O calendário As Crônicas de Gelo e Fogo 2022 foi lançado no último dia 27, e parte das imagens estão disponíveis na internet para apreciação. Na nova edição da tradicional publicação, a artista espanhola Arantza Sestayo é responsável pelas ilustrações que encenam cenas icônicas dos livros de George R. R. Martin.

calendário 2022 As Crônicas de Gelo e Fogo
Capa do Calendário 2022 de As Crônicas de Gelo e Fogo.

A seguir, compartilhamos parte das artes. Entre elas, Sansa e sua loba, Arya trabalhando no Porto do Trapeiro, a morte de Jon Snow, Aegon I e Balerion, e mais:

 

A Gata dos Canais

 

Só aos braavosianos era permitido o uso do Porto Púrpura, da Cidade Afogada e do Palácio do Senhor do Mar; navios pertencentes às cidades-irmãs e do resto do grande mundo tinham de usar o Porto do Trapeiro, mais pobre, violento e sujo. Também mais barulhento, pois marinheiros e mercadores de meia centena de terras se aglomeravam em seus cais e vielas, misturando-se com aqueles que os serviam e os depredavam. Era o lugar de que a Gata mais gostava em Braavos. Gostava do barulho e dos cheiros estranhos, e de ver que navios tinham chegado na maré da noite e que outros haviam partido. Também gostava dos marinheiros; dos ruidosos tyroshinos com suas vozes trovejantes e barbas pintadas; dos lysenos de cabelos claros, sempre tentando baixar os preços mais uma ninharia; dos atarracados e peludos marinheiros do Porto de Ibben, rosnando pragas em vozes baixas e ásperas. Seus preferidos eram os ilhéus do verão, com suas peles tão lisas e escuras como teca. Usavam mantos de penas vermelhas, verdes e amarelas, e os grandes mastros e velas brancas de seus navios cisne eram magníficos. Por vezes também havia westerosianos, remadores e marinheiros de carracas de Vilavelha, galés mercantes de Valdocaso, Porto Real e Vila Gaivota, cocas de vinho de casco largo vindas da Árvore. Gata conhecia as palavras braavosianas para mexilhões, conquilhas e amêijoas, mas ao longo do Porto do Trapeiro apregoava a mercadoria em língua franca, a dos ancoradouros, docas e tabernas de marinheiro, uma grosseira confusão de palavras e frases numa dúzia de línguas, acompanhada por sinais e gestos de mãos, a maioria dos quais insultuosa. Era desses que Gata mais gostava.

—— O Festim dos Corvos; Gata dos Canais

 

 

Sansa e Lady

calendário 2022 As Crônicas de Gelo e Fogo

Foi um sonho tão bom, pensou Sansa, sonolenta. Estava de volta a Winterfell, correndo pelo bosque sagrado com sua lady. O pai estava lá, e os irmãos também, todos quentes e em segurança. Se os sonhos pudessem se tornar realidade… Afastou os cobertores. Tenho de ser corajosa. Seus tormentos terminariam em breve, de um modo ou de outro. Se Lady estivesse aqui, não teria medo. Mas Lady estava morta; Robb, Bran, Rickon, Arya, o pai, a mãe, até a septã Mordane. Todos mortos, menos eu. Agora estava sozinha no mundo.

—— A Tormenta de Espadas; Sansa IV

A Fortaleza de Craster

A primeira vez que estivera na Fortaleza de Craster, Goiva viera lhe suplicar ajuda, e Sam emprestara seu manto negro para esconder sua barriga quando foi à procura de Jon Snow. Espera-se que os cavaleiros defendam mulheres e crianças. Só alguns dos irmãos de negro eram cavaleiros, mesmo assim… Todos proferimos as palavras, pensou Sam. Sou o escudo que defende os reinos dos homens. Uma mulher era uma mulher, mesmo que fosse selvagem. Devíamos ajudá-la. Devíamos. Era pelo filho que Goiva temia; tinha medo de que pudesse ser um menino. Craster criava as filhas para se tornarem suas esposas, mas não se viam nem homens nem garotos no seu complexo.

—— A Tormenta de Espadas; Samwell II

Jon Snow

 

Então Bowen Marsh parou diante dele, lágrimas correndo pelo rosto.

