Certa vez, Tywin Lannister disse que a família é a única coisa que sobrevive ao homem. O legado é tudo, e esse parece ter sido o tema recorrente da sétima e penúltima temporada de Game of Thrones. Escrito por David Benioff e D. B. Weiss, o episódio exibido no último domingo brincou com essa ideia ao colocar irmãos que se odeiam frente a frente e irmãs que (aparentemente) se odiavam, lado a lado. Enquanto algumas dessas relações parecem ter atingido um ponto de ruptura, outras se fortaleceram, e algumas se tornaram ainda mais complicadas, mesmo não sendo ligadas pelo sangue.

Do nascimento de Viserion, Rhaegal e Drogon à devastadora explosão do Septo de Baelor, todos os season finales podem ser considerados experiências memoráveis, mesmo quando não são carregados de sequências épicas de batalha. Esse foi o caso de “The Dragon and the Wolf”, que teve seus 80 minutos sustentados pelo diálogo, pelos vínculos e confrontos estabelecidos entre os personagens. De uma forma ou de outra, a série sempre conseguiu encerrar as temporadas da maneira que nós esperávamos: com um enfático ponto de exclamação.

Ao longo dos últimos sete episódios, David e Dan vieram alimentado nossas expectativas com relação ao inevitável choque entre Jon, Cersei e Daenerys — três forças opostas no lado dos vivos, lutando entre elas enquanto os mortos marchavam inexoravelmente rumo aos Sete Reinos. Muitos acreditavam que o primeiro encontro da tríade fosse acontecer no campo de batalha, e estou feliz que isso não tenha acontecido. Além de educativo, observar os movimentos das diferentes peças no grande tabuleiro (representado aqui pelo Fosso dos Dragões) foi pura diversão.

Tivemos muito o que desfrutar nas reuniões de Tyrion com seus antigos companheiros Podrick e Bronn (que já tinha ajudado o anão ao acertar detalhes do acordo com Jaime). A interação entre Sandor e Brienne também foi aprazível, especialmente pelo fato de eles terem encontrado um terreno comum em Arya (que, ao possibilitar esse diálogo, deu sua maior contribuição à temporada). E por falar no Clegane, as ameaças que ele disparou contra o irmão sugeriram algo que os fãs esperaram por muito tempo: #CLEGANEBOWLCONFIRMED. São momentos satisfatórios como esses que fazem os acelerados desfechos da história valerem a pena.

A tensão inicial provocada pelo atraso de Cersei (vocês lembram o que aconteceu quando ela se atrasou para o próprio julgamento), e pela eventual chegada de Daenerys, foi bem pontuada pelo diretor, Jeremy Podeswa. Esse sentimento nos levou às negociações iniciais, agravadas pelo fato de que quase todos ali pareciam levar a discussão a sério. Todos, exceto Euron, é claro. Porque é isso que Euron faz: piadas de anão e de eunucos.

Felizmente, Tyrion não se deixou abalar, afinal, ele nunca se esquece do que ele é. “Use isso como se fosse uma armadura, assim nunca poderão usar isso para te ferir”, lembram?

Todas as distrações da abertura foram postas de lado quando o Cão de Caça apresentou o wight. Um lance decisivo, que poderia ter sido facilmente menosprezado por Cersei — assim como a chegada da Mãe de Dragões que, como de costume, veio montada em um de seus filhos —, mas mesmo a rainha deixou a máscara cair quando a criatura correu até ela, provavelmente por medo do que aconteceria com a criança que ela carrega. Ainda assim, as reações de Cersei, Jaime e (especialmente) Qyburn soaram autênticas, e o crédito disso é tanto dos roteiristas quanto dos atores. Tudo foi encenado efetivamente para não deixar dúvidas de que os personagens estavam diante do perigo real.

O episódio parece ter concluído uma etapa ao transpor o singelo casamento de Lyanna e Rhaegar com a singela cena de sexo entre Daenerys e Jon (os dragões e lobos referenciados no título). Entretanto, este ciclo só é fechado adequadamente quando percebemos que “The Dragon and the Wolf” repercutiu os atos do primeiro protagonista da saga: Lorde Eddard Stark.

