A versão ilustrada de A Tormenta de Espadas (A Storm of Swords) publicada pela Bantam Books chegou as prateleiras nos EUA e Reino Unido no final do ano passado. Gary Gianni foi o artista convidado para as artes desta edição, realizando vinte e cinco ilustrações inéditas, em cores e em preto e branco.

Compartilhamos com vocês aqui no site cada uma delas, a seguir.

Arya I

Mais tarde, passaram por uma aldeia incendiada, abrindo caminho com cuidado por entre as paredes vazias de choupanas enegrecidas e junto aos ossos de uma dúzia de mortos enforcados numa fileira de macieiras. Quando Torta Quente os viu, começou a rezar, sussurrando uma frágil súplica pela misericórdia da Mãe, repetindo-a uma e mais outra vez. Arya ergueu os olhos para os mortos descarnados em suas roupas molhadas e putrefatas e pronunciou sua própria prece. Sor Gregor, começava ela, Dunsen, Polliver, Raff, o Querido. O Cócegas e o Cão de Caça. Sor Ilyn, sor Meryn, rei Joffrey, rainha Cersei. Terminou-a com valar morghulis, levou os dedos ao lugar onde a moeda de Jaqen se aninhava sob o cinto e depois ergueu a mão e colheu uma maçã de entre os mortos, ao passar por eles. Estava mole e madura demais, mas a comeu, com bicho e tudo.

—— A Tormenta de Espadas; Arya I

Daenerys I

O cavaleiro exilado abaixou a cabeça ao entrar.

— Vossa Graça, lamento perturbar seu sono.
— Não estava dormindo, sor. Entre e observe.

Tirou um pedaço de carne de porco salgada da tigela que tinha no colo e ergueu-o para os dragões verem. Todos os três o olharam com um ar faminto. Rhaegal estendeu as asas verdes e agitou o ar, e o pescoço de Viserion balançou de um lado para outro como uma longa serpente pálida, enquanto seguia o movimento de sua mão.

Drogon — disse Dany em voz baixa —, dracarys. — E atirou o pedaço de porco ao ar.

—— A Tormenta de Espadas; Daenerys I

Tyrion II

Ainda no dia anterior Tyrion a vira, subindo a escada em espiral com um balde de água. Ficara vendo um jovem cavaleiro oferecendo-se para levar o pesado balde. O modo como ela tocou o braço dele e sorriu havia dado nós nas entranhas de Tyrion. Tinham passado a centímetros um do outro, ele descendo e ela subindo, tão perto que conseguira sentir o cheiro fresco e limpo de seus cabelos. Ela disse “Milorde” para ele, com uma pequena reverência, e ele quis estender a mão, agarrá-la e beijá-la logo ali, mas tudo que pôde fazer foi dar um rígido aceno de cabeça e seguir, bamboleando, o seu caminho.

—— A Tormenta de Espadas; Tyrion II

Jon II

Um dos gigantes que se aproximava deles parecia mais velho do que os outros. Sua pelagem era cinza e rajada de branco, e o mamute que montava, maior do que todos os demais, também era cinza e branco. Tormund gritou qualquer coisa para ele ao passar, palavras rudes e ressonantes, numa língua que Jon não compreendia. Os lábios do gigante se separaram para revelar uma boca cheia de enormes dentes quadrados, e ele fez um som que era meio arroto, meio trovão. Após um momento, Jon compreendeu que estava rindo. O mamute virou sua enorme cabeça para dar uma breve olhada nos dois, fazendo uma gigantesca presa passar sobre a cabeça de Jon enquanto o animal avançava pesadamente, deixando grandes pegadas na lama mole e na neve fresca ao longo do rio. O gigante gritou qualquer coisa na mesma língua grosseira que Tormund havia usado.

—— A Tormenta de Espadas; Jon II

Daenerys II

Kraznys mo Nakloz inclinou a cabeça. Aquele senhor de escravos cheirava como se tivesse tomado banho em framboesas, e sua protuberante barba vermelha e negra brilhava de óleo. Os seios dele são maiores do que os meus, refletiu Dany. Via-os através da seda verde-marinho do tokar debruado de ouro que ele trazia enrolado em volta do corpo e por cima de um ombro. A mão esquerda mantinha o tokar no lugar ao caminhar, enquanto a direita empunhava um curto chicote de couro.

