Você pesquisou por the world of ice and fire – Gelo & Fogo https://www.geloefogo.com/ Informações sobre a obra de George R. R. Martin Fri, 11 Nov 2022 23:35:15 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.1.6 140837471 Warner anuncia convenção oficial de fãs de ‘Game of Thrones’ https://www.geloefogo.com/2021/09/warner-anuncia-convencao-oficial-de-fas-de-game-of-thrones.html?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=warner-anuncia-convencao-oficial-de-fas-de-game-of-thrones https://www.geloefogo.com/2021/09/warner-anuncia-convencao-oficial-de-fas-de-game-of-thrones.html#comments Thu, 02 Sep 2021 21:13:24 +0000 https://www.geloefogo.com/?p=108609 A Creation Entertainment e a Warner Bros. Themed Entertainment anunciaram a convenção oficial de fãs de Game of Thrones, que […]

O post Warner anuncia convenção oficial de fãs de ‘Game of Thrones’ apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>

A Creation Entertainment e a Warner Bros. Themed Entertainment anunciaram a convenção oficial de fãs de Game of Thrones, que será realizada em Las Vegas, Nevada. Esta é o primeiro evento oficial da série, que terá convidados, painéis, e produtos licenciados à venda.

convenção oficial de fãs de Game of Thrones

A seguir, leia o release oficial:

(LAS VEGAS, 2 de setembro de 2021) – Em antecipação à nova série da HBO House of the Dragon, a prequela de Game of Thrones, a Warner Bros. Themed Entertainment e a Creation Entertainment fizeram uma parceria para criar a convenção oficial de fãs de Game of Thrones, a primeira convenção de fãs oficialmente licenciada em homenagem à série icônica e mundialmente famosa da HBO Game of Thrones, no Rio Hotel & Suites Convention Center em Las Vegas, Nevada, de 18 a 20 de fevereiro de 2022.

Os fãs da franquia poderão esperar por uma experiência cheia de ação com três dias de programação com convidados especiais, painéis de discussão, competições de cosplay e trivia, sessões de autógrafos e fotos, vendas de produtos exclusivos de Game of Thrones e muito mais. A programação completa da convenção, juntamente com os preços dos ingressos e as datas de venda, serão anunciados nos próximos meses.

“Game of Thrones é um fenômeno cultural com uma base de fãs incrível, e estamos entusiasmados em celebrar ambos com a primeira convenção oficial de fãs de Game of Thrones”, disse Peter van Roden, vice-presidente sênior da Warner Bros. Themed Entertainment. “Esta é uma iniciativa empolgante, aumentando uma de nossas amadas franquias globais e permitindo que os fãs se tornem ainda mais imersos no mundo de Westeros e além. Esta será uma experiência verdadeiramente inesquecível que os fãs leais e novos irão adorar e desfrutar.”

“Nosso objetivo é proporcionar uma grande celebração de Game of Thrones”, conta Erin Ferries, vice-presidente sênior de licenciamento e desenvolvimento de negócios da Creation Entertainment. “O universo único e dinâmico de Game of Thrones e seus grandiosos fãs nos permitem uma oportunidade sem precedentes de trazer entretenimento inovador para o nosso público.”

Game of Thrones da HBO foi ao ar em mais de 207 países e territórios, culminando em audiência recordes e, ao longo de suas oito temporadas, a série se tornou uma das maiores e mais icônicas histórias da televisão. Tendo recentemente celebrado o “Aniversário de Ferro” em abril de 2021, que marcou dez anos desde que o primeiro episódio que chegou às telas, Game of Thrones continua a envolver fãs apaixonados e acender a empolgação do público com a próxima iteração da franquia, House of the Dragon.

Baseado em Fire & Blood de George R.R. Martin, House of the Dragon, que se passa 300 anos antes dos eventos de Game of Thrones, conta a história da Casa Targaryen. O elenco recentemente anunciado para House of the Dragon inclui Paddy Considine como Rei Viserys Targaryen, Matt Smith como Príncipe Daemon Targaryen, Olivia Cooke como Alicent Hightower, Emma D’Arcy como Princesa Rhaenyra Targaryen, Rhys Ifans como Otto Hightower, Steve Toussaint como Lord Corlys Velaryon , “The Sea Snake”, Eve Best como Princesa Rhaenys Velaryon, Fabien Frankel como Sor Criston Cole, Milly Alcock como a jovem princesa Rhaenyra Targaryen, Emily Carey como a jovem Alicent Hightower e Sonoya Mizuno como Mysaria. A aguardada série HBO Original está atualmente em produção e com estreia programada para a HBO e HBO Max em 2022.

Todos os episódios de Game of Thrones estão disponíveis para transmissão agora na HBO Max.

Clique aqui para se inscrever no Raven Newsletter para ser o primeiro a ler sobre as atualizações da convenção oficial de fãs de Game of Thrones.

A convenção oficial de fãs de Game of Thrones seguirá todas as diretrizes do departamento de saúde local e estadual para COVID-19 para garantir um ambiente saudável e seguro para todos.

Sobre a Warner Bros. Themed Entertainment

Warner Bros. Themed Entertainment (WBTE), parte da WarnerMedia Global Brands and Experiences, é líder mundial na criação, desenvolvimento e licenciamento de entretenimento baseado em eventos ao vivo, exposições e experiências em parques temáticos baseados em personagens icônicos, histórias da WarnerMedia, e marcas. WBTE é o lar das marcas globais inovadoras de The Wizarding World of Harry Potter, Warner Bros. World Abu Dhabi, WB Movie World Australia e inúmeras outras experiências inspiradas por DC, Looney Tunes, Scooby, Game of Thrones, Friends e muito mais. Com os melhores parceiros da categoria, a WBTE permite que fãs em todo o mundo mergulhem fisicamente em suas marcas e franquias favoritas.

Sobre Creation Entertainment

A empresa com sede em Glendale, Califórnia, está atualmente comemorando seu 50º aniversário como a criadora de convenções de fãs para as principais franquias de entretenimento da cultura pop. A Creation fez parceria com a Warner Bros. nos últimos 11 anos produzindo The Official Supernatural Convention Tour, homenageando a série de gênero mais longa da TV, bem como The Vampire Diaries e Lucifer Tours. Durante seus 50 anos de história, a Creation apresentou convenções para fãs de Star Trek, Star Wars, Crepúsculo, Arquivo X, Xena e muitos mais!


E você, pretende visitar Las Vegas para viver esta experiência? Compartilhe conosco nos comentários.

O post Warner anuncia convenção oficial de fãs de ‘Game of Thrones’ apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>
https://www.geloefogo.com/2021/09/warner-anuncia-convencao-oficial-de-fas-de-game-of-thrones.html/feed 1 108609
Limo sem manto: a verdadeira identidade de Limo Manto Limão https://www.geloefogo.com/2020/09/limo-sem-manto-a-verdadeira-identidade-de-limo-manto-limao.html?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=limo-sem-manto-a-verdadeira-identidade-de-limo-manto-limao https://www.geloefogo.com/2020/09/limo-sem-manto-a-verdadeira-identidade-de-limo-manto-limao.html#comments Mon, 21 Sep 2020 22:53:45 +0000 https://www.geloefogo.com/?p=107741 Buscar por significados em coisas aparentemente irrelevantes já é costume dos fãs de As Crônicas de Gelo e Fogo. Mesmo […]

O post Limo sem manto: a verdadeira identidade de Limo Manto Limão apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>

Buscar por significados em coisas aparentemente irrelevantes já é costume dos fãs de As Crônicas de Gelo e Fogo. Mesmo o menor dos personagens, por vezes, carrega pequenos indícios de fazer parte de algo muito maior, e isso é um dos grandes atrativos da série de livros de George R. R. Martin. As revelações de Arstan Barba-Branca, Fedor, Griff e Jovem Griff são algumas que nos deixam atentos, e geram especulações (com variados graus de probabilidade) sobre outros como Quaithe, Alleras, Lemore e Abel.

No entanto, um personagem que nunca me ocorreu que pudesse ter uma identidade o relacionando com um contexto completamente inesperado é o fora-da-lei Limo Manto Limão. No entanto, em algum momento do ano passado, descobri essa teoria no tumblr de Lady Gwynhyfvar (que também faz parte do podcast Radio Westeros) que me surpreendeu, justamente por apresentar evidências simples e bem fundamentadas. Resolvi então, entrar em contato com a autora e pedir sua autorização para traduzir sua especulação sobre Limo para o português. Confira o texto abaixo:


Introdução

Limo Manto Limão por David Demaret

Quem de nós nunca se perguntou sobre a verdadeira identidade do encantador Limo Manto Limão? Um dos líderes da Irmandade sem Bandeiras, Limo não tem um nome verdadeiro mencionado e nem uma história pregressa, apesar de nós sabermos o nome e história de muitos de seus companheiros, incluindo alguns muito mais insignificantes na narrativa. Algum tempo atrás, uma combinação inesperada de divagações, inspirada por perguntas de membros do fórum Westeros.org, me fez conectar Limo com outro personagem, cujo nome é mencionado apenas uma vez, e que é citado em só mais uma ocasião. Mas o que me levou a conectar Limo com Sor Richard Lonmount, outrora escudeiro e companheiro do Princípe Rhaegar Targaryen? Para ser honesta, de início, não foi nada além da cor de seus mantos, unida à convicção de que o cavaleiro das caveiras e beijos será importante. Mas no fim das contas, existe uma quantidade considerável de pistas textuais em favor dessa conexão. Inicialmente, eu fiz essa teoria sozinha, porém, boa parte do crédito deve ser dado aos membros do Westeros.org, que pegaram essa panela quebrada (N.T.: “cracked pot” é uma expressão em inglês para teorias com pouco embasamento) e a levaram a sério. Eu não acho que seja exagero dizer que, com a ajuda deles, essa panela agora pode ter água dentro.

“Prophecy”, por Patrick McEvoy © Fantasy Flight Games.

No capítulo 43 de A Tormenta de Espadas, a Fantasma do Coração Alto exige pagamento pelas notícias que deu:

— Um odre de vinho por meus sonhos, e, pelas notícias, um beijo do grande idiota com o manto amarelo. (…) A boca dele vai ter gosto de limões e a minha, de ossos. Sou velha demais. (A Tormenta de Espadas, cap. 43, Arya VIII).

Antes disso, a Fantasma também foi consultada sobre o paradeiro de Lorde Beric. Nesse encontro, a pequena mulher fala sobre todo mundo se referindo aos seus brasões e representações de suas casas. Ela tem essa interação com Limo:

— Sonhos — resmungou Limo Manto Limão -, de que servem os sonhos? Mulheres-peixe e corvos afogados. Eu também tive um sonho na noite passada. Estava beijando uma moça de taberna que conheci. Vai me pagar por isso, velha?

— A moça está morta — sibilou a mulher. — Só os vermes podem beijá-la agora. (A Tormenta de Espadas, cap. 22, Arya IV).

Com o bardo Tom das Sete, a referência nos dois encontros é uma canção. Com Limo, a referência é a… beijos.

O brasão da casa Lonmouth foi descrito como “partição em seis: lábios vermelhos sobre fundo amarelo, caveiras amarelas sobre fundo vermelho”. Foi essa conexão entre beijos, caveiras (ossos) e a cor amarelo que me deram o momento de “a-ha!”. Mas a conexões não param por aí.

Brasão da casa Lonmouth

Quando Arya o conhece, ela acha que ele tem a aparência de um soldado:

O homem que seguia ao seu lado era uns bons trinta centímetros mais alto, e parecia um soldado. De seu cinto de couro com rebites pendia uma espada longa e um punhal, fileiras de anéis de aço sobrepostos estavam costuradas em sua camisa, e sua cabea estava coberta por um meio elmo de ferro negro em forma de cone. Tinha dentes estragados e uma cerrada barba castanha, mas era o manto amarelo com capuz que chamava atenção. Grosso e peado, manchado aqui por mato e ali por sangue, puído ao longo da bainha e remendado com pele de veado no ombro direito, o manto dava ao homem o aspecto de um enorme pássaro amarelo (A Tormenta de Espadas, cap. 13, Arya II).

Pela falta de referência direta, é de se supor que ele não esteja entre o grupo original que partiu com Lorde Beric de Porto Real, sendo um dos que se juntou à Irmandade nas Terras Fluviais. Apesar disso, ele faz um comentário que possivelmente é revelador:

Anguy, o Arqueiro, disse:

— Somos homens do rei.

Arya franziu a testa.

— Qual deles?

— O Rei Robert — disse Limo, com seu manto amarelo (A Tormenta de Espadas, cap. 13, Arya II).

Como explicar esse homem grande, leal a Robert, que tem aparência de soldado, usa um característico manto amarelo e estava nas Terras Fluviais antes da missão de Lorde Beric? Vamos dar uma olhada nos fatos que temos sobre Richard Lonmouth. Sabemos que ele já foi companheiro e escudeiro do Príncipe Rhaegar:

O escudeiro do Príncipe Rhaegar foi Myles Mooton, e depois Richard Lonmouth. Quando ganharam suas esporas, foi ele mesmo quem os armou cavaleiros, e permaneceram companheiros próximos. (A Tormenta de Espadas, cap. 8, Daenerys I).

Também sabemos que a casa Lonmouth vem das Terras da Tempestade e que Sor Richard já foi, ao menos uma vez, companheiro de bebida do Lorde das Terras da Tempestade, Robert Batatheon:

O senhor da tempestade derrotou o cavaleiro dos crânios e beijos numa batalha de copos de vinho (A Tormenta de Espadas, cap. 24, Bran II).

Já que sabemos da reputação de Robert como um ávido beberrão, Sor Richard deveria uma tendência parecida, para deixá-lo tão envolvido na competição. Limo é um homem grande que gosta de beber:

Limo Manto Limão abriu caminho entre os outros. Ele e Barba-Verde eram os únicos homens com altura suficiente para olhar Cão de Caça nos olhos (A Tormenta de Espadas, cap. 34, Arya VI).

— Bem, eu mandei-os. Vocês deviam estar bêbados, ou dormindo.

— Nós? Bêbados? — Tom bebeu um longo trago de cerveja. — Nunca. (A Tormenta de Espadas, cap. 13, Arya II).

Nunca ficamos sabendo de que lado Sor Richard ficou na Rebelião de Robert. Myles Mooton lutou pelos Targaryens e foi morto no Septo de Pedra pelo próprio Robert Baratheon. Mesmo a última informação que temos sobre Lonmouth não nos dá uma indicação muito clara. Logo após a aparição do Cavaleiro da Árvore que Ri no torneio de Harrenhal:

Nessa noite, no grande castelo, tanto o senhor da tempestade como o cavaleiro dos crânios e dos beijos juraram que iriam desmascrá-lo, e o próprio rei exortou os homens a desafiá-lo, declarando que o rosto por trás do elmo não era seu amigo. (…) O rei ficou furioso , e até mandou o filho, o príncipe-dragão, procurar o homem, mas tudo que encontraram foi seu escudo pintado (A Tormenta de Espadas, cap. 24, Bran II).

Não temos indicação clara de com qual casa ele iria se alinhar: a de seu mentor e amigo Rhaegar Targaryen ou de seu parceiro de bebida e senhor Robert Baratheon. Mas talvez o lema da casa Lonmouth pode ser uma dica de que Sor Richard de fato escolheu um lado.

“A Escolha é Sua”

No seu papel de carrasco da Irmandade, Limo constantemente cumpre sentenças baseadas em escolhas. No caso de Merrett Frey, ele dá a escolha à Senhora Coração de Pedra:

— Ela não fala — disse o homem grande do manto amarelo. — Vocês, malditos bastardos, cortaram a garganta dela fundo demais para isso. Mas ela lembra-se. — Virou-se para a morta e disse: — O que diz, senhora? Ele participou? (A Tormenta de Espadas, cap. 81, Epílogo).

No “julgamento” de Brienne, a escolha é dada pelo nortenho, enquanto a sentença é executada por Limo:

O nortenho disse:

— Ela diz que deve escolher. Pegar a espada e matar o Regicida ou ser enforcada como traidora. A espada ou a corda, ela diz. Escolha, ela diz. Escolha (O Festim dos Corvos, cap. 42, Brienne VIII).

Limo está envolvido em escolhas dadas pela Irmandade, enquanto há também evidências que permitem especular outras escolhas fatídicas no seu passado. Enquanto “escolhas” podem ser vistas como um tema central em As Crônicas de Gelo e Fogo, o fato de que isso seja proeminente no lema de uma casa pequena parece quase como uma bandeira dizendo “olhe isso mais de perto”! E olhar mais de perto, nesse caso, definitvamente me levou a teorizações interessantes.

Pisando em território especulativo com o tema de “escolhas”, vou sugerir que Richard escolheu o seu senhor, Robert Baratheon, e lutou por ele na Rebelião. Logo depois que Arya, Gendry e Torta Quente são capturados pela Irmandade, a companhia chega à Estalagem do Ajoelhado. Aqui, a esposa do estalajadeiro serve cerveja para os jovens, porque ela não tem leite ou água para oferecer:

Limo, Arya Stark, Torta Quente e Gendry, por mustamirri

— A água do rio tem gosto de guerra, com todos os mortos que vem à deriva. Se lhes servisse uma tigela de sopa cheia de moscas mortas, vocês a tomariam?

— Arry tomaria — disse Torta Quente. — A Pombinha, quero dizer.

— E Limo também — sugeriu Anguy, com um sorriso manhoso. (A Tormenta de Espadas, cap. 13, Arya II).

Por que Anguy diria uma coisa dessas? Poderia ser que Limo já esteva à deriva no rio junto com cadáveres? Muito tempo depois, na Ilha Quieta, o Irmão Mais Velho conta a Brienne a história de quando praticamente morreu depois da Batalha do Tridente, mas foi levado pela correnteza, sobreviveu e nasceu para uma nova vida. Pode ser que algo parecido tenha acontecido com Limo?

Mais tarde, Limo revela ter conhecimentos locais que podem indicar que ele esteve na região quando esses eventos ocorreram:

— Os filhos de Lorde Lychester morreram na rebelião de Robert — resmungou Limo. — Alguns de um lado, outros do outro. Desde então, não anda bom da cabeça. (A Tormenta de Espadas, cap. 22, Arya IV).

E por fim, no Pêssego, o bordel que fica no Septo de Pedra, onde Robert pode ter se escondido antes da batalha, Tanásia tem algo a dizer para Limo:

— (…) Limo, é você? Ainda usa o mesmo manto maltrapilho, há? Eu sei por que é que nunca o lava, ah, se sei. Tem medo de que o mijo saia todo e a gente veja que na verdade é um cavaleiro da Guarda Real! (A Tormenta de Espadas, cap. 29, Arya V).

Se Limo é Richard Lonmouth, é possível que ele tenha estado no Septo de Pedra com Robert e seja conhecido de Tanásia por essa ocasião. Se ela sabia que ele era um cavaleiro a serviço do homem que se tornou rei, isso poderia explicar sua piada sobre a Guarda Real. Mas por que ele desapareceu então? Minha especulação nos leva de volta a O Festim dos Corvos, no capítulo de Brienne. No capítulo 25, Septão Meribald descreve para Brienne, Pod e Sor Hyle, a turbulência interna de um homem quebrado:

— (…) (A)té mesmo um homem que sobreviveu a cem batalhas pode ser quebrado como se a centésima fosse a primeira. Irmãos veem irmãos morrerem, pais perdem filhos, amigos veem amigos tentando segurar  suas entranhas depois de serem atingidos por um machado. (…)Eles adquirem uma ferida, e quando essa está quase se curando, adquirem outra. (…) E um dia eles olham ao redor e percebem que todos os seus amigos e parentes se foram. (…) E os cavaleiros vêm até eles, homens sem face vestidos em aço, e o trovão de ferro que carregam parece encher o mundo… e o homem se quebra (O Festim dos Corvos, cap. 25, Brienne V).

Meribald deixa claro que qualquer um pode quebrar, a qualquer momento. Todo homem tem seu limite, e é possível que Sor Richard tenha encontrado o seu após a Batalha do Tridente. Duas referências me fazem pensar que foi isso que aconteceu com Limo:

Limo Manto Limão por Mike Capproti

— Que se dane com isso — disse Limo Manto Limão — Ele também é o nosso deus, e vocês devem a nós suas miseráveis vidas. E o que tem ele de falso? Seu Ferreiro pode reparar uma espada quebrada, mas será que consegue reparar um homem quebrado? (A Tormenta de Espadas, cap. 39, Arya VII).

— Não é a única pessoa com ferimentos, Senhora Brienne. Alguns de meus irmãos eram bons homens quando isto começou… (O Festim dos Corvos, cap. 42, Brienne VIII).

Já sugeri que o comentário provocativo de Anguy pode indicar que Limo esteve no rio com cadáveres em algum momento. Suponhamos que Richard Lonmouth tenha caído no rio após a Batalha do Tridente, como aconteceu com o Irmão Mais Velho. Se ele foi recolhido e cuidado por uma pessoa boa e generosa, levaria algum tempo até que ele pudesse receber notícias sobre o que aconteceu na batalha e depois dela. Será que ele ficou devastado ao saber que seu amigo, o príncipe, havia sido morto por seu senhor? Será que a culpa de sua escolha se tornou um peso para ele? Isso com certeza seria o suficiente para fazê-lo quebrar. Mas eu acredito que haja ainda mais elementos em jogo aqui. Estou especulando que Sor Richard escolheu o lado vencedor, mas então, por que ele não apareceu em nenhum momento para receber a devida recompensa de seu senhor e novo rei? Assumindo que Limo seja Sor Richard, acredito que a explicação por trás de seu ódio pelos Lannisters seja a peça que faltava para completarmos o quebra-cabeça. Não sabemos exatamente por que Limo os odeia tanto, ou se Richard Lonmouth era casado, mas sabemos que Limo era casado, e teve uma filha:

— Quero minha mulher e filhas de volta — disse o Cão de Caça. — Seu pai pode me dar isso? (O Festim dos Corvos, cap. 42, Brienne VIII).

Se seguirmos assumindo que Limo e Richard são a mesma pessoa, vou propor que a família de Richard Lonmouth estava em Porto Real durante a Rebelião. Talvez sua esposa viesse de uma família lealista, ou talvez eles tenham pensado que seria um lugar seguro para se estar. Mas nós sabemos que os Lannisters saquearam a cidade e que não houve misericórdia para ninguém, da família real até a plebe mais pobre. Poderia ser que sua esposa e filha estivessem entre as vítimas? Isso poderia explicar a vontade dele de enforcar “leões” e, julgando pelo seu comentário, a associação deles com a perda da família. Então, com os Lannisters sendo a nova família adjunta de seu antigo senhor, pode ser que isso tenha tornado impossível para ele se revelar e servir Robert publicamente.