Embora a antiga Mão seja lembrada pela sua honra inabalável, existe uma falsa noção de que a ingenuidade dele foi o que levou à queda da Casa Stark — um argumento que cai por terra se analisarmos o legado de um homem mais inescrupuloso, como Tywin. Enquanto os leões foram desmembrados pelas guerras no Sul, os lobos se levantam no Norte. Ned e Catelyn criaram filhos que, como aço, podem dobrar, mas nunca quebrar. Filhos que terão um papel determinante no futuro de Westeros.

Contudo, é numa mentira que reside o maior ato de heroísmo do então Senhor de Winterfell, uma mentira que, para o bem ou para o mal, levou o principal herdeiro do Trono de Ferro à linha de frente da segunda grande batalha pela alvorada.

Ao contrário do pai, Jon Snow foi incapaz de contar uma mentira necessária para garantir a aliança com Cersei, que jogou sabiamente com a memória de Eddard, dizendo repetidamente o quanto ela confiaria na palavra de seu filho.

A irritação dos aliados de Jon é compreensível, por mais nobre e respeitável que o Rei do Norte tenha sido. O discurso de que palavras e juramentos devem significar alguma coisa fez jus ao alinhamento moral do personagem, que é um incontestável Gary Stu. Porém, esse idealismo contrapõe a realidade daquilo que ele tem lutado por tantos anos. Ideais não poderão deter a Longa Noite. Exércitos podem.

A integridade de Jon ainda serviu outro propósito. Esse ano, vimos as decisões táticas de Tyrion serem questionadas por todo mundo, dentro e fora da tela. Uma vez que Cersei descartou a possibilidade de enviar suas tropas para o norte, o “campeão dos oprimidos” teve a chance de brilhar. E ele brilhou — ainda que, no final, a negociação com Cersei tenha fracassado. A cena entre os irmãos foi, sem sombra de dúvida, a melhor de toda a temporada, e necessária por variadas razões. A química entre Peter Dinklage e Lena Headey é forte, e o encontro deles remeteu a várias discussões da época em que o Duende ainda servia como Mão de Joffrey na capital.

Se Cersei ainda suspeitasse do envolvimento do irmão na morte do filho, Tyrion certamente teria perdido a vida naquela sala (obrigado, Olenna). No fundo — bem, bem, bem lá fundo, eu ainda tive medo de que algo do tipo pudesse acontecer, visto que a rainha continuou a culpar o anão pela morte da mãe, do pai (da qual ele é realmente culpado) e, indiretamente, das mortes de Myrcella e Tommen.

No episódio anterior, Daenerys enalteceu o heroísmo dos homens com que ela se envolveu. Tyrion foi bravo ao enfrentar a mulher que tentou matá-lo uma dezena de vezes, talvez por ter enxergado neste ato uma maneira de provar a rainha dragão que ele também pode ser um herói. Sem falar ele era, de fato, o único qualificado para a tarefa. Nenhum outro membro do séquito de Dany conhece a inimiga como ele conhece. Não foi à toa que ele conseguiu descobrir a gravidez da irmã. Bem, na verdade, os produtores revelaram que Cersei levou Tyrion à descoberta. 

O que quer que tenha acontecido depois desse ponto, nós não sabemos. Sabemos que a infertilidade de Daenerys tem sido um problema frequentemente destacado ao longo da temporada. Dividir essa informação com Cersei pode ter dado a ela uma esperança de que seu filho possa, um dia, sentar no Trono de Ferro. Na Dança dos Dragões, foi o filho de Rhaenyra, Aegon, que sucedeu o tio (outro Aegon), mesmo depois que a mãe foi derrotada na guerra. Talvez Tyrion tenha oferecido Rochedo Casterly ao bebê, ou até à própria Cersei, mas qualquer promessa feita perderá o valor no momento que ela desonrar o acordo.

Além disso, se considerarmos a profecia de Maggy, a Rã, o filho de Cersei não deve chegar a nascer. A forma como o zumbi correu em direção à rainha pode ter sido um presságio sombrio para o bebê que ela carrega.

