Como de costume, na análise abaixo eu falo um pouco da minha opinião a respeito do capítulo exibido no último domingo. Dessa vez foi o episódio 3.06: “The Climb, escrito por David Benioff e D.B. Weiss e dirigido por Alik Sakharov.

Nós já passamos da metade da terceira temporada e essa foi a primeira vez que eu vi um episódio ser tão criticado pelos fãs. Eu confesso que, depois de assistí-lo inúmeras vezes pra escrever essa “resenha”, eu ainda não descobri o motivo.  Mas beleza, vamos seguir e talvez eu descubra.

Lembrando que esse texto NÃO CONTÉM SPOILERS DOS LIVROS e é destinado principalmente para aqueles que não terminaram ou sequer começaram a leitura dos mesmos. Se você já leu ou não se importa em saber o que vai acontecer, confira a análise com spoilers da Ana, que em breve deve estar saindo.

Vamos lá?

De acordo com o dicionário, “caos” é uma confusão extrema e irremediável. A chamada “Teoria do Caos” afirma que uma mudança qualquer em um determinado ciclo, por mais insignificante que ela possa parecer, é capaz de trazer consequências incalculáveis no futuro, portanto, desordem. É isso que o Varys defende quando afirma que são as pequenas mentiras que mantém os Sete Reinos de pé.

Já Mindinho, uma fonte bem menos confiável (Ned que o diga), afirma que caos é uma escada. “The Climb” é um episódio de transição que, como o próprio nome sugere, mostra os personagens subindo esses degraus rumo a um futuro incerto. Afinal a escada os leva pra longe, ou diretamente pra beira do abismo?

Ao contrário do que aconteceu em “Kissed By Fire”, “The Climb” começou devagar (quase parando) com uma cena adorável envolvendo Samwell, Goiva (ou Gilly, em inglês), e seu bebê recém-nascido e sem nome. Adorável até demais pro meu gosto.

Foi importante pra que finalmente soubéssemos o que aconteceu depois da algazarra na Fortaleza de Craster. Mas alguém realmente imaginou que a essa altura o Sam estaria no meio da floresta, alegre, “brincando de casinha” e cantando a “Canção dos Sete” pra guria? Sério. A cena da morte do Velho Urso em “And Now His Watch Is Ended” já foi algo tão banal e sem foco. Acho que foi um erro de David e Dan não terem incluído no texto uma menção sequer a respeito das circunstâncias nada ignoráveis em que ela ocorreu. Digo, Mormont merecia ao menos isso, não? A impressão que ficou foi a de que Tarly não estava dando a mínima. Como se Goiva fosse a única coisa que importasse, e como se a Patrulha fosse aceitar que eles dois ficassem juntos quando chegassem em Castelo Negro. Primeiro, ela é uma selvagem, e os selvagens são os inimigos número um (ou dois) da Patrulha; E  segundo, Goiva é uma mulher, e os corvos não podem manter nenhum relacionamento amoroso depois de fazer o juramento. Seria Sam o próximo a quebrá-lo? Pois o de Jon foi embora com o cabaço, e o dos demais membros da Patrulha também foi esquecido quando eles lutaram entre si, matando seu próprio Senhor Comandante. Como disse Orell, a antiga Ordem está mesmo se desfazendo aos poucos. E isso, meus amigos, é o tal do caos.

Outra coisa legal que vimos aqui foi o punhal de obsidiana (ou vidro de dragão). Vocês lembram que Sam, Edd Doloroso e Grenn encontraram esse e outros objetos do mesmo material em “The Prince Of Winterfell”, oitavo episódio da segunda temporada, certo? Estava tudo enterrado lá no Punho dos Primeiros Homens, e se os roteiristas resolveram desenterrar agora, é por que aí vem.

Eu achei que a conversa de Sam e Gilly sobre a Muralha fosse servir como gancho para que Jon, Ygritte e os demais selvagens entrassem em cena. Mas ao invés disso, fomos atirados pra o outro lado da Muralha, onde Meera e Osha discutiam. Na minha opinião, tivemos apenas dois núcleos que não prosseguiram significantemente no episódio. Esse foi um deles. Tanto Bran quanto seus companheiros de viagem ficaram estacionados no mesmo degrau da escada, descansando, e isso é um pouco chato por que eles já estavam a um bom tempo sem aparecer.

Os atores como sempre estiveram excelentes, e até Rickon teve uma fala (ainda assim, eu só notei a presença dele depois que assisti tudo pela segunda vez). Mas não aprendemos muita coisa nova aqui… Apenas o preço das visões verdes e a melhor maneira de arrancar a pele de um coelho.

