria suficientemente rápido para apanhar o rato, mas talvez conseguisse esmagá-lo. Junto ao seu cotovelo encontrava-se uma maciça cópia encadernada em couro dos Anais do Centauro Negro, o exaustivamente detalhado relato do Septão Jorquen acerca dos nove anos que Orbert Caswell servira como Senhor Comandante da Patrulha da Noite. Havia uma página para cada dia de seu mandato, e todas pareciam começar com: “Lorde Orbert levantou-se à alvorada e moveu as tripas” exceto a última, que dizia: “Lorde Orbert foi encontrado morto ao amanhecer”.

(O Festim dos Corvos, Capítulo 5, Samwell I)

Foi uma piada ruim.

✖ Another Face in the Wall: A serva com quem Mindinho estava falando é uma das dublês de Emília Clarke na vida real. O foco que foi dado no rosto dela talvez seja um indicativo de que alguém (ou “ninguém”) pode vir a usá-lo no futuro.

✖ As guerras que virão: As palavras de Jon na despedida à Daenerys foram as mesmas ditas por Mance Rayder e Arthur Dayne pouco antes deles morrerem. Nem um pouco romântico.

✖ A mulher grande: Também senti falta de Brienne na expedição além da Muralha. E Fantasma, é claro. O comentário de Sansa a respeito do lobo estar sempre esperando por Jon foi como jogar sal numa ferida.

✖ Maomé vai à Montanha: A montanha que aparece no trailer do próximo episódio é a mesma que o Cão de Caça viu nas chamas e a mesma que Bran viu na sexta temporada, quando visitou o vale habitado pelos Filhos da Floresta no passado.

Gelo. Um muro de gelo. A Muralha. É onde a Muralha encontra o mar. Tem um castelo lá. E uma montanha. Parece a ponta de uma flecha. Os mortos estão passando por ela. Milhares deles. (Visão de Sandor no episódio “Dragonstone”)

 ✖ Teletransportes: Podemos até aceitar a desculpa de que cada núcleo tem sua própria cronologia e o fato de que a série não tem tempo suficiente para mostrar os personagens viajando, mas os teletransportes sempre vão incomodar. Abaixo, é possível conferir um mapa que busca comparar a jornada do exército do Rei da Noite desde “Hardhome”, em comparação à jornada de Jon desde o mesmo episódio:

É interessante destacar que, na verdade, o exército de Walkers visitou a caverna do Corvo de Três Olhos no processo, e que desconhecemos o mapa das Terras de Sempre Inverno em absoluto. Na verdade, ainda desconhecemos muita informação sobre os White Walkers, exceto essa: eles não parecem estar com pressa, afinal de contas, esperaram milhares de anos para isso.


O Podcasteros do episódio deverá sair em breve.

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“Fogo e Gelo
Alguns dizem que o mundo acabará em fogo,
Outros dizem em gelo.
Fico com quem prefere o fogo.
Mas, se tivesse de perecer duas vezes,
Acho que conheço bastante do ódio
Para saber que a ruína pelo gelo
Também seria ótima
E bastaria.”

Fire and Ice é um poema do escritor americano, Robert Frost, publicado em 1920, poucos anos após o fim da Primeira Guerra Mundial. George R. R. Martin já se manifestou algumas vezes dizendo que se inspirou na prosa evocativa de Frost para criar o mundo de Westeros. Claro, o poema é apenas um dos elementos que ele utilizou. As Crônicas de Gelo e Fogo, assim como Game of Thrones, lidam com muitos outros ingredientes, gênese de dezenas de outras naturezas. Mas não nesta semana.

Nesta semana, fomos pegos de surpresa com um inspirado desfile de sentimentos primitivos, confusos. A ruína e a dor. A ideia de que vingança não é justiça, raramente explorada pelos roteiristas da série. E o terrível sentimento de que, talvez, seja impossível salvar este mundo sem destruí-lo primeiro.

Dirigido com muita competência pelo “estreante” Matt Shakman, “The Spoils of War” foi um episódio notável pelas suas contradições. De todos os personagens que fizeram parte da narrativa no último domingo, aquele que melhor sintetizou o momento atual da série foi, curiosamente, Dickon Tarly. Ecoando as palavras de Robert Baratheon ao relembrar sua primeira vítima (um garoto Tarly, por coincidência), o herdeiro de Monte Chifre admitiu que a realidade de uma vitória é muito mais difícil de digerir que a fantasia da mesma. Por mais que o termo “espólios de guerra” esteja comumente ligado às conquistas do lado vencedor, ele também pode designar as perdas geradas pelo conflito. Perdas que, nem sempre, são constituídas de bens materiais como ouro ou grãos.

Esse sentimento agridoce também foi reverberado no retorno de Arya, que teve de lidar com mudanças irrevogáveis em sua casa, em seus irmãos e dentro dela mesma.

Não podemos mais dizer que os Starks são a família mais atingida pela Guerra dos Cinco Reis (existem Casas que foram totalmente extintas, afinal), mas os filhos e filhas de Ned Stark, mais do que ninguém, cresceram como produtos do caos estabelecido pelo conflito. Sendo Senhora Interina de Winterfell e tendo que lidar com os entraves de governar bem sob circunstâncias adversas, Sansa parece ter sido a que se saiu melhor entre os irmãos – o que é bem triste e problemático se lembrarmos que sua determinação é fruto mal concebido de um abuso. Abuso não deveria definir força, principalmente a feminina. Na outra mão, temos Jon, que precisou morrer para abraçar seu papel de herói (que veio com o indesejado papel de Rei do Norte e uma questionável ideia de real mudança); Arya, uma assassina fria e treinada, capaz de bater a mulher que venceu seu antigo “mentor”, o Cão de Caça; e Bran, que de tão anestesiado pelas memórias excruciantes de eras passadas, parece apático ante as irmãs e à partida da admirável Meera Reed.

É essa imprecisa mistura de angústia, satisfação e remorso que liga os acontecimentos na Campina e os reencontros dramáticos no Norte, e é o que faz com que sintamos as dores dos Starks mais intensamente que as de qualquer outro.

David e Dan brincam cruelmente com essas emoções ao sugerir que Arya teria ido embora depois de confrontada pelos guardas no portão (em mais um callback da primeira temporada da série). Em vez disso, ela seguiu para as criptas, e preciso dizer que ter a figura esculpida de Eddard como testemunha do reencontro das filhas – que estiveram juntas pela última vez quando seguiram com o pai para Porto Real – foi uma escolha narrativa bem inteligente. Naquele lugar escuro, as diferenças entre Sansa e Arya nunca estiveram tão claras, mas há também uma ligação profunda entre elas que, embora seja conhecida por nós, precisou ser redescoberta pelas duas.

Em uma entrevista recente, Maisie Williams admitiu que, depois de tanto tempo sem dividir o set com a amiga (Sophie Turner), foi difícil encontrar o tom necessário para a cena do reencontro. Esse constrangimento ficou evidente no diálogo entre as irmãs – e, principalmente, na linguagem corporal das atrizes –, que pareciam buscar a todo momento um espaço para aquele relacionamento em suas novas vidas. A história delas ainda não acabou.

Emplacar duas grandes reuniões seguidas entre os Starks (três, se contarmos o encontro com Nymeria) foi arriscado, mas é natural que, a essa altura da história, onde todos os pontos estão sendo ligados sem muita preocupação com a linha que eles formam, nós sejamos bombardeados com acontecimentos deste peso toda semana.

Um dos melhores segmentos do episódio foi a disputa entre Brienne e Arya, ainda que questionável por algumas razões. Por que arriscar um treinamento com armas reais? Sim, Brienne estava usando Oathkeeper para treinar adolescentes, e o fato foi confirmado na sinopse oficial da HBO. O olhar de Sansa, que claramente denotava surpresa e preocupação (fato confirmado pelo diretor do episódio), é uma herança do próprio Ned, vendo Arya treinando com Syrio na Fortaleza de Maegor. Engraçado reparar que, enquanto nos livros, Arya tem dúvidas sobre o que ela está se tornando, na série ela parece estar bem orgulhosa disso. Tal variação pode derivar do fato de estarmos comparando uma mulher a uma criança, ou talvez seja só mais um exemplo da glorificação à violência, comumente vista em Game of Thrones.

Arya sabia que aquilo era verdade. Os cavaleiros andavam sempre sendo capturados e resgatados, e às vezes as mulheres também. Mas e se Robb não quiser pagar o preço deles? Ela não era nenhum cavaleiro famoso, e era de esperar que os reis colocassem o reino à frente das irmãs. E a senhora sua mãe, o que diria? Ainda a quereria de volta, depois de todas as coisas que havia feito? Arya mordeu o lábio e desejou saber.

A Tormenta de Espadas, Capítulo 22, Arya IV

Enfim, o duelo foi interessante por evocar vários outros embates vistos ao longo da série. Posso mencionar aqui as breves sessões de treinamento da Arya com Syrio Forel e, depois, com o Cão; a luta deste último com a própria Brienne e até o inesquecível confronto entre a Montanha e a Víbora.

Em “The Dance of Dragons”, Daario Naharis atestou que devemos sempre apostar no lutador menor e mais ágil quando este enfrenta um maior e mais encorpado, mas os exemplos supracitados (e a própria disputa que o mercenário assistia na ocasião) sugerem o contrário. Os dothraki podem ter levado a melhor contra os Lannisters na Campina, mas, em “Baelor”, Jorah venceu Qhoto mesmo com o peso de sua armadura. Sendo assim, eu seguramente teria colocado meu dinheiro na Brienne em uma luta de verdade (o que não foi o caso). Devemos considerar também outros fatores como a apreensão de Brienne ao enfrentar (com espadas de verdade!) a garota que ela jurou proteger. Em suma, o mais importante aqui foi ver que as duas (e Podrick) encontraram prazer naquele momento, o que tem sido raro ultimamente, ainda mais quando se tem o novo Corvo de Três Olhos por perto. A pobre Meera que o diga.

Como uma das personagens mais maltratadas pela HBO (eles nem deram a ela um novo figurino), eu fiquei realmente triste ao vê-la deixar Winterfell – e, provavelmente, a série – daquele jeito. Sua despedida me fez lembrar que, ao contrário do que foi afirmado nas criptas, nem todos os que conheciam o rosto de Ned Stark estão mortos. O papel de Howland Reed na história, principalmente por ser o último sobrevivente dos acontecimentos na Torre da Alegria (além de Jon), é de extrema importância. O cranogmano aparecerá em algum momento para revelar a verdade sobre a linhagem do Rei do Norte, ou essa tarefa será exclusivamente entregue ao Bran com suas visões?

É curioso perceber, no entanto, que a afirmação de que Bran morreu na caverna do antigo Corvo de Três Olhos não é verdadeira. Os roteiristas esqueceram que Bran ainda tinha uma personalidade quando encontrou seu tio Benjen fora da caverna ou estão simplesmente assumindo que nós esquecemos? Também é falsa a afirmação do Mindinho de que os questionamentos acerca da adaga de aço valiriano começaram a Guerra dos Cinco Reis. Ele começou. O fato de Bran ter mencionado o discurso do “caos é uma escada” mostrou que ele sabe como Petyr Baelish esteve por trás dos eventos que deram início ao confronto que tirou a vida de tantos.

(Para aquele que não lembram, o discurso de Mindinho sobre como o caos traz oportunidades foi destaque no episódio “The Climb”, da terceira temporada).

Na série, a tentativa de assassinato do Bran nunca foi propriamente discutida como nos livros, onde outro personagem já foi apontado como mandante. Dar a adaga de presente ao rapaz e levantar essa discussão mais uma vez depois de tanto tempo é algo que Mindinho dificilmente faria se estivesse, de alguma forma, envolvido no crime… certo? Em contrapartida, se ele não está envolvido, por que mentir sobre não saber quem foi o dono da arma, quando, na primeira temporada, ele levou Tyrion ao seu primeiro julgamento por combate com essa acusação?

O reaparecimento da adaga (que também foi vista em uma ilustração no livro onde Sam descobriu sobre a mina de obsidiana) sugere que, em algum momento, ela será utilizada em alguém. Como alguém que pode enxergar passado, presente e futuro, vocês acham que Bran transmitiu o presente de Mindinho à Arya por acaso? Ser ameaçado por Jon nas criptas não é tão grave visto que, mesmo coroado, o rei continua sendo um bastardo, e Baelish sabe que pode usar isso contra ele de alguma forma. Já os três filhos de Catelyn, unidos, podem derrubar o Senhor Protetor do Vale, e com as novas habilidades letais da Arya, “lutar todas as batalhas na mente” pode não ser o suficiente para salvá-lo.

Muito da sétima temporada tem sido sobre revisitar o passado e, aos olhos da nova geração, reparar os erros do passado para então forjar um novo caminho.

Essa temática se evidencia em Pedra do Dragão, onde o episódio passa algum tempo provocando os fãs com a ideia de Jon e Daenerys como mais do que simples aliados. Depois de anos abrigando Stannis e seu séquito, quem diria que a fortaleza de Aegon Targaryen se tornaria palco dos gracejos de Davos ou dos risinhos de Missandei ao lembrar Verme Cinzento. O lugar mudou, e essa mudança diz algo fundamental sobre a maioria dos personagens ali presentes, algo que nós (e até eles mesmos), talvez, tenhamos esquecido: eles são jovens.

A cena nas cavernas beneficiou-se da inegável química entre os protagonistas.  A empolgação de Jon ao mostrar a quantidade de vidro de dragão encontrada na caverna reflete um diálogo que ele teve com Samwell na quinta temporada, onde ele atestou que seria necessária uma montanha de obsidiana para vencer o exército do Rei da Noite. Os Filhos da Floresta e Primeiros Homens parecem ter chegado à mesma conclusão.

Muita gente criticou os desenhos convenientemente encontrados nas paredes da caverna. Para mim, dada a importância do vidro de dragão no combate (e criação) dos Caminhantes Brancos, é natural pensar que seus inimigos ancestrais se encontraram, em algum momento, na ilha de Pedra do Dragão. Além do mais, o que é mais uma conveniência no meio de tantas outras, muito menos plausíveis? Como vocês devem ter notado, os espirais desenhados pelos Filhos retratam padrões já vistos ao longo da série, na formação de pedras que circulavam o local onde o Rei da Noite foi criado, por exemplo; ou na disposição dos corpos encontrados pelos patrulheiros no primeiro episódio. A pira de Khal Drogo também é uma possível referência, e colocaria gelo e fogo, mais uma vez, na mesma página.

Vale ressaltar que cavernas repletas de segredos dos povos antigos de Westeros foi uma ideia plantada por George R. R. Martin em Os Ventos de Inverno, no capítulo em que Arianne viaja pela Mata da Chuva, nas Terras da Tempestade :

A caverna se mostrou muito mais profunda do que todos haviam imaginado. Para além da entrada rochosa onde a companhia de Arianne tinha montado acampamento e amarrado os cavalos, uma série de caminhos convolutos levava mais e mais para baixo, com buracos negros escapando para ambos os lados. Mais para o fundo, as paredes voltaram a se abrir, e eles se viram dentro de uma vasta caverna de pedra calcária, maior do que um grande salão de um castelo. Seus gritos agitaram um ninho de morcegos, que voaram ruidosamente em volta deles, mas só tiveram ecos distantes como resposta aos gritos. Uma exploração vagarosa pelo salão revelou outras três passagens, sendo que uma era tão pequena que, para avançar, seria preciso se arrastar de joelhos

A passagem que Arianne havia escolhido para si ficou íngreme e úmida depois de uns trinta metros. Seus passos eram cada vez menos firmes. Ela escorregou uma vez e precisou se segurar para não cair. Mais de uma vez, pensou em voltar, mas enxergava a tocha de Sor Daemon mais adiante e o ouvia chamar por Elia, então seguiu em frente. E, de repente, Arianne se viu em outra caverna, cinco vezes maior que a anterior, cercada por uma floresta de colunas de pedra. Daemon Sand apareceu a seu lado e ergueu a tocha.

– Olhe para o formato das pedras – disse ele. – Aquelas colunas e a parede ali. Está vendo? – Rostos – respondeu Arianne. Tantos olhos tristes, observando.
– Este lugar pertencia aos filhos da floresta.
– Há mil anos. – Arianne virou a cabeça.

O antigo pacto foi, sem dúvidas, um poderoso argumento na súplica que Jon fez a sua tia. Os Filhos da Floresta criaram os Caminhantes para combater os Primeiros Homens e, ainda assim, terminaram se unindo aos humanos quando suas criaturas, seres notavelmente inteligentes e perigosos, voltaram-se contra os criadores. Alianças mudam o tempo todo (Davos que o diga), mas o apoio de Daenerys não virá com tanta naturalidade. Pelo menos não deveria. Ou será que deveria?

O discurso da rainha ao demandar, mais uma vez, que Jon ajoelhe-se perante ela, é o mesmo que o próprio Jon usou para tentar convencer Mance Rayder a ajoelhar perante Stannis em “The Wars to Come”.  “A sobrevivência do seu povo não é mais importante que seu orgulho?”. Os dois diálogos se assemelham em diversos pontos, diferente daquele que vimos em “Battle of the Bastards”, onde Daenerys abriu mão das Ilhas de Ferro em prol da aliança com Yara.

De onde vem essa insistência em reinar sobre toda Westeros? Ela teria sido mais receptiva a um apelo de Sansa? O Norte é, de fato, maior e mais relevante que as Ilhas de Ferro e, diferente de Yara, Jon não tem uma armada para oferecer em troca do título. Exigir a lealdade de seus supostos súditos é habitual, mas Dany é mesmo a governante libertadora que Missandei tanto defendeu posteriormente? Aquele discurso de progresso e liberdade não combina muito com o texto que David e Dan prepararam para a mhysa este ano. Por que em vez de disparar um “ajoelhe-se ou morra” a cada cena, ela não tenta provar que merece ser escolhida pelos nortenhos, assim como foi escolhida pelos escravos? Isso me lembra uma das melhores frases de Stannis nos livros: “Estava tentando conquistar o trono para salvar o reino, quando devia estar tentando salvar o reino para conquistar o trono.” (Jon XI, A Tormenta de Espadas).

Quando a Mãe de Dragões descobriu que Jardim de Cima foi tomada e que os navios dos Imaculados foram destruídos pela frota de Euron, ela decidiu seguir o conselho de Olenna, ignorando os “homens sábios” em seu Conselho e voltando-se para um homem que não sabe de nada (afinal, como mulher, D&D jamais permitiram que ela decidisse algo por si mesma). Foi o conselho de Jon que parece ter convencido Daenerys a atacar os inimigos em um lugar onde estes seriam os únicos a sofrer com a devastação nuclear de seu “dracarys”.

Com Daenerys e Drogon queimando soldados em outro lugar, a recepção de Theon em Pedra do Dragão não foi tão calorosa. Em “Home”, o próprio personagem antecipou que Jon o mataria quando o encontrasse (afinal, sua traição resultou nas mortes de Rodrik e Luwin, ambos relembrados no núcleo de Winterfell). Felizmente, não foi isso que aconteceu. Alfie Allen é um muito talentoso para ter sua jornada na série interrompida prematuramente. Espero que Theon consiga resgatar a irmã… mas como ter certeza de que ela ainda está viva? Ele, mais do que ninguém, sabe o que homens como Euron gostam de fazer com seus troféus.