Eu não sei se discordo totalmente da atitude da Cersei. Mentir sob juramento não é nada legal, mas por que desperdiçar seus exércitos se ela pode usá-los depois para finalizar o inimigo que sobreviver à Grande Guerra? Quem quer que seja, certamente sofrerá grandes baixas e, se ela tiver alguma sorte, Daenerys pode perder mais um de seus dragões. Com os 20 mil homens, cavalos e elefantes da Companhia Dourada a caminho dos Sete Reinos, a filha de Tywin tem um grande trunfo nas mangas, sem falar na Frota de Ferro do Euron. Podemos até duvidar da lealdade destes aliados, mas não de seus números.

O fato de Cersei ter manipulado Tyrion e colocado Daenerys a frente do irmão na sua “kill list” mostra que ela está pensando estrategicamente, sem se deixar levar pelos sentimentos — o que, talvez, não possamos dizer de seus oponentes apaixonados.

O nome de Ned foi pronunciado a torto e a direito no Fosso dos Dragões, mas foi em outros lugares que ele ressoou mais alto.

Se existe alguém que conhece as dificuldades da lealdade familiar, esse alguém é Theon. Imaginem como deve ser nascer na mesma família de homens como Euron e então virar refém na casa de um dos homens mais honrados do Mundo Conhecido. Pedir perdão ao Jon não deve ter sido fácil, mas Theon teve a coragem necessária para tanto, ainda que esta tenha lhe faltado na noite em que Yara foi capturada.

O modo quase messiânico como Jon vem sendo retratado me incomoda um pouco. Além de ser o herdeiro do Trono de Ferro, o Último Herói, o Príncipe que Foi Prometido e, provavelmente, o futuro marido de Daenerys, o bastardo ainda é o cara mais honesto, digno e clemente de toda a série. A forma como ele ofereceu a Theon a absolvição que ele precisava para seguir em frente foi muito… plena e simples. O Greyjoy passou por muita coisa para que todos os seus conflitos fossem resolvidos de uma maneira tão polida. Eu queria ter visto Theon conversando com homens como Varys ou Verme Cinzento, que vivem na mesma condição que ele e, a despeito disso, são excelsos nos papéis que desempenham. Três episódios fazem falta!

Claro que a cena na Sala do Trono de Pedra do Dragão merece ser exaltada pelos desempenhos dos intérpretes. Poucos atores no elenco conseguem passar tanta emoção quanto Alfie Allen e, ainda que um pouco restrito nos primeiros anos da série, Kit Harington encontrou camadas em Jon Snow, camadas que lhe permitem parecer elevado e confiante, mas também capaz de oferecer uma empatia calma, mas firme, para o filho pródigo de Ned Stark.

No final, eu fiquei feliz de ver como o filho de Balon foi encorajado, fortalecido e (pelo menos um pouco) curado pelas palavras do irmão e pela determinação em resgatar a irmã. Na terceira temporada, em uma das sequências mais absurdas de toda a série, Yara tentou tirá-lo das garras de Ramsay, e agora ele quer retribuir o favor. Aqueles que jogaram o game da Telltale provavelmente se lembraram de Rodrik Forrester enquanto Theon, mesmo fustigado por Harrag, manteve-se de pé. Com toda a carga emocional do seguimento, eu não pude deixar de rir do chute “no saco”. Talvez tudo se resuma mesmo a pintos.

A história de Mindinho estava fadada a terminar como terminou. Nas últimas temporadas, o personagem foi pouco mais que um plot device utilizado pelos showrunners sempre que eles precisavam de alguém com tempo livre para atravessar o reino ou dar discursos enfadonhos sobre poder. Brincadeiras à parte, Petyr Baelish foi, talvez, o jogador mais experiente no jogo dos tronos e, diferente do Theon, nunca sofreu consequências pelos atos terríveis que cometeu. Como todo bom manipulador, ele foi derrubado pelo excesso de autoconfiança.

Mindinho sempre soube como ler pessoas, e usou esse talento ao longo dos anos para fazer estragos em nome do seu próprio benefício (o caos é uma escada). Sejamos honestos: se você vai jogar esse jogo em particular, você não pode duvidar de si mesmo. A confiança de Petyr na sua habilidade de manipular o ajudou em muitas ocasiões, mas também o impediu de perceber quando seus esforços estavam falhando.

