No dia da estreia da 7ª temporada de Game of Thrones, o roteirista Bryan Cogman, autor do episódio que comentarei a seguir, compartilhou uma entrevista que George R. R. Martin cedeu em 2014. Cogman destacou na ocasião a visão de Martin sobre arcos de redenção: “A redenção é mesmo possível? Como perdoamos as pessoas? Se não há possibilidade de redenção, qual é a resposta então?

Nesta semana tivemos a Nascida da Tormenta, trazendo sua tormenta para um mundo de pessoas quebradas, muitas delas aparentemente além de qualquer resgate. Daenerys quer mudar o mundo, mas o mundo é feito de pessoas e suas naturezas. As naturezas da loba Nymeria, do exilado Jorah, da feroz Ellaria, do Imaculado Verme Cinzento, de Fedor. Todos estados aparentemente imutáveis. E é a perspectiva da redenção ou libertação, de cada uma dessas histórias, que nos faz acompanhar essa série semana a semana, praticamente enfeitiçados.

Contrastando os momentos finais da premiere, “Stormborn” – dirigido por Mark Mylodcomeça mostrando Pedra do Dragão sob outro ângulo. Tal visão reflete os pensamentos de Daenerys que, por sua vez, passada a emoção inicial do desembarque, já encara a fortaleza como o lugar sombrio e austero que realmente é. Por anos, o rei Stannis ressentiu-se de Robert por tê-lo enviado ao lar ancestral dos Targaryen enquanto Ponta Tempestade, sede da Casa Baratheon, foi dada ao irmão caçula, Renly. Para Dany, o clima soturno e frio tem um significado ainda maior. É um lembrete de que aquela, pelo menos ainda, não é a sua casa. E ao contrário do que seu irmão Viserys acreditava, Westeros e seu povo não estavam esperando por ela de braços abertos.

Falando no povo… Onde ele está? Os únicos comentários que tivemos a respeito da chegada de Daenerys ou da explosão do Septo de Baelor, por exemplo, vieram das pessoas nas Terras Fluviais e, sinceramente, foram falas que não traduziram em nada o caos em que os Sete Reinos estão mergulhados. Pelo menos, temos alguém que parece se importar – e até representar – o povo comum: Varys.

A Mãe de Dragões pode ter desconfiado e até ameaçado o eunuco, mas Conleth Hill é tão honesto em sua atuação, que eu, pessoalmente, tendo a acreditar nas intenções de seu personagem. Mas Dany está aprendendo. Há alguns anos, perdoar a Aranha seria inconcebível. Lembram de como a rainha exilou Jorah pelo mesmo “crime” cometido por Varys? Ou de como executou Mossador diante de toda Meereen? “Um governante que mata aqueles que lhe são devotos, não é um governante que inspire devoção.” É certo que essa conversa devia ter acontecido há muito tempo, mas, dadas as circunstâncias, até que se encaixou bem naqueles minutos iniciais do episódio. Impossível, no entanto, deixar e destacar o quanto a presença de Illyrio Mopatis poderia ter dado mais de sentido nas motivações de Varys nestas circunstâncias. A icônica cena presenciada por Arya na primeira temporada, onde os dois personagens conspiram dentro de uma trama que a série de TV jamais adaptou, poderia servir a favor de Varys neste momento, já que havia sido estabelecido que ele tinha um plano para os Sete Reinos desde o começo.

Inesperada e até um pouco deslocada – mas nem por isso menos auspiciosa – foi a chegada súbita de Melisandre, que, como Varys, vem pulando do colo de um rei (ou rainha) para o outro. Foi interessante perceber que a aliança das sacerdotisas vermelhas com Tyrion em Meereen teve alguma repercussão, ainda que o processo em si tenha sido tão pouco explorado. Igualmente bem-vinda foi a profecia de Azor Ahai, outro potencial laço entre Jon Snow e Daenerys. Como admirador dos livros de George R. R. Martin, devo dizer que os elementos de texto usados na tradução de Missandei tenham talvez soado descomplicados demais, numa abordagem demasiada moderna para estabelecer o assunto, usando “pronomes” e “gênero” para exemplificar algo que é sobre alma, e não gramática. Em “As Crônicas”, temos a prosa evocativa de Aemon, com seu desespero por estar no fim da vida, e um real sentido de urgência em sua procura pela rainha e o sentido que faz da profecia:

“Ninguém nunca procurou por uma menina. Fora um príncipe a ser prometido, não uma princesa. Rhaegar, pensava eu… A fumaça do incêndio que levou Solarestival no dia em que nasceu, o sal vinha das lágrimas derramadas por aqueles que morreram. Ele partilhou minha crença quando era novo, mas mais tarde persuadiu-se de que seria o filho a cumprir a profecia, pois um cometa foi visto no céu de Porto Real na noite em que Aegon foi concebido, e Rhaegar tinha certeza de que a estrela sangrando era um cometa. Que tolos fomos por nos julgarmos tão sábios! O erro teve origem na tradução. Os dragões não são nem machos nem fêmeas, Barth viu aí a verdade, mas ora uma coisa, ora outra, tão mutáveis como chamas. A língua nos induziu ao erro durante mil anos. A escolhida é Daenerys, nascida entre sal e fumaça. Os dragões assim nos provam. Tenho de ir ter com ela. Tenho de ir. Gostaria de ser ao menos dez anos mais novo.”

(O Festim dos Corvos, Capítulo 35, “Samwell IV” – p. 446)

Eu ainda sonho com o dia em que alguém descobrirá sobre a coroação de Jon e perguntará, “mas ele não era da Patrulha da Noite?”. Talvez assim fique mais difícil omitir o fato de que o bastardo foi MORTO E RESSUSCITADO pela própria magia do Senhor da Luz. De qualquer forma, a Mulher Vermelha cumpriu sua missão, despertando a curiosidade da rainha acerca do novo Rei do Norte, em uma cena bem parecida com a que tivemos no episódio “Kill the Boy”, onde o saudoso Meistre Aemon relatou os feitos da Quebradora de Correntes para Sam, que respondeu com a frase “She sounds like quite a woman”, admirado.

Com o iminente encontro entre os dois monarcas e a tendência dos roteiristas em reviver grandes acontecimentos do passado de Westeros (como, por exemplo, a explosão do septo à la Maegor, o Cruel), podemos traçar um paralelo entre Dany, Jon, Aegon Targaryen e Torrhen Stark – que salvou milhares de vidas nortenhas ao se ajoelhar perante o Conquistador e seus três dragões, abrindo mão de sua regência, mas permanecendo o Protetor do Norte.

Tendo em mente que Jon é o típico herói relutante, podemos esperar que ele tenha a mesma conduta perante Daenerys. Ainda mais se ela prometer apoiá-lo na guerra contra os mortos. Se acontecer, como os vassalos dele responderão a isso? E quanto a Melisandre? Recentemente banida do Norte, a feiticeira pode ser um ingrediente interessante nessa mistura (se Davos não a matar primeiro).

Em Winterfell, as informações parecem viajar na velocidade do plot, e a carta que Sam supostamente enviou no episódio anterior chega depois da mensagem de Tyrion, servindo convenientemente para convencer Jon a aceitar o chamado do anão. O próprio fato de Jon ter precisado da carta de Sam para saber da existência de obsidiana em Pedra do Dragão já é um pouco ofensivo para mim. Tendo vivido na ilha por anos e como um dos homens de maior confiança do rei Stannis, é difícil acreditar que Davos não sabia da existência da mina. Como ex-contrabandista, ele poderia ter dado um jeito de trazer o mineral para o Norte antes mesmo da chegada de Daenerys. Em vez disso, o Cavaleiro das Cebolas se mostra útil fazendo conexões óbvias entre dragões e fogo.

Por mais prejudiciais que essas incoerências sejam para a narrativa, todas elas podem ser justificadas pelo fim: promover, de maneira quase desesperada, o choque entre dois dos personagens que mais cresceram na série, tanto em maturidade quanto em poder. Além disso, a viagem de Jon à Pedra do Dragão coloca Winterfell nas mãos de Sansa, deixando o caminho livre para Mindinho pôr em ação o que quer que ele tenha planejado durante os três episódios em que ficou encostado naquela parede do Grande Salão.

Ao contrário de Jon, Dany parece discutir a pauta com seus conselheiros antes de leva-la para discussão. É meio contraditório ver um time de mulheres fortes reunidas em torno da mesa de guerra e perceber que, ainda assim, quem mais fala ali é o Duende (até a rainha falou com as palavras dele, o que foi encarado como mansplaining por parte da audiência). Ignorando a problemática questão envolvendo o exército dornês, o plano de atacar Rochedo Casterly parece bom. Seria ainda melhor se os Imaculados não precisassem dar a volta no continente para alcançar o castelo, ou se ainda existisse ouro nas minas. Em todo caso, se bem-sucedido, o ataque será um baita golpe na grande sombra projetada pelos Lannisters. Já o cerco a Porto Real… Bem, viver em uma cidade cercada sob o comando de Cersei parece tão perigoso quanto os dragões.