Uma revelação dessas iria requerer algum propósito narrativo. Então, voltemos ao Torneiro de Harrenhal e ao juramento do cavaleiro das caveiras e beijos de desmascarar o Cavaleiro da Árvore que Ri (que quase todos nós já assumimos ser Lyanna Stark). Sabemos que GRRM usa paralelos temáticos em sua narrativa com frequência. Nós também sabemos que Arya tem certa semelhança com sua tia:

— Lyanna poderia ter usado uma espada, se o senhor meu pai divesse permitido. Você por vezes faz com que me lembre dela. Até se parece com ela (A Guerra dos Tronos, cap. 22, Arya II).

“Knights of Hollow Hill” por C. Griffin © Fantasy Flight Games.

Olhando para algumas das interações entre Arya e Limo, um incidente em particular se destaca. Quando Arya descobre que ela é, na verdade, prisioneira da Irmandade, ela tenta fugir:

Em suas costas, os fora da lei praguejavam e gritavam-lhe para voltar. Fechou os ouvidos aos gritos, mas quando deu um olhar de relance por cima do ombro, quatro deles vinham em seu encalço, Anguy, Harwin e Barba-Verde lado a lado e, mais atrás, Limo, cujo comprido manto amarelo esvoaçava atrás dele enquanto cavalgava. (A Tormenta de Espadas, cap. 17, Arya III).

É fácil de imaginar uma cena parecida com Lyanna sendo perseguida em terreno similar por um grupo incluindo Sor Richard Lonmouth. Mais tarde, quase como que acenando com a cabeça para essa possibilidade, Tom canta para Arya:

Tom piscou o olho para ela e cantou:

E como sorriu e como ela riu,

a donzela do pinheiro.

Fugiu num rodopio e disse-lhe,

não quero o seu brasileiro.

Usarei um vestidos de folhas douradas,

a trança com ervas atada,

Mas você pode ser meu amor da floresta,

e eu a sua namorada. (A Tormenta de Espadas, cap. 22, Arya IV).

Aqui então, chegamos ao possível propósito narrativo de Limo ser Richard Lonmouth. Ele pode esclarecer o leitor sobre as primeiras interações de Rhaegar e Lyanna, e a razão pela qual Rhaegar coroou Lyanna como Rainha do Amor e da Beleza. Pode também, se ele tiver continuado como um dos confidentes do príncipe, esclarecer os eventos posteriores. No mínimo, ele seria um dos poucos presentes do torneio de Harrenhal que ainda está vivo. Isso o colocaria na mesma categoria de Howland Reed, a de “alguém que sabe demais”.

Concluindo, Ser Richard Lonmouth, cujas cores da casa são preto e amarelo, nunca mais é mencionado após sua rápida aparição no Torneio de Harrenhal. Durante a Guerra dos Cinco Reis, um fora-da-lei sem nome ou história conhecidos aparece nas Terras Fluviais, vestindo um característico manto amarelo de tecido pesado (e aparentemente, caro). Em sua jornada, Limo é associado com beijos e escolhas, o que sabemos serem temas da casa Lonmouth. Baseado nessas associações, podemos estabelecer uma conexão entre ambos. Uma leitura detalhada nos permite entrar em algumas especulações para preencher os detalhes dos anos intermediários. E por fim, quanto à importância dessa teoria, se ele foi uma parte do grupo que perseguiu o Cavaleiro da Árvore que Ri, e alguma revelação foi feita, Sor Richard poderia ter informações interessantes sobre a história de Rhaegar Targaryen e Lyanna Stark.

Adendo (de dezembro de 2014)

Com novas informações agora disponíveis em O Mundo de Gelo e Fogo, a Supreme Court of Westeros discutindo sobre a teoria e o episódio 09 do Radio Westeros apresentando a teoria em formato de áudio, parece o momento adequado para um rápido adendo. O Mundo de Gelo e Fogo revela que Ser Ricahrd Lonmouth estava entre os apoiadores de Rhaegar na corte quando houve uma óbvia divisão entre ele e Aerys:

O apoio do príncipe Rhaegar vinha dos homens mais jovens da corte, incluindo Lorde Jon Connington, Sor Myles Mooton de Lagoa da Donzela e Sor Richard Lonmouth. Os dorneses que vieram para a corte com a princesa Elia também eram da confiança do príncipe, em particular o príncipe Lewyn Martell, tio de Elia e irmão juramentado da Guarda Real. Mas o mais formidável de todos os amigos e aliados de Rhaegar em Porto Real ecertamente era Sor Arthur Dayne, a Espada da Manhã (O Mundo de Gelo e Fogo, O Ano da Falsa Primavera).

Já que essa descrição vem durante uma discussão sobre política da corte e conspirações em época próxima ao Torneio de Harenhal, a implicação parece ser que Lonmouth apoiava mudanças de regime. Também de O Mundo de Gelo e Fogo vem a forte sugestão de que Lonmouth acompanhou Rhaegar para as Terras Fluviais na fatídica missão que culminou no desaparecimento de Lyanna Stark:

Com a chegada do novo ano, o príncipe herdeiro pegara a estrada com meia dúzia de seus amigos e confidentes mais próximos, em uma jornada que acabaria por levá-los de volta às Terras Fluviais. A menos de sessenta quilômetros de Harrenhal, Rhaegar encontrou Lyanna Stark de Winterfell e a levou consigo, acendendo um fogo que consumiria sua casa, seus parentes e todos aqueles que ele amava — além de metade do reino. (O Mundo de Gelo e Fogo, O Ano da Falsa Primavera)

Vamos revisitar a informação dada por sor Barristan: “O escudeiro do Príncipe Rhaegar foi Myles Mooton, e depois Richard Lonmouth. Quando ganharam suas esporas, foi ele mesmo quem os armou cavaleiros, e permaneceram companheiros próximos“.  Tendo isso em mente, combinado com as informações de O Mundo de Gelo e Fogo, podemos supor que essa meia dúzia de companheiros eram provavelmente Arthur Dayne e Oswell Whent (como já revelado no aplicativo A World of Ice and Fire), Mooton e Lonmouth (ambos identificados como companheiros de Rhaegar em mais de uma ocasião), e talvez Connington e o príncipe Lewin Martell, que é indicado como um dos maiores apoiadores de Rhaegar em O Mundo de Gelo e Fogo.

Dado o resultado da situação de Rhaegar e Lyanna, com Aerys executando Rickard e Brandon Stark e pedindo a cabeça de dois de seus Senhores Protetores, propusemos que Richard Lonmouth tenha escolhido Robert na Rebelião com o objetivo de causar uma mudança de regime, o que foi indicado que ele apoiava. Lembremos que, no início, Rhaegar estava distante dos eventos, e a Rebelião era tecnicaente contra Aerys, objetivando remover um tirano progressivamente mais insano do poder. O envolvimento de Rhaegar em dado momento — sem dúvidas, por conta de seu senso de responsabilidade para com a sua casa e talvez para salvar seus filhos em Porto Real — iria cair como uma luva nos temas de “escolhas” e “homem quebrado” que discutimos antes.

Aliás, não parece que precisaremos esperar muito tempo para botar essa teoria à prova. Na última vez que vimos as Terras Fluviais em A Dança dos Dragões, uma pessoa que provavelmente conhecia Richard Lonmouth está em rota de colisão com Limo Manto Limão e é um forte candidato para fazer a revelação. Quando Jaime Lannister reaparecer, ele pode se encontrar em uma reunião surpresa com alguém de seu passado.

O post Limo sem manto: a verdadeira identidade de Limo Manto Limão apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>
https://www.geloefogo.com/2020/09/limo-sem-manto-a-verdadeira-identidade-de-limo-manto-limao.html/feed 1 107741
Em quanto tempo ‘The Winds of Winter’ será publicado após George R. R. Martin terminá-lo? https://www.geloefogo.com/2020/06/em-quanto-tempo-the-winds-of-winter-sera-publicado-apos-george-r-r-martin-termina-lo.html?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=em-quanto-tempo-the-winds-of-winter-sera-publicado-apos-george-r-r-martin-termina-lo https://www.geloefogo.com/2020/06/em-quanto-tempo-the-winds-of-winter-sera-publicado-apos-george-r-r-martin-termina-lo.html#comments Wed, 24 Jun 2020 15:24:16 +0000 https://www.geloefogo.com/?p=107580 Uma dúvida que com frequência acomete muitos leitores de As Crônicas de Gelo e Fogo é: o que acontecerá quando […]

O post Em quanto tempo ‘The Winds of Winter’ será publicado após George R. R. Martin terminá-lo? apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>
Exemplo não-real de uma parcial de The Winds of Winter. Foto: Felipe Bini.

Uma dúvida que com frequência acomete muitos leitores de As Crônicas de Gelo e Fogo é: o que acontecerá quando George R. R. Martin finalmente terminar de escrever The Winds of Winter (Os Ventos do Inverno)? Dentro de quanto tempo o livro estará disponível nas livrarias?

A resposta rápida é que o livro provavelmente estará publicado, em suas edições britânica e americana, mais ou menos três meses depois de Martin entregar o original à editora. Trata-se de um prazo anormalmente curto entre a entrega do manuscrito e a publicação, mas não impossível.

A seguir, explicaremos como esse rápido lançamento de The Winds of Winter seria plausível, utilizando como base o processo de publicação dos livros anteriores de As Crônicas de Gelo e Fogo, declarações de Martin e de suas editoras, e um artigo de Chris Lough para a Tor.com. Além disso, especularemos também sobre a possibilidade de uma data de publicação simultânea ou algum prazo para o lançamento de Os Ventos do Inverno no Brasil.

As falas de Martin sobre The Winds of Winter

George R. R. Martin trabalhando em The Winds of Winter durante aparição ao vivo na TV, em junho de 2014. Na tela do computador, um capítulo de Asha Greyjoy no WordStar. Fonte: YouTube.

No segundo dia do já longínquo ano de 2016, George R. R. Martin publicou em seu Not a Blog um extenso e decepcionado post sobre a escrita de The Winds of Winter. Na publicação, Martin evidenciava toda a sua frustração por não ter conseguido terminar o sexto livro de As Crônicas de Gelo e Fogo a tempo para ser publicado antes da sexta temporada de Game of Thrones, que estrearia em abril daquele ano.

No post, o autor revelava ter centenas de páginas e dúzias de capítulos já escritos, mas dizia que ainda faltavam (no mínimo) meses para terminar a escrita do livro. Esse aparente otimismo não significou muito em termos de lançamento, mas dava a entender que de fato o autor já tinha (e ainda tem) uma quantidade substancial de material pronto.

Lendo o post de Martin, porém, algumas passagens chamam a atenção no que concerne à data de lançamento. Por exemplo:

Todos queríamos que o livro seis de As Crônicas de Gelo e Fogo saísse antes que a sexta temporada da série da HBO fosse ao ar. Presumindo que a série voltaria no início de abril, isso significava que Os Ventos do Inverno teria de ser publicado antes do fim de março, no mais tardar. Para isso acontecer, segundo minhas editoras, elas precisariam do original completo antes do fim de outubro.

Martin se referia, nessa passagem, a outubro do ano de 2015. Mais adiante no post, ele revela que a escrita não andou bem e que ele não conseguiu cumprir esse prazo do Dia das Bruxas. As experientes editoras, no entanto, já haviam se preparado:

Elas já tinham um plano de contingência. Haviam feito planos para acelerar a produção. Me disseram que se eu conseguisse entregar Os Ventos do Inverno até o fim do ano, ainda conseguiriam publicá-lo antes do fim de março.

George ficou imensamente aliviado e confiante de que conseguiria terminar Os Ventos do Inverno com esses dois meses a mais, mas foi novamente incapaz de fazê-lo, e assim a publicação do sexto livro antes da sexta temporada de Game of Thrones tornou-se impossível. Mais adiante, ainda no mesmo post, ele diria:

Mas não, não posso dizer a vocês quando terei terminado, ou quando ele será publicado. A melhor estimativa, com base em nossas conversas anteriores, é que a Bantam (e provavelmente minha editora britânica também) consigam ter a versão em capa dura três meses depois da entrega, se os cronogramas deles permitirem. Mas quando a entrega acontecerá, não posso dizer.

Fica claro, assim, que a Bantam (a editora americana) e a HarperCollins (a editora britânica) são capazes de publicar The Winds of Winter três meses depois de Martin lhes entregar o original. Com efeito, foi mais ou menos isso o que aconteceu com os livros anteriores, o que é particularmente observável à época do término da escrita e do lançamento de A Dance with Dragons (A Dança dos Dragões), em 2011.

Como foi com os livros anteriores?

O intervalo entre a entrega do original e a publicação sempre foi relativamente curto para os livros de As Crônicas de Gelo e Fogo, segundo Adam Whitehad, fã especialista em fantasia e ficção científica e amigo de George R. R. Martin. A afirmação de Whitehead é corroborada pela listagem da coleção de George R. R. Martin na Biblioteca Cushing, da Texas A&M University, para a qual o autor doou muito material.

O primeiro livro da série, A Game of Thrones (A Guerra dos Tronos), foi publicado em agosto de 1996, e Whitehead especula que George tenha terminado a escrita no final de 1995 ou no início de 1996. Na coleção da Cushing, que inclui parciais enviadas por Martin às editoras, o último manuscrito data de outubro de 1995. Se essa for mesmo a data da finalização do original, esse seria o livro da série com o intervalo mais longo entre a entrega e a publicação.

Na coleção da Cushing, o original completo do segundo livro, A Clash of Kings (A Fúria dos Reis), data de maio de 1998, e ele foi publicado em novembro de 1998. O intervalo entre entrega e publicação, portanto, foi de seis meses, já sendo observável uma diminuição no tempo em relação ao primeiro volume.

O anúncio do término da escrita do terceiro livro, A Storm of Swords (A Tormenta de Espadas), veio na segunda metade de abril do ano 2000 (em nossa seção de AFMs, é possível ler o e-mail em que George conta essa boa nova a Elio García). Abril é também a data do original armazenado na Cushing, e é perceptível que o prazo de publicação diminuiu ainda mais: menos de quatro meses depois, em 8 de agosto, o livro três foi publicado pela primeira vez no Reino Unido.

Em 29 de maio de 2005, George R. R. Martin divulgou em seu site que o livro quatro de As Crônicas de Gelo e Fogo não seria mais A Dance with Dragons, como anteriormente planejado. Em um longo post, ele divulgou oficialmente para o mundo que o livro seria dividido em dois, e que o quarto volume de seu ciclo de fantasia épica seria agora A Feast for Crows (O Festim dos Corvos).

Contamos com mais detalhes o processo de escrita de O Festim dos Corvos (e, colateralmente, de A Dança dos Dragões) em um post sobre a história da escrita de As Crônicas de Gelo e Fogo como um todo. Em resumo, porém, George concluiu ter material demais para um só volume e que alguns personagens já tinham arcos completos, enquanto outros estavam em estágios iniciais. A solução foi fazer uma divisão geográfica e por personagens: alguns foram removidos totalmente do quarto livro, e seu material foi passado para o seguinte.

Para os efeitos deste nosso artigo, no entanto, o que importa é que A Feast for Crows foi publicado no Reino Unido em 17 de outubro daquele ano, pela Voyager. Foram, portanto, mais ou menos quatro meses e meio entre a decisão de dividir o livro e sua efetiva publicação. Um prazo parecido com o de Storm, e que seria ainda menor no volume seguinte.

Manuscrito A Dança dos Dragões
Anne Groell, editora de George R. R. Martin, com o original de A Dança dos Dragões. Fonte: Unbound Worlds.

No dia 3 de março do ainda longínquo ano de 2011, George divulgou no Not a Blog que embora A Dance with Dragons ainda não estivesse terminado, a Bantam o publicaria no dia 12 de julho. O autor ressaltou que dessa vez não se tratava de wishful thinking ou de estimativa, mas de uma data de lançamento real. Ao longo de março e abril, George continuou relatando no blog que estava terminando os últimos capítulos da escrita.

Em 27 de abril, Martin fez um post no Not a Blog indicando que o original estava pronto e entregue. No mesmo dia, Anne Groell, editora de George na Bantam, confirmou a informação em uma postagem no portal Unbound Worlds, revelando que ela e o autor haviam se reunido no dia anterior e feito algumas últimas edições.

Em 19 de maio, Martin fez uma grande postagem em seu blog contando detalhes da escrita e edição, e informando que o processo de copidesque e as revisões estavam 100% terminados, e o texto do quinto livro oficialmente finalizado.

A Dance with Dragons foi realmente publicado no dia 12 de julho, nos Estados Unidos e no Reino Unido. Foram, portanto, menos de três meses após a data de entrega anunciada por Martin e Groell, no final de abril.

A produção acelerada

Nos Estados Unidos, a produção de um livro, da entrega do original (manuscrito) até a chegada às livrarias demora, geralmente, de nove meses a um ano. Como, então, seria possível isso acontecer em apenas três meses ou menos para Os Ventos do Inverno?

O artigo de Chris Lough na Tor.com, publicado em 2016, é bastante completo ao explicar o processo normal da publicação de um livro e em quê o lançamento de The Winds of Winter seria diferente desse padrão. Lough discorre longamente sobre o processo de edição, a criação da capa, o marketing, as vendas, a formatação, a impressão e a distribuição. Todas as etapas da produção editorial, enfim.

Não reproduzirei em detalhes, aqui, todos os pontos abordados no artigo, sendo suficiente dizer que Os Ventos do Inverno seria uma exceção pelo status de blockbuster que a série de livros já alcançou, o que já adianta muitas tarefas que seriam feitas do zero para outras publicações, e torna viável que as editoras aloquem mais recursos e pessoal na produção dessa obra, em detrimento de outras.

Tomemos como exemplo a capa. É improvável que haja uma comissão para que um artista ilustre uma nova capa do zero para The Winds of Winter. A Bantam já possui um padrão para os livros de As Crônicas de Gelo e Fogo, e, ao que tudo indica, ele se manterá para o próximo volume. Ainda que esse modelo mude (e isso já ocorreu no lançamento dos volumes anteriores), é muito provável que já se tenha vários projetos engatilhados para a arte de capa.

No que concerne ao marketing, geralmente o planejamento é feito mais ou menos na época em que a capa e o original são entregues, para ser executado nos meses seguintes. Acontece, porém, que um plano de marketing para The Winds of Winter não tem de fazer o público descobrir a obra: a maior parte dos potenciais leitores já conhece muito bem a série de livros de George R. R. Martin, sabe quem é o autor e que o sexto volume é aguardado. Isso não significa, porém, que nada tem de ser feito: há, ainda, os leitores mais casuais, que têm de ser “avisados” por meios comuns sobre o lançamento do livro. O fato de grande parte do marketing hoje ser digital também é um enorme facilitador.

George R. R. Martin na sede da Random House, onde teve que autografar “algumas” cópias de Fire & Blood. Foto: GRRM, Twitter.

O artigo de Lough foi escrito em 2016, quando a adaptação Game of Thrones ainda não havia terminado, mas me arrisco a dizer que o planejamento de marketing para Os Ventos do Inverno, diante da recepção largamente negativa do fim da série de TV, terá de incluir também uma tentativa de recapturar muitos leitores para o universo dos livros. Nada impossível de ser feito, porém, dada a imensa magnitude de evidência que a adaptação televisiva ainda proporciona ao ciclo de livros.

Na parte de vendas para as livrarias, a coisa também é bem mais fácil do que para um livro “comum”. A editora não precisa convencer nenhum livreiro ou grande conglomerado a comprar The Winds of Winter, apenas confirmar a aquisição. Provavelmente, também, já se tem uma boa ideia da parte numérica propriamente dita, do número de pedidos, tanto pela expertise derivada da publicação de A Dance with Dragons quanto pelos planos engendrados para a publicação em 2016.

A diagramação, necessária para a posterior impressão, demora de duas a seis semanas para ser realizada, mas no caso de Os Ventos de Inverno o processo também pode ser acelerado, tanto com um aumento do orçamento quanto pelo fato de que já há um molde na forma dos volumes anteriores da série.

Quanto à impressão, não haveria grandes mudanças, mas ainda assim seria possível para a editora pagar mais para as gráficas agilizarem o processo. Em um post na Tor.com é possível ver o passo a passo da impressão de outro blockbuster de fantasia, A Memory of Light, décimo quarto e último volume da série A Roda do Tempo.

A edição: o xis da questão

Para além da aceleração dos processos mais logísticos da publicação, que é possível com pré-planejamento e bastante investimento, um dos pontos centrais para o rápido lançamento de The Winds of Winter após o término da escrita reside no processo peculiar de edição dos livros de As Crônicas de Gelo e Fogo.

Via de regra, depois que o autor entrega seu original, o texto passa pelo editor e por um ou mais preparadores, copidesques e revisores. Essas últimas etapas não podem ser puladas nem aceleradas, pois é preciso uma versão final vinda do autor para que elas sejam feitas, mas a edição propriamente dita encontra uma especificidade nas obras de George R. R. Martin.

Geralmente, é só após a entrega do original que os editores e editoras vão ler a obra, analisá-la e fazer ao autor as recomendações que julgam necessárias para a melhoria do texto em geral. Os profissionais muitas vezes fazem anotações pontuais no original para abordar questões específicas, mas podem chegar a fazer sugestões de grandes edições estruturais, na ideia da história em si ou em sua apresentação.

Para ilustrar, seguem alguns exemplos de comentários feitos por Anne Groell a capítulos enviados por George em parciais de A Dance with Dragons. Ela faz comentários que vão desde a repetição de expressões a sugestão de mais contexto e explicação para algumas situações, e até perguntas sobre possíveis teorias. As fotos foram tiradas por _honeybird na coleção de Martin da Cushing. Basta clicar nas fotos para ver as anotações em tamanho maior:

No caso de The Winds of Winter e dos outros livros de As Crônicas de Gelo e Fogo, porém, a peculiaridade é que muito desse trabalho já é feito antes da entrega final. Adam Whitehead, comentando no artigo de Lough, esclareceu o seguinte sobre o processo de escrita e edição de Martin:

GRRM não escreve rascunhos dos livros. Ele escreve rascunhos de capítulos (às vezes uma série de vários capítulos de um mesmo personagem ponto de vista), depois volta, reescreve, lapida e os edita. Aí, avança para outro personagem. Às vezes decisões tomadas para um novo personagem afetam outros capítulos previamente “finalizados”, o que causa atrasos e o efeito borboleta.

