O texto a seguir possui spoilers dos livros A Tormenta de Espadas, O Festim dos Corvos e A Dança dos Dragões. Leia por sua conta. O episódio 5.01 The Wars to Come adaptou os capítulos Samwell IV (Tormenta – pág 778), Jon XI (Tormenta – pág 786), Cersei II (Festim – pág 91), Jaime I (Festim – pág 105), Cersei VIII (Festim – pág 454), Tyrion I (Dança – pág 22), Daenerys I (Dança – pág 34) e Jon III (Dança – pág 120).

Infelizmente, a Ana Carol precisou se afastar das análises com spoilers dos livros para cuidar integralmente do nosso querido Podcasteros (embora ela tenha me ajudado bastante nesse texto). Agora que essa missão cabe a mim, peço que, por favor, tenham paciência. E se ficar muito ruim, não me atirem vivo na fogueira.

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Com um episódio que conseguiu dividir bastante as opiniões dos apaixonados pela série de TV e pelos livros, Game of Thrones nos apresentou em sua season premiere um episódio cheio de coisas belas e poderosas, inspiradoras e cruéis. Cenas como a morte de Mance Ryder, os dragões rejeitando sua mãe, Cersei Lannister e sua profecia e o Tyrion de Peter Dinklage terão um lugar precioso para sempre em nossas memórias. No entanto, algumas inconsistências do roteiro, e diferenças fundamentais em relação aos livros serão apontadas a seguir. Suba no seu lobo gigante e venha viajar através das cenas com a gente:

A PROFECIA DE CERSEI LANNISTER

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Pode-se dizer que a 5ª temporada de Game of Thrones já começou “mudando as regras do jogo”, com um flashback que lembrou bastante seriados como Lost, onde muitas vezes a gente só descobria a quem pertencia tal lembrança quando a pessoa era chamada pelo nome e despertava daquele estado de “sonho”. É claro que, na lembrança em questão, ficou meio óbvio que se tratava de Cersei. Tanto o gestual da atriz mirim, quanto o figurino e a menção às terras de seu temível pai entregaram o jogo logo no início, principalmente para nós, leitores, que há muito tempo torcíamos para que algo do gênero acontecesse.

Mas a regra do flashback e da profecia, que antes eram coisas impensáveis para David Benioff e Dan Weiss, não foi a única que eles quebraram em “The Wars to Come.”

  • Nos livros, Cersei visita a cabana de Maggy com duas amigas: Melara Hetherspoone e Jeyne Farman. Melara também faz sua pergunta à bruxa: ela quer saber se um dia se casará com Jaime Lannister, mas só descobre que morrerá em breve. Cersei se lembra que a amiga caiu de um poço e isso, para muitos, deixou subentendido que a própria Cersei matou Melara por ciúmes do irmão. Na série, nada disso foi mostrado.
  • Na série, ao invés de visitar a Rã em Lannisporto, as garotas caminham por uma floresta que poderia muito bem ser confundida com a mesma em que Ramsay caça suas vítimas, se Cersei não deixasse claro que aquelas eram as terras de Tywin. E, talvez para sair do lugar-comum, escolheram a jovem atriz Jodhi May (conhecida pelo seu papel no filme ‘O Último dos Moicanos’) para interpretar a bruxa da série, com uma caracterização bacana que lembrou muito as feiticeiras da franquia “Piratas do Caribe”.
  • Nos livros, Robert tem 16 filhos bastardos, na série Maggy diz que são 20, quando sabemos que muitos deles (Edric Storm, Mya Stone) foram limados da história…

Mas enfim, há quem diga que esses não foram os elementos mais importantes deixados de fora da adaptação.

Destacando o óbvio, todo mundo percebeu que a parte da profecia que diz respeito ao valonqar (leia aqui) foi desconsiderada na série de TV. A questão aqui é que como elemento narrativo, o flashback exclui a questão do valonqar e a questão da infância da Cersei para focar única e exclusivamente na relação dela com Margaery, a suposta rainha mais jovem e mais bonita que tomará tudo o que é dela.

Oh, sim. Ele dezesseis, e você três. (…) De ouro será sua coroa, e de ouro sua mortalha (…) E quando suas lágrimas a afogar, o valonqar enrolará as mãos em sua pálida garganta branca e a estrangulará até roubar sua vida.”