— Todos os porcos westerosianos são assim tão ignorantes? — protestou. — O mundo inteiro sabe que os Imaculados são mestres de lança, escudo e espada curta. — Dirigiu a Dany um largo sorriso. — Diga-lhe o que quer saber, escrava, e depressa. O dia está quente. Isso, pelo menos, não é mentira nenhuma. Um par de jovens escravas encontrava-se atrás deles, segurando por cima de suas cabeças um toldo de seda riscado, mas mesmo à sombra, Dany sentia-se um pouco tonta, e Kraznys transpirava abundantemente. A Praça do Orgulho cozia ao sol desde o nascer do dia.

Dany conseguia sentir o calor dos tijolos vermelhos sob os pés mesmo através do solado de suas sandálias. Ondas de calor subiam desses tijolos, estremecendo o ar e fazendo com que as pirâmides de degraus de Astapor que se erguiam ao redor da praça quase parecessem fazer parte de um sonho.

—— A Tormenta de Espadas; Daenerys II

Davos III

Agora é noite nos seus Sete Reinos, mas logo o sol voltará a se levantar. A guerra continua, Davos Seaworth, e certos homens aprenderão em breve que até uma brasa entre cinzas ainda pode causar um grande incêndio. O velho meistre olhava para Stannis e via apenas um homem. Você vê um rei. Ambos se enganam. Ele é o escolhido do Senhor, o guerreiro do fogo. Vi-o à frente da luta contra a escuridão, vi-o nas chamas. As chamas não mentem, caso contrário você não estaria aqui. Isso também está escrito na profecia. Quando a estrela vermelha sangra e as trevas reúnem forças, Azor Ahai renascerá por entre fumaça e sal, para acordar dragões da pedra. A estrela sangrenta já chegou e partiu, e Pedra do Dragão é o local de fumaça e sal. Stannis Baratheon é Azor Ahai renascido! — Os olhos vermelhos da mulher ardiam como fogueiras gêmeas, e pareceram fitar as profundezas da alma de Davos. — Não acredita em mim. Até agora duvida da verdade de R’hllor… e no entanto, serviu-o mesmo assim, e voltará a servi-lo. Vou deixá-lo aqui para pensar em tudo o que lhe disse. E, porque R’hllor é a fonte de todo o bem, deixarei também o archote.

—— A Tormenta de Espadas; Davos III

Daenerys III

É hora de atravessar o Tridente, pensou Dany, ao virar-se e trazer a prata de volta. Seus companheiros de sangue se aproximaram e a cercaram.

— Está em dificuldades — observou Dany.
— Ele não quer vir — disse Kraznys.
— Há uma razão. Um dragão não é escravo de ninguém.

—— A Tormenta de Espadas; Daenerys III

Sansa III

O manto de noiva que segurava era enorme e pesado, de veludo carmesim ricamente trabalhado com leões e debruado de cetim dourado e rubis. Mas ninguém havia se lembrado de trazer um banco, e Tyrion era meio metro mais baixo do que sua noiva. Quando ele se colocou atrás dela, Sansa sentiu um forte puxão na saia. Ele quer que eu ajoelhe, compreendeu, corando. Ficou mortificada. Não deveria ser assim. Sonhara mil vezes com seu casamento, e em todas elas imaginara o modo como seu prometido ficaria atrás dela, alto e forte, envolveria majestosamente seus ombros com o manto de sua proteção, e a beijaria com ternura no rosto ao debruçar-se para a frente, a fim de lhe prender o broche. Sentiu outro puxão na saia, mais insistente. Não farei isso. Por que devo poupar os sentimentos dele, quando ninguém se preocupa com os meus?

—— A Tormenta de Espadas; Sansa III

Jaime IV

A febre tornara Jaime tão destemido quanto tolo.