Quando ele tem um bloco de capítulos prontos com os quais está 100% satisfeito, que podem variar de dois a duas dúzias, ele os envia para a editora. A editora faz sugestões, que ele então incorpora enquanto ainda trabalha em material novo. Ele também escreve de maneira não-linear, saltando de personagem em personagem ao invés de capítulo em capítulo (por exemplo, ele escreveu quase todos os capítulos de Tyrion no livro 3 durante a escrita do livro 2). É por isso que não dá para ele simplesmente publicar o que já tem para ficar à frente da HBO, já que o que está 100% finalizado agora pode ser os capítulos 2 a 20, 30 a 33, 45 e 60, e ele pode nem ter escrito o prólogo e o primeiro capítulo ainda.

Assim, quando ele escreve o último capítulo do livro e o envia para edição, é só um pedacinho que precisa ser trabalhado, em vez da coisa toda. Ainda se precisa fazer edição linha a linha e revisão de continuidade, mas a edição profunda acontece enquanto a primeira fase de escrita ainda está em andamento.

Parcial de janeiro de 2004 de A Feast for Crows. Fonte: Elio García.

Isso explica bastante coisa, tanto sobre como o processo é acelerado após a entrega do original quanto por que os livros de Martin demoram tanto. Aparentemente ganha-se tempo após a entrega, mas a edição mais pesada e estrutural ainda existe. A diferença é que ela é feita enquanto George ainda está escrevendo o livro.

Ainda assim, não é como se Martin entregasse o texto e ele já estivesse pronto para diagramação e impressão. Ainda há trabalho a fazer após a entrega do original, tanto por ele mesmo quanto por outros profissionais. No longo post de maio de 2011, além de relatar vários dos “pacotes” de capítulos que enviou para a editora ao longo do período entre 2005 e 2011, o autor revela técnicas que utiliza para polir o texto após a entrega:

Primeiro, minhas editoras e eu tomamos algumas decisões a respeito de onde terminar este livro, que envolveram passar uns capítulos para o próximo volume, The Winds of Winter. Em uma série como A Song of Ice and Fire, sempre há deliberações a fazer a respeito de onde terminar um livro e começar o seguinte, já que se está lidando com única grande e longa história. Será que a cena tal funciona melhor no final de um livro ou no começo do próximo? O personagem tal deveria terminar com um gancho ou com alguma espécie de resolução (seja ela permanente ou temporária)? E daí em diante. E por aí vai.

Em segundo lugar, eu enxuguei o texto. Essa é uma técnica que aprendi em Hollywood, onde meus roteiros sempre ficavam longos demais. “Isso aqui está longo demais,” dizia o estúdio. “Corte oito páginas.” Mas eu odiava perder qualquer das coisas boas — cenas, diálogos, momentos de ação — então ao invés disso eu repassava o roteiro, aparando e compactando linha a linha, palavra por palavra, cortando a gordura e deixando só o músculo. Descobri que esse processo era tão valioso que fiz o mesmo com todos os meus livros desde que saí de Los Angeles. É o último estágio do processo. Terminar o livro, e depois repassá-lo, cortando, cortando, cortando. Sinto que gera um texto mais compacto e robusto. No caso de A Dance with Dragons, meu enxugamento — a maior parte dele feito depois que anunciamos a data de publicação do livro, mas antes de eu entregar os capítulos finais — por si só reduziu o número de páginas em quase oitenta.

Os capítulos removidos da versão final de A Dance with Dragons são aqueles de Os Ventos do Inverno que George já divulgou em eventos, como teaser em edições do quinto livro, em seu site ou no aplicativo oficial de As Crônicas de Gelo e Fogo. Traduzimos esses capítulos e eles estão disponíveis em nossa página especial.

As quase oitenta páginas que George conseguiu reduzir do original enxugando o texto representavam mais ou menos 5% do total. A certa altura, o livro estava chegando às 1700 páginas (pela contagem do processador de texto WordStar, do DOS, que o autor ainda utiliza), um número que impossibilitaria que ele fosse publicado em um só volume.

Em outra passagem desse grande e elucidativo post, a prática de Martin de editar enquanto escreve fica ainda mais clara, quando ele fala sobre as parciais enviadas à editora nos anos imediatamente seguintes à publicação de O Festim dos Corvos:

A parcial mais antiga nos meus arquivos data de janeiro de 2006. Àquela altura eu tinha 542 páginas prontas. Agora, lembrem-se, foi em junho de 2005 que dividi A Feast for Crows em dois livros paralelos, e escrevi meu infame (e, em retrospecto, mal-pensado) posfácio “Enquanto isso, na Muralha…”. A Feast for Crows, quando entregue, tinha 1063 páginas no original. À época da divisão, vendo todo o material de Tyrion e Daenerys que eu tinha removido, concluí que precisava de mais umas 400 e poucas páginas para ter outro livro do mesmo tamanho, e isso foi, provavelmente, o que me fez dizer que o livro seguinte sairia dentro de um ano. Que belas palavras. Nunca mais faço isso.

[…]

E o ano e meio seguintes provaram a bobagem que havia sido minha previsão. A parcial seguinte que enviei para a Bantam, datada de outubro de 2007, tinha 472 páginas. Sim, no ano e meio entre as duas parciais eu consegui DESESCREVER umas setenta páginas. Eu estava fazendo muito mais revisão e reescrita — e reestruturação — nessa época do que progredindo de fato.

Lista de capítulos de O Festim dos Corvos
Comparativo de capítulos entre uma parcial e versão final de A Feast for Crows, na Universidade Texas A&M. A parcial de outubro de 2003 ainda incluía capítulos de Jon, Tyrion e Daenerys. Foto: u/GRVrush2112, reddit.

Leitores já fizeram comparações prévias de capítulos divulgadas por Martin e as versões finais publicadas, e encontraram diferenças substanciais e (às vezes) bastante interessantes, até para a fundamentação de teorias a respeito dos rumos da história. No reddit, as séries de artigos “How GRRM Rewrites“, de zionius, e “ASOIAF Archives“, de Jen Snow, tratam do assunto em detalhes.

A questão aqui, enfim, é que o processo de escrita e edição de Martin é muito pouco linear. Não apenas o autor não escreve os livros na ordem em que os capítulos são publicados, como também a edição é feita de forma muitas vezes concomitante com a escrita, e não só depois de todo o texto estar pronto. Isso ao mesmo tempo significa uma aparente demora na entrega do original, mas é o que permite também a aceleração da publicação tão logo ele seja entregue.

E o lançamento no Brasil?

Logo de Os Ventos do Inverno baseado na identidade visual dos livros de As Crônicas de Gelo e Fogo na Suma.

Tudo bem, então. Já sabemos que o livro sairá no Reino Unido e nos Estados Unidos mais ou menos três meses depois de George entregar o original. Mas e no Brasil? Quanto tempo depois da publicação em inglês o livro sairá por aqui? Será possível haver lançamento simultâneo de Os Ventos do Inverno em nosso idioma?

Perguntei à editora de George R. R. Martin na Suma, Beatriz d’Oliveira, se já havia algum planejamento específico da casa para The Winds of Winter, mas a resposta foi negativa. Beatriz afirmou que a editora tentará fazer o livro com “a maior qualidade e agilidade possíveis”, mas que como no momento não há previsão da entrega ou publicação dele, “não cabe comentar sobre isso”.

Isso não significa, porém, que não possamos especular, de forma razoavelmente fundamentada, sobre a viabilidade de uma publicação simultânea e possíveis prazos para o lançamento do sexto livro de As Crônicas de Gelo e Fogo em território brasileiro.

Em primeiro lugar, é importante levarmos em conta que essa será a primeira vez que um livro da série principal será lançado quando todos os anteriores já estão publicados no Brasil. Quando A Dance with Dragons saiu em inglês, em julho de 2011, apenas os dois primeiros volumes de As Crônicas de Gelo e Fogo haviam sido lançados por aqui pela antiga detentora dos direitos, a editora Leya. A Tormenta de Espadas só seria publicado em setembro daquele ano, e O Festim dos Corvos em fevereiro de 2012. Assim, não havia sequer razão para que houvesse publicação simultânea àquela época, e A Dança dos Dragões saiu em edição nacional apenas em junho de 2012.

Como os mais antigos certamente se lembrarão, a primeira impressão do quinto livro saiu com um capítulo a menos, o que levou a editora a fazer um recall da obra. Além disso, com mudanças no processo de tradução, agora feita diretamente do inglês para o português brasileiro, houve diversas inconsistências em relação aos volumes anteriores, que adaptavam a versão de Jorge Candeias para o português europeu.

Em 2014, Martin publicou, em coautoria com Linda Antonsson e Elio García, o tomo enciclopédico O Mundo de Gelo e Fogo. O lançamento em inglês aconteceu em 28 de outubro de 2014, e a edição nacional da Leya saiu menos de um mês depois, em 21 de novembro. Dessa vez, não houve exclusão de um capítulo inteiro, mas o livro de luxo foi publicado com inúmeros erros. Uma edição revisada, mas que ainda manteve diversos dos problemas, saiu em outubro de 2017 (acompanhada de um pôster de genealogias que ajudei a Leya a elaborar).

Anne Groell com o original de “Fire & Blood”, no final de abril de 2018. Foto: Del Rey Books, Twitter.

Em 2018 foi a vez de Fogo & Sangue, livro de história imaginária composto em grande parte por material “extra” de O Mundo de Gelo e Fogo, chegar às livrarias. O grupo Companhia das Letras adquiriu os direitos de publicação da obra (e de todo o catálogo de Martin na Leya) e o publicou no Brasil em simultâneo com o lançamento internacional, no dia 20 de novembro, pelo selo Suma.

Para esse lançamento simultâneo, a equipe de produção da Suma provavelmente teve de empreender esforços similares aos da Bantam e da Harper para a publicação acelerada. Pouco antes do lançamento do livro, entrevistei os tradutores Regiane Winarski e Leonardo Alves, que revelaram que o livro foi dividido em dois, e que cada um gastou mais ou menos um mês para completar a parte que lhe coube. Eles disseram também que faziam envios parciais de suas partes, para que a preparação de texto e a revisão já fossem adiantadas.

Já que isso foi possível com Fogo & Sangue, haveria então a possibilidade de se fazer o mesmo com Os Ventos do Inverno? Na minha opinião, as coisas seriam um pouco mais complicadas para o sexto livro de As Crônicas de Gelo e Fogo.

Quando George R. R. Martin anunciou que A Dance with Dragons sairia no Reino Unido na mesma data de lançamento dos Estados Unidos, um leitor espanhol perguntou a respeito da publicação em seu país. Parris McBride, esposa de Martin, respondeu o seguinte:

A editora de George na Espanha é a Gigamesh. Você pode descobrir mais no site deles, ou escrevendo diretamente a eles para perguntar sobre os planos de publicação.

Todas as editoras estrangeiras têm de esperar até receberem o original final e revisado para passá-lo ao tradutor. Depois que a tradução ficar pronta, a editora tem que fazer todo o trabalho editorial, decidir quando Dança vai entrar em seu cronograma de publicação, o que não está sob o controle de George.

O maior problema para uma publicação simultânea, assim, reside na data em que as editoras internacionais receberiam o original revisado em inglês. No caso de Fire & Blood, o texto final parece ter ficado pronto bem antes do lançamento (já que há uma foto de Anne Groell com o manuscrito em abril de 2018), mas provavelmente não será assim com o sexto livro da série principal.

Aliás, até em Fogo & Sangue isso foi um problema. Há discrepâncias nos textos das edições internacionais (incluindo a brasileira), pelo fato de algumas últimas correções no texto em inglês terem sido feitas depois de as editoras internacionais já terem recebido o original para tradução. Roberto Mattos, o “Alto Valiriano”, tratou do assunto neste artigo.

No caso de Os Ventos do Inverno, o intervalo entre o recebimento do original final e a data de publicação nos Estados Unidos será, provavelmente, bastante curto. Como vimos anteriormente, a versão final do original de A Dance with Dragons, após copidesque e revisões (a versão que seria enviada para as editoras internacionais) ficou pronta em 19 de maio, e o livro já estava nas prateleiras em 12 de julho. Foram, portanto, menos de dois meses, o que é um prazo praticamente impossível para que qualquer editora traduza, edite, revise, diagrame, imprima e distribua um livro.

A título de exemplo, nenhuma editora internacional publicou A Dança dos Dragões em tradução completa em 2011. A solução encontrada por muitas foi a divisão do livro, em duas ou mais partes. Em Portugal, um dos casos mais rápidos, a Saída de Emergência publicou a primeira metade em setembro de 2011 e a segunda parte apenas em janeiro do ano seguinte.

Edições da Suma dos cinco livros já lançados de As Crônicas de Gelo e Fogo. Foto: Editora Suma, Twitter.

Dessa forma, não se trata apenas de a editora brasileira querer para conseguir fazer um lançamento simultâneo. Se George novamente anunciar a data de publicação antes de ter o original final em mãos (como fez com Dance, em março de 2011), a equipe de produção poderá se preparar para agilizar os processos logísticos relativos ao lançamento do livro, mas existe um limite para a aceleração do trabalho direto com o texto.

Um livro de mil laudas, como Os Ventos do Inverno provavelmente terá, leva mais ou menos três meses para ser traduzido, por um profissional rápido. A solução encontrada para acelerar o processo em Fogo & Sangue foi dois tradutores trabalharem no texto, cada um em partes diferentes, mas seria essa uma boa estratégia também para The Winds of Winter? O tom mais enciclopédico e objetivo da história imaginária é bem diferente da densidade da série principal, em que todo o estilo do autor se faz presente nos mais diversos personagens.

Ainda que se repita essa escolha e se divida o trabalho entre dois ou mais tradutores, ainda haverá as tarefas de preparação e revisão a serem realizadas também, e em tempo (muito) recorde. Mesmo admitindo que isso seria possível, ainda haveria o risco de um trabalho a toque de caixa resultar em problemas como os que vimos nas primeiras edições de A Dança dos DragõesO Mundo de Gelo e Fogo.

Assim, se o intervalo curto entre a finalização do original e a data de publicação das edições americana e britânica realmente se mantiver, considero improvável que tenhamos publicação simultânea para The Winds of Winter no Brasil — o que, claro, não é um problema ou algo ruim per se. Com um processo já bastante rápido, acredito que o livro possa ser lançado por aqui alguns meses depois da publicação nos Estados Unidos.

E qual é o prazo, afinal?

Como já adiantamos na introdução, The Winds of Winter provavelmente será publicado nos Estados Unidos e no Reino Unido mais ou menos três meses depois de George R. R. Martin entregar o original à editora, segundo o próprio autor. Prazos similares têm sido o histórico para volumes anteriores de As Crônicas de Gelo e Fogo, e não parece que com o livro seis isso será diferente.

Apesar de reduzido, esse tempo é factível tanto por se tratar de um blockbuster literário, o que torna viável que as editoras concentrem mais esforços e recursos na produção desse livro em detrimento de outros, quanto pelo processo peculiar de escrita e edição de Martin. O autor não apenas não escreve os livros de maneira linear, como também já realiza grande parte do trabalho de edição, que geralmente só seria feito depois da entrega do original, antes dela.

Quanto à publicação de Os Ventos do Inverno no Brasil, a editora Suma ainda não tem planos específicos para o livro, mas de qualquer forma parece improvável que vá haver lançamento simultâneo. O curtíssimo prazo entre a finalização do original em inglês e a data de publicação nos Estados Unidos inviabiliza que as editoras internacionais consigam traduzir, editar, revisar, diagramar, imprimir e distribuir o livro para um lançamento na mesma data em seus países.


George R. R. Martin recentemente revelou estar em um bom momento da escrita de Os Ventos do Inverno, mas não informou data de término ou de lançamento.

O post Em quanto tempo ‘The Winds of Winter’ será publicado após George R. R. Martin terminá-lo? apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>
https://www.geloefogo.com/2020/06/em-quanto-tempo-the-winds-of-winter-sera-publicado-apos-george-r-r-martin-termina-lo.html/feed 1 107580
Fogo & Sangue https://www.geloefogo.com/livros/fogo-e-sangue?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=fogo-sangue https://www.geloefogo.com/livros/fogo-e-sangue#respond Thu, 19 Sep 2019 15:15:51 +0000 https://www.geloefogo.com/?page_id=106944 Fogo & Sangue é o segundo livro de história imaginária publicado por George R. R. Martin. Foi lançado em 2018 […]

O post Fogo & Sangue apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>
Capa da edição brasileira de Fogo & Sangue (editora Suma, 2018).

Fogo & Sangue é o segundo livro de história imaginária publicado por George R. R. Martin. Foi lançado em 2018 nos Estados Unidos com o título Fire & Blood, e teve publicação simultânea no Brasil.

Estrutura

Fogo & Sangue é um livro que conta a história da Casa Targaryen em Westeros, da Conquista de Aegon à regência de Aegon III. No entanto, ele não é um romance. A obra não é escrita como uma narrativa literária tradicional, como os livros da série principal de As Crônicas de Gelo e Fogo e os contos de Dunk e Egg.

O livro é o que George R. R. Martin chama de “história imaginária“. O termo “história” é usado nessa expressão no sentido da disciplina que estuda eventos passados, e George a adjetiva como “imaginária” para esclarecer que não se trata da história do mundo real, mas sim de um universo inventado.

Martin já disse que o modelo para o livro foi a coleção sobre a história dos Plantagenetas de Thomas B. Costain, volumes de história popular, com apelo para leitores não-acadêmicos, mas que não são ficção histórica. Em Fogo & Sangue, GRRM emula um livro de história real, como se fosse escrito por um personagem historiador de seu mundo ficcional.

Fogo & Sangue é um livro que existe também dentro do próprio universo de As Crônicas de Gelo e Fogo. Seu autor é o Arquimeistre Gyldayn, da Cidadela de Vilavelha, que viveu mais ou menos 100 anos antes dos eventos de A Guerra dos Tronos. A ideia é que Gyldayn, como os historiadores do mundo real, após estudar uma série de relatos históricos sobre os Targaryen, compilou sua própria obra sobre a história da Casa, muitos anos depois dos acontecimentos.

Escrita

Fogo & Sangue, de certa forma, é um livro acidental, nascido de material criado por George R. R. Martin originalmente para outra obra. A história de sua escrita remonta à criação de O Mundo de Gelo e Fogo, planejado por George e sua editora desde a década de 2000 como um livro de referência sobre história e geografia do mundo ficcional de As Crônicas de Gelo e Fogo.

Em 2008, o plano era que esse worldbook fosse baseado nas informações que já constavam no material publicado, que seriam compiladas por Elio García e Linda Antonsson, totalizando aproximadamente 50 mil palavras. Martin seria responsável apenas por revisar e escrever algumas notas laterais complementares para O Mundo. A execução foi um pouco diferente, porém.

Martin acabou escrevendo mais do que o planejado, e grande parte do texto bruto escrito por ele para O Mundo de Gelo & Fogo ficou de fora do livro por questões de espaço. Esse material deu origem aos contos A Princesa e a Rainha, O Príncipe de WesterosOs Filhos do Dragão, versões um pouco reduzidas do texto de “Gyldayn”, publicados em antologias em 2013, 2014 e 2017 (no Brasil em 2017, 2015 e 2018), respectivamente.

Desse material surgiu também a ideia para a publicação de outro volume de história imaginária, especificamente focado nos Targaryen – pois a maior parte do texto extra era sobre essa Casa. O livro começou a ser chamado extraoficialmente de “GRRMarillion”, em referência bem-humorada a O Silmarillion, livro de J. R. R. Tolkien sobre as origens da Terra-média.

No entanto, como o material previamente escrito por George não detalhava toda a história dos Targaryen (chegando apenas até o reinado de Aegon V), a ideia era que o livro fosse lançado após o término de As Crônicas de Gelo e Fogo, quando o autor poderia complementar o que já estava pronto com textos novos.

Esse foi o plano durante alguns anos, até que em 2017 as coisas mudaram. George anunciou que havia tanto material pronto para o livro – que a essa altura já era chamado Fire and Blood – que ele e as editoras decidiram dividi-lo em dois, com o primeiro volume a ser publicado em 2018 ou 2019. Sabe-se que pelo menos seis capítulos já estavam prontos desde a escrita de O Mundo de Gelo e Fogo.

Assim, o primeiro volume estava em grande parte já escrito quando a decisão de publicá-lo foi tomada, mas o autor também escreveu material novo para o livro. Elio García revelou, por exemplo, que Martin desenvolveu mais o longo reinado de Jaehaerys I (que no material prévio era apenas relatado de forma mais breve).

George também já disse que as séries sucessoras de Game of Thrones tiveram relação com a decisão de dividir Fogo & Sangue em dois e adiantar o lançamento do primeiro volume. Em posts em seu blog, ele parece indicar implicitamente que uma das séries em desenvolvimento retrata eventos que estão nessa obra.

Em resumo, portanto, o livro nasceu da empolgação de George R. R. Martin ao escrever textos para O Mundo de Gelo e Fogo, no começo da década de 2010. O material sobre os Targaryen que não foi incluído naquele livro por questões de espaço foi, em 2017, aproveitado e lapidado para Fogo & Sangue, que também foi completado com novos textos. Segundo Martin, o manuscrito do livro totalizou 989 páginas.

Ilustrações

Fogo & Sangue conta com quase 80 novas ilustrações em preto e branco de autoria do artista Douglas Wheatley (que também já havia trabalhado em O Mundo de Gelo e Fogo).

Várias delas foram divulgadas por GRRM ou por suas editoras, à medida que a data de publicação se aproxima. Reunimos aqui as ilustrações divulgadas fora do livro. Clique em alguma das figuras abaixo para abrir a galeria:

Árvore genealógica

O Mundo de Gelo e Fogo incluiu a mais completa árvore genealógica dos Targaryen que existia até então. O primeiro volume de Fogo & Sangue expandiu ainda mais a genealogia da Casa, mas apenas até a data dos últimos eventos relatados no livro.

Como parte da promoção do livro na San Diego Comic-Con de 2018, a editora Bantam divulgou uma prévia da árvore. Essa versão continha algumas novidades, mas também alguns erros. Em outubro, a editora divulgou a versão final:

Árvore genealógica Targaryen
Árvore genealógica da Casa Targaryen.

