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Os mortos e a Muralha

Se os mortos não podem ultrapassar a Muralha de Gelo, que é protegida por magia ancestral de acordo com a lenda, como o cadáver de Othor consegue ganhar vida e atacar os Patrulheiros em Castelo Negro em A Guerra dos Tronos? Vale lembrar que sua mão, que ainda se mexia, foi levada até Porto Real para o pequeno conselho examinar a questão. Na série de TV, além da cena do patrulheiro que ataca Jeor Mormont e Jon Snow, temos a cena do wight que é apresentado à Cersei no final da sétima temporada. Como isso foi possível? Nunca existiu magia na Muralha? Então como o Mãos Frias não conseguiu ultrapassá-la também?
(Camilla Soares Almeida)

Jon Snow, Ghost and Mormont's raven confront a wight in Castle Black
Jon Snow, Fantasma e o corvo de Mormont confrontam uma criatura em Castelo Negro. Arte: Thomas Denmark, para a Fantasy Flight Games ©.

Resposta do Conselho

Felipe Bini: Essa é uma pergunta interessante, porque não tem resposta clara ou objetiva no cânone. A informação de que mortos reanimados não podem passar por baixo da Muralha aparece pela primeira vez em A Tormenta de Espadas (cap. 56, Bran IV), quando Sam explica a Bran e seus companheiros que Mãos-Frias não pode passar pelo Portão Negro do Fortenoite por causa dos feitiços. Porém, já que os cadáveres de Jafer Flowers e Othor passaram pela Muralha e atacaram os patrulheiros em A Guerra dos Tronos, minha suspeita é que os tais feitiços só impedem que um morto-vivo passe para o sul por conta própria, podendo ser “autorizado” a fazê-lo pelos patrulheiros (mesmo que inconsciemente) se carregado por eles.

No caso de Othor e Jafer, é bom lembrar que eles já haviam sido “convertidos” em criaturas quando foram encontrados por Fantasma. As pistas para isso são que os olhos deles estavam azuis, os corpos não tinham cheiro de cadáveres e nem tinham apodrecido, e os cachorros e cavalos se assustavam anormalmente com eles. No lado sul da Muralha, eles só “acordaram”, e curiosamente tinham alvos determinados (e importantes): Jeor Mormont (Comandante da Patrulha) e Jaremy Rykker (Primeiro Patrulheiro na ausência de Benjen Stark).

Isso demonstra que eles não atacaram aleatoriamente, e que alguma espécie de racionalidade estava em ação ali. Mas se essa aparente racionalidade vinha das memórias deles enquanto patrulheiros, ou se era um comando de quem os levantou (os Outros, ao que tudo indica), realmente não ouso chutar. Uma questão relevante quanto a isso, porém, é que no prólogo de Dança, Varamyr julga que a criatura de Thistle (vulgo “Cynara”, na edição da Leya) o reconhecia. Outro ponto de interrogação é o fato de que os wights aparentemente hibernaram e depois acordaram.

Quanto a esse ponto, aparentemente as criaturas que eram Jafer e Othor só se “ativaram” durante a noite. Pelo texto do livro (A Guerra dos Tronos, cap. 52, Jon VII), eles foram transportados pelos patrulheiros durante o dia, e só acordaram para atacar Mormont e Rykker quando já estava escuro. Não dá para estabelecer uma regra quanto a isso, porém, porque a mão de Othor continuou ativa posteriormente, ao que parece até durante o dia. Tyrion enrolou tanto Alliser Thorne em Porto Real, porém, que ela apodreceu e virou só ossos, parando de se mover e não sendo mais uma prova contundente.

Eu não uso a série de TV para teorizar a respeito desse tipo de coisa, porque a consistência interna e a concordância não são prioridades nela já há um bom tempo, e pra criar hipóteses precisamos de bases pelo menos um pouco sólidas e “críveis”. O que julgaríamos ser worldbuilding da série pode ser apenas conveniência de roteiro, então ela pode mais atrapalhar do que ajudar. No caso do wight que é levado a Cersei naquele plano “genial”, porém, me parece que a resposta não é muito difícil: ele foi transportado por cima da Muralha, em Drogon. Presumivelmente os tais feitiços da Muralha não se estenderiam para o espaço aéreo acima dela.

Mesmo se não fosse o caso, parece que poderia se operar ali o mesmo que com Jafer e Othor: carregados por patrulheiros, os wights podem passar. Que existe magia na Muralha é um fato, e o Portão Negro do Fortenoite é uma prova disso (e ele só responder a patrulheiros também é indício de que a Muralha e seus feitiços podem reconhecê-los). A ideia é que os patrulheiros, nessa condição, ao passar com os wights pela Muralha, podem “liberar” a ação dos feitiços, mesmo sem saber que tudo isso está acontecendo.

É claro que isso é só uma hipótese que estou lançando, não uma afirmação categórica. No final das contas, acho que minha resposta trouxe mais dúvidas do que propriamente soluções, e isso mostra que a questão está longe de ser clara nos livros. Como GRRM já disse que veremos o “verdadeiro Norte” em Winds, e diante do fato de que Jon Snow mandou prender alguns cadáveres nas celas de gelo (justamente para investigar o que vai acontecer com eles) me parece que há grandes chances de que esclarecimentos maiores estejam no próximo livro.