A questão da falta do valonqar, que foi uma das mais discutidas após a exibição do episódio, pode ainda não estar terminada na série. Assim como nos livros, a lembrança da profecia pode acontecer em pedaços. É bem difícil que isso aconteça? Sim. Mão não é impossível. Seja como for, sabemos que quando a série se dispõe a adaptar algo dos livros sem alguns de seus elementos fundamentais, fica subentendido que essa será uma temporada bastante incômoda para quem espera muita fidelidade.

Em termos de direção, cenografia, fotografia e atuação, eu diria que a sequência foi muito bem-sucedida. A garotinha que interpretou a jovem Cersei estava perfeita no papel, e aquela atmosfera enigmática, quase fora da realidade da série, conseguiu traduzir o desejo dos produtores de que tudo, no final, parecesse um conto de fadas.

A VIGÍLIA POR TYWIN LANNISTER

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Nos livros, após a morte do pai e a briga com o irmão, Cersei começa a abusar pesadamente da bebida, e consequentemente a engordar e passar o tempo todo alimentando-se de álcool e ódio. Na série, Lena Headey tem parte dessas características desde a primeira temporada, exceto por sua forma física. A Cersei de Lena é amarga, silenciosa e alimentada pelo ódio, mas quanto ao seu corpo, é dura e tem uma postura disciplinada. A Cersei da série também não é a mulher mais desejada dos Sete Reinos como é nos livros.  Aqui está uma mudança interessante da narrativa e que podemos até mesmo comparar com Jaime.

Jaime, enquanto contempla o corpo do pai morto não consegue esconder o receio que tem de perder tudo o que o pai construiu para eles. No entanto, durante a quarta temporada, Jaime não parecia ligar para o legado do pai, se recusando a partir para cuidar de Casterly Rock. Sim, ele fez isso para ficar com Cersei na capital, mas se ele largaria tudo para ficar com ela como disse tantas vezes, então porque se mostra tão apegado ao legado agora? Essa é mais uma das facetas de Jaime que não fazem jus à suposta redenção do personagem. Se Jaime se importasse tanto com legado, teria se casado com Lysa Arryn anos atrás.

Uma das características mais fortes do velório em O Festim dos Corvos, é o fato de que corpo de Tywin Lannister exala um cheio estranho durante os dias que se seguem desde sua morte, como uma forma que o Martin encontrou de humanizar o personagem, que era visto por muitos como um deus (ou seria o veneno do Víbora Vermelha?). Tanto, que as pessoas precisam suportar aquela situação mórbida durante os sete dias corridos em que a vigília acontece, por respeito à memória do Senhor de Rochedo Casterly. Isso infelizmente não foi colocado na série de TV.

O primeiro capítulo de Cersei em O Festim dos Corvos é um dos capítulos mais interessantes de todo o livro, pois nele acompanhamos a saga de Cersei acordando no meio da noite para descobrir que Tywin morreu, descobrir que Tyrion fugiu, descobrir o corpo de Shae ao lado do pai, e por aí vai. Na série, o corpo de Shae foi esquecido. Mas isso já era esperado, já que em “The Children” a personagem morreu de maneira desprezível, sem dizer ao menos uma palavra, mesmo depois de ter sido descaracterizada em prol do romance com Tyrion.

Nesse capítulo do Festim vemos a rainha tomar o poder pra si, se recusando até a chorar para tratar do problema da maneira correta. E, é claro, ela faz tudo errado. Tão cega em relação a como as coisas realmente devem funcionar que não percebe que foi Jaime que libertou o irmão… Diferente daquilo que vimos na adaptação, onde ela não só sabe que Jaime libertou Tyrion como ainda repreende (e até humilha) ele por isso.

 Pelo menos dessa vez não tivemos oba-oba dentro do septo. 

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Durante a despedida de Tywin, percebemos que Cersei não dirige uma palavra à ninguém, quase como se estivesse calculando pacientemente quem serão suas próximas vítimas. Nos livros, quando estamos dentro da cabeça da rainha, vemos que é isso mesmo o que ela faz, tornando toda essa tragédia um pouco mais divertida.