Entre as novidades e erros corrigidos estão:

  • Confirmação de que Rhaena Targaryen (filha de Aenys I) se casou com Androw Farman após a morte de Maegor. Em Os Filhos do Dragão, já havia a informação de que o casal havia se aproximado durante a estadia dela em Belcastro, mas sem menção a casamento:
  • A descendência de Alyn “Punho-de-Carvalho” Velaryon e Baela Targaryen é especificada pela primeira vez: Laena Velaryon. Na árvore genealógica presente em O Mundo de Gelo e Fogo não havia o nome da prole de Alyn e Baela:
  • Os filhos de Viserys Targaryen e Larra Rogare, Aegon e Aemon, foram adicionados à árvore, pois nasceram antes do fim dos eventos retratados em Fogo e Sangue. Viserys se tornaria mais tarde Viserys II, Aegon seria coroado como Aegon IV, e Aemon ficaria conhecido como “O Cavaleiro do Dragão”.

Houve mudanças também quanto aos filhos de Jaehaerys I e Alysanne, resultado da expansão da história do reinado do casal por George.

É importante ressaltar que alguns eventos conhecidos (como o casamento entre Rhaena e Garmund Hightower, e o nascimento de Naerys Targaryen, filha de Viserys II e Larra Rogare) não aparecem nessa árvore, pois ocorreram depois de 136 DC – ano da maioridade de Aegon III, quando termina o relato desse primeiro volume de Fogo & Sangue.

Publicação, edições e capas

O livro foi lançado internacionalmente no dia 20 de novembro de 2018. No Brasil, a editora Suma,s da Companhia das Letras, publicou Fogo & Sangue simultaneamente com a versão americana. A edição nacional foi traduzida diretamente do inglês para o português brasileiro, trabalho conjunto de Regiane Winarski e Leonardo Alves (que já colaborara nas edições da Leya de O Mundo de Gelo e FogoMulheres Perigosas e com o Atlas das Terras de Gelo e Fogo).

A ilustração da capa da Suma, assinada pelo artista belga Jean-Michel Trauscht, tem o castelo de Harrenhal ao fundo, palco de algumas batalhas mencionadas em Fogo & Sangue. Clique em alguma das figuras abaixo para abrir a galeria com capas internacionais da obra:

Fogo e Sangue Brasil Fire and Blood Bantam Fire and Blood German edition

Além das edições regulares, a editora americana Subterranean Press lançou uma versão exclusiva, de luxo, com mais ilustrações assinadas por Gary Gianni (que ilustrou O Cavaleiro dos Sete Reinos), além das de Douglas Wheatley:

Fire and Blood Subterranean Press
Capa da edição de luxo de Fire and Blood, da Subterranean Press.

O post Fogo & Sangue apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>
https://www.geloefogo.com/livros/fogo-e-sangue/feed 0 106944
‘Fogo & Sangue’: o guia completo https://www.geloefogo.com/2018/11/fogo-sangue-o-guia-completo.html?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=fogo-sangue-o-guia-completo https://www.geloefogo.com/2018/11/fogo-sangue-o-guia-completo.html#respond Fri, 09 Nov 2018 00:10:46 +0000 https://www.geloefogo.com/?p=103557 Um guia com todas as informações sobre Fogo e Sangue, novo livro de George R. R. Martin sobre a história dos Targaryen. Inclui sumário, história da escrita, ilustrações e capas internacionais.

O post ‘Fogo & Sangue’: o guia completo apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>

Já não é mais novidade para as leitoras e leitores de As Crônicas de Gelo e Fogo e fãs de George R. R. Martin que Fogo & Sangue, livro sobre a história dos Targaryen, foi lançado em 20 de novembro. Nos últimos meses, e especialmente nas últimas semanas, publicamos várias novidades sobre a obra no Gelo & Fogo.

Sabemos, porém, que nem todos os leitores e leitoras conhecem a história, o conteúdo e a estrutura desse livro, e escrevi este post para resolver esse problema. Confira a seguir todas as informações conhecidas até o momento a respeito de Fogo & Sangue, a mais nova obra de George R. R. Martin.

Estrutura

Fogo & Sangue é um livro que conta a história da Casa Targaryen em Westeros, da Conquista de Aegon à regência de Aegon III. No entanto, a primeira coisa que todo leitor deve saber antes de começar a leitura do livro é que ele não é um romance. Isso quer dizer que ele não é escrito como uma narrativa literária tradicional, como os livros da série principal de As Crônicas de Gelo e Fogo e os contos de Dunk e Egg.

O livro é o que George R. R. Martin chama de “história imaginária“. O termo “história” é usado nessa expressão no sentido da disciplina que estuda eventos passados, e George a adjetiva como “imaginária” para esclarecer que não se trata da história do mundo real, mas sim de um universo inventado.

O autor já disse que o modelo para o livro foi a coleção sobre a história dos Plantagenetas de Thomas B. Costain. São volumes de história popular, com apelo para leitores não-acadêmicos, mas que ainda assim não são ficção histórica. Assim, Martin escreveu Fogo & Sangue emulando um livro de história real, como se fosse escrito por um personagem historiador de seu mundo ficcional.

Fogo & Sangue é um livro que existe também dentro do próprio universo de As Crônicas de Gelo e Fogo. Seu autor é o Arquimeistre Gyldayn, da Cidadela de Vilavelha, que viveu mais ou menos 100 anos antes dos eventos de A Guerra dos Tronos.

Gyldayn
Arquimeistre Gyldayn, o “autor”  de Fogo & Sangue. Arte: Douglas Wheatley.

A ideia é que Gyldayn, como os historiadores do mundo real, após estudar uma série de relatos históricos sobre os Targaryen, compilou sua própria obra sobre a história da Casa, muitos anos depois dos acontecimentos.

E é claro que Fogo & Sangue não é a primeira obra de Martin nesse formato. O livro de referência O Mundo de Gelo & Fogo, publicado em 2014 e mais conhecido dos leitores, tem como autor ficcional o meistre Yandel, que por vezes faz referência ao livro de Gyldayn e o usa como fonte em sua obra.

Fogo & Sangue não é nem mesmo o primeiro texto atribuído ficcionalmente a Gyldayn. A Princesa e a RainhaO Príncipe de WesterosOs Filhos do Dragão, também são de autoria do Arquimeistre. Na verdade, os três contos, o livro de referência e Fogo & Sangue têm todos uma mesma raiz, e explicarei como eles surgiram a seguir.

História da escrita

Edição brasileira de 2017 de O Mundo de Gelo e Fogo. Esse volume conta uma árvore genealógica que a equipe do Gelo & Fogo ajudou a elaborar.

Fogo & Sangue, de certa forma, é um livro acidental, nascido de material criado por George R. R. Martin originalmente para outra obra. A história de sua escrita remonta à criação de O Mundo de Gelo e Fogo, planejado por George e sua editora desde a década de 2000 como um livro de referência sobre história e geografia do mundo ficcional de As Crônicas de Gelo e Fogo.

Em 2008, o plano era que esse livro fosse baseado nas informações que já constavam no material publicado, que seriam compiladas por Elio García e Linda Antonsson, totalizando aproximadamente 50 mil palavras.

Martin seria responsável apenas por revisar e escrever algumas notas laterais complementares para O Mundo. A execução foi um pouco diferente, porém. Nas palavras do próprio George, em 2014, pouco antes da publicação:

Elio e Linda passaram por todos os romances publicados, as histórias de Dunk & Egg etc, pegaram as referências históricas, lendas e afins, organizaram tudo em uma cronologia, e escreveram um primeiro rascunho. Aí eu entrei, revisei o rascunho deles, preenchendo as lacunas, respondendo perguntas, resolvendo contradições, e acrescentando material novo onde havia pouco ou nenhum nos livros publicados. É claro que, como aconteceu com os romances, “o conto cresceu ao ser contado”, e acabei acrescentando MUITO… tanto que no fim tivemos que cortar mais de duzentas mil palavras (que em dado momento estarão no GRRMarillion). Nos casos em que escrevi demais, demais, demais, Elio e Linda então voltaram e criaram uma versão severamente reduzida.

Por exemplo, o relato completo da Dança dos Dragões deu 80.000 palavras, um romance por si só. Gardner Dozois diminuiu para 30.000 palavras para MULHERES PERIGOSAS, criando “A Princesa e a Rainha.” Elio e Linda criaram um resumo totalmente DIFERENTE (ainda mais curto, acredito) para O MUNDO DE GELO E FOGO, trabalhando com o mesmo texto. A versão completa, vocês vão ter que esperar…

Fica claro, portanto, que grande parte do texto bruto escrito por George para O Mundo de Gelo & Fogo acabou ficando de fora do livro por questões de espaço. Esse material deu origem aos contos A Princesa e a Rainha, O Príncipe de WesterosOs Filhos do Dragão, versões um pouco reduzidas do texto de “Gyldayn”, publicados em antologias em 2013, 2014 e 2017 (no Brasil em 2017, 2015 e 2018), respectivamente.

Desse material surgiu também a ideia para a publicação de outro volume de história imaginária, especificamente focado nos Targaryen – pois a maior parte do texto extra era sobre essa Casa. O livro começou a ser chamado extraoficialmente de “GRRMarillion”, em referência bem-humorada a O Silmarillion, livro de J. R. R. Tolkien sobre as origens da Terra-média.

No entanto, como o material previamente escrito por George não detalhava toda a história dos Targaryen (chegando apenas até o reinado de Aegon V), a ideia era que o livro fosse lançado após o término de As Crônicas de Gelo e Fogo, quando o autor poderia complementar o que já estava pronto com textos novos.

Esse foi o plano durante alguns anos, até que em 2017 as coisas mudaram. George anunciou que havia tanto material pronto para o livro – que a essa altura já era chamado Fire and Blood – que ele e as editoras decidiram dividi-lo em dois, com o primeiro volume a ser publicado em 2018 ou 2019. As partes que sabidamente já estavam prontas desde a escrita de O Mundo de Gelo e Fogo eram:

  • The Targaryen Conquest” (“A Conquista Targaryen”), relatando a conquista dos Sete Reinos por Aegon I, publicada praticamente inteira em O Mundo de Gelo e Fogo;
  • The Peace of the Dragon” (“A Paz do Dragão”), sobre o reinado de Aegon I, que é mencionado apenas brevemente em O Mundo de Gelo e Fogo;
  • The Sons of the Dragon” (“Os Filhos do Dragão”), relato das vidas de Aenys I e Maegor, que teve uma versão resumida publicada em The Book of Swords (no Brasil, Crônicas de Espada e Feitiçaria);
  • Heirs of the Dragon” (“Herdeiros do Dragão”), texto de 17 mil palavras com foco no reinado de Jaehaerys I e a crise sucessória após a morte de seus filhos, que teve uma versão resumida publicada como The Rogue Prince (no Brasil, O Príncipe de Westeros);
  • The Dying of the Dragons” (“A Morte dos Dragões”), relato de 60 mil palavras sobre a Dança dos Dragões, resumido em 30 mil palavras como A Princesa e a Rainha;
  • Aftermath – The Boy King and His Regents” (“Rescaldo – O Rei Menino e seus Regentes”), quase tão longo quanto “A Morte dos Dragões”, com foco no início do reinado de Aegon III.

Assim, o primeiro volume estava em grande parte já escrito quando a decisão de publicá-lo foi tomada. Ainda assim, o autor escreveu material novo para o livro. Elio García revelou, por exemplo, que Martin desenvolveu mais o longo reinado de Jaehaerys I (que no material prévio era apenas relatado de forma mais breve).

George também já disse que as séries sucessoras de Game of Thrones tiveram relação com a decisão de dividir Fogo & Sangue em dois e adiantar o lançamento do primeiro volume. Em posts em seu blog, ele parece indicar implicitamente que uma das séries em desenvolvimento retratam eventos que estão nessa obra.

Em resumo, portanto, o livro nasceu da empolgação de George R. R. Martin ao escrever textos para O Mundo de Gelo e Fogo, no começo da década de 2010. O material sobre os Targaryen que não foi incluído naquele livro por questões de espaço foi, em 2017, aproveitado e lapidado para Fogo & Sangue, que também foi completado com novos textos. Segundo Martin, o manuscrito do livro totalizou 989 páginas.

Conteúdo

Sumário de Fogo & Sangue. Fonte: George R. R. Martin, Facebook.

Capítulos e trecho do livro

George R. R. Martin divulgou em seu blog um excerto do livro, que conta uma viagem da Rainha Alysanne ao Norte, montada em seu dragão Silverwing.

A editora Suma publicou a versão traduzida desse trecho, como estará na edição brasileira do livro, que pode ser lida aqui. Antes dessa postagem da editora, o Gelo & Fogo havia feito também uma tradução própria do excerto, disponível aqui.

Com a aproximação do lançamento de Fogo & Sangue, o perfil de George R. R. Martin no Facebook divulgou todo o sumário da versão final do livro, que contém os seguintes capítulos:

  • Aegon’s Conquest (A Conquista de Aegon)
  • Reign of the Dragon—The Wars of King Aegon I (Reinado do Dragão: As Guerras do Rei Aegon I)
  • Three Heads of the Dragon—Governance under King Aegon I (Três Cabeças tinha o Dragão – O Governo do rei Aegon I)
  • The Sons of the Dragon (Os filhos do dragão)
  • Prince into King—The Ascension of Jaehaerys I (De príncipe a rei: A ascensão de Jaehaerys I)
  • The Year of the Three Brides—49 A.C. (O ano das três noivas: 49 D.C.)
  • A Surfeit of Rulers (Uma abundância de governantes)
  • A Time of Testing—The Realm Remade (Um tempo de testes: Um reino refeito)
  • Birth, Death and Betrayal under King Jaehaerys I (Nascimento, morte e traição sob o governo do rei Jaehaerys I)
  • Jaehaerys and Alysanne—Their Triumphs and Tragedies (Jaehaerys e Alysanne: Triunfos e tragédias)
  • The Long Reign: Jaehaerys and Alysanne—Policy, Progeny, and Pain (O longo reinado de Jaehaerys e Alysanne: Política, progênie e provação)
  • Heirs of the Dragon—A Question of Succession (Herdeiros do dragão: uma Questão de sucessão)
  • The Dying of Dragons—The Blacks and the Greens (A morte dos dragões: os pretos e os verdes)
  • The Dying of Dragons—A Son for a Son (A morte dos dragões: Um filho por um filho)
  • The Dying of Dragons—The Red Dragon and the Gold (A morte dos dragões: O dragão vermelho e o dourado)
  • The Dying of Dragons—Rhaenyra Triumphant (A morte dos dragões: Rhaenyra triunfante)
  • The Dying of Dragons—Rhaenyra Overthrown (A morte dos dragões: Rhaenyra destituída)
  • The Dying of Dragons—The Short, Sad Reign of Aegon II (A morte dos dragões: O breve e triste reinado de Aegon II)
  • Aftermath – The Hour of the Wolf (O momento posterior: A hora do lobo)
  • Under the Regents—The Hooded Hand (Sob os regentes: A Mão encapuzada)
  • Under the Regents—War and Peace and Cattle Shows (Sob os regentes: Guerra e paz e exposição de gado)
  • Under the Regents—The Voyage of Alyn Oakenfist (Sob os regentes: A viagem de Alyn Punho de Carvalho)
  • The Lyseni Spring and The End of the Regency (A Primavera Lysena e o fim da regência)
  • Lineages and Family Trees (A Sucessão Targaryen: Datada dos anos após a Conquista de Aegon, e Linhagem Targaryen)

Os seis capítulos mencionados em nosso item anterior eram conhecidos por declarações de Elio García, quando revelou informações sobre o processo de escrita e edição de O Mundo de Gelo e Fogo.

Como se vê pela lista final, no processo de edição, os títulos anteriores foram alterados ou adaptados, provavelmente na medida em que George revisava o texto prévio e também o complementava com novas informações. O excerto divulgado por Martin está no capítulo “Jaehaerys e Alysanne: Triunfos e tragédias”.  É provável que ele seja parte do material escrito por Martin em 2017.

Ilustrações

Fogo & Sangue conta com quase 80 novas ilustrações em preto e branco de autoria do artista Douglas Wheatley (que também já havia trabalhado em O Mundo de Gelo e Fogo).

Várias delas foram divulgadas por GRRM ou por suas editoras, à medida que a data de publicação se aproxima. Juntamos todas as ilustrações divulgadas fora do livro aqui (exceto a do Arquimeistre Gyldayn, que está no começo do post). Clique em alguma das figuras abaixo para abrir a galeria:

Árvore genealógica

O Mundo de Gelo e Fogo incluiu a mais completa árvore genealógica dos Targaryen que existia até então. O primeiro volume de Fogo & Sangue expande ainda mais a genealogia da Casa, mas apenas até a data dos últimos eventos relatados no livro.

Em julho, como parte da promoção do livro na San Diego Comic-Con, a Bantam divulgou uma prévia da árvore. Essa versão continha algumas novidades, mas também alguns erros. Em outubro, a editora divulgou a versão final:

Árvore genealógica Targaryen
Árvore genealógica da Casa Targaryen.

Entre as novidades e erros corrigidos estão:

  • Confirmação de que Rhaena Targaryen (filha de Aenys I) se casou com Androw Farman após a morte de Maegor. Em Os Filhos do Dragão, já havia a informação de que o casal havia se aproximado durante a estadia dela em Belcastro, mas sem menção a casamento.
  • A descendência de Alyn “Punho-de-Carvalho” Velaryon e Baela Targaryen é especificada pela primeira vez: Laena Velaryon. Na árvore genealógica presente em O Mundo de Gelo e Fogo não havia o nome da prole de Alyn e Baela.
  • Os filhos de Viserys Targaryen e Larra Rogare, Aegon e Aemon, foram adicionados à árvore, pois nasceram antes do fim dos eventos retratados em Fogo e Sangue. Viserys se tornaria mais tarde Viserys II, Aegon seria coroado como Aegon IV, e Aemon ficaria conhecido como “O Cavaleiro do Dragão”.

Houve mudanças também quanto aos filhos de Jaehaerys I e Alysanne, resultado da expansão da história do reinado do casal por George, como explicou Elio García.

É importante ressaltar que alguns eventos conhecidos (como o casamento entre Rhaena e Garmund Hightower, e o nascimento de Naerys Targaryen, filha de Viserys II e Larra Rogare) não aparecem nessa árvore, pois ocorreram depois de 136 DC – ano da maioridade de Aegon III, quando termina o relato desse primeiro volume de Fogo & Sangue.

Informações sobre Gelo e Fogo?

Quando a publicação de Fogo & Sangue foi anunciada, a editora Bantam lançou uma pequena sinopse do livro, com a seguinte passagem:

O que realmente aconteceu durante a Dança dos Dragões? Por que ficou tão mortal visitar Valíria depois da Perdição? Qual é a origem dos três ovos de dragão de Daenerys? Essas são apenas algumas das questões respondidas nessa crônica essencial, como relatadas por um estudado meistre da Cidadela […]

É claro que a menção aos ovos de dragão de Daenerys gerou rebuliço entre os leitores, uma vez que a versão “oficial” de Illyrio (de que eles vieram das terras além de Asshai) é frequentemente questionada pelos fãs em teorias.

No entanto, respondendo a um leitor que comemorou por finalmente poder saber a origem dos filhos de Daenerys em seu blog, George esclareceu que nunca mencionou nada a esse repeito, e que essa sinopse foi produzida pela editora:

Uh… Eu nunca disse nada sobre Dany, isso foi incluído pela Bantam. Por favor, desconsidere.

Falando também sobre a questão de Valíria, ele completou:

Há algumas pequenas partes e cenas e sugestões no texto a partir das quais o leitor pode extrapolar certas coisas e criar teorias… mas no caso de coisas como Valíria e os ovos de dragão, são todas respostas possíveis, não é a intenção que sejam definitivas.

No Brasil, a editora Suma, responsável pela publicação do livro, traduziu a sinopse da Bantam, que foi reproduzida nos anúncios do livro nos sites das livrarias. Após um alerta nosso no Twitter, aparentemente a editora alterou esse texto em alguns sites e na contracapa do livro.

Assim, a despeito das sinopses comerciais que eventualmente sejam divulgadas, segundo o próprio George R. R. Martin não há nenhuma resposta direta sobre questões de As Crônicas de Gelo e Fogo em Fogo & Sangue.

Lançamento, edições e capas

O livro foi lançado internacionalmente no dia 20 de novembro. No Brasil, a editora Suma (selo da Companhia das Letras), publicou Fogo & Sangue simultaneamente com a versão americana.

O livro foi traduzido diretamente do inglês para o português brasileiro, um trabalho assinado por Regiane Winarski e Leonardo Alves (que já colaborara nas edições da Leya de O Mundo de Gelo e FogoMulheres Perigosas e com o Atlas das Terras de Gelo e Fogo).

Capas internacionais da obra são conhecidas, incluindo a exclusiva brasileira, ilustrada pelo artista belga Jean-Michel Trauscht. A ilustração da capa da Suma tem o castelo de Harrenhal ao fundo, palco de algumas batalhas mencionadas em Fogo & Sangue.

Clique em alguma das figuras abaixo para abrir a galeria:

Fogo e Sangue Brasil Fire and Blood Bantam Fire and Blood German edition

Além das edições regulares, a editora americana Subterranean Press lançará uma versão exclusiva, de luxo, que conta com mais ilustrações assinadas por Gary Gianni (que ilustrou O Cavaleiro dos Sete Reinos), além das de Douglas Wheatley. Abaixo, a capa da Subterranean:

Fire and Blood Subterranean Press
Capa da edição de luxo de Fire and Blood, da Subterranean Press.

Espero que com este guia os fãs de As Crônicas de Gelo e FogoGame of Thrones possam estar mais preparados para o fogo e o sangue que certamente emanarão dessa nova obra de George R. R. Martin.

Os contos derivados do livro (e o trecho já divulgado) deixam bastante claro que mesmo que não relatada em forma de romance, a história da Casa Targaryen contada por George como o Arquimeistre Gyldayn consegue despertar reflexões, emoções e paixões em seus leitores e leitoras.

Fogo & Sangue pode ser adquirido na Amazon com um brinde (um pin da Casa Targaryen).