O cara não foi capaz de colocar Sansa contra Arya, como fez com Lysa e Catelyn no passado, e esse insucesso monumental foi o que levou ele a morrer da mesma forma que sua amada. A morte de Mindinho também marcou pontos por dar continuidade ao principal tem dessa temporada. Assim como Daenerys e Jon, as irmãs Stark, com a ajuda quase onisciente de Bran, representam a nova geração condenando e evitando os erros da geração anterior. Adequadamente, em um episódio que centra o legado de Ned Stark, vimos justiça ser levada ao seu traidor.

O arco de Winterfell foi, definitivamente, o mais fraco de toda a temporada. A rivalidade entre Sansa e Arya, por mais justificável que fosse em seu conceito, foi trabalhada de maneira preguiçosa e desnecessária. No Inside the Episode, D&D se mostraram empolgados com a ideia de surpreender a audiência, revelando que tudo não passava de uma farsa para enganar Mindinho. Em uma entrevista recente, o ator Isaac Hempstead-Wright revelou que teve cenas cortadas e que, em uma delas, Sansa pediu ajuda de Bran (possivelmente, para lidar com Arya). Com essas informações, fica difícil saber se Arya representou de fato algum perigo para a irmã, ou a partir de que momento elas deixaram de ser “inimigas”. A prédica de Mindinho sobre esperar sempre o pior parece ter sido fundamental para virar Sansa contra ele, mas sem uma cena para servir como “cola” entre este momento e o julgamento no Grande Salão, jamais poderemos ter certeza.

Embora a intenção dos produtores tenha sido mostrar como Sansa conseguiu superar o seu “mestre”, ela não fez nada que demonstrasse isso de maneira categórica. As únicas evidências apresentadas contra Mindinho foram as visões literalmente mágicas de Bran, que nenhum dos presentes poderia confirmar ou negar. Suponho que devamos contar com o que ela fez fora da tela, não é mesmo? Como diabos isso pode ser certo?

Por mais ignóbil que o enredo tenha sido, ver Mindinho implorar e chorar como a própria Sansa fez diante de Joffrey em “The Pointy End” foi incrivelmente gratificante, e uma oportunidade fantástica para Aidan Gillen, que se superou ao mostrar um lado do personagem escondido para nós por sete anos. É uma pena que esse momento tenha custado tanto para os personagens, que acabaram virando paródias de si mesmos, tudo para que nós tivéssemos um plot twist que nunca pedimos (e que, diga-se de passagem, não surpreendeu quase ninguém no final).

Sansa ainda pode acreditar que Arya é “estranha e irritante” (e eu concordo), mas o vínculo familiar entre elas persistiu. O momento compartilhado por elas nas muralhas de Winterfell foi uma rima visual com aquele que vimos em “The Winds of Winter”, onde Sansa observou Melisandre partir de pé naquele mesmo lugar, com Jon. Uma cena consoladora em um núcleo que mergulhou de cabeça na catarse para emergir com as mãos vazias. Game of Thrones pode tropeçar no desenvolvimento de tramas maiores e mais complicadas, mas ainda sabe como vender esses momentos um a um que, depois de tantos anos, continuam sendo a força vital da série.

A frase dita por elas sobre união e inverno foi a mesma dita por Ned no episódio “Lord Snow”.

Também em Winterfell, com a esperada chegada de Samwell, vimos, pela primeira vez, a série tocar diretamente os detalhes da linhagem sanguínea de Jon.

Como Theon, Jon é um Stark e outra coisa além. Sua descendência Targaryen pode ser essencial para os futuros desdobramentos da trama, mas independente da herança que este sangue lhe traga, Jon ainda será um homem que honra seus juramentos, e nós vimos ele “dobrar o joelho” para a tia (ele até assinou a carta enviada para Sansa como “Protetor do Norte” em vez de “Rei”). Eu espero que a verdade cause um certo atrito entre ele e Daenerys — principalmente se os dois permanecerem como um casal — mas é difícil acreditar que Jon, como o herói relutante que é, chegue a reivindicar pessoalmente qualquer direito ao Trono de Ferro.

A revelação em si foi um pouco anticlimática, já que a série tinha confirmado essa informação anteriormente através da Gilly, que além de ignorada, ainda teve o crédito da descoberta roubado pelo Sam. E enquanto a expectativa de ver o próprio Jon saber a verdade nos mantém intrigados, é difícil imaginar como isso pode ser trabalhado satisfatoriamente nos seis episódios que restam.