Eu realmente senti falta de uma cena onde Tyrion e Ellaria pudessem discutir, sozinhos, as mortes de Oberyn e Myrcella. Em vez disso, foi priorizado o diálogo entre Daenerys e Olenna – o que também foi bem interessante, especialmente por lembrar um pouco as cenas em que a Rainha dos Espinhos, sentada em seu jardim, costumava dar conselhos à neta. Talvez, a Senhora Tyrell tenha visto um pouco dela mesma na Mãe de Dragões, que conseguiu chegar até ali demonstrando a própria força diante de “homens inteligentes” como Tyrion (ou seja, sendo um dragão). E se ela conseguiu convencer Dany a agir de maneira menos pacífica, como seus ancestrais? Vamos ver como a rainha responderá aos acontecimentos finais deste episódio.

Fora das salas e dos navios de guerra, “Stormborn” conseguiu transformar uma cena romântica potencialmente clichê em algo mais indireto e expressivo. Quando Verme Cinzento explica seus sentimentos à Missandei, ele se refere a ela como sua única fraqueza, implicando que, pela primeira vez em sua vida, ele tem medo de perder alguém. O medo também aparece quando Missandei começa a despi-lo; um medo de que a imagem da violência cometida contra ele acabasse afastando a mulher que tanto ama. Mas ao enxerga-lo como ele realmente é, a intérprete se expõe da mesma maneira e os dois finalmente consumam a relação em um momento que, embora preencha a cota de nudez da HBO, representa muito mais do que isso. E é interessante como essa é a segunda vez que a HBO coloca um homem jovem e virgem, com extrema habilidade em satisfazer mulheres em sua primeira experiência sexual. Primeiro Podrick Payne, o próprio Jon Snow e, agora, o Imaculado.

A química entre os atores Jacob Anderson e Nathalie Emmanuel é surpreendente, e o tema do casal é, sem sombra de dúvidas, um dos mais bonitos compostos por Ramin Djawadi.

Pequenos acontecimentos como este marcaram o episódio tanto quanto os maiores, que giraram em torno de reis, rainhas e seus respectivos conselheiros.

O pai de Jorah, Jeor Mormont, está entre as influências mais importantes na vida de Samwell. Como Jon, o Velho Urso nunca forçou Sam a ser corajoso, mas o forçou a encontrar a coragem que ele sempre teve. Sem isso, Sam nunca teria sobrevivido a um Caminhante Branco ou à Batalha da Muralha. Ao ajudar sor Jorah, Sam homenageia um dos seus próprios ídolos, além de ter a oportunidade de dar a um homem honrado mais uma chance na vida. Nos livros, Jeor pede que Sam transmita seu perdão à Jorah antes de morrer. Teria sido incrível presenciar esse momento na série, mas o respeito de Sam pelo antigo Senhor Comandante da Patrulha é o suficiente para nos fazer acreditar que ele sacrificaria sua posição na Cidadela em mais um ato silencioso de puro heroísmo.

O ato em si se deu em uma das cenas mais excruciantes já exibidas em Game of Thrones. Assim como Alfie Allen, Iain Glenn teve que trabalhar sem palavras, traduzindo em sua expressão corporal e facial a tremenda dor que Jorah sentiu enquanto Sam arrancava sua pele apodrecida. Devemos acreditar que isso será o suficiente? Arquimeistre Ebrose não terá nenhum papel a desempenhar na (possível) cura do cavaleiro? E quanto ao vidro de dragão? A carta de despedida que Jorah escreveu para Daenerys na cena anterior serviu para mostrar que seu amor pela khaleesi, mesmo que inadequado, é o que mantém ele vivo. Agora, o jovem Tarly pode ser a única chance que ele tem de reencontrá-la.

A transição do pus de Jorah para a torta na Estalagem do Entroncamento buscou recriar a delicada montagem dos penicos que vimos semana passada. De fato, esse tipo de linguagem promove no espectador reações muito divertidas.