O post ‘Fogo & Sangue’: o guia completo apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>
https://www.geloefogo.com/2018/11/fogo-sangue-o-guia-completo.html/feed 0 103557
George R. R. Martin 70 anos: 70 fatos sobre o autor https://www.geloefogo.com/2018/09/george-r-r-martin-70-anos-70-fatos-sobre-o-autor.html?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=george-r-r-martin-70-anos-70-fatos-sobre-o-autor https://www.geloefogo.com/2018/09/george-r-r-martin-70-anos-70-fatos-sobre-o-autor.html#comments Thu, 20 Sep 2018 16:59:36 +0000 https://www.geloefogo.com/?p=99135 George R. R. Martin completa 70 anos de idade hoje. Para comemorar a data, a equipe do Gelo & Fogo preparou […]

O post George R. R. Martin 70 anos: 70 fatos sobre o autor apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>
George R. R. Martin aniversário
George abre um presente de aniversário. Fonte: Twitter do autor.

George R. R. Martin completa 70 anos de idade hoje. Para comemorar a data, a equipe do Gelo & Fogo preparou uma pequena espécie de homenagem a esse autor que tanto influencia em nossas vidas.

Nosso “presente” é uma lista com 70 fatos e curiosidades sobre a vida e a obra de Martin – que vai muito além de As Crônicas de Gelo e FogoGame of Thrones.

O post foi feito a quatro mãos, por Ana Carol Alves, Arthur Maia, Rayane Molinario e Felipe Bini.

  1. George nasceu em Bayonne, Nova Jersey, em 1948. A família – pai Raymond, mãe Margaret, e duas irmãs mais novas, Darleen e Janet – vivia em uma casa de três quartos nos projetos habitacionais de baixa renda da cidade. Eles não tinham carro e nunca viajavam nas férias.
  2. Quando nasceu, George foi batizado como George Raymond Martin. O segundo “R”, para Richard, foi adicionado como nome de crisma, aos 13 anos.
  3. O pai de Martin era de descendência italiana e sua mãe era meio irlandesa. Raymond era estivador por profissão, e George passou boa parte da infância observando o tráfego marítimo local nas docas de Bayonne. Essas memórias inspiraram sua história Night Shift.
  4. George R. R. Martin San Diego Comic Con 2014
    George R. R. Martin com um pin de tartaruga em seu boné. Foto: Gage Skidmore. Wikimedia Commons.
    Na infância, Martin teve diversas tartarugas de estimação, que viviam em um castelo de lata. Elas eram os “reis, cavaleiros e príncipes” do mundo que inventava sobre elas. George diz que o personagem que mais se parece consigo é O Grande e Poderoso Tartaruga, de Wild Cards, e usa frequentemente um “pin” de tartaruga em seus bonés ou seus ternos.
  5. Seu pai não tinha o costume de ler (ele gostava de assistir futebol americano e outros esportes, uma paixão compartilhada com George) e sua mãe ocasionalmente comprava bestsellers, e lia livros de Beatrix Potter para ele na infância. Há uma história sobre uma doninha que sua mãe lia, e que ele se lembra de sentir muito medo, aos três anos de idade.
  6. Martin escrevia e vendia histórias para outras crianças da vizinhança. Encerrou seus negócios quando suas histórias começaram a assustar as crianças locais, o que levou as mães de seus amigos a reclamarem com os pais de Martin.
  7. Suas fantasias favoritas de Halloween eram sempre de fantasmas e monstros. Ele gostava muito mais de se sentir assustador do que se vestir de caubói ou palhaço.
  8. Ele sempre foi um grande fã da Marvel e da DC Comics quando criança, e tornou-se um membro ativo do fandom pré-Internet, contribuindo para fanzines e clubes de correspondência.
  9. Entre os primeiros correspondentes de George esteve Howard Waldrop, que também, além de amigo de Martin, se tornou um premiado autor de ficção científica.
  10. Carta de GRRM na “Fantastic Four” número 20, em 1963. Reprodução.
    George escreveu várias cartas que foram publicadas em HQs da Marvel. A primeira delas, na edição número 20 de Fantastic Four, em 1963. Martin já encontrou Stan Lee várias vezes em convenções, mas diz que Lee nunca se lembra de quem ele é.
  11. Martin diz ter sido o primeiro na fila para a primeira Comicon de Nova York – a primeira convenção de quadrinhos da história, que contou com aproximadamente 100 pessoas.
  12. Martin teve uma longa amizade com o falecido quadrinista Len Wein (co-criador de personagens como o Monstro do Pântano para a DC e de alguns dos mais populares X-Men, como Wolverine, Tempestade, Noturno e Colossus, para a Marvel Comics).
  13. Sua música favorita é The Pilgrim, Chapter 33, de Kris Kristofferson, e sua banda favorita é o Grateful Dead.
  14. A cor favorita de Martin é púrpura, e sua estação do ano favorita é o outono.
  15. Ele odeia a época do Natal, e explicou que é o feriado que mais o deixa estressado, pois sempre está tentando finalizar algum roteiro, história ou romance que prometeu a alguém “até o final do ano”.
  16. Embora diga que gosta de todos os seus “filhos”, o personagem favorito de Martin em As Crônicas de Gelo e Fogo é Tyrion, mas ele já disse que provavelmente se parece mais com Sam, e que gostaria de ser como Jon Snow.
  17. George também diz que Tyrion é o personagem mais fácil de escrever, enquanto os mais difíceis são Bran Stark e Daenerys Targaryen.
  18. GRRM torce para os New York Giants e New York Jets na NFL. Na MLB, ele torce pelos New York Mets.
  19. Graduou-se e completou um título de mestre em jornalismo pela Northwestern University, no Illinois, em 1971. Também deu aulas de jornalismo na Clarke University, em Iowa, na segunda metade da década de 1970.
  20. GRRM se tornou um escritor em tempo integral no final da década de 1970, após a morte repentina de seu amigo Tom Reamy, que acabara de iniciar sua carreira de escritor. George decidiu sair de Iowa e se mudar para Santa Fe, onde vive até hoje.
  21. Seu blog pessoal foi criado em 2005, e chama-se Not a Blog. Segundo GRRM, ele não teria tempo de alimentar um blog com frequência e relatar os passos de seu dia-a-dia (que era o que as pessoas faziam em blogs na época), por isso resolveu batizá-lo com esse nome.
  22. George R. R. Martin e Parris McBride
    O casamento de Parris e George, em 2011. Fonte: blog do autor.
    Conheceu Parris McBride, sua esposa, em 1975, em uma convenção em Nashville. Encontrou-a novamente nos anos 80, após se divorciar, e estão juntos até hoje. George e Parris se casaram em fevereiro de 2011, em uma cerimônia na sala de estar de sua casa, onde trocaram anéis celtas (e deram uma festa na Worldcon do mesmo ano).
  23. O casal se identifica como “acumuladores“: eles possuem uma casa anexo na mesma rua, apelidada de “Armazém”. Dois quartos são para George, o terceiro é para os figurinos de O Senhor dos Anéis de Parris.
  24. No Armazém, também funciona o escritório. Lá, GRRM ostenta uma torre de biblioteca com sua coleção de livros, que tem um conjunto de vitrais com emblemas de cinco Casas de Westeros. Martin também coleciona miniaturas de fantasia, e o Armazém é repleto de peças do gênero.
  25. Um das comidas favoritas de George é a mexicana, e ele já se revelou um pouco esnobe quanto à especialiade: diz que a do Novo México é a melhor de todas as variedades.
  26. A primeira turnê de A Guerra dos Tronos, em dez cidades americanas, foi um fiasco. Na maioria dos locais, as sessões de leitura e autógrafos não chegaram a cem pessoas. Na sessão de St. Louis, não só ninguém apareceu como quatro pessoas que estavam na livraria foram embora.
  27. George conta que costumava responder a todas as cartas de fãs, nos dias em que os leitores ainda enviavam cartas aos cuidados dos editores. Hoje, a quantidade de e-mails e cartas que recebe vão muito além da sua capacidade de mantê-las, mas ele ainda tenta ler todos os emails que recebe, mesmo quando não consegue respondê-los.
  28. Martin não gosta de viajar de avião. Ele não gosta dos sistemas de segurança de vôos, por causa dos protocolos que são sempre invasivos, com buscas, interrogatórios e outras dificuldades.
  29. No entanto, ele adora viajar de carro. Ele acha que viagens de carro são especialmente boas se você puder utilizar rotas e estradas alternativas. Parando para comer em pequenos restaurantes, bebendo em pequenas cidades, e visitando atrações da estrada (quanto mais estranhas, melhor).
  30. GRRM e seu Tesla
    GRRM e seu Tesla Modelo S púrpura customizado. Fonte: blog do autor.
    George dirige um Tesla Modelo S personalizado com a cor púrpura. Mesmo assim, ele ainda tem seu antigo Mazda RX-7.
  31. GRRM chama seus assistentes carinhosamente de minions. Hoje, cinco pessoas trabalham com George em sua casa, e a ocupação principal delas é garantir que o mínimo de interferência externa chegue a ele, para que ele possa escrever.
  32. Ele escreve seus livros apenas quando está em casa, e já disse que trabalha melhor pela manhã. Não escreve quando viaja, em quartos de hotel ou em aviões. Ele usa um antigo processador de texto, o Wordstar, que roda em DOS (mas em um computador moderno).
  33. Quando escreve, George começa lendo o trabalho do dia anterior, e reescreve conforme o fluxo. Ele tem os arquivos em seu computador e pedaços de papel ao redor de sua sala de estudo para lembrá-lo das biografias dos personagens, eventos e lugares históricos. Ele admite que é um escritor lento e que seu processo consiste em reescritas.
  34. Martin teve um breve envolvimento amoroso com a escritora Lisa Tuttle no início da década de 70. O término desse relacionamento inspirou a história Esta Torre de Cinzas.
  35. George foi casado com Gale Burnick, de 1975 a 1979, quando morava em Chicago e Dubuque.
  36. GRRM foi um objetor de consciência da Guerra do Vietnã, e realizou dois anos de serviço alternativo. Já disse, porém, que teria combatido com satisfação os nazistas na Segunda Guerra Mundial.
  37. Ele já admitiu que é fascinado por histórias de guerra. Ele entende que no passado a literatura era usada para celebrar a glória da guerra e, depois a geração hippie dos anos 1970 escreveu sobre a feiúra dela. George acredita que há verdade em ambas – uma ideia bastante estabelecida em seus romances.
  38. Ele é declaradamente um liberal americano. Ainda assim, diz que sempre busca ler textos de pessoas que pensam diferente dele nestes assuntos, para desafiar suas próprias opiniões e preconceitos.
  39. Sobre política no ramo da literatura, Martin defende medidas de inclusão em eventos literários, para que criadoras e criadores de variadas origens e culturas e gêneros tenham destaque em premiações do ramo e fomentem a indústria com ideias plurais. Ele também é bastante expressivo contra escritores misóginos, homofóbicos e racistas.
  40. George R. R. Martin e Maisie Williams
    George R. R. Martin e Maisie Williams no Jean Cocteau Cinema, em 2014. Fonte: blog do autor.
    George adquiriu e renovou um cinema histórico em Santa Fe, o Jean Cocteau. Quando houve uma polêmica sobre a exibição de A Entrevista nos cinemas americanos, ele se manifestou publicamente dizendo que o Jean Cocteau exibiria o filme.
  41. George é o terceiro escritor mais poderoso de Hollywood, segundo o Hollywood Reporter. Embora George tenha dito que isso significa menos do que parece, a Forbes estima que ele ganhe cerca de US$ 15 milhões por ano.
  42. Devido às baixas vendas de seu quarto romance, The Armageddon Rag, em 1983, Martin precisou abandonar seu quinto romance, Black and White and Red All Over. Ele então passou a trabalhar em Hollywood.
  43. Ele trabalhou durante quase uma década em Hollywood. Na primeira metade, escreveu episódios para The Twilight ZoneMax Headroom e Beauty and the Beast. Com o passar do tempo, especializou-se no desenvolvimento de pilotos, mas a rejeição constante de seus projetos o fez desistir da carreira.
  44. Ele criou duas séries de TV que foram rejeitadas pouco antes de irem ao ar: Doorways, no começo dos anos 90, e Starport, na segunda metade da década. Foi o cancelamento de Doorways que levou o autor a voltar a escrever A Guerra dos Tronos, em 1993.
  45. Martin não é favorável a fanfics. Além de considerar violação de direitos autorais, acredita que criar histórias usando personagens de outros autores não contribui para o desenvolvimento de um escritor.
  46. Entre seus livros favoritos, estão O Senhor dos AnéisO Grande GatsbyArdil-22 e The Prince of Tides.
  47. Entre seus filmes favoritos, estão Guerra dos Mundos (a versão original), O Gigante de Ferro e Planeta Proibido (que ele considera o melhor filme de ficção científica já feito).
  48. Entre suas séries de TV favoritas, estão Família Soprano, Deadwood, Roma, Mad MenBreaking BadI, Claudius.
  49. George R. R. Martin no piloto de Game of Thrones
    George R. R. Martin como um pentoshi, no piloto de Game of Thrones. Fonte: Westeros.org.
    Martin gravou uma ponta como um convidado no casamento de Daenerys no piloto não-aprovado de Game of Thrones. Ele já apareceu como uma versão zumbi de si mesmo na série Z Nation, fez uma ponta no filme Sharknado 3, e fez uma participação em Robot Chicken.
  50. O editor e escritor Gardner Dozois foi o responsável pela primeira venda de Martin como escritor profissional, resgatando a história descartada O Herói. No ano seguinte, os dois se conheceram e logo se tornaram grandes amigos.
  51. Embora a geração dos anos 50 seja conhecida como a “Era de Ouro” da Ficção Científica, Martin prefere a geração dos anos 60 e início dos 70, quando, segundo o autor, os três maiores nomes eram Roger Zelazny, Samuel R. Delany, and Ursula K. Le Guin.
  52. Desde a infância, George é fã do escritor Jack Vance. Ele organizou uma antologia junto com Gardner Dozois para homenageá-lo, Songs of the Dying Earth, para a qual escreveu a história A Night at the Tarn House, que se passa no universo criado por Vance. Homenageou o autor também com a casa Vance em As Crônicas de Gelo e Fogo.
  53. Seus personagens de séries literárias favoritos eram Elric de Melniboné de Michael Moorcock, Solomon Kane de Robert E. Haward, Magnus Ridolph de Jack Vance e Nicholas van Rijn de Poul Anderson.
  54. O xadrez foi parte importante da vida de Martin: ele usou a crescente popularidade do jogo nos Estados Unidos na década de 1970 para pagar as contas, trabalhando para uma empresa que organizava torneios no meio-oeste. O jogo também influenciou sua história Variantes Inúteis.
  55. Wild Cards, a série de livros de super heróis organizada por Martin e escrita por mais de quarenta autores diferentes, foi criada a partir de uma partida de RPG que George jogou com amigos escritores em 1983. Segundo ele, as histórias eram muito boas para ficarem só entre eles.
  56. A primeira história de Martin a ganhar uma adaptação audiovisual foi Recordando Melodyque no início dos anos 80 virou um episódio da série de TV The Hitchhiker.
  57. A convenção favorita de Martin é a Worldcon, à qual ele faltou a apenas uma edição nos últimos 30 anos. No evento, George tradicionalmente organiza a Hugo Losers Party (“Festa dos Perdedores dos Hugos”), cuja primeira edição foi em seu quarto de hotel, em 1976.
  58. Martin é um reciclador de ideias. Como ele mesmo afirmou “na minha ficção, assim como na vida real, eu nunca jogo nada fora”. Por esse motivo, é possível encontrar semelhanças em suas obras, tais como nomes, jargões e ações.
  59. George R. R. Martin e um lobo
    George com um dos lobos do santuário Wild Spirit. Fonte: Youtube.
    Parris e George apoiam o o santuário Wild Spirit, no Novo México, que resgata e acolhe lobos e cães-lobos. George já fez vários leilões beneficentes em favor do santuário, incluindo um em que o maior doador seria um personagem no próximo livro.
  60. Bastante expressivo sobre a questão dos refugiados, ele defende que os Estados Unidos foram construídos por imigrantes, e que essas pessoas deveriam ser recebidas de braços abertos, especialmente em Santa Fé, sua cidade atual.
  61. Sobre morte e violência em sua obra, expressa seu posicionamento comparando dois filmes: se identifica mais com a maneira que A Lista de Schindler lida com o tema, do que o jeito divertido em que vemos Indiana Jones aniquilando dezenas de nazistas em sua franquia.
  62. Quanto ao sexo, ele acredita se tratar de uma parte importante dos seres humanos – a maneira como interagimos uns com os outros, uma parte importante de quem somos. Não apenas o ato físico do sexo, mas nossos desejos sexuais e como nos vemos como criaturas sexuais.
  63. Martin se considera um “feminista de coração”. Ele disse que se declarou assim por um bom tempo, mas que se considerar que homens não podem ser feministas, então ele não é. Ele diz, porém, que entende o termo como tratar homens e mulheres de forma igual.
  64. Embora ele tenha afirmado ter sido católico, Martin não se considera religioso, mas um tipo de ateu agnóstico. No entanto, ele acha a temática da espiritualidade fascinante.
  65. A cena mais difícil que Martin já escreveu foi a do Casamento Vermelho em As Crônicas de Gelo e Fogo. Ele adiou o trabalho até escrever todo o resto em A Tormenta de Espadas.
  66. Na última estimativa, As Crônicas de Gelo e Fogo venderam mais de 70 milhões de cópias ao redor do mundo, colocando a obra como a série de fantasia épica mais popular publicada desde O Senhor dos Anéis. A editora HarperCollins originalmente esperava que A Game of Thrones vendesse apenas 5.000 volumes de capa dura.
  67. Martin não relê os próprios livros mais de uma vez, por diversão. Ele já disse que o máximo que faz é reler os últimos capítulos de algum personagem quando volta a escrevê-lo, para ajudar manter o mesmo tom.
  68. O fã clube oficial de George se chama “Brotherhood without Banners” (A Irmandade sem Bandeiras), que existe desde 2001. George pessoalmente “nomeava cavaleiros” os primeiros membros do grupo, depois que eles cumpriam certas tarefas.
  69. Ele apoia um coletivo de arte de Santa Fe chamado Meow Wolf, e contribuiu com mais de 2 milhões de dólares com o grupo para transformar um velho boliche em um centro artístico chamado The House of Eternal Return (“A Casa do Eterno Retorno”).
  70. O primeiro prêmio que Martin recebeu foi em 1975, um Hugo pela novela Uma Canção para Lya, quando tinha 27 anos. Ao longo da carreira, ele venceu mais três Hugos. Ao todo, já conquistou 16 Locus, três World Fantasy, dois Nebula, um Bram Stoker, e diversos outros prêmios, num total de 43. Além disso, venceu três Emmys com o crédito de produtor executivo em Game of Thrones.
George R. R. Martin
George R. R. Martin por Sanaa Al-Hassani.

Este é o fim de nossa nossa pequena homenagem, mas não de nossa admiração por George. E achamos que ela é compartilhada pelos leitores do site também, não é mesmo?

Assim, a equipe do Gelo & Fogo e seus leitores desejam um feliz dia de seu nome, George R. R. Martin!

O post George R. R. Martin 70 anos: 70 fatos sobre o autor apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>
https://www.geloefogo.com/2018/09/george-r-r-martin-70-anos-70-fatos-sobre-o-autor.html/feed 1 99135
Pergunte ao Conselho #10 https://www.geloefogo.com/pergunte-ao-conselho/10?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=pergunte-ao-conselho-10 https://www.geloefogo.com/pergunte-ao-conselho/10#respond Tue, 04 Sep 2018 19:13:48 +0000 https://www.geloefogo.com/?post_type=pac&p=99137 Na décima edição do PAC, respondemos à dúvida de um leitor sobre uma visão de Daenerys na Casa dos Imortais e o paradeiro da espada Irmã Negra (e a possibilidade de ela ser a Garralonga).

O post Pergunte ao Conselho #10 apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>

Olá! Já estamos na edição número dez de Pergunte ao Conselho, a seção na qual a equipe do Gelo & Fogo responde a perguntas enviadas pelos leitores. Para enviar sua dúvida ou questionamento, use o formulário que está aqui.

Confira a seguir duas perguntas e respostas desta semana:

O animal de pedra na visão de Daenerys

Durante a passagem de Daenerys na casa dos imortais, o seguinte trecho: “Brilhando como o pôr do sol, uma espada vermelha foi erguida na mão de um rei de olhos azuis que não projetava sombra. Um dragão de pano oscilou em mastros por cima de uma multidão exultante. De uma torre fumegante, um grande animal de pedra levantou voo, exalando fogo de sombras…. Mãe de dragões, matadora de mentiras,,.” o rei sem sombra se trata de Stannis, o Dragão do Pano se trata do Jovem Griff conquistando Porto Real, a última parte vocês acham que seria Euron, pois o mesmo se dirige a Vila Velha onde temos Torralta e ele pode está tentando realizar alguma magia? E o conselho acha que a ordem que as mentiras serão descobertas acontecerá de trás para frente? Vocês também irão atualizar o artigo de interpretação da casa dos imortais?
(Guilherme Oliveira)

Resposta do Conselho

Rayane Molinario: Essa é uma visão bem subjetiva. Tanto pode representar alguma fera de fato, como pode ser um mero indício de uma catástrofe. Pode ter algo relacionado a Euron, mas também existem especulações sobre ser um indício de um possível surto de Greysacale em Westeros através de Jon Connigton. A “Torre Fumegante” citada é o que leva a muitos especularem que seja algo relacionado a Vila Velha e a suposta magia praticada por Malora Hightower, mas eu não tenho nenhuma teoria pessoal sobre o que pode ser. São muitas possibilidades e eu estou aberta a elas.

Arthur Maia: Oi, Guilherme. Eu já havia me perguntado sobre esse trecho um bom tempo atrás, e não cheguei a nada muito conclusivo. Sendo assim,  decidi dar uma pesquisada em várias interpretações a respeito (e, de fato, existem várias), mas a que me parece mais razoável, até porque é a imagem mais clara ali, é a que sugere que essa visão seria supostos dragões de pedra que a Melisandre poderia ter acordado com o sacrifício de Edric. É claro, imagino que os tais dragões de pedra sejam simbólicos de alguma maneira, e o que eles realmente seriam, não saberia responder. Muito embora essa profecia não tenha se tornado realidade, a Daenerys também tem a visão de seu filho Rhaego, que também foi uma profecia não concretizada. Sobre a ordem, imagino que pelo menos Aegon será uma mentira “assassinada” diretamente, mas a de que Stannis seja o Azor Ahai pode ocorrer em qualquer momento, mesmo após a morte do mesmo, onde Daenerys se prove a escolhida (se é que é ela mesmo).