— Pela Patrulha.

Acertou Jon na barriga. Quando tirou a mão, a adaga ficou onde ele a havia enterrado. Jon caiu de joelhos. Pegou a adaga pelo cabo e a arrancou. No ar frio da noite, a ferida soltava fumaças.

— Fantasma — sussurrou.

A dor tomou conta dele. Espete no adversário a ponta aguçada. Quando a terceira adaga o atingiu entre as omoplatas, ele deu um grunhido e caiu com o rosto na neve. Nunca sentiu a quarta faca. Apenas o frio…

—— A Dança dos Dragões; Jon XIII

Lady Stoneheart

 

Quando abaixou o capuz, algo se apertou no peito de Merrett, e por um momento não conseguiu respirar. Não. Não, eu a vi morrer. Ela esteve morta durante um dia e uma noite antes de a despirem e atirarem seu corpo no rio. Raymund abriu a garganta dela de orelha a orelha. Ela estava morta.

O manto e o colarinho escondiam o golpe que a lâmina do irmão tinha feito, mas seu rosto estava em estado pior ainda do que ele se lembrava. A carne tornara-se esponjosa na água e tomara a cor do leite coalhado. Metade dos cabelos tinha desaparecido, e o resto ficou tão branco e quebradiço como o de uma velha. Sob o couro cabeludo destroçado, o rosto era feito de pele rasgada e sangue negro, nos locais em que a cortara com as próprias unhas. Mas os olhos eram aquilo que tinha de mais terrível. Os olhos o fitavam, e o odiavam.

—— A Tormenta de Espadas; Epílogo

O funeral do rei Joffrey

 

— Deixe-me levantar. Se formos descobertos assim…

Relutantemente, rolou de cima dela e ajudou-a a sair do altar. O mármore branco estava manchado de sangue. Jaime limpou-o com a manga, após o que se dobrou para apanhar as velas que derrubara. Felizmente todas tinham se apagado quando caíram. Se o septo tivesse se incendiado, podia nem ter reparado.

— Isso foi uma loucura. — Cersei ajeitou o vestido. — Com o pai no castelo… Jaime, temos de ter cuidado.

— Estou farto de ter cuidado. Os Targaryen casavam-se entre irmãos, por que não podemos fazer o mesmo? Case-se comigo, Cersei. Erga-se perante o reino e diga que é a mim que quer.

—— A Tormenta de Espadas; Jaime VII

Petyr Baelish

 

 Descobri que os bordéis são um investimento muito mais lucrativo que os navios. As prostitutas raramente se afundam, e quando são abordadas por piratas, ora, os piratas pagam em boa moeda como qualquer outra pessoa.

—— A Guerra dos Tronos; Eddard IX

Melisandre e Davos

 

Da última vez foi vida o que trouxe a Ponta Tempestade, moldada para se parecer com cebolas. Dessa vez é morte, sob a forma de Melisandre de Asshai. Dezesseis anos antes, as velas tinham rangido e batido a cada mudança de vento, até que ele as recolheu e prosseguiu com remos envoltos em panos. Mesmo assim, avançara com o coração na garganta. Mas os homens nas galés Redwyne tinham relaxado depois de tanto tempo, e ele deslizara através da guarda com a suavidade de cetim negro. Daquela vez, os únicos navios à vista pertenciam a Stannis, e o único perigo viria dos vigias nas muralhas do castelo. Mesmo assim, Davos sentia-se tenso como a corda de um arco.

Melisandre aconchegou-se em uma bancada, perdida nas dobras de um manto vermelho-escuro que a cobria da cabeça aos pés, com a face pálida sob o capuz. Davos adorava a água. Dormia melhor quando tinha um convés balançando por baixo do corpo, e o suspiro do vento no cordame era para ele um som mais doce do que qualquer coisa que um cantor conseguisse tirar das cordas de sua harpa. Mas nem mesmo o mar lhe trazia conforto naquela noite.