— Poderá ser este o Senhor do Forte do Pavor? Segundo as últimas notícias que tive, meu pai tinha posto o senhor para correr com o rabo entre as pernas. Quando foi que parou de fugir, senhor?

O silêncio de Bolton era cem vezes mais ameaçador do que a malevolência babosa de Vargo Hoat. Claros como a névoa da manhã, seus olhos escondiam mais do que revelavam. Jaime não gostou daqueles olhos. Faziam-lhe lembrar do dia, em Porto Real, em que Ned Stark o encontrara sentado no Trono de Ferro. O Senhor do Forte do Pavor finalmente enrugou os lábios e disse:

— Perdeu uma mão.

— Não — disse Jaime —, ela está aqui, pendurada no pescoço.

Roose Bolton estendeu uma mão para baixo, rompeu o cordão e atirou a mão a Hoat.

— Leve isto daqui. Esta coisa ofende minha vista.

 

—— A Tormenta de Espadas; Jaime IV

Samwell II

— Tem. Tem de lhes contar.

— Contar o quê, senhor? — perguntou Sam polidamente.

— Tudo. O Punho. Os selvagens. Vidro de dragão. Isto. Tudo. — Sua respiração era agora muito superficial e sua voz, um sussurro. — Diga ao meu filho. Jorah. Diga-lhe, vista o negro. Meu desejo. Último desejo.

(…)

Três das mulheres de Craster estavam em pé por cima deles. Duas eram velhas macilentas que ele não conhecia, mas Goiva estava entre elas, toda enrolada em peles e embalando uma trouxa de pelo marrom e branco que devia conter seu bebê.

—— A Tormenta de Espadas; Samwell II

Arya VII

Arya fitou o sacerdote de Myr, todo ele cabelo desgrenhado, farrapos cor-de-rosa e partes de velhas armaduras. Uma barba rala grisalha cobria suas faces e a pele solta por baixo do queixo. Não se parecia muito com os feiticeiros das histórias da Velha Ama, mas mesmo assim…

— Poderia trazer de volta um homem sem cabeça? — perguntou perguntou Arya. — Só uma vez, não seis. Poderia fazer isso?

— Não tenho magia, filha. Só preces. Daquela primeira vez, sua senhoria tinha um buraco que atravessava seu corpo e sangue na boca, eu sabia que não havia esperança. Portanto, quando seu pobre peito rasgado parou de se mover, dei-lhe o beijo do bom deus para encaminhá-lo. Enchi a boca com fogo e soprei as chamas para dentro dele, através de sua garganta, para pulmões, coração e alma. Chama-se o último beijo, e vi muitas vezes os velhos sacerdotes concedendo-o aos servos do Senhor quando estes morriam. Eu mesmo o tinha dado uma ou duas vezes, como todos os sacerdotes têm de fazer. Mas nunca antes tinha sentido um morto estremecer enquanto o fogo o enchia, nem visto seus olhos se abrirem. Não fui eu quem o convocou, milady. Foi o Senhor. R’hllor ainda espera algo dele. A vida é calor, e o calor é fogo, e o fogo é de Deus e só de Deus. Arya sentiu lágrimas subindo aos seus olhos. Thoros tinha usado muitas palavras, mas tudo que queriam dizer era não, pelo menos isso compreendeu.

—— A Tormenta de Espadas; Arya VII

Daenerys IV

— Mhysa! — gritaram. — Mhysa! MHYSA! — Estavam todos sorrindo para Dany, estendendo as mãos para ela, ajoelhando-se à sua frente. Alguns a chamavam de “Maela”, outros gritavam “Aelalla” ou “Qathei” ou “Tato”, mas qualquer que fosse a língua, todas as palavras tinham o mesmo significado. Mãe. Eles estão me chamando de Mãe.

—— A Tormenta de Espadas; Daenerys IV

Jaime VI

Eu pago o maldito resgate dela. Ouro, safiras, o que quiser. Tire-a dali.
— Quer a garota? Vá bufcá-la.

E foi o que ele fez. Jaime pôs a mão boa no parapeito de mármore e saltou por cima, rolando ao atingir a areia. O urso virou-se ao ouvir o pof, farejando, observando o novo intruso com precaução. Jaime apoiou-se num joelho. Bem, e o que é que, com os sete infernos, eu faço agora? Encheu o punho de areia.