Felipe Bini: No ano passado (há mais ou menos um ano, curiosamente), eu resolvi reler as visões de Daenerys na Casa dos Imortais e me convenci de que a grande besta de pedra se referiria mesmo ao Euron. Essa visão ocorre em um contexto em que aparentemente os Imortais estão mostrando a Daenerys como ela seria “matadora de mentiras”. As primeiras visões se referem ao Stannis e aparentemente ao Aegon, ambos pretendentes ao Trono. Euron também é um deles. E ele metaforicamente é associado, em visões e profecias, a animais gigantes (geralmente um kraken), e já fez pessoalmente referências a “voar”. Pensando no plano maior, no sentido de que personagens poderiam se impor como ameaças à Daenerys, me parece ele ser o único ainda não mencionado nas visões, e o capítulo The Forsaken deixa bastante claro que ele terá um papel enorme tanto no âmbito político quanto no mágico. Qual é a mentira que ele representaria, porém, não fica muito claro para mim. Outra alternativa ainda poderia ser Jon Snow, talvez com o “fogo de sombras” com uma referência ao fato de que ele (ao que tudo indica) será na prática um morto-vivo. Se essa hipótese fosse verdadeira, isso significaria um conflito a algum nível entre Daenerys e Jon.

O destino da espada Blackfyre

Sabemos que Brynden Ryvers ( O corvo de sangue ) foi enviado para a muralha Por assassinar Aenys Blackfire . Brynden preferia utilizar seu arco e flecha porém possúia a lendária espada de Vysenia Targeryen ( a irmã negra ). Minha pergunta é : Corvo de sangue levou a espada para a muralha ? E se a levou , será possível que Jon a encontre ? Eu acreditava que Garra longa poderia ser a irmã negra , porém o velho urso disse que a espada pertencia a casa Mormont a quatrocentos anos , poderia ele ter mentido sobre isso?
(Vitor)

Resposta do Conselho

Recentemente essa pergunta foi respondida por George R. R. Martin. No dia 15 de agosto deste, na Worldcon, ele foi perguntado se Brynden havia levado a levou a Irmã Negra para a Muralha e disse que sim. O paradeiro atual dela, porém, permanece desconhecido.
Sobre as espadas, não são as mesmas. Existe todo um histórico da Garralonga mencionado nos livros. Quando o Velho Urso foi para a Muralha, Garralonga ficou com Jorah, mas depois que este foi sentenciado à morte e fugiu, Maege devolveu a espada ao Jeor. Além disso, as descrições das espadas simplesmente não batem. A Irmã Negra é expressamente descrita como uma espada longa (“longsword”) e a Garralonga como uma espada bastarda (“bastard sword”), que é maior. A Irmã Negra tem uma lâmina delgada, e foi especialmente projetada para mãos femininas. Já Garralonga é uma espada bastarda, o que significa que ela é ainda maior do que uma espada longa normal, e também mais pesada – ela permite que o usuário a segure com duas mãos, por exemplo.

Existe uma retratação oficial da Irmã Negra, presente em O Mundo de Gelo e Fogo, e uma versão réplica licenciada da Garralonga produzida pela fábrica Valyrian Steel, baseada em instruções de Martin. Embora pelas reproduções não seja possível determinar exatamente o comprimento de cada uma delas, a largura da lâmina da Irmã Negra em relação à empunhadura é notavelmente menor:

Irmã Negra
Irmã Negra. Arte: Velvet Engine, para O Mundo de Gelo e Fogo.
Garralonga
Garralonga. Fonte: Valyrian Steel.

Confira as outras edições de Pergunte ao Conselho clicando aqui, e opine também nos comentários. A edição número 11 chega na próxima semana.

O post Pergunte ao Conselho #10 apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>
https://www.geloefogo.com/pergunte-ao-conselho/10/feed 0 99137
George R. R. Martin na Worldcon: perguntas e respostas https://www.geloefogo.com/2018/08/george-r-r-martin-na-worldcon-perguntas-e-respostas.html?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=george-r-r-martin-na-worldcon-perguntas-e-respostas https://www.geloefogo.com/2018/08/george-r-r-martin-na-worldcon-perguntas-e-respostas.html#comments Wed, 15 Aug 2018 15:53:50 +0000 https://www.geloefogo.com/?p=98314 Ontem, dia 14 de agosto, George R. R. Martin fez sua primeira participação na Worldcon deste ano. Embora tenha reduzido […]

O post George R. R. Martin na Worldcon: perguntas e respostas apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>
George R. R. Martin e John Picacio
George R. R. Martin e John Picacio, na Worldcon. Fonte: ABC7 (Youtube).

Ontem, dia 14 de agosto, George R. R. Martin fez sua primeira participação na Worldcon deste ano. Embora tenha reduzido suas aparições em convenções, o autor declarou em seu blog que de maneira alguma abriria mão de ir à Worldcon – e que só perdeu uma edição nos últimos trinta anos.

No painel de ontem, um evento de arrecadação de fundos da editora Locus, Martin conversou com o artista John Picacio, que foi o ilustrador do calendário oficial de As Crônicas de Gelo e Fogo de 2012. Após um breve intervalo, respondeu perguntas dos fãs a respeito, não apenas da sua obra mais famosa, mas também sobre as séries derivadas da HBO, Wild CardsVoadores da Noite e outros assuntos.

Alguns membros do fandom participaram da sessão de perguntas e respostas. Para esta compilação, nos baseamos nos relatos de Ashaya (do podcast History of Westeros), Lucifer Means Lightbringer (do Mythical Astronomy) e Clint of The Laughing Tree.

Confira abaixo as principais novidades a respeito do painel:

Sobre As Crônicas de Gelo e Fogo

  • A publicação de Fire and Blood acontecerá antes do planejado, entre outros motivos, por causa das séries derivadas de Game of Thrones.
  • Quando perguntado se a mãe de Doran, Oberyn e Elia se chamava Loreza, e por isso a filha de Oberyn tem esse nome, Martin disse que não pensou nisso.
  • Brynden “Corvo de Sangue” Rivers levou a espada Irmã Negra com ele para a Patrulha da Noite.
  • Aegor “Açamargo” Rivers não teve filhos.
  • Não respondeu sobre haver uma terceira irmã Clegane ou sobre o retorno do cometa vermelho.
  • Não sabe bem sobre uma inspiração para Davos Seawoth. Precisava de um POV para acompanhar Stannis, mas não o queria como POV. Começou com Cressen, mas ele morreu.
  • Sobre tramas que quase aconteceram mas no fim foram abandonadas, mencionou um capítulo de Tyrion em A Dança dos Dragões que amou, até que percebeu que o levou a um beco sem saída, ficou sem saber o que fazer, e finalmente o retirou do livro.
  • Apesar de amar Bran, ele é o personagem mais difícil de escrever, porque é o mais jovem e o mais envolvido em magia (fantasia precisa de magia, mas magia é difícil).
  • Questionado sobre folclore interno e reflexos na história corrente (como exemplo a história de Daenerys ouvindo a história sobre a segunda lua e depois sendo chamada de Lua durante o livro e entrando no fogo e parindo dragões), disse que se diverte com sonhos e profecias, e que gosta de fazê-las reais de formas inesperadas. Disse que às vezes se sente tentado a escrever um livro em que os livros na verdade não significam nada (como os do mundo real), e que os leitores ficariam desesperados buscando significados, mas que ainda não cedeu à tentação.
  • Quanto a temas centrais em As Crônicas de Gelo e Fogo, disse que existem vários, mas que não poderia definir em uma frase.
  • George brincou que para escrever uma fanfic de seus livros, você precisa levá-lo um caminhão de lixo roxo cheio de dinheiro.
  • Não sabe quem substituirá Roy Dotrice como narrador do audiolivro de The Winds of Winter, não tem poder de decisão.

Adaptações da HBO

  • A série A Longa Noite se passará num período de tempo muito anterior a que qualquer outro dos spin-offs;
  • George mandou pitches de três outras séries sucessoras (além das cinco “conhecidas”), mas nenhuma está em desenvolvimento.
  • Quanto às outras séries sucessoras, elas são baseadas em material de Fire and Blood, ou até em apenas frases de O Mundo de Gelo e Fogo. Nenhum destes outros, segundo Martin, já está em desenvolvimento.
  • Martin sonhava em ter um episódio piloto adaptando seus livros, mas no fim, acabou tendo dois, considerando que o piloto foi refilmado.
  • Game of Thrones não é um “preview” do futuro de seus livros; entre outras coisas, a série está matando muito mais personagens do que ele fará, e alguns dos que morreram na TV chegarão vivos ao final do último livro.
  • A HBO tomou decisões que fez com que Game of Thrones alcançasse os livros mais rapidamente do que o esperado (cortando conteúdo); o autor esperava ter mais uns dois anos para lançar Os Ventos do Inverno antes de a série de TV chegar neste ponto da história.
  • Nem os livros, nem a série de TV existem de verdade, então, as pessoas podem gostar da versão que preferirem.

Outras obras e escrita em geral

  • Martin comparou Wild Cards e Watchmen. Enquanto a famosa graphic novel de Alan Moore usa o “modelo Batman” (heróis mais sombrios, menos superpoderes), Wild Cards é mais uma história sobre superpoderes do que sobre super-heróis; para Martin, se a maioria das pessoas recebesse superpoderes, eles não iriam acordar, comprar uma roupa de super herói e ir combater o crime.
  • Haverá uma série de TV de Wild Cards.
  • Um crítico uma vez disse que histórias de terror e de ficção científica são opostos (enquanto a primeira lidaria com emoções, a segunda seria uma história intelectual). Tentando romper essa dicotomia, Martin escreveu Voadores da Noite.
  • Não tem controle criativo sobre a série Nightflyers.
  • A parte mais difícil de escrever para Hollywood é não deter o controle criativo completo de suas criações.
  • Perguntado se gasta mais tempo com construção da universo, enredo ou desenvolvimento de personagens, disse que é pessimo no segundo.
  • Joseph Campbell não foi uma influência, mas John W. Campbell sim.
  • Pessoas que conhece influenciam seus personagens até um certo ponto, mas mais vem da História, clichês e tropes em geral.

Outros assuntos

  • Martin disse ser muito velho para ter um meme favorito, e brincou que ele ainda se comunica enviando mensagens por corvos.
  • Como conselho para novos escritores, o autor disse: “Não fiquem endividados”.
  • Apesar de todo o reconhecimento, Martin acredita que o melhor de ser um autor de sucesso é simplesmente poder contar sua história; ele disse que ainda estaria escrevendo mesmo que não tivesse casa e vivesse com um carrinho de supermercado pelas ruas.
  • Martin disse ficar muito feliz quando outros autores o homenageiam como ele faz em seus livros, especialmente quando ele gosta dos autores de seus livros.
  • Não sabe que nome daria a seus filhos, mas “provavelmente não seria Daenerys”.
  • A cor favorita de Martin é roxo.

Sobre Os Ventos do Inverno, Martin respondeu a Picacio (que fez a pergunta brincando) que está trabalhando no livro, como vemos no vídeo a seguir:

O post George R. R. Martin na Worldcon: perguntas e respostas apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>
https://www.geloefogo.com/2018/08/george-r-r-martin-na-worldcon-perguntas-e-respostas.html/feed 3 98314
Gelo e Fogo: os significados do título da obra de George R. R. Martin https://www.geloefogo.com/2018/07/gelo-e-fogo-analisando-o-titulo-da-obra-de-george-r-r-martin.html?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=gelo-e-fogo-analisando-o-titulo-da-obra-de-george-r-r-martin https://www.geloefogo.com/2018/07/gelo-e-fogo-analisando-o-titulo-da-obra-de-george-r-r-martin.html#comments Fri, 27 Jul 2018 22:40:34 +0000 http://www.geloefogo.com/?p=86797 Uma análise sobre o título de As Crônicas de Gelo e Fogo, revisando falas de George R. R. Martin a respeito e passagens dos próprios livros.

O post Gelo e Fogo: os significados do título da obra de George R. R. Martin apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>

Em português, As Crônicas de Gelo e Fogo. No original, em inglês, A Song of Ice and Fire (“Uma Canção de Gelo e Fogo”). Em qualquer idioma, o título da maior obra de George R. R. Martin é objeto de debate e especulação entre os leitores. O significado do título é um assunto que merece ser analisado, e é isso o que faremos neste artigo.

Ice and Fire
Artes: Marc Simonetti, Chase Stone e Velvet Engine.

A temática do contraste entre fogo e gelo não é exclusiva de Martin, e muito menos inédita na produção cultural. Ela é encontrada em poemas, romances, biografias, documentários, filmes, jogos, músicas e todos os tipos de obras ao longo da história. E não é difícil entender o porquê: trata-se, realmente, de uma figura muito evocativa de oposição entre extremos. Mas o que esse título quer dizer na obra de Martin? O gelo e o fogo têm algum significado específico dentro da história? O que é a tal “canção”?

Neste artigo, vamos revisar tudo o que George R. R. Martin já disse a esse respeito, além de passagens dos próprios livros que falam dos elementos do título. Naturalmente, o texto também contará com alguns pontos especulativos próprios. Acompanhe conosco uma análise sobre o título de As Crônicas de Gelo e Fogo.

Canções e crônicas

Para tratar desse assunto em português, é preciso abordar primeiro a diferença entre os títulos da obra em seu idioma original e nas traduções. George R. R. Martin escolheu para sua série o nome A Song of Ice and Fire (“Uma Canção de Gelo e Fogo”), mas em português, o título é As Crônicas de Gelo e Fogo. Tentaremos especular por que houve essa alteração, além de explicar as diferenças nos sentidos de “crônicas” e “canção” nesse contexto.

Capa A Muralha Portugal
Capa da primeira edição das Crônicas de Gelo e Fogo em português, de 2002. Fonte: George R. R. Martin, site oficial.

Para entender a mudança de título, começaremos com uma pequena viagem pela história da publicação da obra em língua portuguesa. A primeira edição de um dos livros em português foi pela editora portuguesa Entre Letras, em 2002, que editou a primeira metade de A Game of Thrones com o título A Muralha. A editora planejava dar à série o título simples de O Gelo e o Fogo, mas acabou por não continuar a publicação dos livros seguintes.

Em 2005 ou 2006, a editora Saída de Emergência comprou os direitos de publicação da saga em Portugal, e publicou os primeiros livros em 2007. A tradução de A Game of Thrones – dividido em A Guerra dos Tronos e A Muralha de Gelo – e dos livros subsequentes ficou a cargo de Jorge Candeias.

A Saída de Emergência possui um fórum para discussões de seus leitores de fantasia, e, em 2007, foi criado um tópico para perguntas a Candeias. Uma leitora questionou qual seria a razão da alteração de “uma canção” para “as crónicas” no título da série. Ela perguntou se essa decisão teria partido da editora ou do tradutor. A resposta de Candeias foi a seguinte:

Foi uma opção da editora, sim.

Mas não me parece má. Notem que o significado de crónicas não é só aqueles textozinhos curtos e pessoais que aparecem nos jornais. Crónicas são também histórias em geral, muitas vezes de cariz histórico (o Fernão Lopes escreveu uma série delas), e que por vezes tomam a forma de longos poemas mais ou menos épicos, destinados a ser cantados.

Mesmo assim, lá nos idos do início da série, aqui o tradutor sugeriu usar-se canção.

O tradutor deixa claro, portanto, que tratou-se de decisão da editora, e não dele mesmo. No mesmo tópico, ele já havia esclarecido que a opção por “A Guerra” ao invés de “Um Jogo” (a tradução literal), no título do primeiro livro, também havia sido escolha do editor.

No Brasil, quem adquiriu os direitos de publicação da série foi a editora Leya, que comprou a tradução de Candeias da Saída de Emergência, e a adaptou ao português brasileiro nos quatro primeiros livros. Candeias manifestou publicamente sua insatisfação (mais de uma vez) com esse processo de adaptação, do qual ele não participou. O tradutor considera que a versão brasileira poderia ter sido muito mais polida caso ele tivesse sido consultado, dizendo também que alguns detalhes do texto original que ele se esforçou para manter foram eliminados na adaptação. A partir de A Dança dos Dragões, as publicações da Leya foram traduzidas diretamente do inglês para o português brasileiro, assinadas por Marcia Blasques.

De qualquer forma, o fato importante é que no processo de editar a versão brasileira da obra, a Leya utilizou como base a edição portuguesa. Nesse processo, também trouxe a opção editorial de alterar o título da série. As razões para a mudança no título na versão portuguesa (e, consequentemente, na brasileira) nunca foram explicadas publicamente. A hipótese mais provável porém, é que tenha se tratado de uma decisão comercial, no sentido de que as editoras buscaram um título com o qual os públicos leitores-consumidores estariam mais acostumados no âmbito das literaturas de fantasia e ficção histórica.

Manuscrito da Primeira Crónica Geral de Espanha. Fonte: Wikimedia Commons. Domínio público.

Crônicas reais e imaginárias

Como lembrou Candeias, o termo “crônica” designa mais comumente, em português, uma narração curta, geralmente publicada em veículos de imprensa. No entanto, esse não é o único significado da palavra. Na historiografia, “crônica” também serve para se referir a um relato de eventos históricos em ordem temporal. Sua própria etimologia remete ao tempo, sendo a palavra portuguesa derivada da grega chrónos (“tempo”).

O termo se refere muitas vezes a livros escritos na Idade Média, que descreviam eventos históricos em algum território, a vida de algum nobre, ou um registro geral de eventos públicos. Exemplos são a Crônica da Irlanda, a Crónica de el-rei D. João I ou a Crônica Geral de Espanha; um dos exemplares mais famosos é a Crônica Anglo-Saxônica.

Quando a Saída de Emergência adquiriu os direitos para a série de Martin, a popularidade da fantasia se encontrava em um contexto bastante diferente do atual, e o termo “crônicas” já era associado com o gênero. Naquela época, obras como As Crônicas de Dragonlance e As Crônicas de Nárnia, por exemplo, já estavam em evidência (inclusive no cinema).

O termo “canção”, por outro lado, remete instantaneamente a música, o que pode ter sido interpretado pelas editoras como prejudicial para que novos leitores se sentissem atraídos pela obra de fantasia, por confusão. A editora tentou, provavelmente, utilizar uma palavra que tivesse mais apelo com os consumidores mas que ainda estivesse associada ao contexto da obra.

A série de Martin, apesar de ser categorizada como fantasia por seus elementos mágicos e pano-de-fundo inteiramente fictício, contém também muitos elementos derivados da ficção histórica. Assim, além de ter potencialmente maior apelo se comparado a “canção”, um título com “crônicas” é também razoavelmente adequado para designar os relatos dos grandes (e pequenos) eventos e feitos de Westeros.

É importante ressaltar, também, que a Saída de Emergência não foi a primeira a tomar essa decisão. Ainda em 1999, quando a editora italiana Mondadori publicou o primeiro livro, ela já havia traduzido o título da série para um parecido: Cronache del ghiaccio e del fuoco (“Crônicas do gelo e do fogo”).

Canções de feitos heroicos

A verdade, entretanto, é que Martin escolheu nomear sua obra como Song, e em sua língua nativa, o inglês, a palavra também é muito mais associada à música do que qualquer outra coisa. Para os leitores em língua inglesa, o título A Song of Ice and Fire para um romance de fantasia causa tanta estranheza (e curiosidade) à primeira vista quanto “Canção de Gelo e Fogo” causaria para nós lusófonos.

E qual, então, é o significado de song (“canção”) nesse contexto? É claro que é possível que o título se refira a elementos internos do próprio universo, mas o uso da palavra remete também aos poemas épicos, uma espécie de poesia narrativa que conta detalhes de feitos heroicos e eventos importantes para uma cultura ou nação. O gênero existe desde épocas antiquíssimas: a Epopeia de Gilgamesh, por exemplo, data de 2.100 a.C., e outros exemplos famosos são a Odisseia, de mais ou menos 800 a.C., e a Eneida, da década de 20 a.C..

Na França medieval, desenvolveu-se um tipo específico de poema épico, chamado chanson de geste (“canção de gesta”, algo como “canção de feitos heroicos”). Algumas das mais conhecidas são a Canção de Rolando, a Canção de Guilherme e a Canção da Cruzada albigense (evento histórico que Martin já admitiu ser uma influência em sua obra). É aparentemente com esse sentido de “canção”, uma narrativa poética de grandes feitos, que Martin inseriu a palavra Song no título de sua série — ainda que ela seja escrita em prosa, e não em verso como as antigas canções de gesta.

Página do manuscrito da Canção da Cruzada Albigense. Fonte: Wikimedia Commons. Domínio público.

Percebe-se, então, que existem diferenças entre uma “canção” e uma “crônica”. A primeira soa mais como um relato épico, grandioso e poético, enquanto que a segunda remete mais um tratamento historicamente objetivo. O próprio Jorge Candeias, embora não tenha criticado a decisão da editora, disse que sua sugestão original era a de que se mantivesse “canção” no título.

Passando ao campo opinativo, considero, pessoalmente, que a opção de Martin poderia ter sido mantida. A possível estranheza do leitor médio com o título “canção” não me parece razão suficientemente forte. Como vimos, a situação também se aplica ao idioma original, e não parece que a Bantam ou a HarperCollins (as editoras americana e britânica da série) tenham tido prejuízos por essa razão.

Aliás, a tal “estranheza” só tem lugar quando se analisa o título retroativamente (já se sabendo o conteúdo da obra). Para um leitor neutro, trata-se apenas de mais um título curioso. Em quantas obras o título é um tanto estranho ou obscuro, e passa a fazer mais sentido apenas quando o leitor justamente se familiariza mais com o conteúdo, não é mesmo? Parece ser o caso aqui também. Não é obrigatório que um título seja óbvio.

Martin, propositalmente, deu a sua série um título com múltiplas interpretações possíveis: uma “canção de gelo e fogo” é um elemento presente dentro da própria história, por exemplo, e a menção a “canção” no título evoca, como vimos, o sentido de uma narrativa grandiosa e fantástica. Essa diversidade de interpretações (que ele mesmo admitiu e será abordada mais adiante) acabou se perdendo na alteração para “crônicas”, um termo mais objetivo e menos poético.

