Olá, leitor e leitora! Chegamos à edição 15 de Assim Falou Martin, a seção do Gelo & Fogo em que trazemos declarações de George R. R. Martin, autor de As Crônicas de Gelo e Fogo. Os registros desta edição estão originalmente no Westeros.org, que gentilmente autorizou que traduzíssemos para o português.

Os relatos publicados hoje são de fevereiro de 2000, e são correspondência de George R. R. Martin com fãs e posts em fórum. Tentamos, na tradução, manter a escrita original, na medida do possível. As ilustrações são por nossa conta (e claro, dos autores). Ao final, alguns comentário meus sobre as respostas.

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O futuro de Tyrion

Correspondência com fã, enviada por Bernie. 5 de fevereiro de 2000.

Espero que você seja um pouco mais bonzinho com Tyrion no futuro! Ele é meu personagem favorito, mas parece que (injustamente) acaba ficando do lado mais fraco da corda com certa frequência. Felizmente a esperteza dele compensa toda a má sorte que você parece lançar no caminho dele. Desculpe… eu tinha que falar o que pensava.

Bem, eu gosto de Tyrion também… mas receio que as dores dele tenham apenas começado. É claro, isso se aplica a todos eles. As coisas vão ficar bem piores antes de melhorarem, temo eu.

Clãs do Norte e os senhores do Vale

Correspondência com fã, enviada por Flayed Man. 24 de fevereiro de 2000.

[Resumo: Texto de uma conversa no AOL Instant Messenger entre Flayed Man e o Sr. Martin, a respeito tanto dos ditos clãs das montanhas do Norte quanto das atitudes dos senhores do Vale em relação aos Starks]

Flayed Man: Sr. Martin, por favor, responda isso pra mim.. no norte, quando ele está sendo invadido pelos homens de ferro e possivelmente por BOB, há grupos resistentes, e você uma vez disse que há “clãs das montanhas”. No Norte há clãs das montanhas, então?

GeoRR: Nas montanhas a noroeste de Winterfell, sim.

 

Brasões dos clãs das montanhas do Norte
Brasões de alguns clãs do Norte: Harclay, Burley, Knott, Liddle, Norrey, Wull.

Flayed Man: E eles permanecem leais aos Starks? Já que eles lutam por suas terras e pelo Norte? Como os clãs escoceses leais a seus reis?

 

GeoRR: Sim, eles são leais a Winterfell… pelo menos foram leais no passado.

Flayed Man: Finalmente (sei que você está ocupado e tudo mais), queria saber se você pessoalmente acha que os senhores do Vale são amistosos em relação aos Starks e Tullys, como se fossem irmãos, e se há senhores que estão “se coçando” para pegar os Lannisters e querem ajudar Robb. Também, diga o quão amistosos eles são a Robb agora (como os senhores do Vale se sentem em relação a Robb).

GeoRR: Os senhores do Vale são numerosos. Como em qualquer grande grupo, as opiniões deles variam.

GeoRR: “Irmãos” seria um exagero da situação, mas certamente Ned fez amigos nos anos que passou no Ninho da Águia… e Robert também, porém, então algumas casas do vale estariam tão propensas aos Baratheon quanto aos Stark.

GeoRR: Alguns deles querem se juntar a Robb? Certamente. Mais especialmente Bronze Yohn Royce. Outros, porém, não querem entrar na guerra, e outros podem até preferir os outros postulantes.

Status de A Tormenta de Espadas

Correspondência com fã, enviada por Elio M. García, Jr.. 29 de fevereiro de 2000.

O livro ainda não está terminado, mas estou chegando absurdamente perto. Mais algumas semanas devem bastar. Espero.

Parece que vai ser o volume mais longo até agora.

Votação do Nebula

Correspondência com fã, enviada por Elio M. García, Jr.. 29 de fevereiro de 2000.

Estou satisfeitíssimo de informar que A FÚRIA DOS REIS foi indicado ao Prêmio Nebula pelos membros da Science Fiction and Fantasy Writers of America (SFWA). A lista final na categoria romance é:

George R.R. Martin, A Clash of Kings (Bantam, fevereiro de 99)

Vernor Vinge, A Deepness in the Sky (St. Martins Press, fevereiro de 99; Tor, janeiro de 2000)

Maureen McHugh, Mission Child (Avon Eos, dezembro de 98; Eos, novembro de 99)

Sean Stewart, Mockingbird (Ace, agosto de 98; Ace, março de 2000)

Octavia E. Butler, Parable of the Talents (Seven Stories Press, novembro de 98; Warner Books, janeiro de 2000)

Ken Macleod, The Cassini Division (Tor, julho de 99)

Processo de edição

Post em fórum. 29 de fevereiro de 2000.

Bom, meus livros são editados por minhas editoras – Anne Lesley Groell na Bantam (EUA) e Jane Johnson e Joy Chamberlain na HarperCollins (Reino Unido). Envio a elas partes à medida em que avanço – não capítulos individuais, mas pedaços de um bom tamanho – mas a edição não começa realmente até que eu entregue o romance terminado. Nesse momento, elas leem o livro e me passam algumas notas, e eu reviso. Aí o original vai para um copidesque, que confere a gramática, sintaxe, ortografia, consistência interna e coisas afins, e marca meus erros. Que eu conserto. Então, o livro vai para os tipógrafos, e eu recebo uma série de provas impressas para conferir e corrigir. O processo de tipografia inclui novos erros que devem ser encontrados e corrigidos.