Apesar da recente descaracterização, Jamie sempre foi um dos personagens mais moralmente interessantes em Game of Thrones. Ele é fiel a sua irmã porque ele a ama, mas as dúvidas e respeito dela existem (embora o roteiro escolha ignorá-las) e devem estar crescendo depois do sermão de Olenna na semana passada. No começo do episódio, vimos ele e Bronn garantindo que a remessa de ouro Tyrell siga seu caminho até Porto Real. Foi ótimo voltar a ver esses dois juntos, e curioso perceber como Jaime, mesmo com seus lapsos de bravura e honradez, ainda ilude o companheiro com promessas de uma recompensa maior assim como Cersei fez com Euron.

Falando na Cersei, a menção à Companhia Dourada foi um aceno aos leitores dos livros. Para aqueles que não leram: o bando de mercenários possui um papel importantíssimo no desenrolar da guerra nos Sete Reinos, algo que a série dificilmente terá tempo de abordar. Entretanto, essa não foi a primeira vez que ouvimos o nome da companhia na adaptação. Na quarta temporada, Davos garantiu a Stannis que eles tinham o maior exército nas Cidades Livres, e que seriam uma bela ajuda na conquista do Trono de Ferro. Também foi dito que Jorah serviu com eles antes de jurar sua espada à Viserys. O que Mormont dirá quando souber que seus antigos empregadores foram contratados para lutar contra sua khaleesi?

E quem precisa da Companhia Dourada quando se tem Sor Bronn da Água Negra? Interpretado pelo carismático Jerome Flynn, o mercenário serve duas funções importantes nesta história. Como um dos poucos personagens plebeus, Bronn oferece um ponto de vista único sobre as políticas dos Sete Reinos, constantemente lembrando seus “superiores” da pouca consideração que a maioria tem pela classe dominante. A segunda função é, simplesmente, trazer leveza a uma saga que, de outra maneira, seria apenas fogo e sangue.

Essa leveza só me incomodou quando Jaime e Bronn mencionaram a falta de um Alto Septão, como se a religião tivesse deixado de existir depois da explosão do Grande Septo. O que deveria deixar de existir é a visão maniqueísta que David e Dan têm dos personagens. Só porque cedeu às ofertas de Jaime e traiu sua suserana ou ameaçou matar o filho caso este não se juntasse à Patrulha da Noite, Randyll Tarly PRECISAVA ser retratado como o sádico que gosta açoitar seus próprios soldados em público? Transformar personagens detestáveis em personagens odiáveis é um artifício barato e conhecido dos nossos showrunners, principalmente quando eles querem que a audiência comemore a eventual morte de tais personagens pelas mãos de outros tidos como favoritos, minimizando assim culpa destes últimos pelo assassinato.

Em O Festim dos Corvos, Jaime lamentou ver que os Darry estavam cultivando sua última colheita, e que seria quase impossível para eles se prevenirem contra o inverno vindouro. Aqui, o vemos disposto a colher cada grão de cada campineiro, simplesmente porque Cersei ordenou. Não há dúvidas de que, no inverno e na guerra, vemos o pior lado dos homens, mas Jaime foi, no mínimo, hipócrita ao julgar a violência tirânica de Randyll com seu chicote, se o vemos ali, disposto a fazer o mesmo, deixando pessoas passando fome. Esse tema dos grãos e alimentos, mesmo que levantado tão tardiamente na série, é muito interessante. Impossível deixar de comparar a maneira como Sansa e Jaime lidam com a situação.

Tudo isto alimentou minha tensão no emocionante clímax do episódio. A maior vantagem de ter baixas expectativas é ficar mais surpreso que a maioria quando algo realmente bom é entregue. Por muito tempo, os fãs esperaram que Daenerys soltasse seus dragões e dothraki sobre os adversários, mas a euforia do momento foi minimizada pela “infeliz” presença de Jaime e Bronn no campo de batalha. A inclusão de Tyrion na sequência foi sábia, pois ele traduziu o sentimento de grande parte dos que estavam assistindo às cenas. Peter Dinklage é um dos grandes tesouros dessa série e, mesmo que ele tenha sido instrumental na libertação do lado “fogo e sangue” de Daenerys, é impossível não pensar que ele deveria estar se sentindo um lixo ao observar que não pôde evitar que aquela destruição monumental acontecesse.

Inclusive, a proficiência estrutural do segmento não seria nada sem as pontuais contribuições dos personagens ao longo do caminho. O olhar culpado da Mão de Daenerys, ao ver soldados de sua própria família serem queimados daquela maneira ecoou a reação dele à explosão de fogovivo na Batalha da Água Negra.

Como vimos na cena do primeiro episódio envolvendo Arya Stark e os soldados da Casa Lannister, muitos daqueles homens são apenas pessoas comuns que acabam pagando um preço alto pelos jogos violentos dos grandes senhores. Por outro lado, o Tyrion da série parece sempre estar passeando entre as narrativas do contraditório e terrível Lannister dos livros, e o herói bondoso, sábio e doce de Dinklage. Afinal, ele conseguiu fazer exatamente o que queria. Se aliou a rainha com os melhores ideais, para voltar à sua terra de origem e concluir a traição que planejou contra a própria Casa.

Graças à mão perdida de Jaime, todo o heroísmo da batalha caiu sobre os ombros de Bronn, que foi encarregado de operar o scorpio contra Drogon. Considerando que os dragões são uma das principais esperanças do reino contra o Rei da Noite, posso estar sendo egoísta ao afirmar que, em nenhum momento, eu deixei de torcer pelo Bronn. Um bom personagem interpretado por um ator real é, para mim, mais valioso que um dragão virtual, por mais extraordinário que ele pareça.

A batalha propriamente dita foi uma maravilha narrativa e técnica, com efeitos visuais quase impecáveis e uma cinematografia de cair o queixo. Drogon nunca foi tão grandioso e ameaçador, e o mesmo pode ser dito de sua mãe. O travelling frontal que acompanhou Bronn enquanto ele atravessava a névoa da guerra foi inquietante, mas serviu para enfatizar o desespero e a competência do mercenário, que se manteve fiel à sua tarefa.

Do cenário às carruagens, tudo foi uma grande homenagem aos clássicos western, com os cowboys (Lannisters e Tarlys) enfrentando os indígenas (dothrakis). Na verdade, essa comparação – feita pelos próprios produtores no vídeo de bastidores – é discutível se pensarmos que, na batalha em questão, os Lannisters são os nativos defendendo suas terras dos invasores. Aliás, essa foi a primeira vez na série que vimos os senhores dos cavalos serem retratados com a justiça que eles merecem – ainda que muito pouco humanizados. Como o Rei Robert disse certa vez, “somente um tolo enfrentaria dothrakis em campo aberto”.

Quando Jaime, no auge de sua insensatez heroica, enxergou a oportunidade de matar a filha de Aerys, ele não hesitou em arriscar a própria vida pela chance de acabar com a guerra. Cercado pela destruição, Tyrion observou de longe a investida majestosa do irmão, o que resultou em um grande momento para os dois atores.

O Regicida sempre representou a subversão da cavalaria, uma vítima dos próprios juramentos que por muito tempo escondeu suas falhas sob uma fachada carmesim e dourada. Naquele breve momento ele foi o cavaleiro que sempre sonhou ser. Por outro lado, a cena quase sugere que ele poderia ter acertado Daenerys pelas costas, do mesmo jeito que fez com o pai dela. Seja como for, se não fosse pelo Bronn, o Lannister teria sofrido uma morte digna de canções – embora não das mais alegres.

O quadro de Jaime afundando sob o peso da própria armadura foi simbólico (“Quanto mais você possui, mais você pesa”), e lembrou bastante a passagem por Valíria no episódio “Kill the Boy”, onde Tyrion quase sofreu o mesmo destino do irmão. A estranha calma da última cena encerrou com ar enigmático o episódio mais sólido, terrível e triunfante da temporada até então. 

Daenerys teve provações dificílimas em sua vida. Pessoas queimaram e seus gritos não deveriam ser esquecidos ou celebrados. Mirri, Pyat Pree, Kraznys, os khals, a garota Zalla em Meereen, e todos os soldados da antiga Baía de Escravos, que também eram esmagados pelos aros da roda do poder. Com isso, retomo o questionamento da introdução desta análise. Dragões sempre foram a glória e a perdição do mundo de gelo e fogo. Onde está o limite do nosso deslumbramento ao ver coisas queimando ao pó? Se você escolher queimar tudo para vencer suas batalhas, o que restará do mundo para você?


Notas Finais

✖ Spoilers of WarApesar dos vazamentos, o episódio bateu um novo recorde de audiência. Ainda assim, eu sinto por aqueles que viram o Campo de Fogo 2.0 pela primeira vez em baixa resolução.

✖ História & Repetição: O Campo de Fogo foi a batalha decisiva que fez com que os Lannisters dobrassem o joelho para Aegon Targaryen. A Casa Gardener, que governava sobre a Campina na época, foi inteiramente extinta enquanto os Tyrell, seus vassalos, foram recompensados com a senhoria daquelas terras por terem apoiado o Conquistador.

Para saber mais, assista aos vídeos da série História & Tradição (aqui e aqui).

✖ Canção de Gelo e Fogo: O trabalho de Ramin Djawadi foi, como sempre, a cereja no bolo de vários dos bons momentos que vimos no episódio, com destaque para a trilha que embalou as cenas da caverna. Jon e Daenerys terão um tema específico, e é claro que terão. David e Dan confirmaram que eles começaram a sentir atração um pelo outro ali.

✖  A adaga de Chekhov: A adaga de aço valiriano dada à Bran neste episódio foi vista pela última vez na mesa de Eddard e, na série, NÃO FOI A MESMA usada por Mindinho quando ele traiu o Stark (o que não quer dizer que ele não tenha recuperado o objeto mais tarde).

✖  Caos é uma escada: Na quinta temporada, Mindinho prometeu a Cersei que usaria os Cavaleiros do Vale para tomar Winterfell para si. Me pergunto o quanto dessa promessa era verdade.

✖ Outside the EpisodeNo Inside the EpisodeDavid e Dan afirmaram que o retorno de Arya foi inspirado no de Odisseu, que depois de voltar da sua longa jornada, foi reconhecido apenas pelo seu cachorro, Argos. Que falta faz um lobo gigante nessas horas. Inclusive, é interessante perceber que Arya claramente não precisa mais implorar por abrigo, como aconteceu em Porto Real e na Casa do Preto e Branco.

✖  “Ninguém”: Quando viu Brienne pela primeira vez no episódio “The Children”, Arya perguntou quem ensinou ela a lutar. Nesse episódio, nós vimos o inverso, e a resposta de Arya tornou a referência ainda mais brilhante.

Notável também foi o fato de que a atriz Maisie Williams, destra na vida real, utilizou a mão esquerda no embate para se manter fiel à personagem dos livros.

Arya tirou a mão direita do punho e limpou a palma suada nas calças. Segurou a espada com a mão esquerda. Ele [Syrio Forel] pareceu aprovar.
– A esquerda é boa. Tudo o que seja invertido atrapalhará mais seus inimigos. Mas está na posição errada. Vira o corpo de lado, isso, assim. Você é magro como o cabo de uma lança, sabia? Isso também é bom, o alvo é menor. Agora, o modo de agarrar. Mostre-me.
A Guerra dos Tronos, Capítulo 22, Arya II

✖  “Obrigado”: Aparentemente, o roteiro vazado do episódio confirmou a saída de Meera da série, o que, se for verdade, será um grande problema de continuidade.

✖  Insubmissos, Não Curvados, Não Quebrados e Não Lembrados: A afirmação de que Dorne “foi perdida” é, ao menos em parte, incorreta. Se Ellaria foi capturada a caminho de Lançassolar (o que não ficou muito claro), seu exército ainda existe. As filhas mais novas de Oberyn – previamente citadas na série – poderiam manter o apoio a Daenerys sob a promessa de que sua mãe seria resgatada. Eu duvido que a série forneça qualquer resposta em relação a isso.

✖  Cuspiu fogo no prato que comeu: Se Daenerys está tendo dificuldades para alimentar seu grande exército, por que queimar os carros com suprimentos da Campina?

✖ O primeiro do Robert: Parte da fala de Robert no episódio “Lord Snow” (a mesma citada no início do texto) parece descrever exatamente o que houve entre Jaime e Daenerys:

“Meu cavalo tomou uma flecha, e então eu estava a pé, tropeçando pela lama. Ele veio correndo em minha direção, o burro garoto, pensando que poderia acabar com a rebelião com um único brandir de sua espada”.

✖ Estrada do Ouro: De acordo com a sinopse oficial da HBO, a batalha entre Daenerys e Jaime ocorreu ao longo da Torrente da Água Negra, o que significa que a esta altura, Jaime já estava próximo a Porto Real.

✖  Seje menas: A princesa Shireen pode ter ensinado Davos a ler, mas a gramática ele aprendeu com o Stannis.

✖ Valar Morghulis: Com este episódio, temos cinco personagens importantes portando armas de aço valiriano. As batalhas finais que veremos na próxima (e última) temporada já estão com o line-up quase definido:

  • Jon Snow – com Garralonga
  • Samwell Tarly – com Veneno de Coração
  • Jaime Lannister – com Lamento da Viúva
  • Brienne of Tarth – com Cumpridora de promessas
  • Arya Stark – com a adaga

O Podcasteros do episódio deverá sair em breve.

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No último domingo, mais de 20 anos depois de lançado o primeiro livro das Crônicas, gelo e fogo finalmente se encontraram.

Desde o princípio da saga, apesar do grande número de personagens, locações e acontecimentos imprevisíveis escritos por George R. R. Martin, uma coisa parecia certa na cabeça dos fãs: Jon Snow e Daenerys sempre estiveram em rota de colisão. Como os últimos membros vivos da dinastia Targaryen (fato confirmado na sexta temporada da série) que, por anos, habitaram mundos completamente diferentes e evoluíram dentro deles de maneira extraordinária, o encontro da dupla prometia ser digno de canções.

Contudo, assim como os meistres da Cidadela, os escritores de Game of Thrones não são muito poéticos (a não ser que o assunto seja justiça poética, que resumiu o arco da Cersei neste episódio). Contrariando aquilo que muitos sonharam para ocasião, a arrogância e o ego de dois monarcas vêm à tona quando Jon e Daenerys se encontram pela primeira vez, quase lembrando o embate entre Renly e Stannis na segunda temporada da série. A insistência da rainha de que ela nasceu para todos os Sete Reinos soou tão obsessiva quanto a imensa quantidade de títulos que ela carrega. Jon não torna as coisas mais fáceis com a atitude obstinada de Ned Stark, pedindo que Dany acredite em sua palavra simplesmente porque ele está certo do que disse. Como o bastardo, nós vimos o exército dos mortos marchar em direção à Muralha, e por isso estivemos inclinados a concordar com o ponto de vista dele. “Quando homens mortos ou coisas piores vierem nos caçar à noite, você acha que vai importar quem está sentado no Trono de Ferro?”. Diferente de nós, Dany não possui o luxo da onipresença, então é natural que ela desconfie das intenções de seu novo visitante.

Preciso parabenizar os roteiristas por não terem permitido que um embate dessa magnitude caísse na obviedade do flerte (que funcionou bem quando Daenerys conheceu Yara em Meereen). Em vez disso, eles trouxeram à cena uma gravidade devida, com necessárias menções a Torrhen Stark e aos crimes passados da Casa Targaryen que, por sua vez, retomam o questionamento do primeiro episódio dessa temporada. Os filhos devem pagar pelos pecados dos pais? Mesmo sem perceber, é a partir desse ponto que os dois personagens encontram um terreno comum.

Claro que, além do famoso sangue do dragão, Jon e Dany possuem muitas, muitas outras semelhanças – como Davos apontou, sabiamente, em seu apaixonado discurso sobre o Rei do Norte. Dany foi uma criança exilada que construiu seu próprio caminho, assim como Jon, que se tornou um líder respeitado entre o povo livre e os nortenhos, mesmo sendo um bastardo. A estrada percorrida até este encontro foi longa para ambos, mas, acima de todas as semelhanças e diferenças está o fato de que Jon e Dany entendem melhor do que ninguém o desejo de não permitir que os erros cometidos em guerras passadas manchem suas próprias reputações e a utopia de uma Westeros intocada pela guerra.

Também é valido elogiar a atuação consistente de Emilia Clarke e Kit Harington. Mostrar incredulidade perante aqueles que se apresentam a ela é algo que a Mãe de Dragões sabe fazer, e já fez muitas vezes durante os anos de reinado em Meereen. Depois que Daenerys foi amaciada (em parte, graças ao Tyrion) pudemos enxergar melhor todo o conflito em seu semblante. Como conquistar o trono que é dela por direito e, ao mesmo tempo, assimilar as notícias de um inimigo definitivo e imparcial vindo do Norte?

Harington também fez um bom trabalho ao demonstrar a raiva e frustração de seu personagem, tendo ainda a oportunidade de visitar o homem bom por trás da rabugice nortenha em momentos posteriores de menos tensão com Tyrion e a própria Daenerys.

Os conselhos de guerra de Tyrion tem deixado um pouco a desejar, mas ele está certo quando diz que é um bom julgador de caráter. Uma aliança entre Dany e Jon teria potencial para sobrepujar os inimigos e ainda, como líderes nobres com um olho para justiça e igualdade, construir um futuro até então impensável para os Sete Reinos. É engraçado que tenha sido necessário um Lannister para fazer com que um ““Stark”” e uma Targaryen pusessem as divergências de lado. Do mesmo modo que personagens mais jovens como Sansa, Bran, Jon, Daenerys e até Sam na Cidadela, Tyrion também representa, de maneira única e real, a premissa de romper com as falhas da geração anterior.

Longe dos olhos de seus conselheiros e da opressora sala do trono construída por Aegon, o Conquistador, gelo e fogo puderam se conectar. Claro que eles precisaram de um empurrão e que ainda tem muito o que conversar antes de chegar a um acordo definitivo, mas o que vimos ao final deste episódio já foi um começo. A vontade de tentar é um dos quesitos principais para separar os governantes bons dos ruins.

Outra personagem que, como o Duende, parece ter enxergando a importância desse pacto de antemão foi Melisandre. Despachar a sacerdotisa para o Templo Vermelho em Volantis foi, sem sombra de dúvidas, a saída mais fácil que David e Dan encontraram para evitar o acerto de contas entre ela e o Cavaleiro das Cebolas. Ela vai avisar às outras sacerdotisas que, finalmente, encontrou O Príncipe (e/ou Princesa) que Foi Prometido(a)? Por mais triste que seja vê-la partir, talvez tenha sido melhor do que vê-la morrer ou se tornar um objeto decorativo como Mindinho e seus monólogos insignificantes (que, justiça seja feita, funcionam bem para os trailers).

Pelo menos tivemos uma boa cena com o Varys, além da promessa de um futuro retorno. Vale lembrar que, de todas as profecias feitas pela feiticeira, ainda existe uma que precisa ser cumprida.

Enquanto os fãs podem tentar imaginar uma série de situações onde Jon e Daenerys coexistem ou até dividem o poder pacificamente, é impossível fazer o mesmo com Dany e Cersei.