Aqui, ela vê Margaery se aproximar de Tommen, o que endossa a suspeita de que a guerra entre as duas será um dos temas centrais nesse núcleo. E essa disputa tem tudo pra ser mais intensa na série, já que nela, Tommen é um homem feito, que pode se casar com Margaery, engravidá-la e jogar a mãe para escanteio. As duas rainhas sabem bem disso.

As únicas pessoas com quem Cersei interage são o Tio Kevan e o primo (e ex-amante), Lancel Lannister (o Loras não conta, né?). Esses dois personagens não apareciam desde a primeira e segunda temporada, respectivamente, e ambos estão bem diferentes. Enquanto Kevan parece mais velho e mais fraco, embora sábio e ponderado como sempre, seu filho demonstra-se mais forte e resoluto, algo totalmente diferente daquele Lancel que servia aos caprichos de Cersei e morria de medo do anão. Isso serviu como um aperitivo para dimensionar a força de manipulação da Fé.

O VALE

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Ver Sansa deixando para trás seus belos vestidos de herdeira para vestir algo apropriado a uma bastarda de Petyr Baelish é interessantíssimo. Apesar de termos deixado Sansa em The Mountain and the Viper em seu afloramento como jogadora dos tronos, aqui a temos de volta a submissão de alguém. Mesmo que ela tenha sido acolhida pelos Senhores Declarantes do Vale, em uma das manobras mais corajosas da série no sentido de ignorar e atirar pela Porta da Lua tudo o que lemos em O Festim dos Corvos.

Muitas pessoas que não leram os livros nos perguntaram durante essa semana o motivo pelo qual vemos o cabelo de Sansa e o de Melisandre em tons castanhos neste episódio. No caso de Melisandre, é claro que trata-se de um problema com a fotografia das cenas que usam bastante computação gráfica na Muralha. Mas no caso de Sansa, é interessante perceber que a personagem havia aparecido com os cabelos tingidos em sua última cena da quarta temporada (muita gente não percebeu isso). O que intensifica o fato de que a transição de Sansa ainda não foi bem digerida no enredo. Em sua última cena na 4ª temporada, ela desfilou com corvos nos ombros e malícia. Mas em sua primeira cena na quinta ela está entediada e pouco dona de si, tendo que alongar o pescoço para tentar ler uma carta que Mindinho não divide com ela. É como se no final, pela própria segurança, ela precisasse ser Alayne.

Sabemos onde Mindinho está levando Sansa de acordo com o que nos foi mostrado nos trailers, e toda a ideia de deixar o Vale, de manipular Roose Bolton tão imediatamente, e de deixar Robin aos cuidados de Yohn Royce é algo que parece seriamente inconcebível no contexto que temos hoje nos livros. Mas trazer uma Stark legítima de volta a Winterfell será, de fato, algo a se esperar.

Quanto a Brienne, sabemos que em O Festim ela passa por poucas e boas com Randyl Tarly, Lesto Dick, Dentadas e Lady Stoneheart, fazendo qualquer coisa, menos encontrando Sansa ou Arya pelo seu caminho. Impossível não se lembrar que é em O Festim que Brienne usa sua espada como uma assassina pela primeira vez, enquanto na série ela nunca teve esse código de honra imaculado. Falando no uso de sua espada… é um pouco imaturo o fato dela exibi-la (por ser algo valioso e por ser algo Lannister), mas a cena levantou uma discussão em relação à lâmina precisar de afiamento. É aço valiriano. Precisa? Em A Guerra dos Tronos temos Ned Stark polindo sua espada (essa cena existe na primeira temporada) e na segunda temporada temos Jon Snow fazendo o mesmo com sua Garralonga. Em A Fúria dos Reis é citado que Jon afia sua lâmina para ‘manter suas mãos ocupadas”. Mas… precisa?

