E não param as novidades sobre Fogo & Sangue, livro sobre a história dos Targaryen que será lançado no dia 20 de novembro. Nos últimos dias, o Gelo & Fogo publicou seu guia do livro e uma entrevista com os tradutores brasileiros, e hoje é a vez de mais um trecho do livro que foi disponibilizado como prévia.

George R. R. Martin já havia divulgado um excerto do livro que retratava uma viagem da Rainha Alysanne ao Norte, e desta vez o Hollywood Reporter disponibilizou um trecho em que Gyldayn – o meistre autor do livro – discorre sobre o reinado de Aegon I, o Conquistador, com o crescimento de Porto Real e o nascimento da Guarda Real.

Fogo e Sangue Brasil
Capa brasileira de Fogo & Sangue (Ed. Suma).

O trecho provavelmente pertence ao capítulo “Three Heads of the Dragon—Governance under King Aegon I” (Três Cabeças do Dragão – Administração sob o Rei Aegon I), listado no também já divulgado sumário do livro.

A maior parte das informações contidas aqui estão também em O Mundo de Gelo e Fogo, na versão mais resumida de Meistre Yandel (Elio García e Linda Antonsson), que teve como base este texto mais extenso de Gyldayn (Martin).

Abaixo, a tradução feita pelo Gelo & Fogo para o excerto de Fogo & Sangue.

EXCERTO DE FOGO & SANGUE

Porto Real cresceu ao redor de Aegon e sua corte, sobre as três grandes colinas que se erguiam perto da foz do Torrente da Água Negra. A mais alta dessas colinas ficara conhecida como a Grande Colina de Aegon, e rapidamente as colinas menores passaram a ser chamadas Colina de Visenya e a Colina de Rhaenys, seus nomes anteriores sendo esquecidos. O forte de mota improvisado que Aegon erguera tão rapidamente não era suficientemente grande nem grandioso para abrigar o rei e sua corte, e começara a se expandir antes que a Conquista estivesse completa. Uma nova fortaleza foi erguida, toda de toras e com cinquenta pés de altura, com um grande salão cavernoso embaixo, e uma cozinha feita de pedra e com teto de ardósia em caso de incêndio, do outro lado da muralha exterior. Estábulos surgiram, e um celeiro. Uma nova torre de vigia foi erguida, com o dobro da altura da antiga. Rapidamente o Forte de Aegon ameaçava estourar para além de suas muralhas, então uma nova paliçada foi erguida, abarcando mais do topo da colina, criando espaço suficiente para uma caserna, um arsenal, um septo, e uma torre de cerca arredondada.

Abaixo das colinas, desembarcadouros e armazéns se erguiam ao longo das margens do rio, e mercadores de Vilavelha e das Cidades Livres se emaranhavam ao lado dos dracares dos Velaryons e Celtigars, onde antes apenas alguns poucos barcos de pesca eram vistos. Muito do comércio que passava por Lagoa da Donzela e Valdocaso agora vinha para Porto Real. Um mercado de peixes brotou ao longo da ribeira, e um mercado de panos entre as colinas. Uma alfândega surgiu. Um septo simples abriu na Água Negra, no casco de uma velha coca, seguido de um mais robusto de pau-a-pique na margem. Então um segundo septo, duas vezes maior e três vezes mais grandioso, foi construído no topo da Colina de Visenya, com dinheiro enviado pelo Alto Septão. Lojas e lares brotaram como cogumelos depois da chuva. Homens abastados ergueram mansões nas encostas, enquanto os pobres se amontoavam em casebres esquálidos de barro e palha nos lugares mais baixos entre elas.

Ninguém planejou Porto Real. Ela simplesmente cresceu… mas cresceu rapidamente. Na primeira coroação de Aegon, ainda era uma aldeia se atarracando sob um castelo de mota. Na segunda, já era uma vila próspera de alguns milhares de almas. Em 10 DC, era uma cidade de verdade, quase tão grande quanto Vila Gaivotas ou Porto Branco. Em 25 DC, havia ultrapassado ambas e se tornado a terceira cidade mais populosa do reino, atrás apenas de Lannisporto e Vilavelha.

Rhaenys em Meraxes.