Uma das coisas mais interessantes de se observar em “The Queen’s Justice” foram os paralelos traçados entre as duas rainhas em guerra. Embora a série tente empurrar insistentemente a ideia que uma é a vilã enquanto a outra é a mocinha, nós sabemos que nenhum dos personagens criados pelo Martin é totalmente desprovido de tons de cinza, exceto Euron Greyjoy, que tem se tornado um vilão quase tão interessante quanto seus antecessores Joffrey e Ramsay (embora este último tenha vivido o suficiente para se tornar cansativo). Embora o personagem seja escrito de maneira inconstante, seu entusiasmo e carisma funcionam como um bom contraponto à austeridade sombria de sua aliada.

Em minha última análise, eu falei um pouco sobre o povo comum de Westeros e a aparente inércia do mesmo diante das atrocidades cometidas por Cersei. Este episódio provou que, para minha decepção e surpresa, AS PESSOAS REALMENTE APOIAM O GOVERNO DA RAINHA (?!). Especialmente quando esse apoio envolve atirar palavrões e legumes em mulheres pouco vestidas pelas ruas de Porto Real. Na semana passada, Varys afirmou que o povo despreza Cersei por sua tirania, mas, sinceramente, eu nunca vi a capital tão animada quanto neste episódio. O que diabos ela fez para garantir esse suporte?

Enfim, depois de colocar as mãos em Ellaria e Tyene Sand, Cersei passou a noite acordada, cogitando inúmeras maneiras de exercer sua desejada vingança… só para acabar escolhendo a menos criativa entre elas. Ok, essa repetição cruel parece ser mesmo o jogo da Cersei, mas os roteiristas costumam tirar proveito dessas situações com suas rimas preguiçosas de eventos passados.

Ainda assim, a cena foi extremamente inquietante, graças ao sofrimento mudo (comum na vida daqueles que são capturados pelo Silêncio de Euron) nos olhos de Ellaria ao presenciar o destino da filha e ver que Gregor Clegane – assassino de seu amado Oberyn – continua vivo (ou quase isso). Só mesmo uma atriz de calibre como Indira Varma para fazer a audiência sofrer por personagens tão mal trabalhadas quanto as bastardas dornesas.

A forma como Ellaria foi obrigada a ver a filha morrer também se assemelha à execução de Rickard Stark, que foi queimado vivo diante do filho, Brandon. Este, ao contrário do que Jon afirmou no confronto com Daenerys, não foi carbonizado, mas morreu estrangulado ao tentar salvar o próprio pai. Depois da explosão do Septo de Baelor, quanto tempo vai demorar até Jaime perceber que está dormindo com o mesmo tipo de déspota que ele assassinou, pelas mesmas razões, há 20 anos?

EDIT: Como notado pela nossa excelentíssima leitora Branca, quando Jaime trouxe o corpo de Myrcella a Porto Real, Cersei mencionou o fato de ter visto a mãe morta e, consequentemente, ter imaginado como seria decomposição de seu cadáver. Ela se sentiu da mesma maneira em relação à filha e, neste episódio, sentenciou Ellaria a viver o mesmo tormento. 

A cena de amor entre os irmãos foi quase um eco da cena onde Jaime forçou Cersei a fazer sexo com ele diante do corpo de Joffrey em “Breaker of Chains” – mas agora a rainha está no poder. Ela demonstra esse poder ao escancarar sua relação incestuosa diante da camareira, que, aliás, esteve ao lado de Cersei desde a segunda temporada. Seria o disfarce perfeito para a Arya.

E por falar em Arya, tudo parecia estar indo anormalmente bem em Winterfell sob o comando de Sansa… até a chegada de Bran, que, convenientemente, só retorna para casa depois da chegada de Jon à Pedra do Dragão. Se os produtores não queriam que o rei do Norte soubesse de sua paternidade antes do encontro com Daenerys, porque tiveram tanta pressa em revelar a verdade? Admito que o encontro de Jon e Daenerys não seria tão interessante se nós não soubéssemos do parentesco entre os personagens (e as piadas com dragões voando sobre Jon justo quando ele diz que “não é um Stark” não seriam tão divertidas), mas, se eles tinham essa intenção, deveriam ter adiado um pouco a chegada de Bran à Muralha.

Em todo caso, é curioso notar que, assim como foi com Jon, a primeira vez em que Sansa e Bran interagiram diretamente na tela foi durante o reencontro – o que não diminuiu em nada a emoção da cena, que se tornou ainda mais comovente quando eu percebi que o novo Corvo de Três Olhos estava muito mudado para compartilhar com a irmã a alegria do acontecimento. O poder de Bran lembra, ligeiramente, a Outra Memória das Bene Gesserit de “Duna”, que tem acesso às lembranças de suas ancestrais e, por vezes, não conseguem processar todas elas (Isaac Hempstead-Wright, inclusive, disse em algumas entrevistas recentes que os produtores da série pediram para que ele lesse o Doutor Manhattan de Watchmen para interpretar a nova fase de seu personagem). No entanto, estar sobrecarregado com as vastas possibilidades de enxergar presente, passado e futuro ao mesmo tempo não é desculpa para lembrar a irmã da noite em que ela foi estuprada.

Você realmente ainda tem muito a aprender, Bran.

Apesar das novas habilidades do Bran, se tem um deus ex machina atuando em Game of Thrones, é a Cidadela. Um noviço pode encontrar absolutamente qualquer coisa no meio daqueles livros. Incluindo a receita para curar completamente um homem maduro em estágio avançado de contaminação por escamagris (!). A facilidade com que Jorah Mormont se recupera é quase uma ofensa a todos que morreram ou foram enviados para Valíria por causa da doença. Um procedimento tabu envolvendo ingestão de obsidiana teria sido muito mais crível. O lado bom é que pudemos presenciar o início da bela amizade entre o cavaleiro e Samwell – a melhor dupla formada pela série desde que Brienne e Podrick pararam de ganhar falas.

Ebrose também faz um bom par com seu aprendiz. Embora os fãs tenham reagido ao feito de Sam com uma compreensível descrença, o Arquimeistre trata o assunto de maneira quase negligente. Já que as coisas estão seguindo em ritmo acelerado até o fim da série, o que custava ter dado ao rapaz, pelo menos, um elo de prata? Haverá algo de interessante naqueles livros envelhecidos? Como um homem sábio disse certa vez “uma mente precisa de livros assim como uma espada precisa de uma pedra de amolar”, mas uma espada amolada não faz um bom guerreiro. É preciso usar essa arma, e correr riscos com ela. Isso faz de Sam um homem melhor do que muitos – incluindo Ebrose e, talvez, até o próprio Tyrion Lannister.

Até certo ponto, a tomada de Rochedo Casterly transcorreu segundo o planejado. Usar o voiceover do Peter Dinklage para narrar os acontecimentos da batalha foi uma escolha inteligente, pois determinou bem os passos da estratégia do anão, e onde exatamente ela falhou. Em contrapartida, a narração pode ter tirado um pouco da emoção da sequência, que poderia ter tomado um episódio inteiro se a pressa em terminar a série não fosse tão urgente.

“Seu desprezo é a sua fraqueza. Eles vão nos subestimar a cada momento e vamos usar isso para nossa vantagem. ” Foi isso que Tyrion disse no episódio “Book of the Stranger”, pouco antes de negociar com os Mestres de Escravos em Meereen. Infelizmente, ele parece ter esquecido essa lição, enquanto Jaime, mesmo com seu aprendizado lento, transformou a derrota no Bosque dos Murmúrios – onde ele foi capturado pelas tropas de Robb Stark na primeira temporada – em uma vitória fundamental para os planos da irmã.

Esse erro de cálculo provou-se fatal para Daenerys, dando mais poder para Cersei usar contra ela. Além de já possuir a lealdade de Euron (por enquanto), Cersei parece ter conseguido também o apoio do Banco de Ferro de Bravos, convencendo o enviado Tycho Nestoris de que uma revolucionária como Dany jamais daria o que eles precisam para prosperar: caos. Para garantir que os Lannisters, mais uma vez, paguem as suas dívidas, ela enviou o irmão para a Campina a fim de, com o apoio de Randyll Tarly, tomar as riquezas dos Tyrell e fazer as chuvas de chorarem sobre seus salões.

No início da temporada, Daenerys parecia estar pronta para recuperar o seu direito de nascença, e até seus oponentes acreditavam estar no ‘lado perdedor’. Mas o jogo vira rapidamente nos Sete Reinos. A Mãe de Dragões ainda tem os seus filhos e o seu khalasar, mas é muito importante para arriscar a vida em batalha. Depois desse episódio, penso que ela não terá outra saída. Seguindo o conselho de Olenna, Dany terá que ignorar os conselhos de sua Mão e agir como o dragão que seus navios carregam nas velas.

Sinto que não fui o único que ficou extremamente desapontado com a apresentação de Jardim de Cima. A sede dos Tyrell sempre foi descrita nos livros como um dos lugares mais belos dos Sete Reinos, com bosques e fontes, pátios frescos e colunas em mármore, lugares sempre cheios de gente: cantores, flautistas, violonistas e harpistas. Os estábulos com sua fina seleção de cavalos, barcos desfilando ao longo do rio Vago. Na série, ainda que tenha sido mostrado de longe, me pareceu muito menos impressionante que Monte Chifre, por exemplo.

Os jardins suspensos dos Tyrell são baixos se comparados ao nível de suspensão de descrença necessário para aceitar a facilidade com que Jaime consegue tomar o castelo da família mais rica e aprovisionada dos Sete Reinos. Jardim de Cima poderia ter suportado um cerco por meses – tempo mais do que necessário para que os aliados de Olenna soubessem dos planos de Cersei e caíssem sobre seus homens, dando aos telespectadores a grande batalha com dragões que eles tanto esperam.

Considerando todas as inconsistências lógicas, cronológicas e geográficas, a única coisa boa desses últimos minutos, além do impacto visual e do ansiado retorno do Bronn, foi a cena que fechou o episódio – provavelmente uma das melhores já vistas na série até então – que nos ofereceu uma última dose de justiça poética ao tornar a grande vitória de Cersei amarga diante da revelação final de Olenna.

Olenna e Verme Cinzento foram enquadrados de maneira parecida enquanto encaravam suas respectivas derrotas

Nos livros, a “Justiça do Rei” (ou “King’s Justice”) é a honraria ostentada por aqueles que executam os homens e mulheres condenados pela lei do Senhor dos Sete Reinos. Sendo assim, o título do episódio pode referir-se tanto às duas rainhas, retratadas com suas diferentes visões de justiça, quanto aos homens que levaram a autoridade delas adiante, como Tyrion, Jaime, Euron e Verme Cinzento. Se expandirmos um pouco este significado, a própria Rainha dos Espinhos pode ser incluída no último grupo, visto que ela matou Joffrey para proteger a neta, nossa adorada e eterna rainha Margaery.

Diana Rigg foi, definitivamente, um dos pontos mais brilhantes no elenco estrelar de Game of Thrones. O trabalho da atriz foi uma benção para os fãs que, como eu, já adoravam a personagem dela nos livros. Quando Jaime colocou o vinho envenenado diante dela, ela bebeu sem hesitar, e ainda foi a última a rir quando revelou a verdade sobre o assassinato de Joffrey (algo que apenas Margaery, Mindinho e os telespectadores sabiam).

Espero que as últimas palavras de Olenna tenham conseguido plantar a semente da dúvida na cabeça oca de Regicida, afinal de contas, esse era o forte dela. Uma rosa dourada, de fato.


NOTAS FINAIS

✖  Na semana passada, eu praticamente implorei para que alguém questionasse o fato de Jon ter se tornado rei apesar do voto de “não usar coroas e não conquistar glórias” da Patrulha. Obrigado, Tyrion. Resta saber o que será dito uma vez que alguém tocar de fato no assunto da ressurreição.

✖ Nem mesmo o Cavaleiro das Cebolas resistiu à beleza de Missandei, ou será que existiu algo mais implícito naquele breve diálogo entre os dois? Por que diabos ele foi tão amigável com o Tyrion sabendo que foi graças aos planos dele que seu único filho, Matthos, acabou morrendo na Batalha da Água Negra?

✖  O poderoso conselho de mulheres formado para apoiar Daenerys foi enaltecido pelos produtores no Inside the Episode da semana passada. Um episódio depois, todas as integrantes da promissora aliança estão presas ou mortas – o que seria cômico se não fosse trágico.

✖ Indira Varma confirmou que esta foi sua última aparição em Game of Thrones.

✖  A própria Tyene mal teve falas depois da inesquecível “you need bad pussy” em “Mother’s Mercy”, sendo calada por Olenna, amordaçada por Cersei ou caçoada pelas irmãs mais velhas sempre que tentou dizer algo além daquele patético “mama”.

✖  Além do próprio Olho de Corvo e do Victarion, o Euron da adaptação parece ter mais um personagem dos livros embutido em sua persona: Aurane Waters. Em “O Festim dos Corvos”, esse jovem capitão torna-se Mestre dos Navios de Cersei, e desperta o interesse dela por ser parecido com Rhaegar Targaryen. Claro que, fisicamente, o Greyjoy da série está longe de ser o Bastardo de Derivamarca, e muito menos o Príncipe de Pedra do Dragão, mas isso não diminui em nada o ciúme do Jaime.

✖ O fato de Varys ter sido surpreendido DUAS VEZES por uma manobra inimiga é bem improvável.

✖  A camareira de Cersei, que agora se veste como ela, foi batizada em homenagem à produtora Bernadette Caulfield, que recebeu dois Emmy Awards pelo seu trabalho em Game of Thrones antes de deixar a produção da série ao final da quarta temporada.

✖  O alegado suporte do Banco de Ferro de Bravos ao tráfico de escravos é contraditório se considerarmos que a instituição, assim como a cidade, foi fundada por ex escravos. Contudo, a rejeição à Daenerys pode derivar do fato de que esses fundadores fugiram, coincidentemente, dos senhores de dragões da Antiga Valíria.

✖ O Norte realmente lembra de algumas coisas, mas apenas Sansa parece lembrar da linha de sucessão do pai.

✖  Eu quase esqueci que o Theon teve uma cena neste episódio. Correndo o risco de soar repetitivo, tudo que posso reiterar a partir dessa breve aparição é a competência de seu intérprete. Estou ansioso pelo encontro dele com o Jon em Pedra do Dragão, o que deve acontecer no próximo episódio (se o rapaz não se juntar a Melisandre em sua fuga para Volantis).

✖ Com a aparição de Jardim de Cima e Casterly Rock, quase vimos castelos e palácios em todos os Sete Reinos de Westeros. As Terras da Tempestade, incluindo Ponta Tempestade, estava programada para aparecer na 2ª temporada da série. Ela acabou sendo cortada, embora fizesse parte do HBO Viwer’s Guide. No mapa do site, ela era assim:

Orys Baratheon liderando sua tropa

✖  Verme Cinzento lutou tão bem durante a tomada do Rochedo que eu quase perdoei o Imaculado pela luta vergonhosa contra os Filhos da Harpia naquele beco escuro em Meereen. Quase. Pobre Barristan.

✖ Falando em sor Barristan, na quinta temporada, Daenerys disse que, segundo Viserys, “Rhaegar era bom em matar pessoas”, ao que o cavaleiro respondeu “Rhaegar nunca gostou de matar”. Neste episódio, Dany afirmou que as pessoas geralmente gostam de fazer aquilo no que são boas, e Jon garante que, no caso dele, isso não é verdade. Ele provavelmente estava se referindo a matar pessoas também. Tal pai, tal filho?

✖ Dany menciona que, assim como ela, Jon também perdeu dois irmãos, provavelmente se referindo a Robb e Rickon. No entanto, ela não teria como saber que Bran está vivo.

✖ Muito curioso Daenerys ter se atentado à frase censurada de Davos, citando os “deprimentes” nortenhos falarem sobre “levar uma facada no coração pelo seu povo”. Certamente a ideia era mostrar o quanto ninguém se importa com as lendas do Norte. Mas, curiosamente, as lendas do sul falam sobre uma Nissa Nissa e um Azor Ahai que protagonizaram algo neste sentido.


  • Para assistir ao Por Dentro do Episódio sobre “The Queen’s Justice”, clique aqui.
  • O Podcasteros do episódio sai em breve.

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No dia da estreia da 7ª temporada de Game of Thrones, o roteirista Bryan Cogman, autor do episódio que comentarei a seguir, compartilhou uma entrevista que George R. R. Martin cedeu em 2014. Cogman destacou na ocasião a visão de Martin sobre arcos de redenção: “A redenção é mesmo possível? Como perdoamos as pessoas? Se não há possibilidade de redenção, qual é a resposta então?

Nesta semana tivemos a Nascida da Tormenta, trazendo sua tormenta para um mundo de pessoas quebradas, muitas delas aparentemente além de qualquer resgate. Daenerys quer mudar o mundo, mas o mundo é feito de pessoas e suas naturezas. As naturezas da loba Nymeria, do exilado Jorah, da feroz Ellaria, do Imaculado Verme Cinzento, de Fedor. Todos estados aparentemente imutáveis. E é a perspectiva da redenção ou libertação, de cada uma dessas histórias, que nos faz acompanhar essa série semana a semana, praticamente enfeitiçados.

Contrastando os momentos finais da premiere, “Stormborn” – dirigido por Mark Mylodcomeça mostrando Pedra do Dragão sob outro ângulo. Tal visão reflete os pensamentos de Daenerys que, por sua vez, passada a emoção inicial do desembarque, já encara a fortaleza como o lugar sombrio e austero que realmente é. Por anos, o rei Stannis ressentiu-se de Robert por tê-lo enviado ao lar ancestral dos Targaryen enquanto Ponta Tempestade, sede da Casa Baratheon, foi dada ao irmão caçula, Renly. Para Dany, o clima soturno e frio tem um significado ainda maior. É um lembrete de que aquela, pelo menos ainda, não é a sua casa. E ao contrário do que seu irmão Viserys acreditava, Westeros e seu povo não estavam esperando por ela de braços abertos.

Falando no povo… Onde ele está? Os únicos comentários que tivemos a respeito da chegada de Daenerys ou da explosão do Septo de Baelor, por exemplo, vieram das pessoas nas Terras Fluviais e, sinceramente, foram falas que não traduziram em nada o caos em que os Sete Reinos estão mergulhados. Pelo menos, temos alguém que parece se importar – e até representar – o povo comum: Varys.

A Mãe de Dragões pode ter desconfiado e até ameaçado o eunuco, mas Conleth Hill é tão honesto em sua atuação, que eu, pessoalmente, tendo a acreditar nas intenções de seu personagem. Mas Dany está aprendendo. Há alguns anos, perdoar a Aranha seria inconcebível. Lembram de como a rainha exilou Jorah pelo mesmo “crime” cometido por Varys? Ou de como executou Mossador diante de toda Meereen? “Um governante que mata aqueles que lhe são devotos, não é um governante que inspire devoção.” É certo que essa conversa devia ter acontecido há muito tempo, mas, dadas as circunstâncias, até que se encaixou bem naqueles minutos iniciais do episódio. Impossível, no entanto, deixar e destacar o quanto a presença de Illyrio Mopatis poderia ter dado mais de sentido nas motivações de Varys nestas circunstâncias. A icônica cena presenciada por Arya na primeira temporada, onde os dois personagens conspiram dentro de uma trama que a série de TV jamais adaptou, poderia servir a favor de Varys neste momento, já que havia sido estabelecido que ele tinha um plano para os Sete Reinos desde o começo.