Seja como for, Brienne e Podrick, mesmo em seus dias ruins… Que conceito! Todos nós que amamos os contos de Dunk e Egg olhamos para essas cenas com carinho, sem deixar de comparar a donzela de Tarth e seu escudeiro com Duncan e o herdeiro Targaryen. Brienne no entanto não tem a sorte que Duncan tem (e é sorte de sobra). Ela está prestes a encontrar Sansa e é claro que o encontro entre as duas tem tudo para ser difícil. E Brienne tem tratado Podrick com descortesia desde a quarta temporada, mas esse tipo de diálogo duro entre os dois talvez tenha se esgotado, pois não é como se ela, do nada, estivesse disposta a ensinar algo para o rapaz. Nos livros até que acontece algo parecido, mas a Brienne da série parece mais ter mais interesse pela frustração. E não só porque Arya a rejeitou, mas o tempo todo, e por qualquer motivo, afinal de contas, os bons senhores estão mortos, e o resto deles são monstros.

PENTOS

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Enquanto demoramos meses para extraviar Tyrion para outro continente nos livros, na série a cena se passa no mesmo episódio em que Tywin é velado. Essa diferença também se dá quando vemos os dragões de Dany crescidos, deixando entendido que houve uma passagem de tempo que não foi muito bem percebida nos outros núcleos da série.

Muitos acham que a única coisa que falta em Game of Thrones para ser uma legítima série da HBO é a maconha. O que eles não mostram na questão de drogas ilícitas (onde está o sonodoce de Robin?), eles mostram em álcool. Nesse sentido, o Tyrion de Peter Dinklage é perfeito em sua relação com a bebida. Aliás, o Dink não erra nunca. Mesmo sem os resmungos, os pensamentos em Tysha, Shae e no pai, Tyrion está em uma bad profunda, algo que é natural e super sombrio, um lado que o Tyrion dos livros sempre expôs.

Toda a conversa de Varys, jogando na lata que tramou com Illyrio uma conspiração para colocar os Targaryen de volta ao trono, e que caiu em uma teia de erros que os levou ali… essa questão nos livros não é bem essa e mesmo assim não nos convence (partimos do pressuposto de que Varys nunca está falando verdade). Por que nos convenceria na série de TV? E em “A Dança”,  isso nos é colocado em doses homeopáticas através do ponto de vista de outros personagens, com o agravante de termos o Jovem Griff como o suposto verdadeiro herdeiro do trono de ferro.

Já sabemos que Aegon e Jon Connington não mereceram um lugar entre os justos na série de TV. Assim como Quentyn Martell, Victarion Greyjoy e Qaithe (aquela da segunda temporada não vale). Teremos Tyrion atravessando o Roine para encontrar Daenerys e ajudá-la a criar seus dragões, encurtando tudo o que Martin levou mais de 10 anos para desenvolver em seus livros. Nos chamem de puristas, mas David e Dan sabiam que essa série era infilmável. Apesar de tudo o que já discutimos tanto nos últimos anos em relação a adaptação desses livros e os cortes que são necessários fazer, indico a leitura dessa entrevista, onde o mestre Alfred Hitchcock fala sobre o assunto.

Mas sabe, quando Martin sai falando por aí que série é série e livro é livro, ele não está apenas dizendo que você precisa separar os dois e que ficção não é real para que a gente a leve tão a sério. Ele também está dizendo que a série de TV não é autoria dele. E ela realmente não é.

DERRUBANDO A HARPIA EM MEEREEN

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A Entertainment Weekly comparou a cena da queda da harpia com um vídeo que mostra os iraquianos derrubando uma estátua de Saddam Hussein em 2010. Na época, os marines americanos ajudaram a população a destruir um dos símbolos da cidade em um ato simbólico contra a opressão ditatorial. Os temas de Daenerys possuem tantas alegorias interessantes (embora Martin meio que as deteste) que fica cada vez mais difícil questionar sua teimosia em reinar na cultura ghiscari. Além disso, é muito interessante e assustador ver uma descendente de Valíria reinando na Baía dos Escravos e desprezando os costumes daquela região.

Uma das diferenças bastante comentadas em relação aos livros é a da adaptação dos Filhos da Harpia. Nos livros eles são pessoas que se misturam a população, enquanto as Bestas de Bronze se tratam de nobres que usam máscaras de bronze com desenhos de animais diversos. Na série, os Filhos não só usam máscaras da Harpia como ainda vestem os mesmos tokars de seda dos antigos mestres escravistas.

No livro, quando Daenerys questiona o fato do Imaculado ter ido a um bordel, Verme Cinzento responde:

“Mesmo aqueles que não têm as partes de homem ainda têm um coração de homem.”