As falas de George R. R. Martin

Perguntas sobre a origem e o significado do título da série já foram feitas a George R. R. Martin, e um texto que se propõe a tratar do assunto não poderia ignorar as respostas do autor. Evidentemente, ele não discorreu com detalhes sobre o tema, mas já deu declarações significativas a respeito dele – até voluntariamente, sem ser provocado.

É bom reiterar que Martin não tem nenhum costume de mentir em entrevistas ou conversas com fãs — quem já leu e assistiu a dezenas de falas públicas dele sabe disso. Quando acredita que a resposta para alguma pergunta pode ser muito reveladora dos mistérios de sua obra, ele responde de forma pouco clara, desvia o assunto, ou simplesmente se recusa a responder (dizendo “continue lendo”). Assim, o “não-silêncio” de George também é importante, e não corremos o risco de que ele tenha tentado desinformar o leitor em suas falas.

A primeira declaração conhecida de George sobre o assunto é em uma entrevista para a Amazon britânica, alguns meses depois do lançamento de A Tormenta de Espadas, em 2001. Martin foi questionado por Roz Kaveney sobre o quanto sua obra é influenciada por eventos históricos reais, ao mesmo tempo em que é de fato uma série de fantasia (com elementos mágicos). Em parte da resposta, o autor diz o seguinte:

O ponto principal da cena em A Guerra dos Tronos em que Daenerys choca os dragões é que ela faz a magia à medida que avança; ela é alguém que poderia realmente fazer qualquer coisa. Eu queria que a magia fosse algo difícil de ter sob controle e meio instintiva – não a versão de magia de John W. Campbell, como a ciência e tecnologia de outros tipos de mundo, que funciona por regras simples e compreensíveis. E nem como palavras precisas e séries de passes que você esquece quando realiza e então tem que aprender de novo, como na Agonia da Terra de Jack Vance. Quando Vance fez aquilo, foi original – eu acabei de escolher a seção de Liane the Wayfarer para a antologia Fantasy Hall of Fame – mas eu queria fazer outra coisa. E é importante que os livros individuais se referem às guerras civis, mas o título da série nos lembra constantemente que a questão real reside no Norte além da Muralha. Stannis se torna um dos poucos personagens a entender isso completamente, motivo pelo qual apesar de tudo ele é um homem direito, e não apenas uma versão de Henrique VII, Tibério ou Luís XI.

White Walker
Um Outro ataca Waymar Royce. Arte: Magali Villeneuve para a edição ilustrada de A Guerra dos Tronos.

O ponto relevante dessa resposta de Martin é que ele suscita a questão do título sem ter sido provocado a isso pelo entrevistador. Ele é quem toma a iniciativa de apontar o que é que o “título da série nos lembra”. Faz referência, é claro, aos Outros, que são o ponto importante ao norte da Muralha. Isso foi reiterado por GRRM em uma entrevista para o extinto portal Fantasy Online, em 2002. Nessa conversa, Eric Cogan perguntou de onde veio o título, e o que mais ele reflete sobre a série. Martin respondeu:

Não me lembro direito de onde. Eu sabia que o primeiro livro seria A Game of Thrones, mas eu precisava de um título geral também. Tínhamos esses outros elementos na história, além da disputa pelo poder na corte – os Outros além da Muralha e os dragões. Isso sugere Gelo e Fogo, mas esse não é o único significado possível. Gosto de títulos que podem ter vários significados. Acho que tornam a escrita e a ficção mais ricas.

Sempre tive essa obsessão por canções também – os títulos de meus livros estão sempre cheios de referências a “canção”, de Uma Canção para Lya e Songs the Dead Men Sing a coisas como “… For a Single Yesterday”.

Aqui cabe um parêntese para as referências de George a suas obras:

  • Uma Canção para Lya é uma novela de 1974, que se passa no mesmo universo ficcional de outras obras de Martin, os Mil Mundos; seus personagens principais são dois telepatas chamados Robb e Lyanna; o título foi reaproveitado para a primeira coletânea de Martin, de 1976;
  • Songs the Dead Men Sing (“Canções que Homens Mortos Cantam”) é a quarta coletânea de GRRM, publicada em 1983; entre os nove contos está … For a Single Yesterday, cujo título é uma referência à canção Me and Bobby McGee, que diz “I’d trade all my tomorrows for a single yesterday” (“Eu trocaria todos os meus amanhãs por um único ontem”); a música foi interpretada por artistas de quem Martin é grande fã: Kris Kristofferson (que a co-compôs) e a banda Grateful Dead.

Existem ainda outras obras de George com “song” no título ou referências a canções, que ele não cita nessa resposta (algumas porque ainda não haviam sido publicadas):

  • As Canções Solitárias de Laren Dorr, conto de 1976, publicado no Brasil pela primeira vez em 2013;
  • Songs of Stars and Shadows (“Canções de Estrelas e Sombras”), segunda coletânea de Martin, publicada em 1977;
  • Dreamsongs (algo como “Canções de sonhos”), coletânea retrospectiva de 2003, publicada recentemente no Brasil como RRetrospectiva da obra;
  • Songs of the Dying Earth (“Canções da Terra em Agonia”), antologia de 2009 editada com Gardner Dozois, com contos e ensaios sobre a obra de Jack Vance;
  • Songs of Love and Death (“Canções de Amor e Morte”), antologia de ficção científica e fantasia de 2010, também editada com Dozois. O título lembra Songs of Love and Hate (“Canções de Amor e Ódio”), álbum de Leonard Cohen que Martin já disse ter ouvido obsessivamente durante um período de sua vida.
  • The Armageddon Rag, romance de mistério de 1983 que acompanha a banda fictícia Nazgûl; a palavra “rag” no título significa uma composição.

Observa-se que George realmente gosta da palavra song nos títulos de suas obras, sejam elas contos, romances ou antologias (e abarcando vários gêneros). De qualquer forma, a resposta dele a Cogan esclarece que, em sua obra-prima, o significado principal é mesmo o mais óbvio: o fogo se refere aos dragões, e o gelo aos Outros.

Agora, faremos um salto para uma entrevista de Martin à emissora Al Jazeera, em 2016:

Para pessoas que não estão familiarizadas com sua obra, a série se passa em um mundo imaginário. Existe uma disputa pelo controle do reino, essa guerra dinástica é essencialmente uma entre três tramas principais. Há outra trama envolvendo os Outros, essa espécie de personagens sobre-humanos, e há também a filha Targaryen exilada que busca o retorno a seu antigo Trono. Por que essas três tramas principais?

Bem, é claro, os dois extremos, as coisas ao norte da Muralha e Daenerys Targaryen no outro continente com seus dragões são, é claro, o “gelo e fogo” do título, A Song of Ice and Fire. As coisas centrais, as coisas que estão acontecendo no meio, em Porto Real, a capital dos Sete Reinos, são muito mais baseadas em eventos históricos, ficção histórica, livremente inspiradas na Guerra das Rosas e em alguns dos outros conflitos ao longo da Guerra dos Cem Anos, mas, é claro, com um toque de fantasia.

Sabe, uma das dinâmicas com que comecei foi a ideia de pessoas tão consumidas por suas disputas mesquinhas por poder nos Sete Reinos, dentro de Porto Real — “quem vai ser rei?”, “quem vai estar no Pequeno Conselho?”, “quem vai comandar as políticas públicas?” —, que elas estão cegas para ameaças muito maiores e mais perigosas que estão acontecendo ao longe, na periferia de seus reinos, e é claro que se pode ver isso ao longo de toda a História.

A pergunta não era inicialmente sobre o título, mas de forma notável Martin mais uma vez identifica o gelo e o fogo nos dragões de Daenerys e nos Outros. É importante observar também que a resposta de George é feita de uma forma bastante didática, pois o entrevistador e o público da emissora não estão tão envolvidos no universo quanto os fãs hardcore de sua obra.

O complemento dessa resposta é parecido em conteúdo com o da entrevista de Martin à Amazon. Ele aponta que, historicamente, a disputa política tradicional cega as pessoas a inimigos maiores externos. Isso se relaciona com o que ele apontou sobre Stannis Baratheon como exemplo: ao se tornar um dos poucos a compreender a grande ameaça, o personagem se diferencia de seus modelos históricos do mundo real.

George R. R. Martin
George R. R. Martin em 2012, na Espanha. Foto: HombreDHojalata.

Na entrevista ao Fantasy Online, Martin havia afirmado, porém, que a oposição entre os Outros e os dragões de Daenerys não é o único significado que se pode atribuir ao título. Em uma entrevista em 2012, Adrià Guxens perguntou expressamente se havia mais no título, além deles. A resposta foi a seguinte:

Oh! Essa é a coisa óbvia, mas sim, tem mais. As pessoas dizem que fui influenciado pelo poema de Robert Frost, e é claro que fui, quero dizer… Fogo é amor, fogo é paixão, fogo é ardor sexual e todas essas coisas. Gelo é traição, gelo é vingança, gelo é… você sabe, aquele tipo de inumanidade fria e todas essas coisas se desenrolam nos livros.

Nessa entrevista, Martin foi além da explicação óbvia sobre os dragões e os Outros, indo ao encontro do poema Fire and Ice, de Robert Frost, em que o fogo é associado ao desejo e o gelo ao ódio. O poema, que evoca o fim do mundo, foi publicado pela primeira vez em 1920, e é um dos mais populares e conhecidos de Frost. Segundo uma biografia do poeta, teve como uma inspiração uma passagem do Inferno, da Divina Comédia de Dante Alighieri. Supostamente, também teria sido inspirada por um encontro entre Frost e o astrônomo Harlow Shapley, que dissera ao poeta que a Terra seria incinerada com a explosão do Sol, ou escaparia disso e congelaria no espaço. Parece adequado transcrever o poema em sua totalidade, tanto no original quanto em uma tradução (amadora, minha):

Some say the world will end in fire,
Some say in ice
From what I’ve tasted of desire
I hold with those who favor fire.
But if it had to perish twice,
I think I know enough of hate
To say that for destruction ice
Is also great
And would suffice.

Alguns dizem que o mundo terminará em fogo,
Alguns dizem que em gelo.
Pelo que provei do desejo
Fico com aqueles que favorecem o fogo.
Mas se tivesse de perecer duas vezes,
Acho que conheço o bastante do ódio
Para dizer que para destruição o gelo
Também é ótimo
E bastaria.

Retornando à resposta de Martin, a parte que me parece mais significativa é que ele, ainda que indiretamente, faz um espécie de juízo de valor sobre o significado dos dois elementos, ao associar sentimentos e atitudes negativos ao gelo – traição, vingança, inumanidade fria. Por outro lado, relaciona o fogo com outros mais positivos – paixão, ardor e desejo sexual –, embora estes também possam “consumir” alguém.

Fica, assim, aparentemente claro que o autor teve mesmo em mente a ideia de oposição ao escolher o título da obra, ainda que se possa atribuir vários significados a ele. Isso parece se confirmar no conteúdo dos livros, em que os dois elementos são mencionados juntos em algumas passagens, e (quase) sempre como opostos, como observaremos a seguir.

Gelo e fogo nos livros

A temática do antagonismo entre gelo e fogo está no título da obra e em seu pano de fundo principal, mas não é algo mencionado com tanta frequência dentro da própria história. Isso não significa, entretanto, que não existam passagens em que isso ocorra.

Daenerys Targaryen Khal Drogo
Daenerys Targaryen coloca ovo de dragão na pira funeral de Drogo. Arte: Magali Villeneuve para edição ilustrada de A Guerra dos Tronos.

A primeira menção dos dois elementos juntos acontece ainda em A Guerra dos Tronos, quando a pira funerária de Drogo é montada e Jorah Mormont compreende o que Daenerys Targaryen pretende fazer:

Por cima da carcaça do cavalo, construíram uma plataforma de toras decepadas; troncos de árvores menores e braços das maiores, e os mais grossos e retos galhos que conseguiram encontrar. Dispuseram a madeira de leste para oeste, do nascente ao poente. […]

O terceiro nível da plataforma foi tecido com galhos que não eram mais grossos que um dedo, e coberto com folhas e raminhos secos. Dispuseram-nos de norte a sul, do gelo ao fogo, e em cima colocaram uma grande pilha de macias almofadas e sedas de dormir. O sol começava a baixar em direção a oeste quando terminaram. Dany chamou os dothrakis. Restavam menos de uma centena. Com quantos começara Aegon? perguntou ela a si mesma. Não importava.

(A Guerra dos Tronos, capítulo 72, Daenerys X. Tradução de Jorge Candeias. Negritos meus.)

É possível que essa menção não tenha nenhum significado “superior”, sendo apenas uma descrição genérica e a alusão aos elementos seja apenas a ideia de oposição na configuração dos componentes. Por outro lado, considerando-se que se trata de um evento mágico de importância enorme – e um dos poucos vistos mostrados “ao vivo” por Martin –, pode ser que a especificação de como a pira foi montada tenha algum significado ritualístico, ainda que ocorrido de forma acidental e intuitiva.

A menção seguinte ocorre em A Fúria dos Reis, e também em um contexto aparentemente mágico. Trata-se do juramento que os irmãos Meera e Jojen Reed fazem a Bran como seu suserano Stark:

– Senhores de Stark – disse a garota. – Os anos se passaram às centenas e aos milhares desde que meu povo jurou lealdade ao Rei do Norte. O senhor meu pai enviou-nos aqui a fim de proferir novamente essas palavras, em nome de todo o nosso povo.
Ela está olhando para mim, Bran percebeu. Tinha de responder alguma coisa.
– Meu irmão Robb está lutando no sul – ele disse –, mas pode proferir as palavras perante a mim, se quiser.
– A Winterfell juramos a fidelidade da Água Cinzenta – disseram os dois em uníssono. – Cedemos-lhe a lareira, o coração e a colheita, senhor. Nossas espadas, lanças e flechas estão às suas ordens. Conceda misericórdia aos nossos fracos, ajude nossos impotentes e faça justiça a todos, e nunca lhe faltaremos.
– Juro pela terra e pela água – disse o rapaz vestido de verde.
– Juro pelo bronze e pelo ferro – disse a irmã.
Juramos pelo gelo e pelo fogo – os dois terminaram em conjunto.
(A Fúria dos Reis, capítulo 21, Bran III. Tradução de Jorge Candeias. Negritos meus.)

Os Reed são uma Casa nortenha um tanto excêntrica, e mais associada com a magia do que o normal. Jojen tem o dom da visão verde, experimentando sonhos proféticos (os chamados sonhos verdes), e os irmãos demonstram uma conexão com a terra – característica também encontrada nos filhos da floresta  – que fica clara na caverna do Corvo de Três Olhos.

Meera Jojen Reed
Meera e Jojen Reed no Gargalo. Arte: Roman Papsuev.

É difícil especular sobre essa passagem em específico. É claro que se trata de um juramento com teor poético, como soi acontecer – raramente juramentos são literais. No entanto, dada a aparente relação dos Reed com a magia da terra pode-se inferir que há mais do que aparenta ali. Em A Tormenta de Espadas, outra conversa dos irmãos com Bran inclui novamente menção ao gelo e ao fogo, e ao conceito de oposição:

– Para cima e para baixo – suspirava às vezes Meera enquanto caminhavam – e depois para baixo e para cima. E depois outra vez para cima e para baixo. Detesto estas suas malditas montanhas, Príncipe Bran.
– Ontem disse que as adorava.
– Ah, e adoro. O senhor meu pai tinha me falado de montanhas, mas nunca tinha visto nenhuma até agora. Adoro-as mais do que consigo expressar.
Bran fez uma careta para ela.
– Mas acabou de dizer que as detestava.
– Por que é que não pode ser as duas coisas? – Meera esticou a mão para apertar o nariz de Bran.
– Porque são coisas diferentes – insistiu ele. – Como a noite e o dia, ou o gelo e o fogo.
– Se o gelo pode queimar – disse Jojen em sua voz solene –, então o amor e o ódio podem se juntar. Montanha ou pântano, não importa. A terra é só uma.
– Uma – concordou a irmã –, mas enrugada demais.
(A Tormenta de Espadas, capítulo 24, Bran II. Tradução de Jorge Cadneias. Negritos meus.)

É importante aqui o que os Reed tentam dizer: pode haver uma espécie de conciliação entre esses opostos. Além disso, é também notável que Jojen faça menção a sentimentos antagônicos, como Martin fizera na última entrevista analisada e no poema de Robert Frost.

Em outro arco mágico da história encontramos mais uma menção ao gelo e fogo, mas sem o tom conciliatório dos irmãos Reed. Os elementos são mesmo mencionados como exemplos de extremos incompatíveis na seguinte passagem de A Tormenta de Espadas:

– Toda a sua vida, Davos Seaworth? Tanto faz dizer que era assim ontem. – Sacudiu a cabeça, tristemente. – Nunca temeu dizer a verdade a reis, por que é que mente a si mesmo? Abra os olhos, sor cavaleiro.
– O que quer que eu veja?
– O modo como o mundo é feito. A verdade está à sua volta, basta olhar para ela. A noite é escura e cheia de terrores, o dia, luminoso, belo e cheio de esperança. Uma é negra, o outro, branco. Há gelo e há fogo. Ódio e amor. Amargor e doçura. Macho e fêmea. Dor e prazer. Inverno e verão. Mal e bem. – Ela deu um passo em sua direção. – Vida e morte. Em toda parte há opostos. Em toda parte há a guerra.
– A guerra? – perguntou Davos.
– A guerra – afirmou ela. – Existem dois, Cavaleiro das Cebolas. Nem sete, nem um, nem cem ou mil. Dois! Acha que atravessei metade do mundo para colocar mais um rei frívolo em mais um trono vazio? A guerra é travada desde o começo dos tempos, e, antes de chegar ao fim, todos os homens devem escolher de que lado se encontram. De um lado está R’hllor, o Senhor da Luz, o Coração de Fogo, o Deus da Chama e da Sombra. Contra ele ergue-se o Grande Outro, cujo nome não pode ser pronunciado, o Senhor das Trevas, a Alma do Gelo, o Deus da Noite e do Terror. A nossa escolha não é entre Baratheon e Lannister, entre Greyjoy e Stark. O que escolhemos é a morte ou a vida. A escuridão ou a luz. – Agarrou as barras da cela com suas mãos esguias e brancas. O grande rubi em sua garganta pareceu pulsar com esplendor próprio. – Portanto, diga-me, Sor Davos Seaworth, e diga-me a verdade: o seu coração arde com a luz brilhante de R’hllor? Ou é negro, frio e cheio de vermes? – Estendeu a mão através das barras e pousou três dedos no peito de Davos, como que para sentir a sua verdade através de carne, lã e couro.
[…]
Depois que os passos de Melisandre deixaram de ser ouvidos, o único som que ficou foi o arranhar das ratazanas. Gelo e fogo,  pensou. Branco e preto. Trevas e luz.
(A Tormenta de Espadas, capítulo 25, Davos III. Tradução de Jorge Candeias.)

Os envolvidos aqui são, obviamente, Davos Seaworth e Melisandre de Asshai. A sacerdotisa conhece a ameaça dos Outros, e identifica nela a mitologia dualista de opostos de sua religião. Isso não quer dizer, entretanto, que essa crença corresponda à realidade, ou que a existência de R’hllor e do Grande Outro esteja comprovada. Como todas as religiões, os r’hlloristas atribuem a certos fatos e eventos a atuação de seus deuses – o que não necessariamente é verdade. O importante aqui, porém, é que fica clara a interpretação de Melisandre de que gelo e fogo são inconciliáveis e antagônicos.

Davos and Melisandre
Davos e Melisandre em direção a Ponta Tempestade. Arte: David Fedorczuk.

Em O Mundo de Gelo e Fogo, além do próprio título, duas passagens mencionam os dois elementos. No capítulo dedicado ao Norte, mais especificamente em Os Senhores de Winterfell, o leitor conhece um acordo entre as casas Stark e Targaryen, firmado durante a Dança dos Dragões, que nunca se concretizou:

Discutimos anteriormente o papel da Casa Stark na Dança dos Dragões. Deve-se acrescentar que Lorde Cregan Stark recolheu muitas recompensas por seu leal apoio ao rei Aegon III… mesmo que não tenha ocorrido um casamento com um príncipe real em sua família, como fora acordado no Pacto de Gelo e Fogo, feito quando o príncipe condenado Jacaerys Velaryon voou a Winterfell em seu dragão.
(O Mundo de Gelo e Fogo – O Norte – Os Senhores de Winterfell. Tradução de Marcia Blasques.)

Durante a guerra civil, Jacaerys foi enviado a vários castelos ao norte de Pedra do Dragão para tentar conseguir apoio para a causa de sua mãe Rhaenyra. Essa passagem deixa claro que os termos para que Cregan Stark aceitasse apoiar os negros incluíam um casamento entre os Targaryen e os Stark, fato que não havia sido mencionado antes.

Essa nova informação, obviamente, gerou muita curiosidade entre os leitores, que começaram a especular sobre a possibilidade de Martin ter escrito mais coisas sobre o pacto, que teriam sido cortadas na versão final do Mundo de Gelo e Fogo (como aconteceu com várias outras passagens). Em uma entrevista interativa no reddit, Elio García e Linda Antonsson, co-autores do livro, responderam o seguinte:

Vocês podem dar alguma informação sobre o “Pacto de Gelo e Fogo”, mencionado apenas uma vez em O Mundo de Gelo e Fogo? Vocês tiveram alguma discussão sobre ele com George? Algum detalhe adicional sobre ele foi cortado do Mundo de Gelo e Fogo, que vocês saibam? Ou sempre foi só aquela única frase?

Por motivos de espaço, detalhes sobre o pacto – particularmente certos detalhes indecentes da parte de um certo Cogumelo, envolvendo o Príncipe Jacaerys supostamente se apaixonando por e secretamente se casando com a meia-irmã bastarda de Lorde Cregan – tiveram de ser cortados. Porém, a parte central dele é como diz no livro: Cregan concordou em apoiar Rhaenyra pela promessa de uma noiva Targaryen.

A menção mais relevante, porém – por se relacionar com declarações de George fora dos livros – está no capítulo “O Reino Glorioso”. Nele, Meistre Yandel faz uma espécie de conclusão da primeira parte de sua obra, em que reconta os eventos de Westeros em ordem cronológica, e diz:

O mundo conheceu o gelo na Longa Noite, e conheceu o fogo na Perdição. Da Costa Gelada até Asshai da Sombra, esse mundo de gelo e fogo revela uma história rica e gloriosa ‒ embora exista muito a ser descoberto.
(O Mundo de Gelo e Fogo – O Reinado Glorioso. Tradução de Marcia Blasques.)