Ao contrário de suas rivais, porém, Porto Real não tinha muralhas. Ela não precisava, diziam alguns residentes; nenhum inimigo jamais ousaria atacar a cidade contanto que ela fosse defendida pelos Targaryens e seus dragões. O próprio rei pode ter compartilhado dessa opinião originalmente, mas a morte de sua irmã Rhaenys e seu dragão, Meraxes, em 10 DC e os ataques contra sua própria pessoa sem dúvida lhe deram motivos…

E no 19º ano Depois da Conquista, notícias chegaram a Westeros de uma incursão ousada nas Ilhas de Verão, onde uma frota pirata saqueara Vila das Árvores Altas e levara consigo mil mulheres e crianças como escravos, junto com uma fortuna em saque. Os relatos da incursão perturbaram fortemente o rei, que percebeu que Porto Real estaria semelhantemente vulnerável a qualquer inimigo astuto o suficiente para cair sobre a cidade quando ele e Visenya estivessem em outro lugar. Consequentemente, Sua Graça ordenou a construção de um anel de muralhas ao redor de Porto Real, tão altas e fortes como aquelas que protegiam Vilavelha e Lannisporto. A tarefa da construção foi conferida ao Grande Meistre Gawen e a Sor Osmund Strong, a Mão do Rei. Para honrar os Sete, Aegon decretou que a cidade teria sete portões, cada um defendido por uma maciça casa de guarda e torres defensivas. O trabalho nas muralhas começou no ano seguinte e continuou até 26 DC.

Sor Osmund foi a quarta Mão do rei. A primeira fora Lorde Orys Baratheon, seu meio-irmão bastardo e companheiro de juventude, mas Lorde Orys foi feito prisioneiro durante a Guerra Dornesa e sofreu a perda de sua mão da espada. Quando foi resgatado, sua senhoria pediu ao rei para ser dispensado de suas funções. “A Mão do Rei deve ter uma mão,” disse. “Não quero ver homens falando sobre o Toco do Rei.” Aegon em seguida chamou Edmyn Tully, Senhor de Correrrio, para assumir o cargo de Mão. Lorde Edmyn serviu de 7 a 9 DC, mas quando sua esposa morreu no parto, ele decidiu que seus filhos precisavam mais de si do que o reino, e pediu licença para retornar às terras fluviais. Alton Celtigar, Senhor da Ilha da Garra, substituiu Tully, servindo competentemente como Mão até sua morte de causas naturais em 17 AC, depois da qual o rei nomeou Sor Osmund Strong.

O Grande Meistre Gawen foi o terceiro nesse cargo. Aegon Targaryen sempre mantivera um meistre em Pedra do Dragão, como seu pai e o pai dele fizeram antes dele. Todos os grandes senhores de Westeros, e muitos senhores menores e cavaleiros com terra, contavam com meistres treinados na Cidadela de Vilavelha para servir seus lares como curadores, escribas, e conselheiros, para criar e treinar os corvos que carregavam suas mensagens (e escrever e ler as mensagens para senhores que careciam dessas habilidades), ajudar seus intendentes com as contas da residência, e para ensinar seus filhos. Durante a Conquista, Aegon e suas irmãs tinham, cada um, um meistre que os servia, e depois o rei por vezes utilizava até meia dúzia deles para lidar com todos os assuntos que lhe eram trazidos.

Mas os homens mais sábios e estudados dos Sete Reinos eram os arquimeistres da Cidadela, cada um deles a autoridade suprema em uma das grandes disciplinas. Em 5 AC, o Rei Aegon, sentindo que o reino poderia se beneficiar de tal sabedoria, pediu ao Conclave que enviasse um deles para aconselhá-lo e deliberar com ele em todos os assuntos relativos à governança do reino. Assim foi criado o cargo de Grande Meistre, a pedido do Rei Aegon.

O primeiro homem a servir nessa função foi o Arquimeistre Ollidar, protetor da história, cujo anel e báculo eram de bronze. Embora excepcionalmente estudado, Ollidar também era excepcionalmente velho, e fez a passagem deste mundo menos de um ano após assumir o manto de Grande Meistre. Para preencher seu lugar, o Conclave selecionou o Arquimeistre Lyonce, cujo anel e báculo eram de ouro amarelo. Ele se provou mais robusto que seu antecessor, servindo o reino até 12 DC, quando escorregou na lama, quebrou o quadril, e morreu pouco depois, e o Grande Meistre Gawen foi elevado imediatamente depois.

