LOS ANGELES, CA – SEPTEMBER 18: (Photo by Michael Buckner/Getty Images)

Muitos de vocês já sabem que essa entrevista foi publicada há uma semana. Trata-se de um longo papo que os caras da NYMag bateram com o GRRM, assim que ele chegou em casa depois da turnê de divulgação de A Dance with Dragons (leia a matéria em inglês aqui).

Demoramos pra postar ela por falta de tempo, mas se você quer saber como anda a produção do próximo livros de As Crônicas, o envolvimento do autor na próxima temporada de Game of Thrones e muitos, muitos, muitos comentários legais sobre os livros, não deixe de ler a entrevista a seguir, que traduzimos com muito carinho especialmente pra vocês!

Prepare-se para uma longa leitura. E fique atento aos spoilers, quando eles surgirem no texto, avisamos vocês.

Vamos lá?

Qual é o seu envolvimento na segunda temporada de Game of Thrones?
Escrevi o 9º episódio, “Blackwater”. A série está sendo filmada na Irlanda do Norte agora, adoraria estar lá para ver, mas tenho outras coisas pendentes.

Que atores trouxeram algo de novo e surpreendente para seus personagens, acrescentando novas características que não estavam necessariamente lá quando você as criou?
Acho que, de um modo geral, temos um elenco espetacular; os nossos diretores de elenco fizeram um trabalho fantástico. Certamente que o Peter Dinklage fez um trabalho fantástico com o Tyrion, que é um dos meus personagens preferidos nos livros. Nem fizemos uma audição para o Peter. Sempre falamos nele para o papel. O mesmo aconteceu com o Sean Bean – apesar de termos feito algumas audições para o papel – mas sempre quisemos o Sean e ele foi incrível.

Outro grupo que merece uma menção especial são as crianças – é muito difícil escolher crianças. As nossas tiveram que suportar um peso dramático muito grande – precisávamos de jovens atores realmente bons. Conseguimos três incríveis.

Qual é a sua maior preocupação em relação à série, à medida que a história se aprofunda?

Certamente temos desafios pela frente, e à medida que a série avança os desafios serão maiores. Queria escrever um livro tão grande como a minha imaginação. O David [Benioff] e o Dan [Weiss] estão perante o desafio de como transpor esta coisa complexa, com um elenco de centenas de pessoas e castelos gigantes e dragões e muralhas de gelo – desafios de produção importantes que aumentam a cada livro. Acho que um dos maiores desafios são os orçamentos e o tempo das gravações. Tivemos dez horas para a primeira temporada e o mesmo para a segunda. O Boardwalk Empire tem doze, o Treme tem doze – se tivéssemos tido mais duas horas poderíamos ter contado muito mais da história. O Storm of Swords [terceiro livro] é enorme e terá de ser partido em duas temporadas, penso eu. Mas o David e o Dan são excelentes pessoas e juntaram uma excelente equipe, por isso se alguém consegue fazer, são eles.

A Storm of Swords
A outra coisa que me preocupa é o que eu chamo de “efeito borboleta”. Quem conhece o conto do Ray Bradbury, sabe o que quero dizer. Na TV, vimos a morte de Mago, mas ainda vamos vê-lo nos livros – ele continua vivo. Terá de ser diferente entre o livro e a série, porque o mataram na TV. Este tipo de efeito colateral podem acontecer.

Como você mantém todos esses detalhes? Existe algum tipo de enciclopédia ou arquivo de computador que você usa quando você escreve?
Tudo vem da minha cabeça. Elio Garcia [que comanda o Westeros.org] parece conhecer Westeros melhor do que eu. Começo a desejar que nunca tivesse começado a me importar tanto com a cor dos olhos dos personagens. [Nota do Editor: Este é o assunto de muitas teorias da conspiração de fãs.] E essa foi uma das primeiras coisas que colocamos na série de TV – lentes de contato roxas não ficaríam legais na frente da câmera.


[Se você só assistiu a série, ou se você ainda não leu tudo até A Dance With Dragons, você vai querer parar por aqui. Spoilers à frente.]


