Em março deste ano, a editora Leya publicou a versão brasileira de Santuário dos Ventos, e na ocasião, o Gelo & Fogo conversou com a coautora Lisa Tuttle. Mais recentemente, o livro ganhou sua versão em quadrinhos (que infelizmente ainda não foi publicada no Brasil). Os roteiros dessa adaptação ficaram por conta de Lisa Tuttle, a arte é de Elsa Charretier e as cores, de Lauren Affe.

Motivados por este lançamento, entramos em contato com Charretier, e a convidamos a conversar conosco sobre como foi trabalhar com esta publicação. Elsa se mostrou muito disposta e acessível, o que tornou um prazer fazer esta entrevista exclusiva. Confira nossa conversa a seguir.

Elsa Charretier.

Arthur Maia: Como você conheceu Santuário dos Ventos? Quais foram as suas impressões do livro quando o leu pela primeira vez?

Elsa Charretier: Eu descobri Santuário dos Ventos quando a [editora] Random House me procurou alguns anos atrás para me convidar para desenhar a adaptação em quadrinhos. O script era realmente muito longo e naquela época (eu já estava desenhando profissionalmente por alguns anos) fiquei um pouco receosa de não conseguir dar conta da tarefa. Mas depois de ler, eu me apaixonei pela história de Maris, sua luta por justiça, por feminismo, e suas aventuras. As 217 páginas passaram voando.

Maris em Windhaven
A protagonista Maris na graphic novel de Windhaven.

Arthur Maia: E o quanto você já conhecia do trabalho de Martin antes de Santuário dos Ventos?

Elsa Charretier: Eu nunca tinha lido nenhum de seus livros, pra falar a verdade, mas eu já era uma grande fã da série de TV, Game of Thrones!

Arthur Maia: Lisa Tuttle, com quem nós conversamos poucos meses atrás, além coautora da história original, também criou o roteiro para a versão em quadrinhos. Como foi trabalhar com ela?

Elsa Charretier: Trabalhar com Lisa foi um prazer. Nós tivemos algumas conversas quando comecei o livro, principalmente sobre o design e o tom mais geral dele. Depois disso, ela confiou em mim para trabalhar com o que ela e George escreveram. Ajudou muito porque o roteiro era muito detalhado quanto ao que devia estar em cada página.

Arthur Maia: Na minha leitura, um dos aspectos mais interessantes da versão ilustrada foram as roupas, porque elas pareciam bem mais modernas do que imaginei em relação ao livro original. Então, como foi o processo de criação delas? Quais foram as suas inspirações?

Elsa Charretier: É engraçado você dizer isso, porque a inspiração veio de imagens antigas de pescadores ingleses que eu encontrei online. E pessoas daquele período. Mas imagino que como meu estilo é mais moderno, eu inconscientemente devo tê-las desviado.

O enforcamento de Tya
Cena do enforcamento de Tya, um dos momentos dramáticos da graphic novel de Windhaven.

Arthur Maia: Um aspecto muito marcante da arte da graphic novel de Santuário dos Ventos são os quadros de páginas inteiras. Como foi o processo de escolher quais cenas deveriam ser representadas em uma página inteira? Eu me refiro, por exemplo, ao sonho de Maris no início de “A Queda”, ou o enforcamento de Tya nesse mesmo capítulo.

Elsa Charretier: O roteirista normalmente especifica quais páginas devem ser completas, então, Lisa havia escrito dessa maneira no roteiro. Mas falando de maneira geral, você usa páginas inteiras para mostrar um momento de ação ou de emoção muito intenso. Isso permite que o ritmo diminua por um segundo, e o enforcamento de Tya é um momento muito dramático, portanto, usar uma página inteira foi uma escolha perfeita.

Arthur Maia: Marvel Comics foi o que me introduziu à literatura, e eu volto pra lá de tempos em tempos. Uma dessas ocasiões foi The Unstoppable Wasp (inédita no Brasil), em que você também trabalhou. Quais são as principais diferenças entre trabalhar em um universo compartilhado, como os super-heróis da Marvel, e uma graphic novel independente?

Elsa Charretier: Provavelmente o maior é, como você disse, ser um universo compartilhado. Um universo que você compartilha com outros criadores, outros enredos, o que significa que você tem que estar sempre tendo que se adaptar àquilo que as outras pessoas estão fazendo para manter o universo coerente. Mas isso se aplica principalmente aos escritores. Quando o artista recebe o roteiro, isso tudo já foi resolvido pelos editores. Como uma artista, o que às vezes pode ser um pouco difícil é aprender a dizer adeus a um personagem com quem você está trabalhando e deixar outra pessoa trazer sua própria perspectiva. Mas isso também faz parte da diversão!

Arthur Maia: Para o leitor que quer conhecer mais sobre o seu trabalho, o que você indicaria?

Elsa Charretier: Recentemente, fiz as artes para vários livros de Star Wars (principalmente, Star Wars Adventures da editora IDW). Eles são divertidos, histórias cheias de ação, visando um público mais jovem. Como escritora, meu livro mais recente, Superfreaks, uma colaboração com Pierrick Colinet e Magnus Saltel, está disponível pela ComiXology Orinals!

Capa de Unstoppable Wasp #6 para a Marvel. Arte de Elsa Charretier.
Arte de Charretier para o livro A Han & Chewie Adventure.

Arthur Maia: E quais são seus planos para o futuro?

Elsa Charretier: Pierrick e eu temos mais alguns livros em desenvolvimento sobre os quais não posso falar nada! Me sinto muito sortuda de estar na indústria que estou, e de trabalhar nessas histórias maravilhosas. E Santuário dos Ventos foi o projeto que começou tudo isso. Sou eternamente grata a Lisa, George e Anne [Groell], nossa grande editora, por me dar essa incrível oportunidade.

graphic novel de Santuário dos Ventos pode ser adquirida na Amazon. Para mais informações sobre o livro, acesse nossa página especial.