A instituição do pequeno conselho do rei não floresceu até o reinado do Rei Jaehaerys, o Conciliador, mas isso não quer dizer que Aegon I governava sem se utilizar de conselhos. É sabido que ele deliberava com frequência com seus vários Grandes Meistres, e com seus próprios meistres locais também. Em assuntos relativos a tributação, dívidas, e rendimentos, ele buscava o conselho de seus mestres da moeda. Embora ele mantivesse um septão em Porto Real e outro em Pedra do Dragão, em questões religiosas o rei com mais frequência escrevia para o Alto Septão de Vilavelha, e sempre fazia questão de visitar o Septo Estrelado durante seu circuito anual. Mais do que qualquer desses, o Rei Aegon contava com a Mão do Rei, e é claro, com suas irmãs, as Rainhas Rhaenys e Visenya.

A Rainha Rhaenys era uma grande patrona dos bardos e cantores dos Sete Reinos, fazendo chover ouro e presentes sobre aqueles que a agradavam. Embora a Rainha Visenya considerasse sua irmã frívola, havia uma sabedoria nisso que ia além de um simples amor pela música. Pois os cantores do reino, em sua ânsia de conquistar a benevolência da rainha, compunham muitas canções de louvor à Casa Targaryen e o Rei Aegon, e então prosseguiam cantando essas canções em todas as fortalezas e castelos e campos de aldeias, das Marcas de Dorne à Muralha. Assim a Conquista foi tornada gloriosa para o povo simples, enquanto o próprio Aegon, o Dragão, se tornou um rei herói.

A Rainha Rhaenys também se interessava fortemente pelos comuns, e tinha um amor especial por mulheres e crianças. Certa vez, quando ela presidia a corte no Forte de Aegon, um homem foi trazido a sua presença por ter espancado a mulher até a morte. Os irmãos da mulher queriam que ele fosse punido, mas o marido argumentava que estava em seus direitos, já que encontrara sua esposa na cama com outro homem. O direito de um marido castigar uma esposa desobediente era bem estabelecido pelos Sete Reinos (exceto em Dorne). O marido ainda indicou que a vara que usara para bater em sua esposa não era mais grossa que seu polegar, e até apresentou a vara como prova. Quando a rainha lhe perguntou quantas vezes ele batera na esposa, porém, o marido não soube responder, mas os irmãos da mulher morta insistiram que haviam sido cem golpes.

A Rainha Rhaenys consultou com seus meistres e septões, e então transmitiu sua decisão. Uma esposa adúltera ofendia os Sete, que haviam criado as mulheres para serem fieis e obedientes a seus maridos, e portanto devia ser castigada. Como deus tem exatamente sete faces, entretanto, a punição deve consistir de apenas seis golpes (pois o sétimo golpe seria para o Estranho, e o Estranho é a face da morte). Portanto os primeiros seis golpes que o homem desferira haviam sido lícitos… mas os noventa e quatro restantes haviam sido uma ofensa contra os deuses e os homens, e deviam ser punidos igualmente. Daquele dia em diante, a “regra dos seis” se tornou uma parte do direito comum, juntamente com a “regra do polegar.” (O marido foi levado para o pé da Colina de Rhaenys, onde recebeu noventa e quatro golpes dos irmãos da mulher morta, usando varas de tamanho legal.)

Aegon I e suas irmãs.

A Rainha Visenya não compartilhava o amor de sua irmã pela música e as canções. Ela não era sem humor, porém, e por muitos anos teve seu próprio bobo, um corcunda hirsuto chamado Senhor Cara-de-Macaco cujas palhaçadas a divertiam enormemente. Quando ele morreu ao se engasgar com um caroço de pêssego, a rainha adquiriu então um símio e o vestiu com as roupas do Senhor Cara-de-Macaco. “O mais novo é mais esperto,” ela costumava dizer.