Inesperada e até um pouco deslocada – mas nem por isso menos auspiciosa – foi a chegada súbita de Melisandre, que, como Varys, vem pulando do colo de um rei (ou rainha) para o outro. Foi interessante perceber que a aliança das sacerdotisas vermelhas com Tyrion em Meereen teve alguma repercussão, ainda que o processo em si tenha sido tão pouco explorado. Igualmente bem-vinda foi a profecia de Azor Ahai, outro potencial laço entre Jon Snow e Daenerys. Como admirador dos livros de George R. R. Martin, devo dizer que os elementos de texto usados na tradução de Missandei tenham talvez soado descomplicados demais, numa abordagem demasiada moderna para estabelecer o assunto, usando “pronomes” e “gênero” para exemplificar algo que é sobre alma, e não gramática. Em “As Crônicas”, temos a prosa evocativa de Aemon, com seu desespero por estar no fim da vida, e um real sentido de urgência em sua procura pela rainha e o sentido que faz da profecia:

“Ninguém nunca procurou por uma menina. Fora um príncipe a ser prometido, não uma princesa. Rhaegar, pensava eu… A fumaça do incêndio que levou Solarestival no dia em que nasceu, o sal vinha das lágrimas derramadas por aqueles que morreram. Ele partilhou minha crença quando era novo, mas mais tarde persuadiu-se de que seria o filho a cumprir a profecia, pois um cometa foi visto no céu de Porto Real na noite em que Aegon foi concebido, e Rhaegar tinha certeza de que a estrela sangrando era um cometa. Que tolos fomos por nos julgarmos tão sábios! O erro teve origem na tradução. Os dragões não são nem machos nem fêmeas, Barth viu aí a verdade, mas ora uma coisa, ora outra, tão mutáveis como chamas. A língua nos induziu ao erro durante mil anos. A escolhida é Daenerys, nascida entre sal e fumaça. Os dragões assim nos provam. Tenho de ir ter com ela. Tenho de ir. Gostaria de ser ao menos dez anos mais novo.”

(O Festim dos Corvos, Capítulo 35, “Samwell IV” – p. 446)

Eu ainda sonho com o dia em que alguém descobrirá sobre a coroação de Jon e perguntará, “mas ele não era da Patrulha da Noite?”. Talvez assim fique mais difícil omitir o fato de que o bastardo foi MORTO E RESSUSCITADO pela própria magia do Senhor da Luz. De qualquer forma, a Mulher Vermelha cumpriu sua missão, despertando a curiosidade da rainha acerca do novo Rei do Norte, em uma cena bem parecida com a que tivemos no episódio “Kill the Boy”, onde o saudoso Meistre Aemon relatou os feitos da Quebradora de Correntes para Sam, que respondeu com a frase “She sounds like quite a woman”, admirado.

Com o iminente encontro entre os dois monarcas e a tendência dos roteiristas em reviver grandes acontecimentos do passado de Westeros (como, por exemplo, a explosão do septo à la Maegor, o Cruel), podemos traçar um paralelo entre Dany, Jon, Aegon Targaryen e Torrhen Stark – que salvou milhares de vidas nortenhas ao se ajoelhar perante o Conquistador e seus três dragões, abrindo mão de sua regência, mas permanecendo o Protetor do Norte.

Tendo em mente que Jon é o típico herói relutante, podemos esperar que ele tenha a mesma conduta perante Daenerys. Ainda mais se ela prometer apoiá-lo na guerra contra os mortos. Se acontecer, como os vassalos dele responderão a isso? E quanto a Melisandre? Recentemente banida do Norte, a feiticeira pode ser um ingrediente interessante nessa mistura (se Davos não a matar primeiro).

Em Winterfell, as informações parecem viajar na velocidade do plot, e a carta que Sam supostamente enviou no episódio anterior chega depois da mensagem de Tyrion, servindo convenientemente para convencer Jon a aceitar o chamado do anão. O próprio fato de Jon ter precisado da carta de Sam para saber da existência de obsidiana em Pedra do Dragão já é um pouco ofensivo para mim. Tendo vivido na ilha por anos e como um dos homens de maior confiança do rei Stannis, é difícil acreditar que Davos não sabia da existência da mina. Como ex-contrabandista, ele poderia ter dado um jeito de trazer o mineral para o Norte antes mesmo da chegada de Daenerys. Em vez disso, o Cavaleiro das Cebolas se mostra útil fazendo conexões óbvias entre dragões e fogo.

Por mais prejudiciais que essas incoerências sejam para a narrativa, todas elas podem ser justificadas pelo fim: promover, de maneira quase desesperada, o choque entre dois dos personagens que mais cresceram na série, tanto em maturidade quanto em poder. Além disso, a viagem de Jon à Pedra do Dragão coloca Winterfell nas mãos de Sansa, deixando o caminho livre para Mindinho pôr em ação o que quer que ele tenha planejado durante os três episódios em que ficou encostado naquela parede do Grande Salão.

Ao contrário de Jon, Dany parece discutir a pauta com seus conselheiros antes de leva-la para discussão. É meio contraditório ver um time de mulheres fortes reunidas em torno da mesa de guerra e perceber que, ainda assim, quem mais fala ali é o Duende (até a rainha falou com as palavras dele, o que foi encarado como mansplaining por parte da audiência). Ignorando a problemática questão envolvendo o exército dornês, o plano de atacar Rochedo Casterly parece bom. Seria ainda melhor se os Imaculados não precisassem dar a volta no continente para alcançar o castelo, ou se ainda existisse ouro nas minas. Em todo caso, se bem-sucedido, o ataque será um baita golpe na grande sombra projetada pelos Lannisters. Já o cerco a Porto Real… Bem, viver em uma cidade cercada sob o comando de Cersei parece tão perigoso quanto os dragões.

Eu realmente senti falta de uma cena onde Tyrion e Ellaria pudessem discutir, sozinhos, as mortes de Oberyn e Myrcella. Em vez disso, foi priorizado o diálogo entre Daenerys e Olenna – o que também foi bem interessante, especialmente por lembrar um pouco as cenas em que a Rainha dos Espinhos, sentada em seu jardim, costumava dar conselhos à neta. Talvez, a Senhora Tyrell tenha visto um pouco dela mesma na Mãe de Dragões, que conseguiu chegar até ali demonstrando a própria força diante de “homens inteligentes” como Tyrion (ou seja, sendo um dragão). E se ela conseguiu convencer Dany a agir de maneira menos pacífica, como seus ancestrais? Vamos ver como a rainha responderá aos acontecimentos finais deste episódio.

Fora das salas e dos navios de guerra, “Stormborn” conseguiu transformar uma cena romântica potencialmente clichê em algo mais indireto e expressivo. Quando Verme Cinzento explica seus sentimentos à Missandei, ele se refere a ela como sua única fraqueza, implicando que, pela primeira vez em sua vida, ele tem medo de perder alguém. O medo também aparece quando Missandei começa a despi-lo; um medo de que a imagem da violência cometida contra ele acabasse afastando a mulher que tanto ama. Mas ao enxerga-lo como ele realmente é, a intérprete se expõe da mesma maneira e os dois finalmente consumam a relação em um momento que, embora preencha a cota de nudez da HBO, representa muito mais do que isso. E é interessante como essa é a segunda vez que a HBO coloca um homem jovem e virgem, com extrema habilidade em satisfazer mulheres em sua primeira experiência sexual. Primeiro Podrick Payne, o próprio Jon Snow e, agora, o Imaculado.

A química entre os atores Jacob Anderson e Nathalie Emmanuel é surpreendente, e o tema do casal é, sem sombra de dúvidas, um dos mais bonitos compostos por Ramin Djawadi.

Pequenos acontecimentos como este marcaram o episódio tanto quanto os maiores, que giraram em torno de reis, rainhas e seus respectivos conselheiros.

O pai de Jorah, Jeor Mormont, está entre as influências mais importantes na vida de Samwell. Como Jon, o Velho Urso nunca forçou Sam a ser corajoso, mas o forçou a encontrar a coragem que ele sempre teve. Sem isso, Sam nunca teria sobrevivido a um Caminhante Branco ou à Batalha da Muralha. Ao ajudar sor Jorah, Sam homenageia um dos seus próprios ídolos, além de ter a oportunidade de dar a um homem honrado mais uma chance na vida. Nos livros, Jeor pede que Sam transmita seu perdão à Jorah antes de morrer. Teria sido incrível presenciar esse momento na série, mas o respeito de Sam pelo antigo Senhor Comandante da Patrulha é o suficiente para nos fazer acreditar que ele sacrificaria sua posição na Cidadela em mais um ato silencioso de puro heroísmo.

O ato em si se deu em uma das cenas mais excruciantes já exibidas em Game of Thrones. Assim como Alfie Allen, Iain Glenn teve que trabalhar sem palavras, traduzindo em sua expressão corporal e facial a tremenda dor que Jorah sentiu enquanto Sam arrancava sua pele apodrecida. Devemos acreditar que isso será o suficiente? Arquimeistre Ebrose não terá nenhum papel a desempenhar na (possível) cura do cavaleiro? E quanto ao vidro de dragão? A carta de despedida que Jorah escreveu para Daenerys na cena anterior serviu para mostrar que seu amor pela khaleesi, mesmo que inadequado, é o que mantém ele vivo. Agora, o jovem Tarly pode ser a única chance que ele tem de reencontrá-la.

A transição do pus de Jorah para a torta na Estalagem do Entroncamento buscou recriar a delicada montagem dos penicos que vimos semana passada. De fato, esse tipo de linguagem promove no espectador reações muito divertidas.

Como Dany, Arya é uma das personagens que esteve afastada do jogo principal por um um longo tempo, de modo que a colisão dela com outros personagens também é muito esperada. Nesse episódio, fomos presenteados com dois reencontros tocantes envolvendo a garota Stark. O primeiro trouxe de volta o bom e velho Torta Quente, que encontrou na cozinha da estalagem uma ocupação digna de seu apelido. Depois do encontro com os soldados Lannister na estrada, esse foi o segundo momento pensado para lembrar Arya de que o mundo não é tão frio quanto a vida que ela conheceu. Ainda assim, sua mente permaneceu distante, até que Torta Quente chamou atenção da amiga ao revelar que os Boltons morreram e que Winterfell (graças aos deuses ele não disse “Winterhell”) agora pertence ao seu irmão bastardo, que é o novo Rei do Norte – algo que ela deveria ter descoberto nas Gêmeas, enquanto arquitetava sua vingança contra os Freys.

Enfim, depois de desistir da viagem para a capital, Arya deixa de ser “ninguém” e parte em direção ao lugar que um dia foi o seu lar… mas o lar encontra ela primeiro quando uma alcateia de lobos cerca seu acampamento – alcateia liderada por ninguém menos que a própria Nymeria. Os lobos gigantes dos Starks sempre serviram como uma espécie de representação dos seus respectivos donos, e a aparência de Nymeria aqui reflete a evolução da própria Arya, que cresceu por si própria, selvagem e livre. Arya tentou se reconectar com o passado convidando a antiga companheira para viajar com ela rumo a Winterfell, mas logo percebeu que isso não seria possível. A troca de olhares entre elas disse o suficiente. É difícil mudar a natureza de um animal. Que momento!

Muitas pessoas ficaram confusas com a escolha da frase “That’s not you”, acreditando (e até torcendo para) que aquela não fosse, de fato, a loba Nymeria. Infelizmente, não foi o caso. As palavras usadas por Arya, na verdade, referenciaram uma cena da primeira temporada, onde ela e seu pai conversavam sobre o futuro e ele afirmava que ela se tornaria uma dama casada com o senhor de um castelo algum dia, ao que ela respondeu, prontamente: “Não. Essa não sou eu.(“That’s not me”).

A quantidade exagerada de “callbacks” vista na série ultimamente é um pouco preocupante, pois denota um certo desgaste dos roteiristas, que já não possuem mais os livros como suporte e, por isso, acabam recorrendo à autorreferências não muito notáveis. Por mais que estas sejam, sim, um recurso pertinente, podem acabar ficando exaustivas se usadas em demasia, comprometendo a experiência do telespectador.

“Make Westeros Great Again”

Na capital, vimos nossa adorada rainha da hipocrisia pintando Daenerys como o bicho-papão à frente de um exército estrangeiro do mal que tem como principal missão corromper e escravizar a família tradicional westerosi. Brincadeiras à parte, esse tipo discurso é mais contemporâneo do que nós gostaríamos. Pintar a imagem de um demônio para as pessoas temerem é uma tática política pertinente, ainda mais quando se quer que elas esqueçam as atrocidades que você mesmo cometeu. Aliás, guardada as devidas proporções, essa crítica poderia se estender a Olenna, que na temporada passada acusou Cersei de uma falta de limite moral que ela mesma mostrou ter, em inúmeras situações, pelos mesmos motivos.

Além da triste ligação com nossa realidade, a técnica de desumanizar inimigos também evoca a resistência dos senhores nortenhos em relação aos selvagens – um dos principais problemas enfrentados por Jon no ano passado. No episódio “Blood of my Blood”, Randyll Tarly perdeu a cabeça quando descobriu que Gilly veio do outro lado da Muralha. Jaime foi esperto ao usar o jingoísmo e falso moralismo do Senhor de Monte Chifre a seu favor, prometendo a ele o controle da Campina em troca do apoio contra os Tyrell. Por mais desagradável que tenha sido ver o Regicida fazer Olenna parecer louca simplesmente por buscar justiça pelo assassinato de sua família INTEIRA, eu preciso reconhecer que ele foi hábil em sua manipulação.

Eu fui o único que esperou mais da “solução” de Qyburn para lidar com os dragões? Balistas como aquela foram, de fato, armas eficientes contra os Targaryens durante as Guerras da Conquista. O próprio Meraxes foi morto por um projétil que o atingiu no meio dos olhos durante um confronto em Dorne, esmagando a rainha Rhaenys Targaryen com o seu peso. A cena nas catacumbas foi incrivelmente bem executada, principalmente pelos atores, e só mostra como os produtores da série realmente tendem a buscar respostas na rica cronologia da obra de George R. R. Martin – o que é sempre importante destacar.

E finalmente chegamos ao clímax… Mas não sem antes passar pela cabine do Vento Negro, onde as duas únicas personagens bissexuais da série tinham que azarar uma a outra (é claro). Segundo Indira Varma, o beijo foi improvisado pelas atrizes, que, além de muito talentosas, parecem bem empenhadas em seus papéis tristemente estereotipados. Dito isso, a coisa mais bacana da cena, em termos de roteiro, foi a forma como Yara defendeu o irmão das provocações de Ellaria.

O ataque do Silêncio foi um presente para os fãs que reclamaram da falta de ação em “Dragonstone”. Com todo respeito às atrizes, as mortes de Obara e Nymeria tiveram mais peso que qualquer outro momento das irmãs durante sua breve passagem pela série. O núcleo de Dorne foi um dos fracassos mais notáveis da adaptação, e as Serpentes de Areia foram, talvez, os maiores exemplos deste erro. Ainda assim, as duas eram personagens relevantes, que além de terem seus backgrounds estabelecidos, significavam muito para as sobreviventes Tyene e Ellaria – provavelmente os “presentes” que Euron ofertará para Cersei (o que não deve acabar bem para elas, já que ambas estiveram envolvidas na morte da princesa Myrcella).

O ataque que teve início com o próprio Euron caindo sobre um dos homens de Yara, foi uma verdadeira vitrine de todo caos e brutalidade que só Game of Thrones pode oferecer. Marcada por uma confusão intencional na direção das câmeras e pela ausência quase total de coreografias, a sequência de batalha se destacou mais pelo derradeiro confronto entre os três membros da Casa Greyjoy do que pela matança propriamente dita. Naquele momento, todos parecemos congelar no tempo, dentro e fora da tela, enquanto Theon, cercado por morte e dor, foi dominado por sua outra persona: Fedor.

Por mais difícil que tenha sido ver o personagem sendo quebrado e fugindo daquela maneira, precisamos parabenizar os roteiristas por finalmente terem retratado um trauma de maneira apropriada. Ramsay pode ter morrido, mas os horrores a que Theon foi submetido nunca morrerão, independente dos atos de heroísmo que ele cometa. O olhar de Gemma Whelan foi tão profundo que foi difícil afirmar se Yara estava desapontada com a fuga irmão ou com ela mesma, por não ter conseguido salvá-lo. Provavelmente ambos. O adeus dos irmãos foi quase um reflexo sombrio da despedida de Arya e Nymeria.

Diferente de Verme Cinzento, que foi criado sem muitas alternativas a não ser aceitar quem ele é, Theon foi despedaçado e rejeitado depois de sua mutilação (as provocações constantes do tio são um exemplo disso). Ele progrediu bastante desde que se livrou das garras de seu captor, buscando, humildemente, fazer o que acreditava ser o certo. Mas encarar as lembranças daquilo que ele é e daquilo que foi feito com ele, além da possibilidade de passar por tudo mais uma vez…  O que mais ele poderia ter feito?

Alfie Allen carregou esse peso da maneira mais competente possível, sem precisar de muitas falas ou tempo de tela. Já podem separar o Emmy (algo que ele dificilmente terá com Game of Thrones, devido ao tempo de tela do personagem).

Outro ator que me surpreendeu foi o intérprete do Euron, que, neste episódio, esteve mais próximo do que nunca do Olho de Corvo que conhecemos dos livros. A gargalhada dele ao ver o sobrinho sucumbir foi de dar calafrios. Aliás, considerando que, certa vez, Euron disse à Balon que ele era a própria tempestade, podemos supor que o título do episódio tenha sido, também, uma alusão ao perigoso capitão da Frota de Ferro (além da clara referência à Daenerys, citada na introdução).

Depois de anos reciclando a expressão “Rei das Cinzas”, Game of Thrones parece ter finalmente encontrado um pretendente poderoso e louco o suficiente para ostentar esse título.


Nota Finais Khaleesi,

✖ Ellaria passar reto por Dorne para, só então, voltar para o lar… esse é o tipo de escolha narrativa um pouco difícil de deixar passar, contando com o fato de que as quatro governantes de Dorne simplesmente se ausentaram do reino que elas mesmas tomaram para contornar dois continentes e, no processo, ficarem sem ter como voltar para casa.

✖ Qyburn sabe que o dragão de Daenerys foi ferido por uma lança na Arena de Daznak, mas Jon deixou o Norte sem ter a mínima ideia de que seu irmão, que esteve anos perdido ao norte da Muralha, agora está seguro e a alguns poucos quilômetros de Winterfell;

✖ Pela primeira vez, Lyanna Mormont se pronunciou contra o Rei do Norte em uma assembleia. Parece que, no fim das contas, ela é mesmo mais do que um plot device. Eu fiquei surpreso;

✖ Agradeço aos produtores por não terem arruinado a cena entre Verme Cinzento e Missandei com a imagem desnecessária daquilo que existe (ou não existe) entre as pernas do Imaculado;

✖ Na conversa com Torta Quente, Arya menciona ter feito “uma ou duas tortas” por aí, claramente se referindo à Torta de Freys que serviu ao Lorde Walder;

✖ Sim, Dickon Tarly agora é interpretado por outro ator. O fato de Jaime não ter reconhecido o rapaz pode ter sido uma brincadeira do Bryan Cogman com o recast, ou só mais uma bola fora do Regicida;

✖ Intencional ou não, quando o Jaime fala para o Randyll Tarly que não consegue imaginar outro candidato melhor para o cargo de Protetor do Sul, a cena corta imediatamente para o filho de Randyll, Sam.