Não há, efetivamente, nenhuma prova real da verdadeira filiação de Jon. O único homem vivo que sobreviveu aos eventos na Torre da Alegria é o pai de Meera, Howland Reed, que a série ainda pode introduzir na última temporada, se tiver tempo. Sinceramente, eu só espero que não inventem uma certidão de nascimento autenticada perdida entre os documentos do Meistre Luwin.

Especialmente incômoda foi a escolha de revelar a verdade sobre Jon em um voiceover, sobrepondo a cena onde ele e Dany consumaram sua relação incestuosa. O flashback que mostrou a cerimônia secreta do casamento de Rhaegar e Lyanna foi muito bem encaixada na montagem emplacada por uma das mais belas faixas compostas por Ramin Djawadi, apropriadamente chamada “Truth”. O cara é uma lenda.

Muitos reclamaram da caracterização simplória de Rhaegar, mas eu o achei bem fiel à aparência dos outros Targaryens, principalmente Viserys, que teve a semelhança com o irmão explicitada nos livros, quando Daenerys confundiu os dois em uma visão no Palácio de Poeira.

Seu primeiro pensamento, na vez seguinte em que parou, foi Viserys, mas um segundo olhar fez Dany mudar de idéia. O homem tinha os cabelos do irmão, mas era mais alto, e seus olhos eram de um tom escuro de índigo, e não lilases.

– Aegon – ele disse para uma mulher que amamentava um recém-nascido numa grande cama de madeira. – Que nome seria melhor para um rei?

– Fará uma canção para ele? – a mulher perguntou.

– Ele já tem uma canção. E o príncipe que foi prometido, e é sua a canção de gelo e fogo – ergueu o olhar quando disse aquilo, e seus olhos encontraram os de Dany, e pareceu que a via ali em pé através da porta. – Terá de haver mais um – ele disse, embora Dany não soubesse dizer se estava falando para ela ou para a mulher na cama. – O dragão tem três cabeças – dirigiu-se ao banco da janela, pegou uma harpa e seus dedos correram com leveza sobre as cordas prateadas. Uma doce tristeza encheu o quarto enquanto homem, esposa e bebê se desvaneciam como a neblina da manhã, deixando para trás apenas a música a fim de apressá-la.

(A Fúria dos Reis, capítulo 48, Daenerys IV)

O trecho acima foi provavelmente levado em consideração pelos designers da produção, visto que Wilf Scolding parecia estar usando a mesma peruca de Harry Lloyd, além de roupas similares que, segundo Michelle Clapton, correspondem às vestimentas da família real na época da Rebelião, estilo que Viserys — uma criança na época — adotou para lembra-lo de casa.

A decepção de alguns provavelmente deriva do fato de que Rhaegar, na grande maioria das vezes, foi descrito por pessoas que realmente enxergavam ele como o príncipe brilhante e prateado que ele não era. Sim, ele amava Lyanna, e ela o amava, mas o amor deles custou as vidas de muitos, incluindo a dos filhos que Rhaegar parece ter renegado ao anular seu casamento com a pobre Elia Martell. Quando a série pretende falar disso? Oberyn culpou os Lannisters, e sabemos tudo e mais um pouco sobre Oberyn e sobre os Lannisters. No entanto, Elia é quase uma abstração.

O legado de Ned não afetou apenas seus filhos — entre os quais também incluo Theon e Jon. O mesmo código de ética que serviu para criar as crianças também condenou Jaime desde o dia que Eddard pegou ele sentado no Trono de Ferro, com a espada e o manto maculados pelo sangue do rei. Uma mancha que ainda parece assombrá-lo, mesmo depois de 20 anos.

O Regicida até parece ter aceitado o papel de paria por um tempo, ou vocês já esqueceram como ele empurrou Bran Stark da Torre Quebrada? Nós sabemos que ele só matou Aerys para proteger os moradores da capital e que, desde a jornada com Brienne, ele tem feito o possível para reclamar sua honra — o que inclui armar a Donzela de Tarth para procurar pelas filhas de Catelyn e libertar o irmão de sua cela contra a vontade de Tywin. Todavia, o compromisso com Cersei impediu que ele abraçasse completamente esse seu arco de redenção.