Eu vou falar por todos os seus leitores impacientes e perguntar: No que você está trabalhando nesses dias, além do aguardado The Winds of Winter?
A turnê do livro me tomou muito tempo. Sei que alguns escritores podem escrever na estrada, mas eu não sou um deles. Tenho cerca de 100 páginas prontas para o próximo livro, que eram páginas que eu tinha acabado [para A Dance With Dragons] e decidi empurrar. Voltarei a elas em janeiro.Antes disso, eu preciso terminar várias outras coisas. Tenho uma nova novella Dunk e Egg que irá aparecer em uma antologia chamada Dangerous Women. Também tenho “The World of Ice and Fire”, que será um grande livro sobre a história e a genealogia de Westeros. Eu estou trabalhando nele, com Elio Garcia.

George e sua esposa, Parris.


Será que tem material novo, ou você vai colocar tudo junto em um lugar?
Ela terá algumas histórias que eu não fui capaz de colocar em outro lugar. 
Conforme os livros vão sendo lançados, vamos tendo mais informações sobre o que aconteceu no passado, antes do primeiro livro. É quase como se a história estivesse se movendo em duas direções, para trás e para frente no tempo.

Eu tenho revelado mais e mais sobre a Rebelião de Robert, a juventude de Robert e Ned e o que aconteceu com eles. As pessoas têm perguntado, mas eu não vou escrever um “prequel”, porque com cada livro você vai descobrindo mais e mais, o que poderia ser os eventos [atuais] vistos de uma luz diferente.

Alguns dos desdobramentos em A Dance With Dragons abriram a possibilidade de que alguns personagens podem ser capazes de influenciar os eventos que já aconteceram. Você está deixando em aberto a possibilidade de que o passado possa ser maleável?
[Longa pausa.] Não é algo que eu gostaria de dar. Posso dizer que o passado e o presente e o futuro são um continuum, e existem maneiras diferentes de se olhar para ele. O passado está sempre conosco.


A Dance With Dragons passa bastante tempo em Essos, que é um tipo de analogia à Ásia e Oriente Médio, o contrário de Westeros, que se parece muito a Europa Ocidental. Quando eu estava lendo sobre Dany, que é essa estrangeira de pele clara vinda de uma terra exótica, me lembrei de The Man Who Would Be King, filme com Sean Connery e Michael Caine que é baseado em em uma história do Rudyard Kipling. Você pensa sobre esses paralelos – o colonialismo, o “fardo/destino do homem branco” – quando você está escrevendo?
Eu já disse muitas vezes eu não gosto de alegoria mal disfarçada, mas algumas cenas se repetem ao longo do tempo. Outras pessoas disseram que isso poderia ter relação com a nossa desventuras atuais no Afeganistão e no Iraque. Estou ciente dos paralelos, mas eu não estou tentando dar uma camada de tinta sobre a Guerra do Iraque e chamá-la de fantasia.


Quando civilizações diferentes se chocam nos seus livros, ao invés de “Armas, Doenças e Aço”, talvez seja mais como Dragões, Mágica, and Aço (e também doenças).
Há magia no meu universo, mas é muito pouca em comparação com a magia de outras fantasias.
Os dragões são como a discussão nuclear, e só Dany os tem, o que de certa forma faz dela a pessoa mais poderosa do mundo. Mas isso é suficiente? Estes são os tipos de questões que eu estou tentando explorar. Os Estados Unidos agora têm a capacidade de destruir o mundo com o nosso arsenal nuclear, mas isso não significa que podemos alcançar objetivos específicos de geopolítica.Energia é mais sutil do que isso. Você pode ter o poder de destruir, mas isso não lhe dá o poder de reformar, ou melhorar, ou construir.

Alguns de seus leitores hardcore, inclusive eu, passaram muito tempo especulando sobre quantos tipos diferentes de magia existem no seu mundo. Ou é tudo manifestação das mesmas forças sobrenaturais misteriosas?
Isso é algo que eu gosto de revelar pouco a pouco.

Posso te dizer que, geralmente quando se fala de magia e fantasia, você tem que mantêr isso mágico.Muitos escritores de fantasia fazem funcionar esses sistemas detalhados, com regras, mas eu acho que isso é um erro.

Para a magia ser eficaz no sentido literário, tem de ser desconhecido e estranho e perigoso, com forças que não podem ser previstas ou controladas. O que a torna, penso eu, muito mais interessante e sugestiva. Ela funciona como um símbolo ou metáfora à todas as forças no universo que não compreendemos.

Então, você não quer se ver explicando coisas ao nível midi-chlorian?
Se eu quisesse escrever ficção científica, eu estaria escrevendo ficção científica.
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E então? O que acharam da entrevista, queridos? Queremos saber nos comentários!