✖ Quando Ebrose fala sobre o livro que está escrevendo a respeito das guerras que sucederam a morte do Rei Robert, Samwell sugere um título mais poético. “A Song of Ice and Fire”, talvez?

✖ Nos livros, Pylos é um jovem meistre que está vivo e serve Stannis em Pedra do Dragão. A morte por escamagris mencionada na série foi, provavelmente, inspirada na história da princesa septã, Maegelle Targaryen, que tratou dos doentes até ser infectada por eles.

✖ Pelo tamanho do crânio atingido por Cersei, Drogon deve estar maior que o Balerion a essa altura;

✖ Para aqueles que não leram os livros, a grande e temível embarcação de Euron Greyjoy chama-se “Silêncio” por causa da sua tripulação inteiramente composta por mudos. Por isso, pudemos ver alguns homens de Yara tendo as línguas cortadas durante a sequência final;

✖ Só neste episódio, quatro momentos de temporadas anteriores foram discretamente “reaproveitados”. Como se Cogman estivesse maratonando a série enquanto trabalhava nos scripts.

Além dos já citados diálogos entre Ned e Arya ou Aemon e Sam, também foram revividos

1) o estrangulamento de Mindinho na primeira temporada (S01E04);

2) o diálogo onde Torta Quente afirma que qualquer pessoa de armadura, é um cavaleiro (S02E02);

3) o diálogo entre Olenna e Varys sobre Mindinho (S03E04);

4) o comportamento adorável do Cão de Caça (S04E03);

5) todos os momentos de Joffrey com a sua besta.

✖ Euron foi ferido pela lança de Obara e algumas pessoas acreditam que, por isso, ele pode ter sido envenenado – o que faz todo sentido. A não ser que o cara tenha herdado a plot armor do Ramsay, junto com o papel de grande vilão (não foi à toa que o Theon saltou daquele barco).

✖ Ah, quase esqueci deste detalhe terrível sobre o legado dos Bolton em Winterfell, com as estátuas de lobos mutiladas.

Primeira Temporada
Sétima Temporada

✖ Maisie Williams gravou sua cena com Nymeria no Canadá, no começo do ano. Gostaríamos de ter visto mais notícias sobre a alcateia dela para esta temporada, mas talvez esta porta tenha se fechado para sempre com a Arya da série. O que não é o caso da Arya dos livros. Neles, as duas ainda estão constantemente ligadas, com Arya entrando na mente de sua loba em seus sonhos, para caçar e atacar pessoas,  mas protegendo a mãe morta, e a si mesma. Além disso, em uma entrevista para o Mashable há alguns anos, Martin disse que Nymeria ainda teria um papel “importante” nos livros futuros:

“Sabe, não gosto de entregar as coisas, mas você não continua usando uma alcateia de lobos em sua história, a menos que você pretenda usá-la”


  • Para ler as cartas e livros usados no episódio “Stormborn”, clique aqui.
  • O Podcasteros do episódio sai em breve.

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Análise do Episódio 7×01: "Dragonstone" https://www.geloefogo.com/2017/07/analise-do-episodio-7x01-dragonstone.html?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=analise-do-episodio-7x01-dragonstone https://www.geloefogo.com/2017/07/analise-do-episodio-7x01-dragonstone.html#comments Thu, 20 Jul 2017 19:18:24 +0000 http://www.geloefogo.com/?p=39954 Um hiato é sempre difícil para uma série como Game of Thrones, mas no último domingo, depois de longos meses, […]

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Um hiato é sempre difícil para uma série como Game of Thrones, mas no último domingo, depois de longos meses, o inverno finalmente chegou para matar nossa saudade de Westeros (e, infelizmente, alguns pobres camponeses famintos). Com uma temporada que, agora, oficialmente, ultrapassou os livros de George R. R. Martin, a adaptação da HBO é um intrigante mar de incertezas para mim. Apesar dessas dúvidas, aqui estou, com mil navios e duas boas mãos, pronto para navegar com vocês.

Vamos começar?

Esqueçam o Rei da Noite: David e Dan foram os maiores inimigos desta estreia. Desde o ano passado, a dupla de criadores – que assinaram o episódio com o diretor Jeremy Podeswa – anunciam uma temporada com “menos episódios, mas mais momentos épicos™”, e isso gera uma expectativa hiperbólica entre os fãs. Por esta razão, “Dragonstone” pode ter desapontado aqueles que esperavam reviravoltas e sequências memoráveis dignas de “Battle of the Bastards” ou “The Winds of Winter”. Não é o meu caso. Nada contra batalhas campais, navais, dragões ou lobos gigantes (inclusive, Nymeria, te queremos), mas eu geralmente prefiro ver bocas cuspindo palavras em vez de fogo. Os roteiristas foram generosos nesse sentido. Como nos outros anos da série, a premiere foi reservada para estabelecer o novo status quo e as novas dinâmicas de poder, desenhando novas alianças e preparando a mesa de guerra para a tempestade vindoura.

E que tempestade. A marcha dos mortos vista pelos olhos de Bran – cujos poderes, como o novo Corvo de Três Olhos, não parecem ter mais limites ou regras – foi um lembrete pontual da ameaça silenciosa que os Caminhantes Brancos representam, com ou sem gigantes. Vale lembrar que, para muitas pessoas, ter um gigante entre a marcha do inverno não foi novidade alguma, já que a produção de Game of Thrones já tinha dado a dica nos vídeos de bastidores sobre figurinos.

Confesso que meu maior medo nessa cena foi ver outro gigante caminhando entre o exército, mas não aconteceu. A memória de Hodor permanece intacta, e o último filho de Ned Stark está de volta à trama principal… mesmo que por alguns segundos.

Como diabos aquele textão sobre o fim do mundo provou à Edd Doloroso que os dois jovens à sua porta não eram selvagens quaisquer? Claro que seria improvável e, mesmo que fosse o caso, os selvagens estão com a são a Patrulha agora. Ainda assim, por mais que o momento tenha servido bem como ponte entre as duas temporadas (e um gancho perfeito para o sequente debate em Winterfell), ele poderia ter sido agraciado com um pouco mais de tempo.

 “Drangonstone” também foi um episódio caracterizado pelo retorno efetivo de personagens que, depois de um tempo afastados da trama principal, precisaram lidar com as mudanças ocorridas fora e dentro de si mesmos.

Para Arya, esse retorno marca a oportunidade de usar tudo o que ela aprendeu para fazer justiça pela família e, para este fim, continuar riscando nomes de sua notória lista. Dessa vez, ela se livrou de todos os “Freys que valem alguma coisa” com um único golpe letal.

Apesar de ter tido a garganta cortada em uma cena que espelhou a morte de Catelyn Stark (como o “Previously” fez bem em lembrar), Walder Frey reaparece nos primeiros segundos do episódio, todo pimpão e serelepe, oferecendo seu melhor vinho a dezenas de parentes que, alegadamente, ajudaram ele a se tornar o Senhor das Terras Fluviais. Ele até usa, pela segunda vez na série, as palavras “We Stand Together”, que podem ou não constituir o lema oficial da Casa, nunca citado nos livros.

Enfim, não demora muito para o brinde desandar e pessoas começarem a tossir sangue e morrer no chão. É claro que era Arya, que ainda se deu o luxo de utilizar ‘mentiras e dourado de Árvore’  em seu discurso, um deleite para os fãs dos livros de George R. R. Martin.

A maioria das pessoas declararam que o prólogo foi o melhor momento da estreia. Eu não sei se concordo.

Claro que, por um lado, foi gratificante ver o inverno chegar para os Freys… mas também foi muito previsível? No momento que eu vi o excelente David Bradley (que trouxe uma série de movimentos sutis para indicar que aquele personagem não era quem realmente parecia ser), eu soube exatamente o que iria acontecer. Além disso, como Arya conseguiu escapar das Gêmeas ilesa? Existem ainda implicações na arte dos Homens Sem Face que não foram elucidadas na esquecível passagem da personagem por Bravos, e mesmo que essas questões não precisem ou possam ser explicadas (afinal, existe magia envolvida no processo), meu trabalho é duvidar.

Game of Thrones sempre foi sobre uma história que contemplou desdobramentos a longo prazo, e o espectador mais atento deverá ter percebido que, ao exterminar uma linhagem inteira, Arya copiou o trabalho desenhado por Tywin Lannister e Roose Bolton, subestimando vítimas invisíveis. Como podemos garantir que as mulheres que sobreviveram não estavam grávidas? Ou que crianças, agora órfãs, não poderão se vingar dos Stark em um futuro jamais escrito? Em um mundo assim, a máxima de que os filhos devem pagar pelos pecados dos pais parece quase inevitável.

O massacre dos Freys funciona melhor se analisado em conjunto com outra cena do episódio que revelou uma outra face da garota Stark: a que ela encontra um grupo de soldados comuns que dividem com ela comida, bebida e lembranças de suas próprias casas. É o tipo de cena raramente vista em Game of Thrones, especialmente agora que estamos chegando ao fim. Além de não fazer muito para acelerar o enredo, a passagem não fez uso de nenhum dos recursos que a série normalmente prioriza, como violência, efeitos visuais ou frases de efeito. Ela simplesmente apresenta melhor um cenário, e as pessoas que fazem parte dele.

Apesar de serem jurados à “Casa errada”, os soldados foram amigáveis com Arya, e falaram sobre a falta que sentem de seus entes queridos. Essas palavras pesaram nos ombros dela, pois mostram que são homens como eles que acabam sendo tirados de suas famílias e, eventualmente, morrendo quando Lannisters e Starks se enfrentam em uma guerra ou quando uma linhagem inteira de Freys é misteriosamente extinta em uma única noite. Foi um momento de humanização da personagem depois do massacre, onde vislumbramos uma Arya que, assim como aqueles soldados, também sente falta de casa. Vamos esperar para ver o quanto isso dura.

Outro arco que não movimentou muito as peças nesse episódio, mas ainda funcionou de uma maneira muito interessante, foi o do Cão de Caça em seu caminho para a redenção.

Se Samwell foi o cérebro de “Dragonstone”, Sandor foi o coração. E quem diria que alguém um dia diria isso sobre o bom e velho Clegane. Acompanhando a Irmandade Sem Estandartes em sua jornada para combater algo maior do que ele mesmo – o que já sinaliza uma grande mudança de pensamento no personagem, nosso Cão se depara com a casa da mesma família que acolheu a ele e Arya durante a jornada da dupla para o Vale, no episódio “Breaker of Chains”.  Na ocasião, Sandor atacou o pai da pequena Sally para roubar a prata que ele tinha escondido, o que, indiretamente, levou à morte o camponês e sua filha.

Claramente assombrado por esses fantasmas do seu passado – como o capitão nazista no episódio “Deaths Head Revisited”, de The Twilight Zone –, o Cão confrontou Beric sobre o motivo pelo qual o Senhor da Luz permite que ele viva e reviva enquanto pessoas melhores e mais inocentes morrem naquele tipo de situação. Um questionamento real que muitos de nós, religiosos ou não, já devemos ter feito.

Buscando sanar as dúvidas do companheiro, Thoros pediu que ele olhasse através das chamas (que ele teme, graças a seu querido irmão) e, para o desespero de Melisandre em seus XXXX anos, ele realmente enxergou alguma coisa (!!!).

Ok. Não sejamos tão injustos com a Mel. A visão do Cão de Caça parece ter sido ligeiramente inspirada na que a própria Mulher Vermelha teve em “A Dança dos Dragões”:

Visões dançaram diante dela, douradas e escarlate, cintilando, criando formas, mesclando-se e dissolvendo-se umas nas outras, formas estranhas, aterrorizantes e sedutoras. Viu os rostos sem olhos novamente, encarando-a com os buracos que choravam sangue. Então viu torres à beira-mar, desintegrando-se quando a maré negra veio varrendo sobre elas, levantando-se das profundezas. Sombras com o formato de caveiras, caveiras que se tornavam névoa, corpos agarrados em luxúria, contorcendo-se, rolando e arranhando-se. Através de cortinas de fogo, grandes sombras aladas revoluteavam contra o firme céu azul.

(A Dança dos Dragões, Capítulo 31, Melisandre) 

Sendo sincero, eu acho bem difícil de acreditar que Sandor veria tanta coisa tão claramente olhando as chamas pela primeira vez se esta não fosse a penúltima temporada da série, a não ser que ele seja o próprio Azor Ahai. Enfim, vamos supor que ele foi um instrumento usado pelo Deus Vermelho para avisar a Irmandade sobre o ataque do Rei da Noite à Atalaialeste do Mar. (Pobre Tormund)

Ainda que as cenas em Winterfell tenham trazido à tona várias lembranças da primeira temporada, Jon e Sansa estão entre os personagens que mais foram transformados pelos eventos dos seis últimos anos. As várias ameaças iminentes enfrentadas pelos nortenhos permitiram que os roteiristas explorassem as diferenças de pensamento entre os irmãos na tomada de decisões táticas específicas como, por exemplo, ao definir o destino dos herdeiros de Pequeno Jon Umber e Harold Karstark – que lutaram ao lado de Ramsay na Batalha dos Bastardos. Enquanto Jon está exclusivamente focado na guerra contra o Rei da Noite, Sansa aponta que ele ainda precisará de aliados leais para as outras guerras que virão, e a maneira mais fácil de garantir isso é recompensando os homens por sua lealdade, deixando os traidores fora de suas estratégias. Se os Lannisters fossem os únicos inimigos diante deles, talvez Jon fosse mais receptivo aos conselhos de Sansa (talvez). Mas ele viu o que o exército dos mortos é capaz de fazer e, por isso, deixa-se guiar pelo que acredita ser o certo – o que Sansa claramente enxerga como um erro.

A melhor parte desse dilema é que nenhum dos dois está inteiramente errado. Podemos escolher o lado da Sansa por abrir os olhos do irmão, que insiste em ser idealista em um mundo onde ele foi, literalmente, morto por causa de seu idealismo (O Norte ainda se lembra disso?), ou podemos escolher o lado de Jon porque, bem, existe uma horda de zumbis de gelo marchando em direção à Muralha, e o bastardo é o único ali que sobreviveu a eles mais de uma vez. Perceba que, neste conflito entre Sansa e Jon, é possível fazer o mesmo questionamento sobre legado que fizemos à Arya. Ned Umber e Alys Karstark são o tipo de personagem refém de uma sociedade que se prontificará de torná-los vilões em um futuro próximo. Personagens como Daenerys, Theon, Oberyn  e até mesmo Olly, todos foram colocados em uma posição onde suas motivações existenciais foram semeadas no questionamento sobre a retomada de um lugar legítimo, ou a justiça por familiares mortos. Por que com eles seria diferente?

O fato é que Sansa e Jon possuem pontos de vista extremamente válidos, que os fazem enxergar a situação baseados em suas próprias experiências e alinhamentos. Isso foi muito bem colocado nos diálogos, especialmente nas falas em que Ned, Robb, Joffrey e Cersei foram mencionados. Vocês repararam que o penteado de Sansa lembra bastante o que a rainha usava antes de ter sido capturada pela Fé? Cersei é, certamente, uma inimiga a se temer, mas Jon foi certeiro ao notar que, enquanto o inverno favorece o Rei da Noite e seu séquito, ele também funciona como uma poderosa defesa natural contra os exércitos sulistas (Napoleão que o diga).

Contudo, há um outro perigo, que todo mundo (exceto Brienne) parece ter ignorado até então: Mindinho. O cara pode transformar as discordâncias de Jon e Sansa em uma verdadeira disputa pelo poder em Winterfell, mesmo sem ter a última palavra. É curioso notar que a fala de Sansa sobre “ter aprendido coisas importantes com Cersei” foi largamente mal recebida pela audiência. Assim que assisti a cena, me lembrei de uma entrevista que Sophie Turner cedeu há um mês, falando sobre como Sansa estaria parecida com Cersei nesta temporada:

“Ambas estão obcecadas com o legado da família, e motivadas em manter a família, e farão qualquer coisa pelas pessoas que amam. Consigo ver Sansa se tornando uma Cersei e meio que enlouquecendo por isso, pelas ameaças contra sua família. No final do dia, é por isso que ela faz as coisas que faz, porque sente-se aterrorizada por perder as pessoas que ama. E então ela não irá se deter em função de protegê-los. Se isso significa tornar-se como uma assassina implacável, líder, mulher sádica ou dama má, então assim seja. Eu não acho que isso importa para ela [Cersei], e vejo Sansa influenciada por isso também”.

Como Sansa, Cersei também precisa lidar com problemas vindos de todos os lados.

Apesar das diferenças óbvias, Starks e Lannisters sempre se assemelharam, tematicamente falando, e é interessante analisar a dinâmica entre os dois pares de irmãos sob essa ótica. Enquanto Cersei e Sansa parecem mais astutas e perspicazes, Jaime e Jon são, indiscutivelmente, o lado “ético” das duplas. Em contrapartida, Sansa e Jaime são pragmáticos, enquanto Cersei e Jon estão muito ocupados lidando com os problemas à frente para enxergar os outros à volta.

O núcleo de Porto Real tem muito chão para cobrir desde a coroação de Cersei como Rainha dos Sete Reinos (ou Três Reinos, no máximo). Como a cidade recebeu as notícias do suicídio de Tommen? E, principalmente, como responderam à explosão do Septo de Baelor – maior símbolo da Fé na capital? O diálogo entre os gêmeos deu abertura, mas falhou miseravelmente na missão de responder tais questionamentos. Outra prova de que as reais vítimas da disputa pelo Trono de Ferro jamais terão voz, ainda mais neste ponto da história. Imaginem aqueles que perderam familiares durante a explosão do septo? Aqueles que foram acertados na rua por blocos de pedra, voando pelos ares? Aqueles que perderam tudo o que tinham devido às propriedades voláteis do fogovivo? Aqueles que foram queimados por tabela, machucados por tabela, mortos por tabela?

Aliás, Jaime Lannister é conhecido como Regicida por ter impedido que Aerys fizesse exatamente o que Cersei fez. No Inside the Episode, muito foi dito sobre o irmão respeitar o luto da rainha. Mas o comportamento de Jaime abordado neste episódio, apenas estende aquele que vimos há um ano, quando Myrcella foi morta, e absolutamente nada foi feito a este respeito.

Ainda assim, tivemos alguns insights interessantes, como quando Cersei afirma que Tommen a traiu por ter tirado a própria vida, ou quando ela pergunta se Jaime está com medo de suas atitudes. Só um homem louco não sentiria medo da Cersei, e talvez, um homem louco seja exatamente o aliado que ela precisa.

Não existe maquiagem nos Sete Reinos que faça o Euron da série chegar perto de ser o que o Olho de Corvo é nos livros. O novo visual do Greyjoy, de ar um pouco mais rebelde, é de fato melhor que o anterior, no cinza padronizado das Ilhas Ferro. Mas ainda assim foi pouco para impressionar Cersei.