No entanto, Jojen aparece com uma visão a respeito de Snow “cercado por inimigos”. Esse foi o gancho.

A relação de Jon e Ygritte deveria se desenvolver para que só depois eles fossem fornicar na caverna. Estranho como aconteceu justamente o contrário. A selvagem parece mesmo ter gostado “daquela coisa” que ele fez com a língua e agora está apaixonada a ponto de esconder o segredo dele, que está traindo a sua própria gente. Tudo o que importa são eles dois, independente de que lado estejam. Na prática isso é algo muito complicado pra dar certo, mas na teoria, até que ela está certa. Tanto para a Patrulha quanto para os selvagens eles são apenas soldados que podem ser facilmente substituídos, e isso se prova verdade quando mais tarde Orell corta a corda dos dois para salvar a própria pele durante a escalada. Por que sacrificar a relação deles por esse tipo de gente? Desde que ele continue sendo fiel a ela, ela será fiel a ele, e isso é muito justo. O único problema é que o bastardo parece não estar muito certo de suas convicções. E nós também não.

Enquanto isso nas Terras do Rio, Arya também parece estar se adaptando bem ao seu novo grupo e, diferente do seu tio Edmure, se revela como uma exímia arqueira. Bem, não tão exímia quanto Anguy. A habilidade desse cara parece quase sobrenatural. Legal como toda essa coisa de “confie na sua visão” serviu pra nos preparar para a chegada de Melisandre.

Foi estranho vê-la fora de Pedra do Dragão. A holandesa Carice Van Houten nunca contracenou com alguém completamente fora do seu núcleo, mas ela é disparada uma das minhas atrizes favoritas no elenco, e não foi surpresa o fato de ela ter se saído muito. Assistí-la junto com a pequena Maisie ou conversando em valiriano com o Thoros do Paul Kaye foi realmente sensacional. 

 A Mulher Vermelha saiu do lado de Stannis em “Walk Of Punishment” pra procurar por sangue real e desde então esteve sumida. Bem, agora nós sabemos pra onde ela estava indo. Mas como ELA sabia pra onde ir? Simples, ela tem a visão de R’hollor ao seu lado. Por falar no Senhor da Luz, finalmente descobrimos o seu nome. E descobrimos não apenas isso, mas muito mais a respeito dele no encontro entre os sacerdotes e o ressurgido Beric Dondarrion.

É de novo aquela velha história dos roteiristas usarem seus diálogos para explicar alguns detalhes importantes a respeito dos elementos que compõem o universo da saga. Eles tem feito isso regularmente durante a temporada, o que é bom, principalmente para que vocês, os não-leitores, fiquem conhecendo um pouco mais sobre as Crônicas.

Desde que a Mel que iria atrás de sangue real para dar a Stannis o filho que ele tanto quer, eu fiquei imaginando que ela fosse atrás do Gendry, pois ele é o único bastardo do Rei Robert que é conhecido pelos telespectadores e que sobreviveu ao massacre ocorrido em “The North Remembers” lá na capital. A captura do rapaz foi meio triste por que, depois de ter se separado de Torta Quente em “Walk Of Punishment”, Arya perdeu outro de seus companheiros e também por que fez com que a Irmandade se parecesse mais com um bando de mercenários ou um culto religioso do que com a família que ele tanto esperava. Mesmo assim eu estou muito ansioso pra saber o que vai acontecer depois.

E o que foi aquele papo sobre olhos azuis, marrons e verdes na escuridão? Segundo Beric, a morte é a escuridão, pois não existe o “outro lado”. Então os olhos poderiam ser de três pessoas que a Arya matará no futuro? Uma flecha pra cada então…

Muitos irão discordar disso, mas as cenas de Theon tem sido torturantes tanto pra ele quanto pra mim. Não que tenha sido ruim ou mal executada, de maneira alguma. Iwan Rheon e Alfie Allen estiveram muito bem. Mas está cada vez mais difícil esperar que a série revele a identidade dos captores de Theon, que é um dos maiores mistérios dessa temporada. O sujeito ainda brinca com isso como se estivesse brincando com nós que estamos do outro lado da tela. Não, ele não é um Karstark. E no final eu sempre fico com a sensação de que fomos um pouco enrolados.

A única coisa importante que vimos aqui talvez tenha sido o fato do torturador ter mostrado interesse em procurar Bran e Rickon. Mas não eram precisos seis minutos de episódio (cerca de 10% do total) pra que ficássemos sabendo disso. O restante foi apenas um pouco mais do mesmo: sangue, gritaria e desespero. Aposto que esse cara se daria bem no lance dos coelhos. Escalpelamento é com ele mesmo.