Como Dany, Arya é uma das personagens que esteve afastada do jogo principal por um um longo tempo, de modo que a colisão dela com outros personagens também é muito esperada. Nesse episódio, fomos presenteados com dois reencontros tocantes envolvendo a garota Stark. O primeiro trouxe de volta o bom e velho Torta Quente, que encontrou na cozinha da estalagem uma ocupação digna de seu apelido. Depois do encontro com os soldados Lannister na estrada, esse foi o segundo momento pensado para lembrar Arya de que o mundo não é tão frio quanto a vida que ela conheceu. Ainda assim, sua mente permaneceu distante, até que Torta Quente chamou atenção da amiga ao revelar que os Boltons morreram e que Winterfell (graças aos deuses ele não disse “Winterhell”) agora pertence ao seu irmão bastardo, que é o novo Rei do Norte – algo que ela deveria ter descoberto nas Gêmeas, enquanto arquitetava sua vingança contra os Freys.

Enfim, depois de desistir da viagem para a capital, Arya deixa de ser “ninguém” e parte em direção ao lugar que um dia foi o seu lar… mas o lar encontra ela primeiro quando uma alcateia de lobos cerca seu acampamento – alcateia liderada por ninguém menos que a própria Nymeria. Os lobos gigantes dos Starks sempre serviram como uma espécie de representação dos seus respectivos donos, e a aparência de Nymeria aqui reflete a evolução da própria Arya, que cresceu por si própria, selvagem e livre. Arya tentou se reconectar com o passado convidando a antiga companheira para viajar com ela rumo a Winterfell, mas logo percebeu que isso não seria possível. A troca de olhares entre elas disse o suficiente. É difícil mudar a natureza de um animal. Que momento!

Muitas pessoas ficaram confusas com a escolha da frase “That’s not you”, acreditando (e até torcendo para) que aquela não fosse, de fato, a loba Nymeria. Infelizmente, não foi o caso. As palavras usadas por Arya, na verdade, referenciaram uma cena da primeira temporada, onde ela e seu pai conversavam sobre o futuro e ele afirmava que ela se tornaria uma dama casada com o senhor de um castelo algum dia, ao que ela respondeu, prontamente: “Não. Essa não sou eu.(“That’s not me”).

A quantidade exagerada de “callbacks” vista na série ultimamente é um pouco preocupante, pois denota um certo desgaste dos roteiristas, que já não possuem mais os livros como suporte e, por isso, acabam recorrendo à autorreferências não muito notáveis. Por mais que estas sejam, sim, um recurso pertinente, podem acabar ficando exaustivas se usadas em demasia, comprometendo a experiência do telespectador.

“Make Westeros Great Again”

Na capital, vimos nossa adorada rainha da hipocrisia pintando Daenerys como o bicho-papão à frente de um exército estrangeiro do mal que tem como principal missão corromper e escravizar a família tradicional westerosi. Brincadeiras à parte, esse tipo discurso é mais contemporâneo do que nós gostaríamos. Pintar a imagem de um demônio para as pessoas temerem é uma tática política pertinente, ainda mais quando se quer que elas esqueçam as atrocidades que você mesmo cometeu. Aliás, guardada as devidas proporções, essa crítica poderia se estender a Olenna, que na temporada passada acusou Cersei de uma falta de limite moral que ela mesma mostrou ter, em inúmeras situações, pelos mesmos motivos.

Além da triste ligação com nossa realidade, a técnica de desumanizar inimigos também evoca a resistência dos senhores nortenhos em relação aos selvagens – um dos principais problemas enfrentados por Jon no ano passado. No episódio “Blood of my Blood”, Randyll Tarly perdeu a cabeça quando descobriu que Gilly veio do outro lado da Muralha. Jaime foi esperto ao usar o jingoísmo e falso moralismo do Senhor de Monte Chifre a seu favor, prometendo a ele o controle da Campina em troca do apoio contra os Tyrell. Por mais desagradável que tenha sido ver o Regicida fazer Olenna parecer louca simplesmente por buscar justiça pelo assassinato de sua família INTEIRA, eu preciso reconhecer que ele foi hábil em sua manipulação.

Eu fui o único que esperou mais da “solução” de Qyburn para lidar com os dragões? Balistas como aquela foram, de fato, armas eficientes contra os Targaryens durante as Guerras da Conquista. O próprio Meraxes foi morto por um projétil que o atingiu no meio dos olhos durante um confronto em Dorne, esmagando a rainha Rhaenys Targaryen com o seu peso. A cena nas catacumbas foi incrivelmente bem executada, principalmente pelos atores, e só mostra como os produtores da série realmente tendem a buscar respostas na rica cronologia da obra de George R. R. Martin – o que é sempre importante destacar.