— Regicida? — ouviu Brienne dizer, estupefata.
— Jaime. — Desdobrou-se, atirando a areia na cara do urso. O animal socou o ar e rugiu como brasas.
— O que está fazendo aqui?
— Uma estupidez. Fique atrás de mim.

Descreveu um círculo na direção dela, colocando-se entre Brienne e o urso.

— Fique você atrás. Eu tenho a espada.
— Uma espada sem ponta e sem gume. Fique atrás de mim!

—— A Tormenta de Espadas; Jaime VI

Samwell III

Ela estava em pé, encostada ao represeiro, com o menino nos braços. As criaturas a rodeavam. Eram uma dúzia, uma vintena, mais… algumas tinham sido selvagens um dia, e ainda usavam peles… mas as que tinham sido irmãos de Sam eram mais numerosas. Viu Lark, o homem das Irmãs, Pé-Leve, Ryles. O quisto no pescoço de Chett estava negro e as pústulas estavam cobertas por uma fina película de gelo. E aquele parecia-se com Hake, embora fosse difícil ter certeza com metade da cabeça faltando.

—— A Tormenta de Espadas; Samwell III

Catelyn VII

— Por minha honra como Tully — disse a lorde Walder —, por minha honra como Stark, trocarei a vida do seu rapaz pela de Robb. Um filho por um filho. — Sua mão tremia tanto que estava fazendo a cabeça de Guizo tilintar.

Bum, soou o tambor, bum, fim, bum, fim. Os lábios do velho projetaram-se e retraíram-se. A faca tremeu na mão de Catelyn, escorregadia de suor. — Um filho por um filho, heh — repetiu ele. — Mas esse é um neto… e nunca teve grande utilidade.

—— A Tormenta de Espadas; Catelyn VII

Bran IV

Bran forçou-se a olhar em volta. A manhã estava fria mas luminosa, com o sol a brilhar num céu de um azul duro, mas os ruídos não lhe agradavam. O vento causava um assobio nervoso ao estremecer por entre as torres quebradas, as fortalezas gemiam e aquietavam-se e ouviam-se ratazanas arrastando-se sob o chão do grande salão. Os filhos do Cozinheiro Ratazana fugindo do pai. Os pátios eram pequenas florestas onde árvores esguias esfregavam seus ramos nus uns nos outros e folhas mortas corriam como baratas por cima de manchas de neve antiga. Havia árvores crescendo onde os estábulos tinham estado, e um represeiro branco e retorcido assomava por um buraco escancarado no telhado em cúpula da cozinha. Até Verão se sentia desconfortável naquele local. Bran enfiou-se em sua pele, só por um instante, para sentir o cheiro do lugar. Também não gostou dele.

—— A Tormenta de Espadas; Bran IV

Tyrion VIII

Ele vai morrer, compreendeu Tyrion. Sentiu-se curiosamente calmo, embora o pandemônio se alastrasse por toda a sua volta. Estavam de novo batendo nas costas de Joff, mas o rosto dele só ficava mais escuro. Cães latiam, crianças berravam, homens gritavam conselhos inúteis uns aos outros. Metade dos convidados do casamento estava de pé, alguns empurrando-se para ver melhor, outros correndo para as portas na pressa de irem embora.

(…)

— Nããããão — uivou Cersei. — Pai, ajude-o, alguém o ajude, o meu filho, o meu filho…

Tyrion deu por si pensando em Robb Stark. Em retrospectiva, o meu casamento está parecendo muito melhor. Tentou ver como Sansa estaria recebendo aquilo, mas a confusão no salão era tanta que não conseguiu encontrá-la. Mas seus olhos caíram sobre o cálice nupcial, esquecido no chão. Inclinou-se e o apanhou. No fundo ainda havia um centímetro de vinho de um profundo tom púrpura. Tyrion refletiu por um momento, e depois despejou-o no chão.

