Como de costume, aqui vai o meu parecer sobre o sétimo episódio da terceira temporada de Game Of Thrones, “The Bear And The Maiden Fair”, dirigido por Michelle MacLaren, que também já trabalhou em séries de sucesso como Arquivo X e a merecidamente aclamada Breaking Bad. O roteiro ficou por conta de ninguém mais ninguém menos do que George R. R. Martin, o criador do universo que inspira toda essa brincadeira e que foi responsável pelo roteiro de “Blackwater”, considerado por muitos como um dos melhores episódios da série até então.

Lembrando que esse texto NÃO CONTÉM SPOILERS DOS LIVROS e é destinado principalmente para aqueles que não terminaram ou sequer começaram a leitura dos mesmos. Se você já leu ou não se importa em saber o que vai acontecer, confira a análise com spoilers da Ana, que em breve deve estar saindo.

“The Bear And The Maiden Fair” falou principalmente das diferentes ligações entre os personagens; aquilo que os “prende” uns aos outros. Isso explica por que o episódio teria se chamado “Chains” – título que segundo o próprio Martin tinha um sentido metafórico e literal (as correntes de Shae, as correntes de Qyburn, as correntes dos escravos…) – antes da inclusão da última cena, motivo pelo qual foi renomeado.

Em “The Climb”, vimos as histórias dos personagens evoluírem dentro de seus respectivos núcleos e passarem de um “ponto A” a um “ponto B”. “The Bear and The Maiden Fair”  por sua vez nos mostrou como eles se adequaram a essas novas situações, e talvez por isso tenha soado tão monótono para alguns.  Vimos Sansa e Tyrion tentando se acostumar com a ideia de que em pouco tempo serão marido e mulher; Daenerys tendo que se adaptar a sua nova posição de conquistadora, Jon Snow precisando lidar com o ataque iminente a Castelo Negro; enquanto Bran e Theon… Bem, vamos chegar lá.

Quando Jon Snow disse que faltava cerca de uma semana para que ele e seu grupo de selvagens chegasse a Castelo Negro, eu me perguntei quantos episódios isso duraria. Mas enquanto eles não chegam, nós nos divertimos vendo como é a Ygritte que não sabe de nada, principalmente se o assunto for o sul da Muralha.

Quem esperava que o Orell fosse bancar o apaixonado logo agora? Pra mim isso não fez nenhum sentido, e pareceu extremamente forçado. Principalmente depois de ele ter tentado matar Ygritte durante a escalada. Isso me lembrou quando Mindinho se declarou pra Cat no terceiro episódio da segunda temporada, “What Is Dead May Never Die”, depois de ter contribuído para a morte de Ned. Muito românticos os dois. Se Catelyn reagiu de maneira agressiva naquela ocasião, apontando uma faca pro nariz de Petyr, imagine o que Ygritte fará se Orell continuar insistindo nessa ideia.

Todo mundo sabe que Kit Harington não é um ótimo ator. Na verdade, está bem longe disso. Mas nesse episódio, tanto ele quanto Rose Leslie tiveram um ótimo material em mãos, e isso ajudou bastante. As cenas envolvendo os dois foram extremamente agradáveis. Mas o mundo em que eles vivem não é nada agradável. Jon Snow tentou alertar Ygritte a respeito disso, em Castelo Negro eles encontrarão obstáculos muito maiores do que simples moinhos de vento, mas ela pareceu não se importar. Se eles tiverem que morrer, morrerão. Mas antes irão viver.

Tá certo.

Cat pode não ter sido uma mãe ideal pra Jon Snow, ou mesmo pros filhos que teve com Ned, mas ultimamente ela tem feito o que pôde por Robb, mesmo tendo sido a causadora de boa parte dos seus problemas. É triste perceber que não apenas ele, como todos naquela tenda ignoraram seus conselhos, e o semblante de Michelle Fairley consegue transmitir bem toda essa tristeza.

De todos ali, é claro que Robb vai preferir dar atenção a sua bela e exótica rainha. Na cena romântica entre os dois, nós descobrimos por que ele escolheu casar-se com ela antes mesmo de conhecer a garota Frey. Com o perdão da palavra, Oona Chaplin é gostosíssima. Mas que tipo de esposa zelosa fica peladona distraindo o marido enquanto este está tentando fazer planos de guerra? Vale lembrar que ela é a principal causa de ele estar perdendo. E ainda assim pede pra que ele “abandone a guerra por uma noite”, como se ele já não tivesse feito isso a muito tempo.