Tywin Lannister pode ter deixado Harrenhal, mas sua sombra continua assombrando o local. Por causa disso Roose Bolton decidiu liberar Jaime e mandá-lo de volta para a capital esperando o perdão de Tywin pelas ações de seu bando comandado por Locke. Ou será que ele está esperando algo a mais? Essa foi a essa a impressão que eu tive mas com a frieza excepcional do ator Michael McElhatton fica difícil dizer o que ele pensa. Uma coisa é certa: Não se pode confiar em um homem que não bebe, especialmente se você estiver em um mundo onde não existe Coca-Cola. LOL.

A Brienne me pareceu mais confortável do que deveria usando aquele vestido. O diálogo dessa cena foi extremamente bem escrito e nele descobrimos que pretendem separá-la de Jaime. Mas como assim? Gwendoline Christie e Nikolaj Coster-Waldau formam sem dúvidas uma das melhores duplas da série. Seria uma pena se eles se separassem agora.

Por falar em pagamento, Robb teve que que pagar pelas atitudes de sua mãe, que na primeira temporada aprisionou o Lannister inocente e na segunda libertou o culpado. E agora Edmure teve que pagar pelos atos do sobrinho, que traiu Walder Frey ao casar-se com Talisa. O Senhor da Travessia, representado pelos seus filhos, me pareceu muito inclinado a perdoar o Robb por sua traição, e isso é estranho. Será que com a ajuda das Gêmeas o “Rei Que Perdeu O Norte” conseguirá recuperá-lo e conquistar Rochedo Casterly como planeja? Teremos que esperar pra ver.

Enquanto um casamento é arranjado em Correrrio, os detalhes de outro são discutidos de maneira magistral em King’s Landing

Na semana passada, ficamos sabendo que Tyrion não é um homem a altura de sua reputação. Mas Tywin é, e Olenna descobriu isso de uma maneira não muito agradável. “Não muito agradável” pra ela. Por que pra nós a cena foi mais do que um presente. Charles Dance afirmou em uma entrevista que a personagem de Diana Rigg seria como uma versão feminina do seu. Colocar eles dois numa mesma sala foi uma ideia incrível. Tinha mesmo que acontecer.

Ela pode ter até perdido no embate, mas é a única com coragem pra confrontar o Senhor de Rochedo Casterly mencionando o incesto cometido pelos seus dois filhos mais velhos ou pra perguntar se ele também já andou ‘engolindo espadas por aí’. Ela sabe que ele não pode fazê-la nenhum mal, ou então a aliança entre suas Casas estaria arruinada, e por isso ela agiu dessa maneira. Tywin nunca jogaria no lixo uma boa aliança. Ele não é Robb. Mas isso não o impediu de ameaçar nomear o herdeiro de Jardim de Cima para a Guarda Real caso os Tyrells não aceitasse casá-lo com Cersei. De uma maneira ou de outra, a Campina terminaria “pertencendo” aos Lannisters.

Sério, o cara pode ser totalmente desprovido de escrúpulos, mas ele é um gênio. Até a Rainha dos Espinhos teve que reconhecer.

Enquanto o destino do herdeiro Tyrell é discutido em uma sala, sua única preocupação parece ser como escapar daquela conversa com a Sansa. Ele mal imagina que uma pretendente muito menos ingênua o espera. É cara, no fim das contas, juntar-se a Guarda Real pode mesmo ser uma boa saída pra você.

A situação em que se encontram os quatro pode ser desesperadora pra eles, mas pra mim é extremamente divertida. Eu realmente ri muito enquanto Tyrion e Cersei discutiam qual dos quatro levaria a pior e quando ela afirma que todos estão sendo mandados juntos pro inferno. Isso abriu espaço para a discussão entre eles a respeito da tentativa de assassinato ocorrida em “Blackwater”. Só eu achei que a posição da Cersei não ficou muito clara? Digo, Tyrion pareceu ter chegado sozinho à conclusão de que o mandante foi o Joffrey. Então tá.

A cena também foi interessante por que nela apreciamos um momento raro de cumplicidade entre os dois irmãos que se odeiam, como um dos poucos que também aconteceram na segunda temporada da série. Eu não sei se os Sete Reinos foram mesmo unidos pelo medo de Tywin Lannister, mas seus filhos foram com certeza.