É uma resposta impactante que, inclusive, deixa a rainha comovida (mas o sangue do dragão não chora). Na série, Missandei faz a mesma pergunta e o Imaculado só responde “Não sei.”

Preguiça?

É complicado dizer. É claro que o roteiro quer desenvolver esses personagens e dar cenas exclusivas para a atriz Nathalie Emmanuel, que foi promovida como membro do elenco regular. O problema pode estar no excesso de textos didáticos para mostrar algo que já foi explicado. Certamente o tema voltará, e certamente teremos uma cena onde Missandei afagará Verme Cinzento em seus braços. Nós ficaremos tristes e nos emocionaremos. Mas o “não sei”, mesmo nesse contexto, parece preguiçoso.

A cena em que Rato Branco (nos livros, Escudo Robusto) visita a prostituta em Meereen – que também parece ter uma ligação com os Filhos da Harpia, foi um dos bons momentos do episódio, com doses ideais de açúcar e sangue.

Há uma certa beleza em ver Dany afirmando ser uma rainha, e não uma estadista. Uma beleza trágica, que vem dos livros e que é algo intrínseco a história da família Targaryen. Os erros de Dany, justificáveis pela garota de 18 anos que ela é (lembrando que nos livros ela tem 15), traduzem de maneira bem literal as falhas do idealismo, as falhas dessa pseudo-democracia: “dou o poder para o povo, mas sou a rainha soberana de todos que, na verdade, não deu poder pra ninguém.”

Nos livros a vemos mais disposta a fazer parte da cultura ghiscari, quando ela insiste em vestir o desconfortável tokar, e mantém um pequeno conselho composto por locais.

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Depois de cinco anos escrevendo sobre Game of Thrones a gente simplesmente sente muita preguiça de ficar falando sobre a questão da nudez na série. É o tipo de pauta que sempre mais chama atenção do público (e que os grandes portais fomentam com bastante energia). Mas esse ano a série se esforçou para entregar um episódio diverso nesse sentido, colocando homens pelados em duas cenas dispersas. Primeiro, no começo do episódio, com Loras, Olyvar e Margaery. E mais tarde, com Dany (que propositalmente não exibe seu corpo) e Daario (que propositalmente exibe o seu).

Ainda sobre a ‘preguiça’ no texto feito para o núcleo de Daenerys: ‘Easy, easy’? Por qual motivo alguém achou razoável a mãe dessas criaturas tentar falar com eles no Idioma Comum?

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Perdoem a rabugência, a verdade é que a cena é muito boa. A edição ficou esquisita pra caramba, mas a sensação de terror funcionou muito, muito bem.

Alguns pensam que os produtores estão usando em Game of Thrones algo parecido com a teoria das cores que víamos em Breaking Bad, através dos vestidos de Daenerys. Por ela voltar a usar branco, isso poderia significar que ela está se sentindo perdida e prestes a mudar algo definitivamente em si, assim como a vimos na primeira temporada da série onde ela usava a mesma cor.

CASTELO NEGRO

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Depois de três anos, pela primeira vez, sentimos que Stannis, Melisandre, Davos e cia. receberão o cuidado devido dentro da produção. Reconheço que vai ser difícil tirar Stannis da luz infame sob a qual ele esteve nas últimas temporadas, desde que foi apresentado ao público. Principalmente aos olhos do público que não leu os livros e enxergam o cara como um reles fanático religioso que queima infiéis (ainda mais depois desse episódio, onde foi basicamente isso o que ele fez).

Agora que todos estão girando, de certa forma, ao redor de Jon Snow – um dos cinco ou seis “protagonistas” da trama – pode-se esperar mais desenvolvimento para esses personagens. Ou, quando nada, mais tempo de tela.

Eu acho incrível como a Carice van Houten consegue ser mais assustadora e menos charlatã do que a Melisandre nos livros e, ainda assim, ser convincente, e até meio cômica, quando resolvem sexualiza-la ao extremo. Outra coisa que se pode esperar dessa temporada é a atração explícita entre ela e o bastardo de Winterfell, ainda mais quando sabemos como isso se passa nos livros. A série sempre teve uma tendência a exagerar mais quando existe um romance, ou um pretenso romance, envolvido na história (vide Missandei e Verme Cinzento; Margaery e Tommen; Shae e Tyrion).