Neste episódio, provavelmente motivado pelo reencontro com Brienne, Jaime finalmente se livrou do relacionamento tóxico que tinha com a irmã gêmea, desafiando ela a executá-lo, como Tyrion fez algumas cenas antes (sim, os caras estão escrevendo callbacks dentro de um mesmo episódio, agora). O rompimento de Jaime e Cersei marcou um dos momentos mais tensos de todo o episódio, e serviu para contradizer diretamente as palavras da rainha quando afirmou que “ninguém virava as costas para ela”.

Nos livros, a “libertação” de Jaime também foi pontuada pela neve caindo nas Terras Fluviais. Finalmente, a adaptação mostrou o inverno chegando a Porto Real, em uma sequência carregada de beleza e lirismo que contrapuseram a chegada do verdadeiro inverno à Atalaialeste do Mar.

“The Dragon and the Wolf” terminou com um grande cliffhanger, como todo season finale que se preze. Nós sabíamos que Viserion estava sob o controle do Rei da Noite, mas saber é uma coisa, ver o dragão em ação foi outra bem diferente. A sequência de fechamento entregou todo o espetáculo cinematográfico e o horror que eu esperava do momento em que a Muralha caísse, e o exército dos mortos invadisse os Sete Reinos. E gostei do fato de que apenas uma porção da massiva estrutura de gelo tenha sido derrubada, o que torna o poder de Viserion um pouco mais crível. Me pergunto o que o Arquimeistre Ebrose diria se visse essa cena.

As pessoas vêm discutindo intensamente o que diabos o dragão estava cuspindo e como isso foi capaz de derrubar a Muralha. Para mim, é um mero caso de magia contra magia. As Crônicas de Gelo e Fogo sempre estabeleceram que os dragões são seres mais mágicos que naturais. Essa magia, aliada à magia dos Caminhantes Brancos, parece poderosa o suficiente para derrubar qualquer coisa que esteja no caminho. E por que devemos empregar lógica aqui quando tantas outras coisas mais simples fugiram da mesma?

Para aqueles que estão preocupados: Tormund e Beric estão vivos. A dupla conseguiu alcançar parte segura da Muralha, e seria bem improvável que eles morressem sem nenhuma cerimônia à essa altura do campeonato (principalmente o Tormund).

Viserys costumava dizer que “homens corajosos não matavam dragões, mas montavam neles”. Tendo feito as duas coisas, o Rei da Noite parece ser, de fato, um perigo maior que todos os outros combinados. E é com ele que a temporada termina. Mais do que qualquer outra, a sétima temporada foi a que mais dependeu de imagens poderosas e dos temas estabelecidos nos primeiros anos da série para preencher as lacunas deixadas pelo roteiro. A ancestral Muralha de gelo não foi a única barreira derrubada por este episódio. Com a morte de Mindinho e quase todos os subplots amarrados de uma maneira ou de outra, não há óbice que detenha o irrefreável fim dessa história.


NOTAS FINAIS

✖ DRAGÕES, LOBOS E LEÕES: Esse foi o terceiro episódio de toda a série que recebeu um título baseado nos símbolos de duas grandes Casas. O primeiro deles, “The Lion and the Wolf”, curiosamente, possui um dos melhores diálogos de toda a série acerca de Rhaegar, Lyanna, Targaryens e dothrakis. Cliquem aqui para morrer de saudades da primeira temporada!

✖ O QUE ESTÁ MORTO NÃO PODE MORRER: A queda da Muralha foi impressionante, mas o morto-vivo no Fosso dos Dragões foi um dos melhores trabalhos de CGI que eu já vi na série!

✖ NÚMEROS: Jon pergunta a Tyrion quantas pessoas vivem em Porto Real, e ele responde “um milhão”. No entanto, no episódio “The Bear and the Maiden Fair”, Jaime Lannister afirmou que a população da cidade era de meio milhão de pessoas, fato que está de acordo com os livros. Podemos assumir que Tyrion incluiu um número de recente de refugiados que possam ter ocupado a cidade por conta das guerras e do inverno, mas o que realmente importa é: onde estava o povo quando a comitiva de Daenerys chegou à capital? Eu teria gostado MUITO de ver a reação das pessoas aos senhores dos cavalos e, principalmente, aos dragões.