Eu sempre costumo dizer que, se Game Of Thrones fosse um jogo de xadrez, Mindinho e Varys seriam os jogadores dos dois lados do tabuleiro. A cena deles diante da “Lysa Arryn das cadeiras” sintetiza isso muito bem. Varys joga com as peças brancas, pois aparentemente age em prol do Reino. Já os objetivos de Mindinho são bem menos altruístas. ele quer o Trono de Ferro, e não tem medo de admitir isso.  Harrenhal e a atual Senhora do Vale… Isso ainda é muito pouco pra ele. Ele quer o Trono de Ferro, e não tem medo ou vergonha de admitir que se sente seduzido por ele.

Quando as outras cenas tomaram conta da tela enquanto o Mindinho ainda dava seu discurso sobre a tão falada subida, nós percebemos que agora é ele quem está no comando. Ele é o narrador. Aquele que jogou com todo mundo e conseguiu vencer, mas que ainda não  alcançou o topo na sua ascensão. Ainda.

“Chaos isn’t a pit. Chaos is a ladder…

Ele arruinou o plano do Varys de casar Sansa com Loras Tyrell, e ainda eliminou uma das peças mais importantes de seu rival com a ajuda do rei. Uma vitória admirável. Mas essa foi apenas uma partida.

Apesar dessa não ter sido a primeira vez que vemos Mindinho e Varys confabulando diante do Trono, esse certamente foi um dos pontos altos de “The Climb”. Os atores tem uma sintonia incrível com seus respectivos personagens e também um com o outro. Eles parecem mesmo pertencer a esse mundo. Em entrevista à Rolling Stone, Aidan Gillen disse que não se sente mal pelo modo como Mindinho usa as pessoas. Que está apenas tentando interpretar seu papel e que tenta sempre encontrar uma justificativa pra o que faz. Alguns sobem pelo reino, outros pelos Deuses e outros por amor. Mas qual a motivação de Petyr Baelish? Ele sobe pelo poder. Pra ele, essa é a única coisa real.

… Many who try to climb it fail and never get to try again. The fall breaks them…

Embora Jack Gleeson seja um ator incrível, a série fez bem em não dar nenhuma fala a ele nessa cena. Nosso “querido” rei parece muito mais amedrontador quando apenas escutamos outros personagens como Mindinho e Cersei narrarem seus feitos. No momento em que ele abre a boca pra falar qualquer coisa, tudo isso passa, e ele volta a ser aquele mesmo babaca de sempre. Aposto que Arya ainda é melhor de pontaria.

Pobre Ros… Mas em “The Night Lands” o Mindinho te advertiu sobre o que aconteceria se você se tornasse um “mau investimento” pra ele. Sem dúvidas, todos sentiremos falta da belíssima Esmé Bianco. Maldito seja, Joffrey. Maldito seja.

… And some are given a chance to climb, they climb to the realm or the gods or love. Only the ladder is real…

Eu realmente gostaria de ter visto a reação imediata da Sansa quando ela recebeu a notícia do casamento diretamente do Tyrion, seu futuro marido. A série foi um pouco covarde ao nos poupar disso. Mas vocês acham mesmo que o Mindinho desistiu completamente da Sansa? Justamente agora que o casamento dela com o Loras, principal motivo pelo qual ela se recusou a fugir no barco dele em “Kissed By Fire”, foi cancelado… Mas o barco dele já partiu. A Sansa fez sua escolha, e escolheu errado… Será? Talvez ela tenha sido mais esperta que o pai em não confiar inteiramente no Mindinho só que não descobriu isso ainda.

… The climb is all there is.”

Do começo ao fim, a escalada foi primorosa, podendo até ser comparada á conquista de Astapor mostrada em “And Now His Watch Is Ended”, principalmente se formos considerar os efeitos especiais incríveis, que foram responsabilidade da computação e da cenografia em conjunto. Achei realmente perfeito. Muito melhor do que eu esperava que fosse. Eu imagino como deve ter sido difícil filmar tudo isso tanto para os atores quanto para a equipe de produção, principalmente na parte do desmoronamento, que pareceu incrivelmente real. Muito bom mesmo.

O episódio termina com um dos maiores clichês cinematográficos de todos os tempos:  o casal de heróis se beijando enquanto o dolly back da câmera revela a vasta paisagem ao fundo. Tudo isso ao som de uma belíssima faixa composta pelo incrível Ramin Djawadi.  Há quem diga que foi um final muito feliz pra um episódio de Game Of Thrones. Mas por mais bonita que toda a sequência tenha sido, precisamos lembrar que Jon agora está entre a cruz, a espada e Ygritte. Literalmente em cima do muro. Se você acha que isso terá um final feliz, você não esteve prestando muita atenção…


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