E finalmente chegamos ao clímax… Mas não sem antes passar pela cabine do Vento Negro, onde as duas únicas personagens bissexuais da série tinham que azarar uma a outra (é claro). Segundo Indira Varma, o beijo foi improvisado pelas atrizes, que, além de muito talentosas, parecem bem empenhadas em seus papéis tristemente estereotipados. Dito isso, a coisa mais bacana da cena, em termos de roteiro, foi a forma como Yara defendeu o irmão das provocações de Ellaria.

O ataque do Silêncio foi um presente para os fãs que reclamaram da falta de ação em “Dragonstone”. Com todo respeito às atrizes, as mortes de Obara e Nymeria tiveram mais peso que qualquer outro momento das irmãs durante sua breve passagem pela série. O núcleo de Dorne foi um dos fracassos mais notáveis da adaptação, e as Serpentes de Areia foram, talvez, os maiores exemplos deste erro. Ainda assim, as duas eram personagens relevantes, que além de terem seus backgrounds estabelecidos, significavam muito para as sobreviventes Tyene e Ellaria – provavelmente os “presentes” que Euron ofertará para Cersei (o que não deve acabar bem para elas, já que ambas estiveram envolvidas na morte da princesa Myrcella).

O ataque que teve início com o próprio Euron caindo sobre um dos homens de Yara, foi uma verdadeira vitrine de todo caos e brutalidade que só Game of Thrones pode oferecer. Marcada por uma confusão intencional na direção das câmeras e pela ausência quase total de coreografias, a sequência de batalha se destacou mais pelo derradeiro confronto entre os três membros da Casa Greyjoy do que pela matança propriamente dita. Naquele momento, todos parecemos congelar no tempo, dentro e fora da tela, enquanto Theon, cercado por morte e dor, foi dominado por sua outra persona: Fedor.

Por mais difícil que tenha sido ver o personagem sendo quebrado e fugindo daquela maneira, precisamos parabenizar os roteiristas por finalmente terem retratado um trauma de maneira apropriada. Ramsay pode ter morrido, mas os horrores a que Theon foi submetido nunca morrerão, independente dos atos de heroísmo que ele cometa. O olhar de Gemma Whelan foi tão profundo que foi difícil afirmar se Yara estava desapontada com a fuga irmão ou com ela mesma, por não ter conseguido salvá-lo. Provavelmente ambos. O adeus dos irmãos foi quase um reflexo sombrio da despedida de Arya e Nymeria.

Diferente de Verme Cinzento, que foi criado sem muitas alternativas a não ser aceitar quem ele é, Theon foi despedaçado e rejeitado depois de sua mutilação (as provocações constantes do tio são um exemplo disso). Ele progrediu bastante desde que se livrou das garras de seu captor, buscando, humildemente, fazer o que acreditava ser o certo. Mas encarar as lembranças daquilo que ele é e daquilo que foi feito com ele, além da possibilidade de passar por tudo mais uma vez…  O que mais ele poderia ter feito?

Alfie Allen carregou esse peso da maneira mais competente possível, sem precisar de muitas falas ou tempo de tela. Já podem separar o Emmy (algo que ele dificilmente terá com Game of Thrones, devido ao tempo de tela do personagem).

Outro ator que me surpreendeu foi o intérprete do Euron, que, neste episódio, esteve mais próximo do que nunca do Olho de Corvo que conhecemos dos livros. A gargalhada dele ao ver o sobrinho sucumbir foi de dar calafrios. Aliás, considerando que, certa vez, Euron disse à Balon que ele era a própria tempestade, podemos supor que o título do episódio tenha sido, também, uma alusão ao perigoso capitão da Frota de Ferro (além da clara referência à Daenerys, citada na introdução).

Depois de anos reciclando a expressão “Rei das Cinzas”, Game of Thrones parece ter finalmente encontrado um pretendente poderoso e louco o suficiente para ostentar esse título.


Nota Finais Khaleesi,

✖ Ellaria passar reto por Dorne para, só então, voltar para o lar… esse é o tipo de escolha narrativa um pouco difícil de deixar passar, contando com o fato de que as quatro governantes de Dorne simplesmente se ausentaram do reino que elas mesmas tomaram para contornar dois continentes e, no processo, ficarem sem ter como voltar para casa.