—— A Fúria dos Reis; Davos II

Assembleia de Homens Livres

 

A Assembleia de Homens Livres escolhera Euron Olho de Corvo, mas a Assembleia de Homens Livres era feita de homens, e homens eram coisas fracas e tolas, muito facilmente manipulados por ouro e mentiras. Eu os convoquei aqui, aos ossos de Nagga no Salão do Rei Cinzento. Eu os chamei todos juntos para escolherem um rei de direito, mas em sua insensatez embriagada, eles pecaram. Cabia a ele desfazer o que eles haviam feito.

—— Os Ventos do Inverno; O Abandonado

 

Meistre Cressen

 

O meistre estava de pé, na varanda varrida pelo vento, do lado de fora dos seus aposentos. Era ali que chegavam os corvos depois de longos voos. Os excrementos das aves salpicavam as gárgulas, que se erguiam a uma altura de três metros e meio, de ambos os lados; um mastim do inferno e uma serpe, dois dos mil exemplares que se empoleiravam nas muralhas da antiga fortaleza. Quando chegara à Pedra do Dragão, o exército das grotescas esculturas de pedra costumava deixá-lo incomodado, mas com a passagem dos anos foi se acostumando. Agora, pensava nelas como velhas amigas. Os três observaram juntos o céu, tomados por pressentimentos.

O meistre não acreditava em presságios. E, no entanto… Apesar de ser tão velho, Cressen nunca vira um cometa com metade do brilho daquele, nem daquela cor, aquela cor terrível, do sangue, da chama e dos crepúsculos. Perguntou a si mesmo se suas gárgulas já teriam visto algo parecido. Já estavam ali muito tempo antes de ele chegar, e ainda lá permaneceriam muito depois de ele partir. Se línguas de pedra falassem…

—— A Fúria dos Reis; Prólogo

Os Outros

Mesmo assim, há outras histórias ‒ mais difíceis de se acreditar, mas mais centradas nos relatos antigos ‒ sobre criaturas conhecidas como os Outros. Segundo esses contos, eles vieram das congeladas Terras de Sempre Inverno, trazendo o frio e a escuridão com eles enquanto tentavam extinguir toda luz e calor. Os contos prosseguem dizendo que essas criaturas cavalgavam em monstruosas aranhas de gelo e em cavalos dos mortos, ressuscitados para servi- los, assim como ressuscitavam homens mortos para lutar em seu nome.

De que maneira a Longa Noite chegou ao fim é assunto para as lendas, tal como aconteceu com todas essas questões do passado distante. No Norte, falam sobre um último herói que buscou a ajuda dos filhos da floresta, seus companheiros o abandonaram ou morreram um a um enquanto enfrentavam gigantes vorazes, servos gelados e os próprios Outros. Sozinho, ele finalmente encontrou os filhos, apesar dos esforços dos caminhantes brancos, e todos os contos comprovam que este foi um momento de virada. Graças aos filhos da floresta, os primeiros homens da Patrulha da Noite se uniram e foram capazes de lutar ‒ e vencer ‒ a Batalha da Aurora: a batalha final que acabou com o inverno sem fim e mandou os Outros de volta ao norte congelado. Agora, seis mil anos depois (ou oito mil como a História Verdadeira afirma), a Muralha feita para defender os reinos dos homens ainda é ocupada pelos irmãos juramentados da Patrulha da Noite, e os Outros ou os filhos da floresta não são vistos há muitos séculos.

—— O Mundo de Gelo e Fogo; A Longa Noite

 

Aegon e Balerion

Entre cada dedo havia uma lâmina, pontas de espadas retorcidas que se projetavam em leque, como garras, dos braços do trono. Mesmo após três séculos, algumas ainda eram suficientemente afiadas para cortar. O Trono de Ferro estava cheio de armadilhas para os incautos. Segundo as canções, tinham sido necessárias mil lâminas para fazê-lo, aquecidas até brilharem, brancas, pelo sopro de fornalha de Balerion, o Terror Negro. A batedura levara cinquenta e nove dias. E o resultado fora aquela besta negra e corcovada feita de gumes de lâminas, farpas e tiras de metal aguçado; uma cadeira capaz de matar um homem, e que já o fizera, se fosse possível acreditar nas histórias.

—— A Guerra dos Tronos; Eddard XI

As imagens foram garimpadas pelo Tumblr A Song of Ice and Fire Source.


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