Havia, porém, escuridão em Visenya Targaryen. Para a maior parte do mundo, ela apresentava a face severa de uma guerreira, austera e implacável. Até sua beleza era afiada, diziam seus admiradores. A mais velha das três cabeças do dragão, Visenya viveria mais do que seus dois irmãos, e havia um rumor de que em seus anos finais, quando ela não mais conseguia empunhar uma espada, ela mergulhara nas artes escuras, misturando venenos e lançando feitiços malignos. Alguns até sugerem que ela teria sido fratricida e regicida, embora nunca tenha surgido prova que sustente essas calúnias.

Seria uma ironia cruel se verdade, pois em sua juventude ninguém fizera mais para proteger o rei. Visenya por duas vezes empunhara a Irmã Negra em defesa de Aegon quando ele foi atacado por assassinos dorneses. Alternadamente desconfiada e feroz, ela não confiava em ninguém a não ser seu irmão. Durante a Guerra Dornesa, ela passou a vestir uma camisa de malha dia e noite, até sob suas roupas de corte, e insistiu que o rei fizesse o mesmo. Quando Aegon recusou, Visenya ficou furiosa. “Mesmo com Blackfyre na mão, você é só um homem,” ela disse a ele, “e não posso estar sempre com você.” Quando o rei ressaltou que tinha guardas a seu redor, Visenya sacou Irmã Negra e o cortou na bochecha tão rapidamente que os guardas não tiveram tempo para reagir. “Seus guarda são lentos e preguiçosos,” disse ela. “Poderia tê-lo matado tão facilmente quanto o cortei. Precisa de melhor proteção.” O Rei Aegon, sangrando, não teve escolha senão concordar.

Muitos reis tinham campeões para defendê-los. Aegon era Senhor dos Sete Reinos; logo, ele deveria ter sete campeões, decidiu a Rainha Visenya. Assim nasceu a Guarda Real; uma irmandade de sete cavaleiros, os melhores do reino, com capas e armaduras do branco mais puro, com o único propósito de defender o rei, dando suas próprias vidas pela dele se necessário. Visenya baseou o juramento deles no da Patrulha da Noite; como os corvos vestidos de negro da Muralha, os Espadas Brancas serviam pela vida toda, abrindo mão de todas as suas terras, títulos, e bens mundanos para viver uma vida de castidade e obediência, sem recompensa a não ser a honra.

Tantos cavaleiros se ofereceram como candidatos para a Guarda Real que o Rei Aegon considerou organizar um grande torneio para determinar quais deles eram os mais dignos. Visenya não queria saber, porém. Ser um cavaleiro da Guarda Real exigia mais do que apenas habilidade com armas, ela ressaltou. Ela não arriscaria colocar homens de lealdade incerta ao redor do rei, independentemente do quão bem eles participassem de um melee. Ela mesma escolheria os cavaleiros.

Os campeões que ela selecionou eram jovens e velhos, altos e baixos, de pele escura e clara. Vieram de todos os cantos do reino. Alguns eram filhos mais novos, outros herdeiros de casas antigas que renunciaram a suas heranças para servir o rei. Um era um cavaleiro andante, outro nascido bastardo. Todos eram rápidos, fortes, observadores, habilidosos com espada e escudo, e devotados ao rei.

Estes são os nomes dos Sete de Aegon, como escritos no Livro Branco da Guarda Real: Sor Richard Roote; Sor Addison Hill, Bastardo de Campodemilho, Sor Gregor Goode; Sor Griffith Goode, seu irmão; Sor Humfrey, o Pantomimeiro; Sor Robin Darklyn, chamado Robin-Escuro; e Sor Corlys Velaryon, Senhor Comandante. A história confirmou que Visenya Targaryen escolheu bem. Dois de seus sete originais morreriam protegendo o rei, e todos serviam com coragem até o fim de suas vidas. Muitos homens valentes seguiram os passos deles desde então, escrevendo seus nomes no Livro Branco e vestindo o manto branco. A Guarda Real permanece sendo um sinônimo de honra até os dias atuais.

Fogo & Sangue pode ser adquirido na Amazon com um brinde (um pin da Casa Targaryen). Mais informações, ilustrações e capas podem ser encontradas em nosso guia completo do livro.