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Além disso, sabemos que o Joãozinho se amarra numa ruiva.

O ADEUS AO REI PARA LÁ DA MURALHA

A decisão de adaptar Mance Rayder com o mínimo de seus atributos que vemos nos livros começa quando vemos que em “Sam IV” de A Tormenta, após a batalha, Sam e Gilly estão cuidando de dois bebês: o de Gilly e o de Mance Rayder (com Dalla).

Quando vimos que o cara finalmente teve um cena apreciável e que, por uma vez, preferiram focar ele ao invés do magnífico Tormund de Kristofer Hivju, tivemos a certeza de que algo drástico aconteceria.

Nossa equipe suspeitava que muitos de vocês ficariam chateados com esse desfecho. Não nos entendam mal, a cena é uma das melhores da história da série, tendo um dos melhores momentos de Stephen Dillane, Ciarán Hinds e Kit Harington. Foi cruel, demorado e triste. Mas… sabíamos que todos ficariam chateados porque Mance Rayder foi mal adaptado para a TV. E também sabíamos que a série não ousaria usar Camisa de Chocalhos ou qualquer outro selvagem como Abel.

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É, aconteceu. Provavelmente não veremos o bardo, assim como não veremos suas esposas de lança, ou o feitiço tecido por Melisandre… Nos livros, “Mance” nega seu lugar como rei e grita desesperadamente quando as chamas de R’hllor começam a consumi-lo. Na série não tivemos nenhuma abertura para acreditar que o homem ali queimado não era o verdadeiro rei do povo livre.

Por outro lado, faz sentido que o encantamento da Mulher Vermelha seja omitido da série,  que sempre teve o esforço de tornar tudo um pouco mais realista. Por esse motivo, muitos outros elementos já foram cortados, como o Mãos-Frias, a Coração de Pedra e afins.

Antes de morrer, Mance deseja que Stannis tenha sorte nas guerras que estão por vir, e é quase como se os dois se admirassem naquele momento, apesar do sacrifício ser um desafio claro à autoridade do rei de Pedra do Dragão e uma lição para os selvagens, que agora, mais do que nunca, resistirão à ideia de se ajoelhar perante outro deus e outra cultura. E se você ainda questiona a decisão de Mance, mesmo tendo lido os livros, lembre que um homem pode morrer, desde que suas ideias permaneçam.

Todos os cortes entre cenas (exceto pelas duas de Cersei, que se sobrepõe), foram meio abruptos. Muitos jornalistas têm a mania de escrever em suas resenhas sobre a premiere que ‘o primeiro episódio serve para nos reapresentar cada um dos personagens, para nos lembrar onde eles estão’. Isso é meio óbvio que aconteça em uma season premiere, de qualquer série, e é um pouco irritante de se ler. Mas quando vemos esses cortes duros, em um episódio pouco seguro e recheado de diálogos com a frase ‘the wars to come’ espalhada pelo roteiro, entendo melhor o que querem dizer. O conceito do termo “As Guerras que estão por vir” parece algo extremamente superficial, afinal de contas, guerras sempre estão por vir nesse universo. Sempre estiveram e sempre estarão. É como se estivessem mesmo nos falando algo que já sabemos.

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Depois dessa estreia, ficou bem estabelecido que a série, a cada semana, se distanciará mais e mais daquilo que lemos nos livros. Assim como no caso de Cersei e de praticamente todos os personagens da adaptação, o Mance dos livros é uma pessoa completamente diferente, né?

Martin criou um homem perspicaz, amante da música e de coração jovem, enquanto na série ele foi um senhor endurecido e respeitável, mas nem por isso menos inspirador ou menos apaixonado pela liberdade. Ciarán Hinds é um ator com competência para interpretar as duas versões do personagem, no entanto, infelizmente, nas mãos de David e Dan esse talento não foi tão bem aproveitado. Tanto que só começamos a sentir falta dele agora que sua vigia terminou (e, apropriadamente, pelas mãos de outro irmão da Patrulha).

Mas a nossa vigia está só começando, e espero que tenhamos mais sorte nos episódios que estão por vir.