Eu realmente gosto de diálogos ricos, com trocas inteligentes que, às vezes, só Game of Thrones pode proporcionar. Mas quando uma discussão inteira é baseada nessas tiradas quase cômicas, uma se sobrepondo a outra, a coisa termina ficando forçada e vazia. O embate entre Jaime e Euron começou interessante, mas logo cansou. O capitão da Frota de Ferro subestimou Cersei ao acreditar que ela aceitaria sua proposta de imediato e, por essa cena, ficou claro que a intenção da rainha é usá-lo para conseguir a maior quantidade de “presentes” possível. Se esse Euron for pelo menos um pouco parecido com o personagem original, ele não será manipulado tão facilmente. Nesse caso, Cersei que se cuide. “Os presentes de Euron são envenenados”.

Essa semana, boa parte da narrativa foi concentrada em Samwell Tarly e em sua quest pelas maravilhas da Cidadela – o que é bem compreensível, visto que se trata de uma nova locação (propriamente introduzida na abertura) com um papel chave na mudança de foco da série que, nessa temporada, deve priorizar a batalha contra os Caminhantes Brancos em vez da guerra pelo Trono de Ferro.

A montagem inicial, muito bem filmada e editada, contrastou sabiamente a enorme biblioteca cheia de promessas que conhecemos no final da sexta temporada, com a realidade dos fluidos e odores a que nosso herói é exposto em sua rotina interminável. A vida de um noviço não é fácil nem para o jovem Tarly, mesmo com os anos de experiência que ele tem como intendente em Castelo Negro. Talvez seja a essa realidade, mais escatológica do que filosófica, que os produtores se referiam quando disseram que Sam seria uma espécie de “anti-Harry Potter” em sua jornada este ano.

Por falar em Harry Potter, vários fãs perderam a cabeça ao se debruçarem sobre os intermináveis paralelos entre as sagas. O mais claro, para mim, foi na cena em que Sam pediu acesso à “seção restrita” da biblioteca, da mesma maneira que Tom Riddle (o jovem Voldemort) pediu ao professor Horace Slughorn em uma passagem de “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”. E a maior semelhança entre as cenas ainda está no ator que interpreta tanto o professor quanto o Arquimeistre, o incrível Jim Broadbent  – que está longe de ser apenas uma referência à outra história de fantasia. O ator tem na estante prêmios como Oscar, Globo de Ouro e Bafta. Uma adição inspirada ao elenco.

Ao contrário de Slughorn, o Arquimeistre apresentado neste episódio não é “o Mago” que muitos acreditam, mas sim o Arquimeistre Ebrose, especialista em medicina que certamente terá um papel fundamental na recuperação de Sor Jorah Mormont – ou você achou que aquela mão fosse de outra pessoa?

Um dos livros posteriormente roubados por Sam conta com um trecho que ressalta as propriedades curativas do vidro de dragão (sim, mil utilidades e mais uma), além de conter um mapa para uma reserva gigantesca do mineral em Pedra do Dragão, reserva que já foi mencionada por Stannis quando os dois personagens se conheceram em “Kill the Boy.

Essa descoberta, além de vital para a batalha contra os Outros, é o motivo perfeito para o aguardado encontro entre Jon e Daenerys.

Dito isso, vamos falar sobre os minutos finais do episódio – suficientemente importantes para ter dado nome ao mesmo (embora a expressão “dragonstone” também possa ser uma referência indireta à obsidiana, tema amplamente explorado tanto no Norte quanto na Cidadela).

Em uma sequência marcada pela ausência total (e oportuna) de diálogos, a linguagem corporal é fundamental. A dificuldade da Emilia Clarke em encarar horizontes distantes imaginários sem fazer caretas estranhas me incomodou um pouco no início, mas a atriz logo conseguiu encontrar o tom necessário para a performance. No entanto, os responsáveis por tornar a cena digna deste acontecimento tão esperado pelos fãs foi o trabalho do diretor Jeremy Podeswa; a trilha épica reinando sobre o silêncio; a belíssima cinematografia e os impressionantes efeitos visuais.

Eu sempre achei Pedra do Dragão um cenário muito bom para ser subaproveitado e depois esquecido como o malfadado rei que há pouco tempo viveu ali. Saber que a última descendente dos Targaryens fará uso da fortaleza de seus ancestrais para conquistar novamente os Sete Reinos (ou não) é revigorante para nós, espectadores, e para o próprio curso da história. Depois dos seis longos anos que padecemos juntos além do Mar Estreito, a chegada de Daenerys a Pedra do Dragão quase parece justiça divina.


NOTAS FINAIS

✖ As personagens femininas tiveram um destaque merecido nesta estreia, da expressão cansada de Meera Reed, à chegada vitoriosa de Daenerys, passando por Brienne e pelo discurso empoderado da pequena Lyanna Mormont. Lyanna, inclusive, não tem agradado a todos, mas é impressionante como a esmagadora maioria da audiência se afeiçoa à ela. Fica a esperança de que o poder feminino da série não seja compreendido apenas através de discursos inflamados ou de violência.

✖ A decisão de Jon, que ordenou seus vassalos a treinarem tanto garotos quanto garotas, veio dos livros, onde ele, ainda no comando da Patrulha, recrutou esposas de lança do povo livre e até prostitutas de Vila Toupeira para ajudarem a defender a Muralha.

✖ Tivemos outras pequenas referências aos livros ao longo do episódio, como

  1. a cena em que o Cão de Caça enterra os camponeses foi uma clara referência ao coveiro misterioso de “O Festim dos Corvos”;
  2. a canção de Symon Língua de Prata sobre o romance de Tyrion e Shae foi entoada na série pelo cantor Ed Sheeran;

    “Cavalgou pelas ruas da cidade, desde o alto de sua colina,
    Por becos e degraus e calçadas, para os braços de sua menina.
    Porque ela era o secreto tesouro, sua vergonha e seu prazer.
    E a corrente e o forte nada são, comparados com beijos de mulher.”

    – Há mais – disse o homem quando parou de tocar. – Ah, bem mais. O refrão é particularmente bonito, na minha opinião. “Porque mãos de ouro são sempre frias, mas há calor em mãos de mulher…”

    – Basta. – Tyrion puxou os dedos de dentro do manto, vazios. – Isso não é canção que eu queira ouvir novamente. Nunca mais.

    (A Tormenta de Espadas, Capítulo 32, Tyrion IV)

  3. a ocupação dos fortes da Patrulha pelos selvagens (embora Atalaialeste do Mar já esteja guarnecido);
  4. a inclusão de Alys Karstark em um contexto diferente daquele que vimos em “A Dança dos Dragões”.

✖ Além de ser uma belíssima peça de cenário, o mapa gigante pintado à mão na Fortaleza Vermelha foi alvo de uma curiosa teoria desde sua primeira aparição, em um dos trailers da temporada.

Observando o quadro abaixo, percebemos que Jaime está de pé sobre a região conhecida como Os Dedos, enquanto Cersei permanece sobre o Gargalo (The Neck), o que muitos ligaram à profecia do valonqar.

Essa “coincidência” pode muito bem ter sido um easter egg mas, considerando que a terceira parte da profecia (quem leu o livro sabe qual é) não foi mencionada na série, pode ser apenas isso.

✖ Muitos questionaram o fato de estar nevando em uma parte das Terras Fluviais (onde esteve o Cão) e não na outra (onde esteve Arya). Bem, basta considerarmos que 1) a Irmandade está, supostamente, indo para o Norte enquanto Arya está, supostamente, indo para o Sul e que 2) o clima em Westeros é mesmo insano.

✖ A adaga de aço valiriano que pertenceu à Mindinho e foi usada na tentativa de assassinar Bran na primeira temporada apareceu como uma das ilustrações do livro roubado por Sam. Coincidência, ou os produtores queriam nos lembrar dessa arma por algum motivo?

✖ Falando em aço valiriano, ninguém foi atrás do Sam por ele ter roubado a lâmina ancestral da Casa Tarly?

✖ Que tipo de vitamina o Pequeno Sam anda tomando?


  • Para saber mais sobre o conteúdo dos livros roubados por Sam, clique aqui.
  • O Podcasteros do episódio deverá sair em breve.

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Análise do episódio 6.10: "The Winds of Winter" (Season Finale) https://www.geloefogo.com/2016/07/analise-do-episodio-6-10-the-winds-of-winter-season-finale.html?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=analise-do-episodio-6-10-the-winds-of-winter-season-finale https://www.geloefogo.com/2016/07/analise-do-episodio-6-10-the-winds-of-winter-season-finale.html#respond Thu, 14 Jul 2016 05:22:32 +0000 http://www.geloefogo.com/?p=34919 LEIA: Muitos provavelmente questionaram o atraso desta análise – que não foi escrita por George R. R. Martin –, mas o motivo, […]

O post Análise do episódio 6.10: "The Winds of Winter" (Season Finale) apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

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LEIA: Muitos provavelmente questionaram o atraso desta análise – que não foi escrita por George R. R. Martin –, mas o motivo, nas verdade, é bem simples: não houve atraso. Depois de alguns comentários decepcionantes que li na semana passada, resolvi desistir desses textos, como disse em resposta a alguns leitores, que aparentemente me ignoraram e continuaram pedindo. Enfim, graças aos pedidos incansáveis e encorajadores dessas pessoas (e aos prints que meus amigos me mandavam de todos eles), decidi voltar atrás e, pelo menos, terminar essa temporada. Sem mais delongas, vamos lá. Espero que gostem.

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Desde 2011, todos os finales de Game of Thrones serviram, principalmente, como uma preparação para o ano seguinte, o que nas primeiras temporadas significou episódios nove que eram puro fogovivo, enquanto no útlimo, os sobreviventes recolhiam os cacos e as peças eram movidas ao longo do tabuleiro. No entanto, com o tempo, esse processo tornou-se mais dramático e menos regular. Na quarta temporada, enquanto o nono episódio foi totalmente centrado na Batalha de Castelo Negro, o season finale foi cheio de reviravoltas, como a morte de Tywin, a prisão dos dragões, a chegada de Bran à caverna do Corvo de Três Olhos e a partida de Arya para Bravos. No ano seguinte, por mais inesquecível que tenha sido a morte de Shireen e a chegada de Drogon na Arena de Daznak, os momentos mais impactantes foram distribuídos entre o último episódio e o oitavo, “Hardhome”, conduzido primorosamente pelo meistre Miguel Sapochnik.

Falando nele, o diretor provou mais uma vez que é, de longe, o melhor no time de David Benioff e D. B. Weiss – e certamente um dos melhores na televisão. Depois de ter quebrado recordes (e a internet) com “Battle of the Bastards”, o cara nos presenteou com o espetacular “The Winds of Winter”. Enquanto o primeiro foi majoritariamente focado na figadal violência da Batalha de Winterfell, o segundo se expandiu, cobrindo quase todos os núcleos da série, fazendo excelente uso de seus 67 minutos.

A longa duração aliada à direção e roteiro eficazes culminaram nesse grand finale que foi grande em todos os sentidos. Porém, em vez de mover as peças de lugar no tabuleiro, “The Winds of Winter” simplesmente removeu boa parte delas, reorganizando as que restaram para a nova (e última) jogada. Ao longo da temporada vimos muitos arcos se mesclarem, reduzindo a história ao essencial. De uma forma ou de outra, todos os personagens foram arrastados, se debatendo e aos gritos, para onde quer que eles precisem estar, mesmo que os atalhos escolhidos para isso fossem, muitas vezes, questionáveis.

feature

Esse não é bem o caso de Cersei, então vamos começar por ela.

O episódio iniciou em Porto Real, com um mini filme de 20 e poucos minutos que, literalmente, abalou as estruturas dos Sete Reinos. Além de atuações impressionantes, vimos as técnicas de luz e câmera, coroadas pelo majestoso som de “Light of the Seven” construírem lentamente a tensão apropriada para o clímax implacável. Em outras circunstâncias, eu até concordaria que piano e corda, assim como o vestido de Cersei, não fazem muito o estilo de Game of Thrones, mas com essa sequência, Ramin Djawadi ultrapassou todas as barreiras. A maneira como a música evoluiu de um tema melancólico (como as melodias compostas por Max Richter ou Philip Glass) para algo mais enérgico e nefasto (que lembrou Toccata and Fugue do Bach, exemplo clássico de uso do órgão) foi fenomenal! Uma verdadeira obra-prima!

Seguindo o exemplo de figuras como Don Vito Corleone Maegor, o Cruel, Aerys Targaryen e o próprio Tywin Lannister (em quem sua vestimenta parece ter sido inspirada) Cersei detonou uma adega de fogovivo escondida sob o Grande Septo, eliminando, com esse único movimento, seus principais opositores: a Fé e os Tyrell. Isso sem falar do próprio tio, Kevan Lannister, que tinha se apropriado do poder na corte, e do primo, Lancel, que foi seu amante na primeira temporada. Com isso, Tyrion e Varys são as únicas pessoas vivas que sabem da infidelidade de Cersei (?), podendo revelar esse segredo a Jaime em algum momento no futuro (algo que já aconteceu a essa altura dos livros).

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Confesso que fiquei bem triste ao ver Margaery partir em meio a outros personagens como Loras, Kevan, Mace, Lancel e o próprio Pycelle – que claramente não passavam de nomes a serem riscados da lista de D&D no primeiro momento oportuno. Além de ser uma beldade, Natalie Dormer era realmente uma das melhores atrizes no elenco. Em um piscar de olhos, todos os planos e esquemas promissores da rainha viraram cinzas. Contudo, essa maneira cruel de matar personagens, sem nenhuma consideração por suas ambições, é uma das marcas de Game of Thrones. Como Tarantino disse certa vez: “You don’t go to see Metallica and ask the f***ers to turn the music down. ”

Mesmo sem Natalie, a falta de boas atrizes está longe de ser um dos problemas da adaptação. Lena Headey que o diga. Assim como Sapochnik, essa mulher merece um Emmy desde o ano passado. A própria Cersei teve um crescimento absurdo dos últimos anos para cá, passando de uma personagem detestada para uma com um grande número de torcedores. Mas ao contrário do irmão gêmeo, que se tornou um “favorito” por meio da redenção, a Rainha Louca Mãe só precisou de um inimigo que o público odiasse mais do que a ela. E que inimigo. Jonathan Pryce foi firme no papel até o fim. A forma como as câmeras filmavam ele de baixo, colocando-o no mesmo patamar das estátuas dos deuses presentes no Septo, mostra que, talvez (talvez), o líder religioso fosse mesmo aquilo que dizia ser.

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No entanto, a vingança de Cersei não se restringiu ao Alto Pardal. Enquanto a explosão de fogovivo foi uma jogada política, a tortura de Unella foi pessoal, como o roteiro destacou. Em uma entrevista recente, Headey deixou escapar que o verdadeiro destino da Septã foi muito pior do que aquele exibido. Cersei prometeu que seu rosto seria a última coisa vista por Unella antes dela morrer, então é possível que ela tenha mandado Gregor Clegane arrancar os olhos da mulher. Graças a um certo príncipe dornês, sabemos o quanto o Montanha é bom nessa tarefa.

Embora Tommen tenha sido chamado de rei, ele foi um mero peão, vítima de jogadores maiores que ele. Na verdade, tirar a própria vida deve ter sido uma das poucas escolhas que o rei fez por conta própria – o que não torna sua morte menos triste. A forma como ele se atirou da janela (no que parece ter sido uma referência ao filme “Ida”) foi chocante. Pobre rapaz. Ele certamente não tinha muito mais a oferecer como personagem, mas tudo que desejou, em vida, foi fazer o certo para todo mundo, unindo a Fé e a Coroa numa tentativa tola de trazer paz à capital e seu povo.

Essa aliança forma um paralelo simbólico com o suicídio do rei, que tira a coroa da cabeça antes de encontrar seu destino, enquanto o Grande Septo de Baelor, maior símbolo da fé, queima ao fundo. Como “os dois pilares que sustentam o mundo”, um dificilmente conseguiria aguentar esse grande peso sem o outro.

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(Assim como a explosão do Septo de Baelor parece ter sido concebida a partir da queimada do Septo da Memória, o suicídio de Tommen lembrou bastante as mortes de Helaena Targaryen e da própria Ashara Dayne.)

Finalmente, depois de um arco que todo mundo provavelmente esqueceu, Samwell, Gilly e Júnior chegam a outro grande pilar da sociedade westerosi: Alexandria a Cidadela, núcleo de treinamento dos meistres, onde todo o conhecimento dos Sete Reinos fica concentrado… exceto, aparentemente, o conhecimento acerca da Patrulha da Noite, que é basicamente o que Sam foi procurar. Como diabos os caras não sabem da morte do Velho Urso quando até Jorah, a meio mundo de distância, já ficou sabendo? “A vida é irregular”. Sim. Claro.

Enquanto a cena funcionou mais como alívio cômico e uma introdução para o que veremos ano que vem, o interior da grande biblioteca, decorada com astrolábios dentre os quais está aquele que vemos na abertura da série, foi de cair o queixo. Um tanto megalomaníaco e anacrônico talvez (alguém disse steampunk?), mas extraordinário. Os produtores poderiam ter empurrado o fim dessa jornada para o primeiro episódio da sétima temporada, mas fiquei feliz em ver que não o fizeram. Por mais curta que a sequência tenha sido, eu a recebi como um presente, que serviu também para nos manter interessados nesse arco até 2017. E quem não ficou admirando aquela maravilha com a mesma surpresa no olhar do Sam?

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A menção ao arquimeistre também me fez gelar. Será que veremos Marwyn, o Mago, e, quem sabe, uma versão simplificada da famosa “conspiração” dos meistres? Como fã desse plot nos livros, mal posso esperar para ver como ele será abordado na série. Uma mistura de ansiedade e medo.

Voamos para Winterfell nas asas de um dos corvos brancos que deixaram a Cidadela. Lá, o antigo Senhor Comandante de Sam, já livre do seu juramento à Patrulha, conversa com Melisandre sobre o tratamento que recebia como filho bastardo de Ned Stark. Bons tempos. Então, os dois são interrompidos por sor Davos, que FINALMENTE confronta a Mulher Vermelha sobre a morte de Shireen. Antes tarde do que nunca, nós esperamos 10 episódios por esse acerto de contas, e valeu a pena. Liam Cunningham é bom no que faz, e aqui ele mostrou o seu melhor. Que ator! Carice van Houten também. Quem não sentiu pena de Mel quando ela confessou, quase chorando, que estava errada em relação à Stannis. Por mais que a morte de Shireen tenha sido cruel, eu fiquei feliz que Jon tenha concedido misericórdia à sacerdotisa.

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Enquanto Jon assistia à partida da mulher que o ressuscitou episódios atrás, a mulher que salvou sua vida no episódio anterior se aproximava. Depois de tanto tempo separados por fatores externos, os Starks jamais deveriam ser colocados um contra o outro. Ainda assim, é exatamente isso que deve acontecer, como o próprio enquadramento da cena evidenciou, mostrando os dois irmãos separados por um muro de pedra. É difícil imaginar o que está se passando na cabeça de Sansa em cada uma de suas cenas. Nas ameias, ela se desculpou por não ter sido sincera quanto aos Cavaleiros do Vale, fazendo as pazes com o irmão e duas referências ao pai quando menciona a chegada do inverno e o fato de que “só os tolos confiam em Mindinho”. Essa doeu, Ned. Doeu quase tanto quanto o gelo que ela deu em Lorde Baelish no Bosque Sagrado.