Jon Snow conta que “um milhão” é mais do que toda a população do Norte, maior dos Sete Reinos de Westeros. Curiosamente, nos livros, estima-se o Norte seja habitado por cerca de 3 a 4 milhões de pessoas.

Cersei afirma que a Companhia Dourada tem 20 mil homens. Quando foram mencionados pela primeira vez na 4ª temporada, no entanto, Davos e Stannis declararam que eram 10 mil homens — número que estaria de acordo com o que lemos nos livros.

✖ ESPÓLIOS DA GUERRA: Olhando de perto, é possível perceber que os dothraki presentes em Porto Real estão vestindo roupas Lannister embaixo do figurino habitual. As roupas provavelmente são parte dos despojos obtidos dos soldados Lannister mortos durante a batalha na Estrada do Ouro. As peles se assemelham as usadas pelos selvagens, o que demonstra que eles assimilaram o figurino de Jon Snow e estão prontos para enfrentar o inverno westerosi.

✖ DRAGÕES NÃO SÃO ESCRAVOS: Daenerys repete sua famosa frase, “Zaldrīzes buzdari iksos daor”, traduzindo para Jon: “Um dragão não é um escravo”. Ela havia dito isso no episódio “And Now His Watch Is Ended”, quando declarou aos escravos de Astapor que não venderia Drogon. “Buzdari” na verdade é  o baixo valiriano astapori para a palavra “escravo”; no alto valiriano, se pronuncia “dohaeriros”.

✖ A ALCATÉIA SOBREVIVE: A única pessoa que mencionou o nome ‘Rickon’ em toda a temporada foi Jaime Lannister, e ele só fez isso para zoar o filho do Randyll, o que é bem triste.

✖ REI SNOW OU REI JON?: Aegon VI. Esse será o nome de Jon se ele chegar a sentar no Trono de Ferro. Vários fãs no Reddit acreditavam que o nome verdadeiro do filho de Rhaegar seria “Jaehaerys” dada as semelhanças entre os reis Jaehaerys I e II e o próprio Jon Snow. Uma alternativa bem popular, e talvez minha preferida, teria sido Aemon, evocando não apenas o adorado meistre da Patrulha, mas também o lendário Cavaleiro do Dragão, que nos livros era uma espécie de herói para o Jon, tal qual o Jovem Dragão, Daeron Targaryen.

Em todo caso, como o diálogo com Davos no episódio “The Spoils of War” parece ter adiantado, seu nome pouco importará. Para nós, ele sempre será Jon I.

✖ JON SAND: A afirmação do Bran de que o sobrenome de Jon seria “Sand” pelo fato de ele ter nascido em Dorne não é exatamente acurada. Para saber mais sobre o assunto, confiram este artigo que publicamos no ano passado, na mesma época em que “R+L=J” teve sua confirmação.

✖ O SEXTO DE SEU NOME: Mesmo aqueles que não leram os livros sabem que o primeiro filho de Rhaegar com Elia Martell também se chamava Aegon (Thoros de Myr mencionou o nome dele na terceira temporada). Embora existam casos de irmãos com o mesmo nome no universo fictício de George R. R. Martin, é estranho que Rhaegar tenha escolhido o mesmo nome para os seus dois filhos.

Rhaegar era um homem supersticioso, que queria um terceiro filho para remeter às três cabeças do dragão Targaryen. Ele provavelmente chamaria Jon de Visenya, caso ele fosse uma garota.  Mas Rhaegar estava morto quando o bebê nasceu, assim como o príncipe Aegon e a princesa Rhaenys (assassinados por Gregor Clegane depois da morte do pai), então é inteiramente possível que a própria Lyanna tenha dado nome ao filho, como forma de homenagear o irmão mais velho que ele nunca conheceria, assim como o Conquistador que subjugou seis dos Sete Reinos de Westeros e outros quatro grandes reis, bons e ruins, além dele.