Tudo isso leva tempo, obviamente.

Já ouvi as mesmas histórias que vocês sobre autores que enviam o capítulo um enquanto ainda estão escrevendo o capítulo dois, mas eu nunca conseguiria trabalhar assim. Eu reviso constantemente à medida em que avanço, sempre afiando e polindo. Posso ter uma ideia nova enquanto escrevo o capítulo cinquenta, que me obriga a voltar e mudar os capítulos três, nove, e vinte e um. Se você perde a possibilidade de fazer isso, porque os primeiros capítulos já estão finalizados antes que os últimos estejam prontos, você está se algemando.

Influências históricas para Dorne

Post em fórum. 29 de fevereiro de 2000.

Cavaleiros de Dorne
“Cavaleiros do Sol”, de Tomasz Jedruszek. © Fantasy Flight Games.

Leio muita História, e escavo para tentar encontrar coisas boas, mas também gosto de misturar e combinar. Quer dizer, não faço transposições exatas e diretas, como alguns autores fazem, então não se pode dizer realmente que X em Westeros é igual a Y na vida real. Com mais frequência, X em Westeros é igual a Y e Z na vida real, com pitadas de Q, L e A.

No caso de Dorne, sim, Gales certamente foi uma influência, por todas as razões que você menciona. Mas também existem alguns elementos initidamente não-galeses lá. Ao sul do muro de montanhas, temos uma região quente e seca, mais como a Spain ou a Palestina do que com os vales frios e verdes de Gales, que têm a maioria de seus assentamentos ao longo da costa marítima e em algumas grandes bacias de rios. E também temos o tempero dado à cultura pela grande afluência de roinares liderados por Nymeria. Suponho que o equivalente mais próximo da vida real seria a influência moura em partes da Espanha. Então podemos dizer que Dorne é Gales misturado com a Espanha e a Palestina, com algumas influências totalmente imaginárias misturadas. Ou poderíamos simplesmente dizer que é Dorne……

Autores influentes

Post em fórum. 29 de fevereiro de 2000.

Espero ir a San Jose para a WorldCon que haverá lá daqui a alguns anos, e talvez antes disso… mas pode ficar com o dólar, obrigado. Use-o para comprar meus livros.

No ensino médio, eu lia J. R. R. Tolkien, H. P. Lovecraft, Robert E. Howard e Jack Vance, junto com alguns autores em que eu tinha ficado viciado no ensino fundamental, como Robert A. Heinlein, Andre Norton, Eric Frank Russell e Poul Anderson. Também lia muitos livros duplos da Ace e quadrinhos. (A primeira coisa minha que foi publicada na história foi uma carta no QUARTETO FANTÁSTICO).

Eu também escrevia para fanzines no ensino médio.

Em fevereiro de 2000, A Tormenta de Espadas sequer havia sido lançado, e George R. R. Martin já prometia que as coisas iam piorar para os protagonistas, antes de melhorarem. A expectativa foi cumprida, com vário eventos críticos nos livros subsequentes. O Casamento Vermelho talvez seja o mais memorável, mas Bernie deve ter ficado ainda mais triste com o julgamento de Tyrion, por exemplo. Mais de dez anos e três livros depois, Martin disse que o Os Ventos do Inverno também não será um livro feliz:

O nome do livro é Os Ventos do Inverno. Eu venho dizendo a vocês há vinte anos que o inverno estava chegando. O inverno é o momento em que as coisas morrem, e frio, gelo e escuridão enchem o mundo. Então, esse não será o livro feliz pelo qual muitas pessoas podem estar esperando.

O post de George sobre o processo de edição de seus livros é interessante, e ajuda a explicar por que ele demora tanto a terminar seus livros: como ele mesmo diz, está sempre “polindo” e “afiando” os capítulos que já escreveu. Com efeito, no caso de The Winds of Winter, ele admitiu que teve que reescrever muito do que já estava pronto . Se isso se deveu a alguma nova ideia que surgiu durante a escrita, não sabemos, mas é digno de nota que ele já explicasse essa mesma situação quase duas décadas antes.

A resposta sobre Dorne mostra o que ele também diz em várias entrevistas e posts: embora muitos elementos de sua série sejam derivados da história do mundo real, na maioria das vezes se trata mais de combinações e misturas do que uma transposição exata. Em um texto que escrevi sobre as influências da Roma Antiga em As Crônicas de Gelo e Fogo isso fica bem visível.

As dúvidas do leitor Flayed Man sobre os clãs das montanhas do Norte são sanadas nos livros posteriores, quando eles assumem um papel mais notável, participando dos eventos na Muralha com Jon Snow e apoiando Stannis Baratheon em sua campanha nortenha para liberar Winterfell dos Bolton. O Vale, também, é claro, ganha mais proeminência com os capítulos de Sansa Stark como Alayne Stone, e as maquinações de Petyr Baelish na região.

Por fim, a título de curiosidade, A Fúria dos Reis acabou não vencendo o Nebula de melhor romance, que naquele ano ficou com The Moon and the Sun, the Vonda G. McIntyre.

É este o fim do Assim Falou Martin de número 15. A caixa de comentários para discussão das falas de George R. R. Martin está aberta abaixo. Para acessar a coleção completa de AFMs, clique aqui. A edição 16 está a caminho.