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Como eu já disse, se considerarmos tudo o que Sansa passou, ela tem todo o direito de desconfiar daqueles à sua volta. Principalmente os homens. Sabemos que Jon é um dos “mocinhos”, mas isso garante que ele poderá protegê-la? Ela pode ter ficado com a chave para o quarto dos pais, mas, no final, quem ficou com a chave para o Norte foi o bastardo, mostrando que Mindinho não estava inteiramente errado quando tentou puxá-la para o lado negro da Força ao revelar sua ambição de conquistar o Trono de Ferro. Depois de tudo isso, não dá pra dizer se Sansa estava realmente feliz com a aclamação do meio-irmão ou se ela ainda pensa em ter um exército que seja leal a ela.

Diante de ameaças como os Caminhantes Brancos no norte e as loucuras de Cersei no sul (ou será que ela esqueceu a traição de Mindinho e Sansa?), os homens do Norte e do Vale precisavam de um novo líder. E ninguém melhor para elegê-lo sem levantar questionamentos do que a nossa favorita Lady Lyanna Mormont. Após um discurso digno de roteiristas ganhadores do Emmy, que consistiu basicamente de uma série de colagens de frases impactantes como “O Norte se Lembra” e “…será meu rei, deste dia até seu último dia e blá, blá, blá” (até a carta que ela escreveu para Stannis foi enfiada no meio da pregação), a pequena Senhora da Ilha dos Ursos escolheu Jon, imediatamente ganhando o apoio dos nortenhos, que ecoaram a cena do episódio “Fire and Blood”, onde Robb foi coroado de maneira semelhante.

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Existem vários motivos pelos quais eu preferia que Sansa fosse escolhida Rainha do Norte nessa cena. Mas de que adianta usar argumentos baseados no cânone quando, no universo paralelo de D&D, existe um reino inteiro que é governado por bastardas? E porque não seguir Jon quando até Ramsay foi seguido cegamente por alguns? Além disso, como um mero bastardo, Jon jamais seria um consorte adequado para o casamento político prenunciado para Daenerys.

Mais importante que tudo isso foi a revelação proporcionada pelo novo Corvo de Três Olhos.

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De volta à Torre da Alegria, que visitamos pela primeira vez no episódio “Oathbreaker”, vimos Bran seguir o pai pelas escadas que levavam ao aposento onde Rhaegar Targaryen manteve Lyanna durante a Rebelião de Robert Baratheon. Notaram o foco na espada que Ned colocou sobre a “cama de sangue” da irmã? Era Alvorada, espada de Arthur Dayne forjada do precioso metal de uma estrela caída. Segundo a profecia de Azor Ahai, o salvador renascerá “quando a estrela sangrar” – o que pode significar que, na série, Jon é, de fato, O Príncipe Que Foi Prometido… ou pode ter sido um simples indicativo de que veremos a espada novamente.

Enfim, foi confirmado. R+L=J. Confesso que quase chorei depois de ter assistido algumas vezes essa mesma cena. Não por Jon ou por Ned, mas por Lyanna. O medo que ela sentia por si e pelo filho foi de cortar o coração. Se Robert soubesse da existência de outro filho de Rhaegar, ele certamente o mataria, assim como quis matar Daenerys e Viserys na primeira temporada. Honrado como sempre, e conhecendo a fúria do amigo, Ned manteve sua promessa e guardou esse segredo até da própria esposa.

Parabéns ao departamente de casting, que encontrou um bebê com a mesma carinha de quem não sabe nada do Kit Harington.

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A vitória dos lobos continuou com a aguardada chegada de Arya nas Terras Fluviais, destino que eu previ na análise do episódio “No One”.  Walder Frey certamente mereceu ter a garganta cortada daquela maneira (um espelho claro da morte de Catelyn), mas confesso que sentirei falta de David Bradley. Por mais bem escrito que tenha sido, o diálogo com Jaime jamais seria o mesmo sem a brilhante atuação do velho.

Em “A Dança dos Dragões”, onde o Norte realmente se lembra, Wyman Manderly (que foi visto na cena da aclamação de Jon em Winterfell), supostamente mata alguns Freys como forma de vingar o assassinato do filho no Casamento Vermelho e, supostamente, serve tortas recheadas com a carne dos mortos aos seus parentes, que estão em Winterfell para o casamento de Ramsay e Jeyne Poole. Essa é uma teoria antiga e, embora muito provável, ainda não confirmada nos livros. Talvez a cena tenha sido pensada como um agrado aos leitores, assim como o “fogo e sangue” de Varys e a própria presença do Lorde Wyman, mas, para torna-la possível, foi necessário que, mais uma vez, nossa suspensão de descrença fosse às alturas. Considerando a grande quantidade de Freys perambulando pelo mundo, é difícil acreditar que ninguém viu a servente fatiar dois filhos do Senhor da Travessia na cozinha.

Além disso, quantas etapas da jornada de Arya foram sacrificadas para que ela pudesse riscar esse nome da sua lista? Um reencontro com Nymeria, por exemplo, seria um final igualmente impactante para a personagem esse ano. Por que não deixar a caçada aos Freys para depois? Teria sido muito mais interessante ver Arya planejar a invasão das Gêmeas com a ajuda da Irmandade sem Estandartes (cozinhar a torta poderia ter sido uma ideia do nosso saudoso chef, Torta Quente). Até Gendry poderia se juntar a festa, e não iriam faltar oportunidades para o Cão fazer suas piadas com galinhas. Também queria saber como diabos Arya adquiriu aquele rosto. Ele pertencia a uma garota morta ou a alguém que a própria Arya matou? Sua saída da Casa do Preto e Branco foi justificada pela relutância em matar pessoas inocentes?

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Pelo visto, o que conta mesmo é o CHOQUE™ e o desejo de VINGANÇA™ saciado, independente das circunstâncias. Basta lembrarmos da sorte de Brienne, que estava no local exato, na hora exata, para acabar com a vida de Stannis.

Não precisam me esfaquear como se eu fosse um Gran Meistre em um porão: o momento em si foi vibrante, e a ligação da Torta Frey com a história do Cozinheiro Ratazana (que conhecemos por meio de Bran em Fortenoite) foi bem aproveitada. Contudo, para mim, desembarcar em Westeros e matar Walder Frey logo de cara foi como começar um jogo pelo estágio final.

De acordo com a lenda, o homem, que mais tarde seria conhecido como Cozinheiro Ratazana, era um simples cozinheiro em Fortenoite. Ele se tornara infame quando servira a um Rei Ândalo um empadão, que era feito de bacon e, sem que o Rei soubesse, do próprio filho do Rei. O Cozinheiro matara o filho do Rei, um Príncipe, para vingar-se de um erro que, supostamente, o Rei fizera com ele. O Rei, ignorante do fato, elogiou o sabor e pediu para repetir. Os deuses, mais tarde, brabos pelo cozinheiro ter assassinado um hóspede sob seu telhado, amaldiçoaram-no, e transformaram-no em uma monstruosa ratazana branca, que só podia comer os próprios filhos.

Segundo a estória, ele é uma enorme ratazana branca, e todos os outros ratos que habitam Fortenoite são seus descendentes.

(Trecho retirado da nossa wiki)

Ah, e enquanto se dirigia à Walder em seu disfarce, Arya usou a expressão “my lord” em vez de “milord”, o que lembrou a lição de Tywin na segunda temporada, sobre como fingir ser uma pessoa de baixo nascimento.

O que Arya fará em seguida? Ela partirá para a capital a fim de riscar os dois últimos nomes na sua lista, ou ficará nas Terras Fluviais, para reencontrar os personagens que já cruzaram seu caminho (incluindo nossa querida Melisandre)?

Uma coisa é certa: se a noite é escura e cheia de terrores, Arya Stark de Winterfell agora é um deles.

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No vídeo Inside the Episode, os showrunners explicaram que Arya estava direcionando o olhar para Jaime, mas não por qualquer interesse em deitar-se com ele (como Bronn, obviamente, teve que apontar). Ela estava decidindo se o mataria, mesmo ele estando fora de suas orações.

Seja lá qual tenha sido o motivo de Arya para deixar um Lannister escapar com vida das Gêmeas, a deixa foi necessária para que ele retornasse a capital e visse a ruína causada por Cersei. A última tomada, onde vemos Cersei passar pelas pessoas no Salão (rima visual com a Caminhada da Penitência?) em direção ao Trono de Ferro foi tremendamente impactante. A troca de olhares entre ela e Jaime disse tudo, e foram olhares bem diferentes daqueles que vimos quando ele e Brienne se despediram, em Correrrio. Olhares de medo, talvez? Como alguém que já matou um governante incendiário, o Regicida tem toda a razão de se preocupar ao ver sua amada irmã ocupando a mesma posição.

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De certa forma, a leoa conquistou tudo o que queria, ainda que, para isso, tenha perdido tudo (exceto Jaime). A cena anterior em que ela encarou o corpo de Tommen foi uma das mais comoventes do episódio. Eu sinceramente duvido que ela consiga tirar alguma felicidade desse reinado. Apesar da aparente conquista, Cersei parecia tão arrasada pelo luto que vai governar com punho de ferro para se sentir menos morta por dentro, até o momento em que Jaime, inevitavelmente, cumprirá seu papel de valonqar e matará a rainha.

Se Jaime não der conta do serviço, temos um dragão e uma loba que teriam grande prazer em realizar a tarefa. Isso sem falar no “pequeno irmão”, ou nos milhões de seguidores da Fé dos Sete que podem se revoltar contra a destruição do Grande Septo. Aquilo precisa ter uma consequência, certo?

Enquanto Cersei aproveita o início de seu reinado, outra rainha, mais jovem e mais bela, se aproxima do Leste para derrubá-la e roubar tudo o que lhe é querido.

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Em Meereen, a Mãe de Dragões, Quebradora de Correntes, deu um fora em Daario Naharis e ninguém, em nenhum lugar do Mundo Conhecido, deu a mínima (nem a própria Daenerys). Se essa foi realmente a última vez que vimos Michiel Huisman em cena, ele deixou a série com um grande e vazio “meh”. Quando Naharis sofreu recast, muita gente comemorou o fato de terem escolhido um ator que, fisicamente, lembrava mais o personagem dos livros, mesmo sem a barba e cabelos azuis. No final, foi Ed Skrein que realmente conseguiu transmitir a essência do personagem: um patife que não é nada bom para Dany, mas que ela deseja teimosamente. Eu não acho que, enquanto atores, um seja necessariamente superior ao outro, mas enquanto mercenários, a diferença é clara. O personagem de Huisman era só um cara ameno que, às vezes, tinha uma chance bem forçada de demonstrar suas skills, mas que na maioria do tempo ficava lá parado como um figurante barbudo padrão westerosi.

Cortar um ator mediano da folha de pagamento da HBO não é o único motivo pelo qual a decisão de Daenerys foi sábia. Como a própria khaleesi destacou: ela precisa estar aberta para um casamento político nos Sete Reinos de Westeros, e ter um amante ao seu lado seria um empecilho aos olhos da família tradicional nobreza westerosi.  Além disso, mercenários não juram suas espadas, eles vendem. Parte da queda de Stannis deveu-se à deserção dos Corvos Tormentosos minutos antes do confronto com os Boltons. Com milhares de dothraki e Imaculados leais a sua causa, os Segundos Filhos seriam apenas um peso extra na grande comitiva de Daenerys rumo ao oeste. Sem falar que, como antigo lutador das arenas de Meereen, Daario saberá cuidar da Baía dos Dragões melhor do que qualquer outro conselheiro da rainha.

A cena ainda marcou um contraponto interessante com a adorável despedida de Jorah no episódio “The Door”, onde Dany diz que precisa do velho cavaleiro ao seu lado quando conquistar o Trono de Ferro. Quem é que não consegue “montar o dragão” agora, Daario?

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A promoção de Tyrion a Mão da Rainha também foi bem emocionante. Peter Dinklage não teve muitas oportunidades de mostrar seu talento nessa temporada, especialmente nas intermináveis bebedeiras com Missandei e Verme Cinzento. Mas sua atuação nesse episódio foi comovente, e mostrou bem o que a posição de Mão significa para o Duende. Ele amava esse cargo, e agora serve à única governante em quem realmente acredita. Esse número deve crescer uma vez que ele reencontrar Jon Snow como novo Rei do Norte. Aliás, sou capaz de apostar que ele será o próximo aliado da Casa Targaryen.

As alianças com os homens de ferro e os dorneses foram previstas por mim desde a análise do primeiro episódio. Mesmo a aliança com Olenna não foi difícil de antever visto que, historicamente, foram os Targaryen que elevaram os Tyrell a Senhores da Campina. Ver a Rainha dos Espinhos calar as Minhocas de Areia foi hilário e achei criativo o modo como transferiram o discurso de Doran em “O Festim dos Corvos” para Varys e Ellaria. Essa última cena nos Jardins de Água pode não ter servido para compensar o terrível embrólio que foi o plot dos Martell na adaptação, mas ao menos deu a eles alguma importância dentro do plano maior – por mais irônico (e triste) que seja Ellaria ostentar o estandarte da Casa que ela mesma ajudou a extinguir.

– Foi para lá que Quentyn foi? Para Tyrosh, a fim de cortejar a filha de cabelos verdes do Arconte?
O pai pegou uma peça de cryvasse.
– Tenho de saber como chegou ao seu conhecimento que Quentyn estava no estrangeiro. Seu irmão partiu com Cletus Yronwood, Meistre Kedry e três dos melhores jovens cavaleiros do Lorde Yronwood numa longa e perigosa viagem, com um resultado incerto no fim. Foi para nos devolver aquilo que é desejo de nosso coração.
Ela estreitou os olhos.
– O que é o desejo de nosso coração?

– A vingança – a voz dele era baixa, como se tivesse receio de que alguém estivesse ouvindo. – A justiça – Príncipe Doran pressionou o dragão de ônix contra a palma da mão dela com seus dedos inchados e gotosos, e murmurou: – Fogo e sangue.

 (O Festim dos Corvos, Capítulo 40: A Princesa na Torre)

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Deixando para trás toda a política da Baía dos Escravos (cuja complexidade a série fez questão de ignorar), Daenerys finalmente partiu para Westeros. É meio estranho que, em uma série onde supostamente não existam protagonistas, quatro das seis temporadas tenham terminado com a Mãe de Dragões. Ainda assim, esse momento catártico foi esperado por anos e certamente mereceu a última cena. E que PINTURA foi aquela cena! Foi impossível não sentir certa satisfação (e arrepios) enquanto Drogon, Viserion e Rhaegal sobrevoavam navios com Imaculados, dothrakis, Martells e Tyrells (mostrando que aquilo se passava meses depois da jornada de Varys). Todos unidos sob o dragão de três cabeças, vermelho sobre negro. Mais uma vez, a contribuição de Ramin Djawadi na trilha sonora foi pontual com a épica faixa intitulada “The Winds of Winter” (??), que unia os temas de Daenerys com o dos Greyjoys.

Tanto Daenerys quanto Cersei e Jon terminaram a última temporada no fundo do poço. Perdidos, humilhados, mortos. Agora, com seus principais inimigos devidamente fora do jogo dos tronos, esses três personagens voltaram-se uns contra os outros, assumindo posições de real liderança e estruturando suas respectivas ascensões ao poder.

Claro que não podemos deixar de considerar alguns últimos empecilhos como Euron Greyjoy e Mindinho, mas dada a crucial velocidade com que as coisas terão de acontecer daqui para frente, tenho certeza que esses dois coringas logo serão descartados, sem muita cerimônia, pelo temível Deus de Duas Faces.

Como Qyburn declarou, “às vezes, para introduzir o novo, o velho tem de morrer”.

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Embora o nome do episódio tenha sido “The Winds of Winter”, não tivemos vislumbre do Rei da Noite e seu famigerado exército dos mortos. Talvez o título tenha sido uma referência ao livro que deveria ter servido de base para a temporada. No final, os ventos do inverno trazem mais do que a tempestade e os perigos que espreitam além da Muralha. Eles também carregam o futuro.


Clique aqui para escutar o Podcasteros do episódio.

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O penúltimo episódio da sexta temporada de Game of Thrones, “Battle of the Bastards” – dirigido com maestria por Miguel Sapochnik e escrito por David Benioff e D. B. Weiss – foi o esperado resultado das campanhas que vimos em episódios anteriores. Muitos disseram que a batalha “superou as expectativas”, o que é compreensível, mas acredito que, ao menos no meu caso, ela tenha atendido às expectativas, e isso já é muito bom! Por mais previsível que tenha sido, o incrível e bem filmado espetáculo no Norte nos deu um desfecho mais do que satisfatório… Um desfecho necessário para que a história prossiga em seu arco final.

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A Batalha de Meereen

Se algo realmente superou minhas expectativas (e derreteu meu cérebro) foi aquilo que vimos no Leste. Ao contrário da Batalha dos Bastardos, que foi antecipada de maneira cansativa desde a fase de pré-produção, eu realmente não esperava ver uma sequência tão maravilhosa com Daenerys a frente dos três dragões mostrando aos mestres de Astapor, Yunkai e Volantis quem realmente manda na Baía dos Escravos. É claro que, assim como no caso de Winterfell, a espera natural por este conflito foi o que arrastou moveu esse núcleo ao longo da temporada.

Aliás, os dois únicos núcleos abordados no episódio fizeram dele uma verdadeira canção de gelo e fogo. As composições das cenas parecem ter sido brilhantemente pensadas para criar um contraste entre ambos. Contudo, os personagens e suas ações também ajudaram a estabelecer esse contraponto. Enquanto Jon e Sansa tiveram dificuldades em conciliar a perspicácia marcial dele e as noções políticas dela (o que, por sorte, não lhes custou a vitória), em Meereen, Tyrion e Dany implantaram efetivamente política e força em conjunto para esmagar os inimigos. Se Tyrion é a mente e Daenerys o coração, era de se esperar que, uma vez juntos, eles fizessem com que as outras partes voltassem a funcionar.

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“Queime a todos” é um refrão que, coincidentemente (?), ecoa por vários núcleos da história. Esse foi o primeiro impulso de Daenerys enquanto víamos a frota da Harpia disparar contra a Grande Pirâmide e o povo a sombra dela, em uma formidável tomada aérea onde a câmera seguiu um projétil da catapulta ao alvo. Também seria o primeiro do seu pai, o Rei Louco, como Tyrion, coincidentemente (??), fez questão de apontar. Daenerys sempre oscilou entre piedade e sua autoproclamada justiça nos monólogos frequentemente cansativos sobre rodas e homens quebrados que David e Dan insistem em escrever para ela. Com seus dragões, ela poderia facilmente ter acabado com aquele cerco, mas Tyrion conseguiu fazê-la mudar de ideia enfatizando a loucura de Aerys e referenciando, coincidentemente (???), o estoque de fogovivo que ele escondeu nos túneis sob Porto Real (se Jaime contou isso ao Tyrion, ele também contou à Cersei, certo?). Esse tipo de pensamento foi o que provocou a queda dos Targaryens no final. Se Dany pretende conquistar os Sete Reinos, fogo e sangue não podem ser suas únicas respostas.

A negociação fora dos muros da cidade já estava interessante, mesmo antes de Drogon aparecer para sua gloriosa demonstração de CGI poder. Os diálogos foram conduzidos de maneira apropriada, e a decisão de deixar um dos mestres vivos para servir como testemunha do acontecido foi sabiamente clássica. Com a preciosa ajuda de Rhaegal e Viserion, que parecem ter atendido ao chamado da mãe mesmo depois de sete episódios esquecidos sob a pirâmide, possivelmente sem comida (o que faz deles criaturas mais confiáveis que os cães), Daenerys conseguiu destruir parte da frota enquanto a outra parte foi adicionada ao seu contingente, junto aos escravos que a tripulavam. Visualmente falando, a sequência em si foi uma das coisas mais lindas já vistas em Game of Thrones ou em qualquer outra produção da TV.