Durante toda a temporada, a única coisa que vimos o Jovem Lobo atacar foi a Talisa. Pelo menos nisso ele teve êxito, visto que agora ela está grávida. A não ser que essa criança morra, isso implica que, no caso da derrota de Robb, Sansa não seria mais herdeira de Winterfell. Mas essa está com outras preocupações maiores na cabeça… Ou eu deveria dizer “menores”?

Como alguém consegue acreditar que a Margaery é virgem? Só mesmo Sansa e talvez a besta do Joffrey. O papel da atriz Natalie Dormer em Game Of Thrones está ficando cada vez mais parecido com a Ana Bolena que ela interpretou na série The Tudors, e eu acho isso ótimo. O modo como a amizade das duas se desenvolveu, baseada em admiração mútua, mesmo com elas sendo tão diferentes uma da outra, é bem interessante.

O tema “maternidade” esteve implícito em muitas das passagens que vimos nesse episódio. Talvez tenha sido proposital, já que ele foi exibido no Dia das Mães. Podemos perceber isso na reação dos dragões de Daenerys diante da ameaça a sua mãe, nos conselhos de Cat, na carta e na gravidez de Talisa, no diálogo entre Melisandre e Gendry a respeito de suas mães, no posicionamento de Shae, até mesmo na postura de Osha e nessa conversa entre Sansa e Margaery, que afirma que seu filho será rei e que, como toda criança, aprenderá com a mãe como se portar. Vamos torcer pra que ela se saia melhor que Cersei nessa missão.

Assim como a jovem Stark buscou conselhos de sua melhor e única amiga a respeito do casamento, seu futuro esposo fez o mesmo. E não é que o conselho recebido por ambas as partes foi basicamente igual? Enquanto Margaery tentou convencer Sansa a aceitar o casamento com Tyrion, Bronn tentou convencê-lo a aceitar que ele já aceitou essa situação, e que está muito feliz com ela. Eu não sei até que ponto isso é verdade, mas é sempre bom assistir Jerome Flynn e Peter Dinklage em cena, especialmente se o texto for o texto for escrito por George R. R. Martin.

Em uma coisa, tanto o mercenário quanto a futura rainha estão certos: o casamento é um fato do qual nenhum dos dois pode fugir. Não é questão de desejo, é dever. Mas vá explicar isso pra Shae…

Vocês lembram daquela cena de “Dark Wings, Dark Words” que eu disse ter sido inútil? Bem, dentro do contexto daquele episódio, ela realmente não serviu pra muita coisa além de justificar o nome de Peter Dinklage nos créditos. Mas eu sabia que no final ela serviria para justificar os ciúmes de Shae em relação a união de Tyrion e Sansa, só que naquela ocasião eu não poderia dar spoilers a respeito dela.

Vocês devem se recordar de um cena da primeira temporada onde o falecido Viserys e a falecida Doreah conversavam sobre dragões numa banheira. Naquela cena, o Viserys disse que os crânios dos dragões ficavam cada vez maiores a medida que se aproximavam do trono de seu pai, o Rei Louco. Foi engraçado ouvir Tywin desmenti-lo, dizendo que quando ele era Mão desse mesmo rei, ali havia um crânio do tamanho de uma maçã.

Jack Gleeson e Charles Dance são sensacionais, e série estava nos devendo uma cena que mostrasse a relação entre seus dois personagens. Uma cena entre dois atores incríveis e que mostrou o motivo pelo qual Shae e o restante dos Sete Reinos temem Tywin Lannister. Era Joffrey que estava sentado no Trono, mas o diálogo muito bem escrito deixava claro que a autoridade do Senhor de Rochedo Casterly é muito maior que isso, mesmo quando ele está sem sua pena.

E enquanto ele subestimava Dany de um lado do Mar Estreito, ela brincava de conquistar cidades do outro.

Acho que eu devo mesmo ter sentido falta de Daenerys no último episódio, pois quando eu vi aquele exército de Imaculados marchando em direção a antiga e gloriosa Cidade Amarela, eu fiquei extremamente empolgado com o que viria.

Novamente Barristan e Jorah discordavam sobre como proceder, mas a Mãe de Dragões estava ali apenas por um motivo: libertar todos os escravos. Afinal, ela agora é a “Quebradora de Correntes”, e o texto fez questão de deixar claro o quanto ela está levando esse título a sério. Isso é interessante também se analisarmos o lado do Jorah. Ele foi exilado por vender escravos em Westeros, e agora tem que ajudar sua rainha a libertá-los.