Qyburn sabe que o dragão de Daenerys foi ferido por uma lança na Arena de Daznak, mas Jon deixou o Norte sem ter a mínima ideia de que seu irmão, que esteve anos perdido ao norte da Muralha, agora está seguro e a alguns poucos quilômetros de Winterfell;

Pela primeira vez, Lyanna Mormont se pronunciou contra o Rei do Norte em uma assembleia. Parece que, no fim das contas, ela é mesmo mais do que um plot device. Eu fiquei surpreso;

✖ Agradeço aos produtores por não terem arruinado a cena entre Verme Cinzento e Missandei com a imagem desnecessária daquilo que existe (ou não existe) entre as pernas do Imaculado;

Na conversa com Torta Quente, Arya menciona ter feito “uma ou duas tortas” por aí, claramente se referindo à Torta de Freys que serviu ao Lorde Walder;

✖ Sim, Dickon Tarly agora é interpretado por outro ator. O fato de Jaime não ter reconhecido o rapaz pode ter sido uma brincadeira do Bryan Cogman com o recast, ou só mais uma bola fora do Regicida;

✖ Intencional ou não, quando o Jaime fala para o Randyll Tarly que não consegue imaginar outro candidato melhor para o cargo de Protetor do Sul, a cena corta imediatamente para o filho de Randyll, Sam.

✖ Quando Ebrose fala sobre o livro que está escrevendo a respeito das guerras que sucederam a morte do Rei Robert, Samwell sugere um título mais poético. “A Song of Ice and Fire”, talvez?

✖ Nos livros, Pylos é um jovem meistre que está vivo e serve Stannis em Pedra do Dragão. A morte por escamagris mencionada na série foi, provavelmente, inspirada na história da princesa septã, Maegelle Targaryen, que tratou dos doentes até ser infectada por eles.

✖ Pelo tamanho do crânio atingido por Cersei, Drogon deve estar maior que o Balerion a essa altura;

✖ Para aqueles que não leram os livros, a grande e temível embarcação de Euron Greyjoy chama-se “Silêncio” por causa da sua tripulação inteiramente composta por mudos. Por isso, pudemos ver alguns homens de Yara tendo as línguas cortadas durante a sequência final;

✖ Só neste episódio, quatro momentos de temporadas anteriores foram discretamente “reaproveitados”. Como se Cogman estivesse maratonando a série enquanto trabalhava nos scripts.

Além dos já citados diálogos entre Ned e Arya ou Aemon e Sam, também foram revividos

1) o estrangulamento de Mindinho na primeira temporada (S01E04);

2) o diálogo onde Torta Quente afirma que qualquer pessoa de armadura, é um cavaleiro (S02E02);

3) o diálogo entre Olenna e Varys sobre Mindinho (S03E04);

4) o comportamento adorável do Cão de Caça (S04E03);

5) todos os momentos de Joffrey com a sua besta.

Euron foi ferido pela lança de Obara e algumas pessoas acreditam que, por isso, ele pode ter sido envenenado – o que faz todo sentido. A não ser que o cara tenha herdado a plot armor do Ramsay, junto com o papel de grande vilão (não foi à toa que o Theon saltou daquele barco).

✖ Ah, quase esqueci deste detalhe terrível sobre o legado dos Bolton em Winterfell, com as estátuas de lobos mutiladas.

Primeira Temporada
Sétima Temporada

✖ Maisie Williams gravou sua cena com Nymeria no Canadá, no começo do ano. Gostaríamos de ter visto mais notícias sobre a alcateia dela para esta temporada, mas talvez esta porta tenha se fechado para sempre com a Arya da série. O que não é o caso da Arya dos livros. Neles, as duas ainda estão constantemente ligadas, com Arya entrando na mente de sua loba em seus sonhos, para caçar e atacar pessoas,  mas protegendo a mãe morta, e a si mesma. Além disso, em uma entrevista para o Mashable há alguns anos, Martin disse que Nymeria ainda teria um papel “importante” nos livros futuros:

“Sabe, não gosto de entregar as coisas, mas você não continua usando uma alcateia de lobos em sua história, a menos que você pretenda usá-la”


  • Para ler as cartas e livros usados no episódio “Stormborn”, clique aqui.
  • O Podcasteros do episódio sai em breve.