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Durante seus anos como “rainha pedinte”, vimos Dany negociar alianças com príncipes mercadores qartenos e escravistas, e até queimar e saquear cidades como Astapor e Yunkai. Dessa vez, seu legado político triunfou nas duas frentes, dando à guerra em Meereen, e a nós, uma resolução melhor que o esperado. O único elemento um pouco problemático ainda são os Filhos da Harpia. Os doze mascarados assassinados por Daario e os dothraki nos portões da cidade eram os últimos? Por que diabos estavam matando aqueles figurantes randômicos? Ainda ouviremos algo a respeito deles?

Depois da batalha, que não chegou a ser uma batalha per se, Theon e Yara chegaram a Meereen. Eu realmente queria ter visto a Frota de Ferro tomar parte no cerco à cidade de alguma maneira, mas entendo que isso seria repetitivo, visto que o outro embate do episódio também teve o resultado definido por um deus ex machina.

Peter Dinklage e Alfie Allen – provavelmente meus atores favoritos no elenco – já contracenaram no episódio “Bastards, Cripples and Broken Things”, da primeira temporada. Na ocasião, o Duende também olhava Theon de cima, montado em seu cavalo enquanto zombava justamente da lealdade que ele tinha aos seus captores. Quantas coisas do tipo Theon precisou ouvir ao longo da vida? Se esse tipo de humilhação colaborou para o rompimento de Theon com os Starks, então homens como o próprio Tyrion podem ser considerados minimamente culpados pelo que aconteceu em Winterfell. Estranhamente, os roteiristas decidiram ignorar isso no presente diálogo, transformando Tyrion na vítima de uma piada que o próprio Theon nunca fez em tela. Vimos o anão condenar o Greyjoy pelos seus crimes, como se ele não fosse o cara que matou a amante e o próprio pai. Mais uma vez, tentaram retratar Tyrion como o “bom moço”, mas, por falta de cuidado (ou de memória), fizeram ele soar como um hipócrita.

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Ainda assim, é incrível pensar em como esses dois personagens mudaram com o tempo, e o fato de eles terem se reencontrado nas atuais circunstâncias é ainda mais surpreendente. A sala do trono raramente esteve tão iluminada. Até os tons de azul e amarelo destacados no cenário pareciam prenunciar de alguma forma a união das duas Casas. A própria Daenerys estava vestindo azul, remontando seus momentos de ascensão na terceira temporada.

A cena em si foi uma divertida interseção de personagens que quase me fez agradecer a ausência de Victarion Greyjoy na série. Além de serem mulheres fortes lutando pelo que lhes é devido, Yara e Daenerys ainda partilham a infâmia de seus respectivos pais (e Tyrion também pode ser incluído nessa roda). A coisa mais interessante que veio da aparente bissexualidade de Yara foi o flerte entre ela e a khaleesi. As sobrancelhas arqueadas e o meio sorriso de Emilia Clarke me deram a impressão de que a rainha estava realmente propensa a considerar uma proposta de casamento, o que acabou não sendo necessário já que a aliança entre as duas foi forjada em detrimento do antigo modo de vida dos homens de ferro.

É meio irônico pensar que alguém quer mudar os costumes antigos restaurando uma antiga dinastia ao poder. No entanto, a concessão da independência às Ilhas de Ferro mostra que a Mãe de Dragões tem ideias mais progressistas que as de seus antepassados. Tyrion pode até ver isso como um problema, mas, ao contrário do que a série teima em mostrar, Dany não precisa da aprovação dele, só dos conselhos. E esse é apenas o começo do seu reinado.

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Gostamos!

A Batalha de Winterfell

Ao contrário do que vimos em Correrrio e na própria Meereen, onde investidas militares decorreram sem tantas perdas graças a ameaças disfarçadas de diplomacia, a guerra no Norte se deu da maneira mais violenta, visceral e real possível. Nem mesmo Jon, personagem mais próximo de uma Mary Sue, ficou livre da sujeira e da animosidade do evento.

Em um episódio que bebeu de fontes como as Batalhas de Canas e Agincourt, a Guerra Civil Americana e até as duas Grandes Guerras, não podíamos deixar de ter o momento em que as duas partes se reúnem para acertar os termos da contenda. A passagem lembrou muito o encontro de Stannis e Renly em “Garden of Bones”. Pena que a Mulher Vermelha não estava em seus melhores dias para lançar olhares sombrios sobre o Ramsay.

Mas Lyanninha estava.

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Foi aqui também que tivemos nosso único vislumbre de um lobo gigante em cena… E infelizmente foi a cabeça de Cão Felpudo, outra vez usada como prova da captura de Rickon. Quem acompanha minhas análises sabe que eu nunca acreditei na possibilidade de que Smalljon fosse virar a casaca em prol dos Starks. No final, assim como a Criança Abandonada no episódio anterior, Lorde Umber mostrou ser exatamente aquilo que parecia ser: um traidor. Ele teve o que mereceu nas mãos (e dentes) de Tormund, e eu ficaria ainda mais feliz se Harald Karstark tivesse encontrado um fim semelhante.

Muita gente tentou justificar a ausência de Fantasma com o fraco argumento de que “aquela batalha não era lugar para um lobo”, inclusive o ator Liam Cunningham. Todo mundo sabe que Vento Cinzento lutava ao lado de Robb em sua campanha contra os sulistas, o que já foi inclusive mostrado na série. Além disso, em uma outra entrevista, o próprio diretor confirmou o óbvio: inserir Fantasma nas cenas teria sido difícil e caro, então tiveram que escolher entre ele e Wun Wun. Escolheram o gigante. Ponto.

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Engraçado que Jon tenha questionado se os homens de Ramsay continuariam leais quando soubessem que o bastardo de Bolton não lutaria por eles. Engraçado, porque foi exatamente o que aconteceu. Os nortenhos odeiam tanto os Starks que continuaram contra eles, mesmo depois que seu líder recusou o combate singular, manteve-se longe da batalha e ainda lançou flechas sobre o próprio exército. Aliás, esse comportamento napoleônico de observar tudo a distância não parece muito a cara do Ramsay, que conseguiu espantar os homens mais temíveis das Ilhas de Ferro do Forte do Pavor lutando sem camisa no meio da noite e ainda sabotou o acampamento de Stannis contando com apenas 20 bons homens. Lembram-se disso? O Norte não.

Falando em memória, os roteiristas aproveitaram bem os diálogos deste episódio para preencher algumas lacunas esquecidas previamente, como quando Ramsay mencionou a “deserção” de Jon, ou quando Rickon foi citado como herdeiro legítimo de Winterfell (depois de Bran), cuja pretensão e as chances de adquirir apoio dos vassalos são maiores que as de Jon (um bastardo) ou Sansa (uma garota).

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Por mais sólidos que os planos arquitetados no último conselho de guerra pudessem parecer, Sansa sabia que Ramsay tinha uma carta na manga para fazer com que Jon agisse da maneira mais previsível. Também sabia que a vida de Rickon estava por um fio, a despeito do fato de que ela mesma encorajou Jon a resgatar o caçula quando os dois leram a carta rosa de Ramsay em “Book of the Stranger”. Ter os medos sumariamente ignorados pelo irmão deve ter sido frustrante… mas frustrante a ponto de fazer com que ela escondesse a valiosa informação sobre os Cavaleiros do Vale? Essa pareceu mais uma daquelas decisões estranhas que os personagens tomam na adaptação, decisões que geralmente os idiotizam em prol da catarse narrativa que se almeja alcançar. Como no caso de Arya em “The Broken Man”, que mesmo sendo procurada pela Waif, foi passear distraída (e desarmada) pelas ruas de Bravos.

Nenhum personagem em Game of Thrones tem mais motivos para desconfiar das pessoas do que Sansa. Especialmente dos homens. A frase “Ninguém pode me proteger. Ninguém pode proteger ninguém. ”, é impactante porque é verdadeira. Entretanto, qualquer desconfiança, vergonha, incerteza ou medo perde a importância diante da quantidade de vidas que poderiam ter sido poupadas se Jon soubesse da possibilidade de conseguir aquilo que ele estava absolutamente convencido de que não conseguiria: mais homens.

Todavia, não posso concordar com todo o ódio que os fãs destilaram sobre a personagem na internet. Se ela errou, foi simplesmente porque o roteiro precisava que ela o fizesse. Eu não lembro de ter visto toda essa raiva quando Robb precisou mandar milhares de homens para a morte a fim de enganar e derrotar os Lannisters na primeira temporada.

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Nem todo Stark pode ser Arya 🙁

Como previsto dentro e fora da tela, a morte de Rickon aconteceu. Durante a corrida, houve um breve momento em que eu acreditei que o garoto conseguiria alcançar o irmão, mas uma quarta flecha acabou atravessando seu peito, subvertendo a típica “regra dos três” que nos condicionou a acreditar que ele estava seguro. Alguns criticaram Rickon por ter corrido em linha reta na direção de Jon, mas não podemos desconsiderar as circunstâncias do ocorrido e nem o fato de que estamos falando de uma criança, ainda que o ângulo da câmera frequentemente tentasse mascarar a altura do garoto em relação à Ramsay (o que de forma alguma torna a morte menos lamentável). Como se não bastasse terem trazido Art Parkinson de volta para matá-lo sem que ele tenha tido uma fala, ainda mostraram o corpo do jovem sendo crivado de flechas enquanto jazia esquecido em meio ao campo de batalha.

(Em uma entrevista recente, Parkinson disse que Rickon estaria mais feroz nessa temporada. Como não vimos nada disso, suponho que alguma cena dele tenha sido excluída na edição).

Me pergunto por que motivo Jon se propôs a enterrar Rickon tão rápido ao lado dos ossos do pai (que Catelyn recebeu de Mindinho na segunda temporada), ignorando completamente a sacerdotisa vermelha que ele tem entre seus homens. A ressurreição de Rickon provavelmente não aconteceria, mas Davos deu um tiro no escuro quando sugeriu que Melisandre tentasse reviver Jon. Por que não atirar novamente? Depois de meia temporada sendo tratada como figurante, Mel finalmente deu o ar da graça. Em seu diálogo com Jon, a feiticeira parecia tão deprimida que eu me perguntei se ela não teria enxergado a própria morte no fogo (ela precisa reencontrar a Arya antes). Ou talvez essa depressão fosse simplesmente pelo fato de estar acampando no mesmo lugar em que ela e Stannis queimaram Shireen, sacrifício que trouxe apenas a queda do rei.

Finalmente, depois de nove episódios, Davos descobriu o que realmente aconteceu com a princesa. O aguardado confronto entre e ele e “o demônio que sussurrava no ouvido de Stannis” ficou reservado para o finale. A conversa entre o Cavaleiro das Cebolas e Tormund sobre os reis que eles seguiam foi muito bem roteirizada. “Jon não é rei. ” Esse comentário deixou claro que, assim como Barristan morreu para que Tyrion pudesse assumir a posição de “Mão da Rainha” que é dele nos livros, Stannis e Mance encontraram seu fim para que o bastardo assumisse os seus lugares.

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O enquadramento final da cena de Davos foi um dos mais bonitos do episódio, mostrando os restos da fogueira de Shireen sobrepondo o nascer do sol, como se as chamas ainda ardessem ali. Quando as primeiras imagens do “Snowbowl” surgiram na web, houve uma grande especulação acerca dos corpos esfolados e queimados por Ramsay. Pessoas cogitaram que pudessem ser os corpos de Osha, Rickon ou até do próprio Stannis. Ledo engano. Os corpos não passavam de mera cenografia, ou talvez marcadores de distância para os arqueiros dos Boltons. Em todo caso, serviram como um lembrete brutal do preço pago quando os grandes senhores decidem jogar o jogo dos tronos.

A Batalha dos Bastardos em si foi um deleite cinematográfico. Seus acertos técnicos certamente a tornaram uma das realizações mais significativas da série, ao lado das também incríveis batalhas da Água Negra e da Muralha. E como esquecer do épico “Hardhome”, também orquestrado pelas mãos hábeis de Sapochnik? Com uma coordenação eficaz das câmeras e das centenas de extras (dentre os quais, tínhamos 80 cavalos reais), o cara conseguiu manter uma noção claro de tempo e espaço e, ainda assim, reproduzir extraordinariamente o caos absoluto do confronto. Isso é algo que muitas produções maiores não conseguem capturar, levando a audiência à uma mistura demasiadamente confusa de corpos e cavalos e sujeira e sangue.

Muitas vezes, em filmes que retratam grandes batalhas, os personagens centrais precisam de momentos para disparar linhas de diálogo ou encaminhar o enredo (ex: O Senhor dos Anéis). Esse episódio foi diferente. Sem nenhuma cerimônia, fomos atirados no meio do embate, acompanhando Jon e os acontecimentos em volta dele sem nenhum segundo de descanso.

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For Frodo Rickon!

Parte desta sequência parece ter sido feita em um único take contínuo, onde a câmera manteve-se no protagonista enquanto ele derrubava soldados inimigos, aproximando-se de todos os ângulos, a cavalo e a pé, fugindo repetidamente de morte. A batalha provou eloquentemente, em vários momentos, que sobrevivência não é só uma questão de habilidade, mas também de sorte. Ou talvez tenha até de intervenção divina. Que tipo de Deus faz isso?

O destaque vai para o momento claustrofóbico em que Jon quase foi enterrado vivo em meio a lama e aos cadáveres enquanto seus homens recuavam diante da ameaçadora parede de escudos dos Boltons. A oscilação de cor da tela, o som quase mudo dominado apenas pela respiração e batimentos cardíacos desesperados do bastardo com o caos geral de pessoas lutando acima dele. Os cortes rápidos da câmera, mostrando a incoerente realidade daquela carnificina em massa. Tudo contribuiu para a imersão e dramaticidade da cena. Em casa, nós sabíamos que Jon não morreria, mas vê-lo naquela situação foi fisicamente sufocante. No featurette “Anatomy of a Scene”, Kit Harington afirmou que sua subida foi como uma releitura da cena final de “Mhysa”. Para mim, pareceu mais um reflexo de sua própria ressurreição, visto que ele literalmente emergiu dos mortos. Que cena! Ela nem estava no roteiro original, e foi um improviso do diretor para poupar tempo.

Elogiar o trabalho de Ramin Djawadi é como chover no molhado, mas tivemos alguns momentos onde ele se destacou. Primeiro, quando Jon desembainha a espada diante da cavalaria inimiga (a espada de verdade, não a de borracha), quase refletindo Stannis na sua última batalha, e a trilha sonora sobe, quase nos enganando, só para ser abruptamente interrompida quando as forças dos dois exércitos se chocam. Depois, quando o “herói” é pisoteado ao som de uma variação solene do tema que, curiosamente, chama-se “My Watch Has Ended”. E por último, mas não menos importante, quando os Cavaleiros de Rohan do Vale chegam para salvar o dia.

No episódio “And Now His Watch is Ended”, Varys disse a Olenna que Mindinho era um dos homens mais perigosos de Westeros, que nasceu sem poder, sem terras e sem exército mas tinha conseguido os dois primeiros. “Quanto tempo até que ele consiga um exército?”, a Aranha perguntou. Bem, ele conseguiu.

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The eagles are coming!

Foi bem justo que a batalha por Winterfell tenha sido decidida no interior de suas muralhas. O modo como Ramsay negou a derrota mesmo depois de ter sido obrigado a recuar foi típico de Hitler em seu bunker. De certa forma, ele estava certo. Milhares de homens seriam necessários para tomar o castelo. Mas quem precisa de um cerco quando se tem Wun Wun? A morte do gigante foi estranhamente mais dramática que a do próprio Rickon (por que diabos Ramsay não atirou no próprio Jon?), mas ele mereceu a honra, afinal, como Folha, ele era o último de sua espécie.

George R. R. Martin criou Ramsay como uma versão sombria de Jon Snow. Eu não acredito que os dois cheguem a se enfrentar diretamente nos livros, mas a ideia não deixa de ser interessante. Especialmente na série, visto que Iwan Rheon, inicialmente, fez testes para viver o outro bastardo (e fico feliz que não tenha conseguido, o cara deu um ótimo Ramsay). Sou capaz de apostar que todo mundo teve vontade de entrar na TV para ajudar o Jon a quebrar a cara de sua desprezível antítese. Ver os estandartes dos Boltons na neve, como na visão de Melisandre, e os estandartes dos Starks ocupando o seu lugar de direito foi certamente prazeroso, mesmo que a cena tenha sido acompanhada pela amarga lembrança da tomada de Correrrio no episódio anterior.

Winterfell é finalmente nossa… mas por quanto tempo? Se o Rei da Noite invadisse o campo de batalha, com um simples gesto ele adicionaria milhares de mortos ao seu exército. Quando se conhece o perigo que espreita além da Muralha, as guerras mundanas  meio que perdem o sentido.

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Os minutos finais do episódio levantaram algumas controvérsias a respeito de Sansa Stark, e não estou falando dos “sete dias sem alimentar os cachorros” que ela não ouviu.

Jon voltou dos mortos, mas é sua irmã que vive mudando. Nós nunca sabemos ao certo quando veremos a garota que teve medo de atravessar o rio em “The Red Woman”, ou a mulher que assiste friamente um homem ser devorado pelos próprios cães. O método que ela usou para se vingar de Ramsay foi certamente mais Bolton do que Stark. Por mais preocupante que isso pareça, se lembrarmos de todas as atrocidades cometidas pelo Ramsay, perceberemos que aquela Sansa, embora AINDA não fosse a Rainha do Norte que desejávamos ver, era a Sansa que ele merecia. Depois do estupro e de outras escolhas questionáveis no desenvolvimento da personagem, os roteiristas da série não nos deram outra escolha senão comemorar essa vingança.

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O maior problema do episódio foi a falta de equilíbrio entre a antecipação, expectativa e previsibilidade. Se você detalhasse a qualquer pessoa que não assiste a série os pontos básicos do enredo que antecedeu a Batalha dos Bastardos, ela poderia muito bem deduzir que Ramsay mataria Rickon, que Jon seria levado pela emoção, e que seu exército acabaria à beira da derrota, só para ser salvo em cima da hora pelos Cavaleiros do Vale cuja existência Sansa decidiu esconder do meio-irmão até a “hora certa”. A execução dessa série de eventos foi de tirar o fôlego, mas foi suficiente para disfarçar essa ligeira falta de originalidade? Provavelmente sim.

É impossível negar que “Battle of the Bastards” foi uma das mais excitantes e bem-sucedidas horas da televisão mundial, e certamente merece levar todos os prêmios possíveis – principalmente para o diretor que, convenhamos, merece a maior parte do mérito. Outras produções televisivas terão que correr muito para alcançar esse nível que, em termos de escala, não fica muito atrás de blockbusters com orçamentos dez vezes maiores.

Game of Thrones é realmente boa em fazer história, ainda que às vezes acabe esquecendo a sua própria.


A maioria dos gifs que ilustram a análise foram garimpados desse site. O Podcasteros do episódio deve sair em breve. Aguardem! 

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