Toda a negociação procedeu muito bem, diria até que foi meu momento preferido no episódio. O modo como Daenerys manteve controle da situação incitando medo em Grazdan desde o momento que ele chega ao acampamento e se depara com aquela quantidade imensa de Imaculados foi genial. A locação escolhida também foi fantástica, e a equipe de efeitos especiais nos deu vislumbres incríveis de Yunkai e dos três dragões, que parecem maiores e mais reais a cada vez que os vemos.

Outra cena que deu um show de efeitos especiais e fotografia foi aquela em que Melisandre finalmente disse ao Gendry que ele é filho do falecido Rei Robert Baratheon, coisa que nós já sabíamos desde a primeira temporada. Foi interessante descobrir mais um pouco sobre o passado de Mel. Antes de ter sido salva pelo Senhor da Luz, ela foi uma escrava, e esse foi o episódio ideal pra abordar esse tema. Mas o que eu quero mesmo saber aqui é o que a Mulher Vermelha pretende fazer com o tão poderoso sangue de rei que corre nas veias do bastardo. Parece que vamos ter que esperar eles chegarem em Pedra do Dragão pra descobrir.

Estou começando a pensar que aquela citação do Varys a respeito de paciência em “And Now His Watch Is Ended” foi na verdade um recado para o público. As respostas que nós buscamos serão nossas em tempo, se tivermos estômago pra isso… Ainda bem que eu tenho.

Existe apenas um Deus, e seu nome é Morte. E o que nós dizemos para o Deus da Morte? “Hoje não”. Se Arya tivesse aprendido essa lição com Syrio na primeira temporada, ela não teria saído da caverna da Irmandade, onde ela tinha pessoas que a protegiam (por mais mercenárias que fossem), pra aventurar-se na noite, sozinha pela floresta. É estranho ver que Arya parece muito mais imatura agora do que ela era nas temporadas anteriores. Devem ser os hormônios.

Mas enfim, como diria o Tolkien numa situação dessas, ela saiu da frigideira para o fogo. Trocou a companhia de Beric e Thoros por uma ainda pior. Ou será que o Cão de Caça não é tão ruim assim? Ele tentou ajudar Sansa em “Blackwater”, então quem sabe agora ele também tenta ajudar sua irmã. Ou vocês acham que ele vai voltar com ela pra Porto Real em busca do perdão do rei?

A sequência foi rápida, mas mesmo assim apresentou uma reviravolta importante na história de Arya. Eu só queria que os produtores tomassem isso como exemplo quando fossem pensar nas cenas de Theon, que ultimamente tem durado mais tempo que o necessário.

Como a maioria deve saber, “The Bear And The Maiden Fair” (O Urso e a Bela Donzela) é o nome de uma canção, que inclusive foi tocada nos créditos finais de “Walk Of Punishment”,  logo depois de Jaime ter perdido a mão. Como o próprio nome sugere, a letra fala basicamente de um urso – que talvez também possa ser visto como um homem extremamente grotesco – tentando conquistar uma bela donzela. Ou seja, fala sobre sexo. E como o homem responsável pelo roteiro é um dos caras que mais gosta de escrever sobre sexo no mundo, o episódio não poderia ter sido diferente. O sexo esteve presente nas interações entre Robb e Talisa, Margaery e Sansa, Tyrion e Bronn, Tyrion e Shae, Jon e Tormund, no triângulo amoroso improvável formado por Orell, Ygritte e Jon Snow, e até mesmo na sessão de tortura semanal do Greyjoy.

Quando eu vi aquelas duas lindas mulheres entrarem em cena, eu ouvi a voz de George me dizendo: “Considere isso como um bônus, por que de resto, será a mesma coisa da semana passada”. E realmente foi. Além de Myranda e Violet, a única diferença dessa cena para aquela que vimos em “The Climb” é que o dedo esfolado foi outro. Acho que isso é sofrimento demais, até mesmo pra ele.

“Hodor”

No episódio anterior, quando o misterioso torturador de Theon manifestou interesse em caçar Bran e Rickon, eu pensei que as coisas iriam começar a andar pra eles, e que essa seria uma ótima maneira de ligar esses dois núcleos que parecem tão desconectados do restante da série. Infelizmente isso ainda não aconteceu, e são justamente esses os dois núcleos que praticamente não saíram do lugar desde o início da temporada. Logo eles que poderiam estar funcionando muito bem se estivessem “juntos”.