—— A Tormenta de Espadas; Tyrion VIII

 

 

Jon VIII

Noye e seus homens tinham estado à espera dentro do túnel, por trás de um portão de pesadas barras de ferro igual aos dois que Pyp havia acabado de destrancar. Os dois besteiros tinham disparado uma dúzia de dardos enquanto o gigante lutava para chegar até eles. Então os lanceiros devem ter avançado, projetando as lanças através das barras. Mesmo assim, o gigante ainda encontrara forças para estender as mãos por entre as barras, arrancar a cabeça de Pate Malhado, agarrar o portão de ferro e afastar as barras. Elos de uma corrente quebrada estavam espalhados pelo chão. Um gigante. Tudo isso foi obra de um gigante. — Estão todos mortos? — perguntou o meistre Aemon em voz baixa.

— Sim. Donal foi o último. — A espada de Noye estava profundamente enterrada na garganta do gigante, até o meio da lâmina. O armeiro sempre tinha parecido a Jon um homem tão grande, mas preso aos enormes braços do gigante quase parecia uma criança. — O gigante esmagou sua coluna. Não sei quem morreu primeiro. — Pegou a lanterna e aproximou-se para ver melhor. — Mag. — “Eu sou o último dos gigantes.” Sentia a tristeza que havia ali, mas não tinha tempo para tristezas. — Foi Mag, o Poderoso. O rei dos gigantes.

—— A Tormenta de Espadas; Jon VIII

Tyrion IX

O julgamento teria lugar na sala do trono, onde Joffrey tinha morrido. Quando sor Addam o escoltou através das altas portas de bronze e pelo longo tapete, sentiu os olhos postos nele. Centenas de pessoas tinham se aglomerado dentro da sala para vê-lo julgado. Pelo menos esperava que tivesse sido por isso que tinham vindo. Pelo que sei, são todos testemunhas contra mim. Viu a rainha Margaery na galeria, pálida e bela no seu luto. Duas vezes casada, duas vezes viúva, e só dezesseis anos. A mãe estava em pé, alta, de um dos lados, e a avó, baixa, do outro, com as damas de companhia e os cavaleiros do pai amontoados no resto da galeria.

O estrado ainda se encontrava por baixo do Trono de Ferro vazio, embora todas as mesas menos uma tivessem sido removidas. Atrás dela sentava-se o robusto lorde Mace Tyrell com uma capa dourada sobre trajes verdes e o esguio príncipe Oberyn Martell, trazendo leves vestes com riscas laranja, amarelas e escarlates. Lorde Tywin Lannister sentava-se entre os dois.

—— A Tormenta de Espadas; Tyrion IX

Tyrion X

A luta prosseguiu naqueles moldes durante o que pareceu um longo período. Deslocaram-se de um lado para outro pátio afora e rodaram e voltaram a rodar, descrevendo espirais, com sor Gregor golpeando o ar enquanto a lança de Oberyn atingia os braços e as pernas e duas vezes as têmporas. O grande escudo de madeira de Gregor também recebeu a sua cota de golpes, até uma cabeça de cão espreitar de debaixo da estrela e em outros pontos ser o carvalho nu a surgir. Clegane soltava um grunhido de vez em quando, e uma vez Tyrion o ouviu resmungar um xingamento, mas fora isso lutava num silêncio carrancudo.

Mas Oberyn Martell não.

— Estuprou-a — gritava, fintando. — Assassinou-a — dizia, esquivando-se de um golpe em arco da espada larga de Gregor. — Matou os filhos dela — berrava, atingindo a garganta do gigante com a ponta da lança, apenas para vê-la deslizar pelo espesso gorjal de aço com um guincho.

— Oberyn está brincando com ele — disse Ellaria Sand. Isso é brincadeira de tolos, pensou Tyrion.

—— A Tormenta de Espadas; Tyrion X

Daenerys VI

Dany quis ser ela mesma a liderar o ataque, mas todos os seus capitães, sem exceção, disseram que isso seria loucura, e seus capitães nunca concordavam em coisa alguma. Em vez de liderar, tinha permanecido na retaguarda, montada em sua prata, envergando com uma longa camisa de cota de malha. Mas ouviu a cidade cair de uma distância de dois quilômetros, quando os gritos de desafio dos defensores se transformaram em gritos de medo. Nesse momento, os dragões tinham rugido como se fossem um só, enchendo a noite de chamas. Os escravos estão se rebelando, compreendeu de imediato. As minhas ratazanas de esgoto roeram seus grilhões.