Os produtores provavelmente escolheram o nome para homenagear o Jovem Griff, personagem importantíssimo dos livros que teve seu arco cortado da série. É impossível afirmar que nome George R. R. Martin dará ao bebê no cânone, visto que nem mesmo a paternidade de Jon foi confirmada a altura do último livro publicado.

Em todo caso, existe uma citação famosa do Meistre Aemon que, embora se refira ao rei Aegon V (Egg), pode servir como prenúncio tanto para Jon quanto para o Jovem Griff:

É preciso um homem para governar. Um Aegon, não um Egg. Mate o menino e deixe o homem nascer.

(A Dança dos Dragões, Capítulo 7, Jon II)

✖ VALE TUDO: A desconfiança que Bronze Yohn Royce sempre nutriu pelo Senhor Protetor do Vale (como apresentado em “The Mountain and the Viper”) pode ser um bom motivo para explicar porque ele aceitou o testemunho de Sansa sobre a morte de Lysa sem contestar.  

O fato de a série ter mostrado os dois confabulando em “Eastwatch” não significa que eles eram amigos. Certo?

✖ FOGO-FÁTUO: O fogo azul é simbólico por uma série de razões, especialmente por remeter ao ignis fatuus, fenômeno geralmente ligado à decomposição orgânica que é cercado por lendas e mitos.

✖ BRAN-EX-MACHINA: Algumas mecânicas dos poderes de Bran ficaram claras nesse episódio. Muita gente (incluindo eu) têm afirmado erroneamente que o garoto sabe de tudo o que está acontecendo e o que já aconteceu, contudo, ele não sabia do casamento de Lyanna e Rhaegar, e parecia não saber da traição de Mindinho previamente. O poder do Corvo de Três Olhos é tão grande que ele só pode acessar as memórias se souber onde procurá-las.

Ah! Ele também não precisa dos olhos nos represeiros para enxergar o que quer que seja. O que é uma pena, visto que detalhes como esse enriquecem a mitologia da saga.

✖ SANGUE DO MEU SANGUE: Enquanto o resto de Westeros abomina os relacionamentos incestuosos entre tios e sobrinhos, os Targaryens nunca tiveram problemas com isso. A própria Rhaenyra Targaryen foi casada com o tio, Daemon, e com ele teve dois filhos que sentaram no Trono de Ferro.

✖ ELE É MUITO PEQUENO PARA MIM: Depois da cena no barco, muitos acreditam que Tyrion, talvez, esteja apaixonado por Daenerys – o que foi sugerido em diálogos com Cersei e Bronn neste mesmo episódio.

No argumento original das Crônicas de Gelo e Fogo, George R. R. Martin planejava incluir um triângulo amoroso entre Jon, Tyrion e Arya. Não é impossível que David e Dan tenham se inspirado nisso para fazer o mesmo na adaptação.

Particularmente, eu duvido dessa “teoria”. A série mal terá tempo de retratar os conflitos que já foram estabelecidos na narrativa, quem dirá um novo plot deste tamanho, envolvendo três dos principais personagens de toda a série.

O olhar de Tyrion provavelmente reflete a preocupação de que o envolvimento amoroso entre os dois monarcas atrapalhe o julgamento de ambos, como já fez com Jon no Fosso dos Dragões.

✖ QUANDO O SOL NASCER NO OESTE: Com repetidas menções à esterilidade de Dany, a série pode estar sugerindo que apenas Jon dará a ela o filho tomado por Mirri Maz Duur. Se confirmada, essa particularidade pode ser apresentada como resultado dos muitos anos de endogamia Targaryen… ou simplesmente como “o poder do amor”.

Que os deuses nos defendam.

✖ THEY COME DOWN THE WALL: A banda Mastodon fez uma nova participação especial em Game of Thrones neste episódio, como parte do exército de wights:

✖ BASTILLE: Os meninos da Bastille também participaram da marcha dos mortos atravessando a Muralha, mas aparentemente foram cortados da edição final:

✖ A LONGA NOITE: Relatos indicam que as filmagens da última temporada se encerrarão em meados de 2018. Com o tempo necessário para a pós-produção, é possível que a série só retorne no ano de 2019.

Seja como for, nós estaremos aqui. E esperamos que tenhamos um certo livro para discutir no caminho…


O Podcasteros do episódio deverá sair em breve.