Osha não gosta nada dos papos entre Bran e Jojen a respeito do corvo de três olhos. E o roteirista parece concordar com ela, pois ao invés de nos mostrar O QUE Jojen e Bran tanto conversam, ele resolveu nos dar aquela história sobre a selvagem e seu antigo namorado transformado pelos Outros. Foi uma história interessante porém, pois explicou o motivo pelo qual Osha deixou seu povo que vivia ao norte da Muralha e o porquê de ela ter tanto medo de lá. Ver Natalia Tena bancando a Velha Ama também foi muito bom.

Nessa cena o grupo decidiu que não iria mais para Castelo Negro e sim para além da Muralha, atrás do corvo de três olhos, algo que devia ter sido estabelecido logo que Jojen teve a visão de Jon Snow com os selvagens. Mas será que eles vão conseguir alcançar seu objetivo ainda nessa temporada? Nem mesmo Hodor pode responder essa pergunta.

A relação de Jaime e Brienne passou por todos os extremos antes de chegar ao seu estado atual. No início eles se odiavam, mas agora confiam um no outro e se respeitam. Isso é muito bacana, e fica nítido quando Brienne confia a Jaime sua missão de trazer as meninas Stark de volta pra Catelyn. Ele aceita, mesmo sabendo que isso o colocará contra o seu pai, e ela o chama pelo nome ao invés de usar seu apelido “Regicida”. Essa seria a despedida perfeita se os dois fossem mesmo se separar definitivamente ali. Mas felizmente eles não iriam.

Eu não tenho muito pra falar sobre a cena em que Jaime deixa Harrenhal e seus cumprimentos a Robb Stark. Vou apenas ressaltar como é incrível o fato de que todos os atores desse núcleo parecem estar em sintonia com seus personagens. Até mesmo os mais novos, como os intérpretes de Locke e Qyburn. Por falar em Qyburn, nesse episódio ficamos conhecendo também um pouco de sua história e do motivo pelo qual a Cidadela confiscou suas correntes de meistre. Mas eu sinto que eles ainda não nos mostraram tudo, e estou ansioso pra descobrir mais sobre seus “experimentos”.

E é justamente Qyburn que reforça em Jaime a ideia de voltar pra resgatar Brienne. Ele claramente não imaginava que Locke fosse rejeitar a proposta de resgate de Lorde Selwyn Tarth, ainda mais por causa de uma mentira que ele mesmo inventou a respeito das safiras.

Seja por culpa, ou por honra, ele decide retornar a Harrenhal, e seu timing não podia ter sido mais perfeito. O modo como Jaime foi mostrado nessa cena, ao entrar cavalgando bravamente no castelo em ruínas, teve o objetivo claro de fazer com que o telespectador tomasse ele como um herói. Todo o sofrimento e a humilhação contínua que ele passou nesses últimos episódios com a perda da mão serviram para que ele chegasse a esse momento final de redenção.

E então finalmente chegamos a cena que dá nome ao episódio. Uma cena incrível em termos de tamanho e visual, mas que pouco impressionou se formos pensar nela como uma sequência de ação. Além de ter sido rápida, ela ainda pareceu extremamente coreografada.

Sabendo do seu valor como prisioneiro, Jaime se joga na arena, obrigando os homens de Roose Bolton a salvarem não apenas ele, mas também Brienne. O fato dele supervalorizar sua posição lhe serviu bem dessa vez.

Mas quem esperava um cliffhanger daqueles depois disso, pra fechar o episódio com chave de ouro, se decepcionou. Ao invés de atirar Locke na arena do urso, depois olhar Brienne nos olhos e dizer “As coisas que eu faço por amor”, Jaime simplesmente encara o homem que arrancou sua mão e se desculpa ironicamente pelas safiras, indo embora ao som de uma versão incrível da canção “The Rains Of Castamere”, a canção dos Lannisters. Pra mostrar que, de uma maneira ou de outra, eles sempre pagam suas dívidas.

A última tomada aérea de Harrenhal foi espetacular.

Tudo bem, foi bom. Mas poderia ter sido muito melhor, assim como o episódio em si. Não é como se “The Bear and The Maiden Fair” tivesse sido o pior momento de toda a série, mas definitivamente também não foi o melhor. Especialmente se formos levar em consideração que ele foi escrito pelo R. R. Martin, e dirigido pela excelentíssima Michelle MacLaren. As expectativas estavam altas, e infelizmente, por causa de uma ponta solta aqui e outra ali, eles não conseguiram superá-las. Vamos torcer pra que os três últimos episódios dessa temporada consigam.


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