Depois de os últimos restos de resistência terem sido esmagados pelos Imaculados e de o saque terminar, Dany entrou em sua cidade. A pilha de mortos diante do portão principal era tão alta que seus libertos precisaram de quase uma hora para abrir caminho para a sua prata. A Pica de Joso e a grande tartaruga de madeira que a protegera, coberta de peles de cavalo, estavam abandonadas lá dentro. Passou por edifícios incendiados e janelas quebradas, através de ruas de tijolo cujas sarjetas estavam entupidas com os mortos, rígidos e inchados. Escravos gritando vivas erguiam para si mãos manchadas de sangue e a chamavam de “Mãe” enquanto passava.

—— A Tormenta de Espadas; Daenerys VI

Tyrion XI

— O eunuco misturou sonodoce no vinho deles, mas não o suficiente para matá-los. Pelo menos foi o que me jurou. Está esperando na escada, vestido com uma túnica de septão. Vai descer aos esgotos, e dali vai para o rio. Uma galé está esperando na baía. Varys tem agentes nas Cidades Livres que se assegurarão de que não lhe faltem fundos… mas tente não se fazer notar. Cersei mandará homens em seu encalço, não duvido. Pode ser boa ideia adotar outro nome.

— Outro nome? Oh, certamente. E quando os Homens Sem Rosto vierem me matar, direi: “Não, enganou-se de homem, eu sou outro anão com uma hedionda cicatriz na cara.” — Ambos os Lannister riram do absurdo de tudo aquilo. Então Jaime ajoelhou-se e lhe deu um rápido par de beijos nas bochechas, roçando os lábios na fita pregueada de tecido cicatricial.

—— A Tormenta de Espadas; Tyrion XI

Epílogo

O cantor virou-se para a mulher encapuzada.

— Milady?

Os fora da lei afastaram-se quando ela avançou, sem dizer palavra. Quando abaixou o capuz, algo se apertou no peito de Merrett, e por um momento não conseguiu respirar. Não. Não, eu a vi morrer. Ela esteve morta durante um dia e uma noite antes de a despirem e atirarem seu corpo no rio. Raymund abriu a garganta dela de orelha a orelha. Ela estava morta. O manto e o colarinho escondiam o golpe que a lâmina do irmão tinha feito, mas seu rosto estava em estado pior ainda do que ele se lembrava. A carne tornara-se esponjosa na água e tomara a cor do leite coalhado. Metade dos cabelos tinha desaparecido, e o resto ficou tão branco e quebradiço como o de uma velha. Sob o couro cabeludo destroçado, o rosto era feito de pele rasgada e sangue negro, nos locais em que a cortara com as próprias unhas. Mas os olhos eram aquilo que tinha de mais terrível. Os olhos o fitavam, e o odiavam.

— Ela não fala — disse o homem grande do manto amarelo. — Vocês, malditos bastardos, cortaram a garganta dela fundo demais para isso. Mas ela se lembra. — Virou-se para a morta e disse: — O que diz, milady? Ele participou? Os olhos de lady Catelyn não o deixaram por um instante. Assentiu com a cabeça.

—— A Tormenta de Espadas; Epílogo

 

A Storm of Swords: The Illustrated Edition

É possível escolher adquirir a versão americana e a do Reino Unido. Aqui no Brasil, a editora SUMA não publicou nenhum dos volumes desta série especial. Anteriormente, a editora LEYA havia feito ampla divulgação de sua edição de A Guerra dos Tronos ilustrada. Caso a SUMA resolva publicar as edições ilustradas por aqui, atualizaremos vocês.

George R. R. Martin autografando edições da edição ilustrada. (via Not a Blog)

♦ As imagens foram garimpadas pelos blogs a song of ice and fire source, e asoiaf daenerys daily.