É possível que nesta passagem Martin, Antonsson e García estejam apenas dando uma certa licença poética para seu historiador fictício discorrer genericamente sobre sua obra. Ele faz isso, porém, de uma forma que associa novamente o gelo aos Outros (a Longa Noite) e e o fogo indiretamente aos dragões, quando alude à Perdição de Valíria.

A menção que abordaremos a seguir talvez seja a mais importante, pois se refere ao título literalmente. Ela acontece, como não poderia deixar de ser, em um contexto de magia ativa, e é outra passagem envolvendo Daenerys Targaryen, desta vez em A Fúria dos Reis:

Seu primeiro pensamento, na vez seguinte em que parou, foi Viserys, mas um segundo olhar fez Dany mudar de ideia. O homem tinha os cabelos do irmão, mas era mais alto, e seus olhos eram de um tom escuro de índigo, e não lilases.
– Aegon – ele disse para uma mulher que amamentava um recém-nascido numa grande cama de madeira. – Que nome seria melhor para um rei?
– Fará uma canção para ele? – a mulher perguntou.
– Ele já tem uma canção. É o príncipe que foi prometido, e é sua a canção de gelo e fogo – ergueu o olhar quando disse aquilo, e seus olhos encontraram os de Dany, e pareceu que a via ali em pé através da porta. – Terá de haver mais um – ele disse, embora Dany não soubesse dizer se estava falando para ela ou para a mulher na cama. – O dragão tem três cabeças – dirigiu-se ao banco da janela, pegou uma harpa e seus dedos correram com leveza sobre as cordas prateadas.
Uma doce tristeza encheu o quarto enquanto homem, esposa e bebê se desvaneciam como a neblina da manhã, deixando para trás apenas a música a fim de apressá-la.
(A Fúria dos Reis, capítulo 48, Daenerys IV. Tradução de Jorge Candeias.)

Trata-se de uma entre várias visões que Daenerys tem na Casa dos Imortais, em Qarth, quando está sob efeito da bebida alucinógena (e aparentemente mágica) sombra da noite. Nessa visão, ela vê o irmão, Rhaegar, junto com sua esposa Elia e o recém-nascido filho Aegon (o que foi confirmado por George R. R. Martin).

Rhaegar Targaryen e Elia Martell, na visão de Daenerys na Casa dos Imortais. Arte: Urugeth.

Rhaegar era famoso por tocar uma harpa com cordas prateadas, e por isso, na visão, Elia pergunta a ele se não comporá uma canção para o filho Aegon (que ele assim nomeou na presunção de que ele se tornaria rei). Rhaegar responde que o filho é o “príncipe que foi prometido”, e que é dele a “canção de gelo e fogo” — exatamente como título da série.

Mais tarde, Daenerys, como o leitor, fica em dúvida sobre o que seria a tal canção, e questiona Jorah Mormont – a quem frequente recorre para informações sobre Westeros – a esse respeito:

É sua a canção de gelo e fogo, disse meu irmão. Tenho certeza de que era meu irmão. Não Viserys, Rhaegar. Tinha uma harpa com cordas de prata.
O franzir de testa de Sor Jorah aprofundou-se tanto que as sobrancelhas se juntaram. – O Príncipe Rhaegar tocava uma harpa assim – ele anuiu. – Viu-o?
Ela confirmou com a cabeça.
– Havia uma mulher numa cama, com um bebê no peito. Meu irmão disse que o bebê era o príncipe que havia sido profetizado e falou à mulher para chamá-lo Aegon.
– O Príncipe Aegon era herdeiro de Rhaegar, filho de Elia de Dorne – disse Sor Jorah. – Mas se era ele o príncipe da profecia, esta foi quebrada com o seu crânio, quando os Lannister atiraram sua cabeça contra uma parede.
– Eu me lembro – a voz dela soou triste. – Também assassinaram a filha de Rhaegar, a princesinha. Chamava-se Rhaenys, como a irmã de Aegon. Não havia uma Visenya, mas ele disse que o dragão tem três cabeças. O que é a canção de gelo e fogo?
– Não é nenhuma canção que eu tenha ouvido.
– Fui encontrar os magos esperando respostas, mas em vez disso deixaram-me com uma centena de novas perguntas.
(A Fúria dos Reis, capítulo 63, Daenerys V. Tradução de Jorge Candeias.)

Além de ser a primeira (e até o momento única) vez em que a canção de gelo e fogo é mencionada como um elemento dentro da própria história, ela é associada a profecias. O “princípe que foi prometido” é uma figura profética conhecida pelos Targaryen e também pelos r’hlloristas; Rhaegar, a princípio, acreditou ser ele mesmo essa figura (uma crença compartilhada com Meistre Aemon), e depois ficou convencido de que seu filho Aegon seria o tal herói.

Sua identidade ainda é desconhecida (se é que a profecia se concretizará realmente), mas o número de personagens que podem ser o tal príncipe é bastante restrito, devido a uma profecia da Fantasma de Coração Alto, que dizia que ele nasceria da linhagem de Aerys e Rhaella. Nesse sentido, apenas a própria Daenerys, Jon Snow (que tomaremos aqui como filho de Rhaegar e Lyanna, embora não haja confirmação categórica nos livros), Aegon (supondo que Jovem Griff seja mesmo o rapaz) ou algum descendente deles ainda podem ser revelados como a tal figura. Abordei o assunto neste artigo.

Daenerys and the Undying Ones
Daenerys em sua cena final na Casa dos Imortais. Arte: Marc Simonetti.

A questão, enfim, é que essa é a única vez em que o príncipe prometido é associado com a canção de gelo e fogo. Rhaegar, a partir de certo momento, se tornou aparentemente obcecado por profecias, e ele pode ter retirado a referência à tal canção desses escritos. É relevante também que, logo após essa menção, ele fale também sobre as três cabeças do dragão, outra profecia associada aos Targaryen (sobre a qual Meistre Aemon também fala nos livros). Se o termo “canção” se refere a composição musical ou uma narrativa sobre grandes eventos, também não sabemos.

Ainda quanto às visões de Daenerys em Qarth, outra passagem da personagem é de relevância ao analisarmos as menções a gelo e fogo nos livros. Esta ocorre quando ela chega ao cômodo onde estão os Imortais propriamente ditos, e pede a eles por explicações:

– Sou Daenerys Filha da Tormenta, da Casa Targaryen, Rainha dos Sete Reinos de Westeros – vão me ouvir? Por que não se mexem? Sentou-se, fechando as mãos no colo. – Concedam-me seus conselhos, e falem-me com a sabedoria daqueles que conquistaram a morte.
[…]
A resposta foi um suspiro tão fino como um bigode de rato. … Nós vivemos… vivemos… vivemos… disse o suspiro. Uma miríade de outras vozes sussurraram ecos. … e sabemos… sabemos… sabemos… sabemos…
– Vim em busca do dom da verdade – disse Dany. – No longo corredor, as coisas que vi… foram visões verdadeiras, ou mentiras? Coisas passadas ou coisas por vir? O que significavam?
… A forma das sombras… amanhãs ainda não feitos… beba da taça de gelo… beba da taça de fogo…
… Mãe de dragões… filha de três…
– Três? – ela não compreendia. … Três cabeças tem o dragão… gemeu o coro fantasmagórico dentro de sua cabeça, sem que nunca um lábio se movesse, nunca um sopro agitasse o ar azul e parado. … Mãe de dragões… filha da tormenta… Os sussurros se transformaram numa canção turbilhonante. … Três fogueiras tem de acender… uma pela vida, uma pela morte e uma pelo amor… Seu coração batia em uníssono com aquele que flutuava na sua frente, azul e putrefato. … Três  montarias tem de montar… uma para o sexo, uma para o terror e uma para o amor… Percebeu que as vozes se tornavam mais sonoras, e parecia-lhe que seu coração abrandava, o mesmo acontecendo com a respiração… Três traições conhecerá… uma vez por sangue, uma vez por ouro e uma vez por amor…
(A Fúria dos Reis, capítulo 48, Daenerys IV. Tradução de Jorge Candeias.)

As outras respostas dos Imortais são notoriamente enigmáticas, e é possível fazer interpretações e suposições sobre seus significados, mas não é esse o nosso intuito nesta análise. O importante aqui é dar atenção ao fato de que esses personagens, eminentemente mágicos e aparentemente conhecedores dos “grandes mistérios”, do passado e do futuro, mencionam novamente os dois elementos, em um contexto em que muitos dos maiores eventos envolvendo não apenas Daenerys, mas da história como um todo, são pressagiados.

Canções nos livros

Rhaegar Targaryen harp
Rhaegar Targaryen e sua harpa. Arte: Felicia Cano. © Fantasy Flight Games.

Já abordamos a menção expressa de Rhaegar Targaryen à “canção de gelo e fogo”, que Daenerys presencia na Casa dos Imortais. Porém, essa não é, é claro, a única menção a canções nos livros. Não vou, aqui, listar todas as instâncias em que a palavra ocorre no cânone – são mais de 450 –, mas muitas delas podem ser de interesse e merecem um pouco de atenção.

A imensa maioria das menções a “canção” ou “canções” é mesmo no sentido música, de composições da tradição e do folclore que contam histórias sobre personagens importantes e seus grandes feitos. Muitas vezes, elas são citadas como a única espécie de registro histórico sobre alguns eventos (mais ou menos como as canções medievais que mencionamos no primeiro item de nossa análise). Ainda assim, é possível extrair coisas interessantes no plano mágico em algumas passagens específicas.

Retornando brevemente a Rhaegar Targaryen, o leitor descobre mais algumas informações sobre o trágico Príncipe durante A Dança dos Dragões, por meio dos capítulos de Jon Connington, que fora seu escudeiro e amigo. Quando retorna a seu antigo castelo de Poleiro do Grifo, Jon se lembra do seguinte:

Príncipe Rhaegar estava voltando de Dorne, e ele e sua comitiva haviam permanecido ali por uma quinzena. Ele era tão jovem, então, e eu era mais jovem ainda. Meninos, nós dois. No banquete de boas-vindas, o príncipe pegara sua harpa de cordas prateadas e tocara para eles. Uma canção de amor e perdição, Jon Connington se lembrou, e toda mulher no salão chorava quando ele abaixou a harpa.
(A Dança dos Dragões, capítulo 61, O Grifo Renascido. Tradução de Marcia Blasques. Destaques no original.)

Seria possível ser essa a canção que anos mais tarde Rhaegar diria ser “a canção de gelo e fogo”? É uma possibilidade razoável, dados a temática visivelmente agridoce – de “amor e perdição” – que aparentemente permeia a composição. Curiosamente, essa temática se estende para série de livros de Martin como um todo.

Daenerys Jorah
Mirri Maz Duur canta e faz as sombras dançarem. Arte: Victor Manuel Leza Moreno, para a edição ilustrada de A Guerra dos Tronos.

Por outro lado, algumas menções a canções na série estão associadas a magia, e elas existem desde A Guerra dos Tronos. Quando Daenerys se convence de que Mirri Maz Duur pode, de alguma forma, salvar Drogo de seu ferimento infeccionado, a maegi diz:

Quando eu começar a cantar, ninguém deve entrar nesta tenda. A canção acordará poderes antigos e escuros.
(A Guerra dos Tronos, capítulo 64, Daenerys VIII. Tradução de Jorge Candeias.)

Dito e feito, a cena em que as “sombras dançam” ao som da cantoria da maegi é bastante macabra, e tem resultados mágicos verificáveis (apesar de não sabermos exatamente como é o processo – o que é proposital por parte de George).

Ainda no mesmo livro, quando Daenerys monta a pira funerária de Drogo, que inclui a mesma Mirri Maz Duur (viva), outra canção é mencionada envolvendo a maegi, no exato momento em que a khaleesi acende a fogueira. Esse evento é um dos momentos mais explicitamente mágicos em todos os livros publicados até agora. A passagem é a seguinte:

Jhogo a viu primeiro.
– Ali – disse ele numa voz abafada. Dany olhou e a viu, baixa, no leste. A primeira estrela era um cometa que ardia, vermelho. Vermelho de sangue; vermelho de fogo; a cauda do dragão. Não poderia ter pedido um sinal mais forte.
Dany tirou o archote da mão de Aggo e o enfiou entre as toras. O óleo pegou fogo de imediato, os arbustos e o mato seco um instante depois. Minúsculas chamas correram pela madeira como velozes ratos vermelhos, patinando sobre o óleo e saltando de casca para galho, de galho para folha. Um calor que aumentava soprou-lhe no rosto, suave e súbito como o hálito de um amante, mas em segundos se tornara quente demais para suportar. Dany deu um passo atrás. A madeira estalou, cada vez mais alto.
Mirri Maz Duur começou a cantar numa voz estridente e ululante. As chamas rodopiaram e contorceram-se, fazendo corridas umas com as outras pela plataforma acima. O ocaso ondulou quando o próprio ar pareceu liquefazer-se com o calor. Dany ouviu toras que se fendiam e estalavam. O fogo envolveu Mirri Maz Duur. A canção dela tornou-se mais sonora, mais estridente… e então arquejou, uma vez e outra, e a canção transformou-se num lamento trêmulo, agudo, sonoro e cheio de agonia.
(A Guerra dos Tronos, capítulo 72, Daenerys X. Tradução de Jorge Candeias.)

O bobo Cara-Malhada é outro personagem frequentemente associado a canções, e que pode também ter relações com a magia. Melisandre o identifica como uma criatura “perigosa”, e diz que o vê com frequência em suas chamas. Teoriza-se que muitas das canções aparentemente sem sentido e insanas do bobo possam ser na verdade mensagens proféticas (assunto que foi abordado aqui).

Por fim, retornamos à magia da terra. O pequeno povo que primeiro habitou Westeros, conhecido pelos homens como “filhos da floresta”, chama a si mesmo por outro nome, em sua língua original:

– Os Primeiros Homens nos chamavam de filhos – a pequena mulher disse. – Os gigantes nos chamavam de woh dak nag gran, o povo esquilo, porque éramos pequenos, rápidos e gostávamos de árvores, mas não somos nem esquilos nem filhos. Nosso nome na Língua Verdadeira significa aqueles que cantam a canção da terra. Antes que sua Língua Antiga fosse sequer falada, nós cantávamos nossas canções há dez mil anos.
(A Dança dos Dragões, capítulo 13, Bran II. Tradução de Marcia Blasques.)

Mais tarde, Bran continua na caverna do Corvo de Três Olhos, e passa a se referir aos filhos da floresta de “cantores” em seus próprios pensamentos:

De vez em quando, o som de uma canção vinha de algum lugar lá embaixo. Os filhos da floresta, a Velha Ama teria chamado os cantores, mas aqueles que cantam a canção da terra era o nome que eles mesmos se davam, na Língua Verdadeira que nenhum humano podia falar. Mas os corvos podiam. Seus pequenos olhos negros eram cheios de segredos, e as aves crocitavam para Bran e bicavam sua pele quando ouviam as canções.
A lua estava gorda e cheia. As estrelas giravam em um céu negro. A chuva caiu e congelou, e quebrou os ramos das árvores com o peso do gelo. Bran e Meera deram nomes àqueles que cantam a canção da terra: Cinza, Folha e Escamas, Faca Negra, Travaneve e Brasas.
(A Dança dos Dragões, capítulo 34, Bran III. Tradução de Marcia Blasques.)

No mesmo capítulo, Brynden explica a Bran sobre os videntes verdes dos filhos da floresta, e revela uma informação importante sobre eles:

– Eu pensava que os videntes verdes eram os feiticeiros dos filhos – Bran dissera. – Dos cantores, quero dizer.
– Em certo sentido. Esses que você chama de filhos da floresta têm olhos tão dourados quanto o sol, mas uma vez a cada muito tempo um deles nasce com olhos vermelhos como sangue ou verdes como o musgo em uma árvore no coração da floresta. Com esses sinais, os deuses marcam aqueles que escolheram para receber o dom. Os escolhidos não são robustos, ou seus rápidos anos sobre a terra são poucos, cada canção precisa ter seu equilíbrio. Mas, uma vez dentro da floresta, vivem mais, de fato. Mil olhos, uma centena de peles, sabedoria tão profunda quanto as raízes das árvores antigas. Videntes verdes.
(A Dança dos Dragões, capítulo 34, Bran III. Tradução de Marcia Blasques. Negritos meus.)

Children of the Forest
Os Filhos da Floresta (ou Aqueles que Cantam a Canção da Terra). Arte: Baleineau.

Na passagem destacada, houve um problema na tradução: o texto original diz “The chosen ones are not robust, and their quick years upon the earth are few, for every song must have its balance“, que significa “e seus rápidos anos sobre a terra são poucos, pois cada canção precisa ter seu equilíbrio”. De qualquer forma, é essa última frase que é bastante interessante, e remete à ideia de equilíbrio dessa magia da terra, já vista também n a alusão ao balanço entre os dois elementos opostos, que observamos anteriormente.

É notável que o nome de “cantores da canção da terra” não é apenas um título: Bran ouve os filhos da floresta literalmente cantarem. Se essas canções que ele entoam durante os eventos de A Dança dos Dragões têm realmente algum efeito mágico, ainda não foi possível determinar. Há, porém, na história, lendas sobre atuação mágica dos filhos (mais especificamente dos videntes verdes) cantando também. A situação ocorre quando os Primeiros Homens chegam a Westeros pela ponte natural do Braço de Dorne e causam destruição:

Os filhos revidaram o melhor que podiam, mas os Primeiros Homens eram maiores e mais fortes. Cavalgando em seus cavalos, vestidos e armados com bronze, os Primeiros Homens oprimiram a raça mais antiga onde quer que a encontrassem, pois as armas dos filhos eram feitas de ossos, madeira e vidro de dragão. Por fim, guiados pelo desespero, o pequeno povo se voltou para a feitiçaria e implorou que os videntes verdes detivessem a maré dos invasores.
E assim eles fizeram, reunindo-se às centenas (alguns dizem que na Ilha das Faces) e convocando os antigos deuses com canções, orações e sacrifícios macabros (mil homens cativos serviram de alimento para os represeiros, segundo uma versão do relato, enquanto outras afirmam que os filhos usaram o sangue de seus próprios jovens). E os antigos deuses se mexeram, e gigantes despertaram na terra, e toda Westeros sacudiu e tremeu. Grandes fendas apareceram na terra, colinas e montanhas desabaram e foram engolidas. E então o mar veio correndo, e o Braço Partido de Dorne foi partido e esfacelado pela força das águas, até que só algumas ilhas rochosas nuas restaram sobre as ondas. O Mar de Verão se juntou ao mar estreito, e o istmo entre Essos e Westeros desapareceu para sempre.
(O Mundo de Gelo e Fogo – Dorne – A Ruptura. Tradução de Marcia Blasques.)

Existem questionamentos dentro do próprio universo fictício sobre essa lenda. Um Arquimeistre sugere que a quebra do Braço de Dorne e o surgimento dos degraus se deveu ao derretimento das geleiras além do Mar Tremente. Diante do padrão cético que vigora na Cidadela, e de que o leitor tem contato com as criaturas que se julgavam extintas – os próprios filhos da floresta – a versão lendária da história se torna mais crível.

Fica claro, enfim, que a evocação de canções como instrumentos mágicos também está fortemente presente em As Crônicas de Gelo e Fogo, ainda que não possamos determinar bem como essa magia opera – o que é intencional da parte de George R. R. Martin.

Conclusões?

Pelo que podemos depreender das falas de George R. R. Martin, ele não pensou em um significado único e categórico para o título de sua série de livros. O autor tem, historicamente, um apreço especial pela palavra song (“canção”) nos nomes de suas obras, e esse foi mais um caso. Como se trata de uma fantasia ambientada em um mundo similar à Idade Média, a “canção” do título remete em um primeiro momento às canções de gesta do mundo real, que relatavam feitos históricos e grandiosos em um tom épico e poético.

Quanto ao gelo e o fogo do título, Martin disse, mais de uma vez, que existe um sentido mais óbvio para eles: a oposição entre os Outros, os seres inumanos que vêm do frio e inóspito Norte, e os dragões, vindos do leste. O autor também já admitiu, porém, que outras interpretações podem existir.

O gelo e o fogo são mencionados ao longo dos volumes da série, e várias vezes em núcleos que envolvem magia, mas as interpretações de personagens sobre os elementos divergem. A sacerdotisa e umbromante Melisandre, associada à magia de fogo oriental, os vê como opostos inconciliáveis. O núcleo dos Reed, por outro lado, que se relaciona à magia da terra, aos filhos da floresta e aos deuses antigos, aparentemente sugere a possibilidade de uma conciliação entre gelo e fogo.

Canções são mencionadas com frequência em As Crônicas de Gelo e Fogo. Na maioria das vezes, se referem a composições musicais que relatam feitos heroicos, mas também podemos observá-las associadas a magias de diversas naturezas. Em um contexto eminentemente mágico, ocorre uma menção literal a uma certa “canção de gelo e fogo” por personagens fortemente envolvidos com profecias: Rhaegar Targaryen e os Imortais de Qarth. Embora não saibamos a natureza exata dessa canção, a associação dela com grandes profecias, aparentemente centrais para o plano maior da história, é de grande relevância.

Suspeito que o próprio George nunca tenha planejado todos os sentidos possíveis para seu título de antemão, quando idealizou o plano geral de sua história. Acredito ser possível que alguns dos significados secundários tenham sido “descobertos” por ele mesmo durante a escrita de seus livros.

As temáticas associadas aos elementos ao longo dos volumes se relacionam com as da própria série de livros. Se o título, à primeira vista, sugere uma oposição, ao longo dos volumes vemos crescentemente situações de nuance e uma preocupação do autor com a rejeição ao antagonismo puro e simples. Assim, acredito que a interpretação conciliatória dos Reed esteja mais próxima da verdade que George quer transmitir do que a crença antagonística de Melisandre.

No final das contas, as palavras de George ecoam: não devemos tentar determinar um significado único e imutável para o título de As Crônicas de Gelo e Fogo. De qualquer forma, informação nunca é demais, e com sorte este texto pode ajudar mais leitores a embasarem suas hipóteses sobre o título com mais fundamentos.

O post Gelo e Fogo: os significados do título da obra de George R. R. Martin apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>
https://www.geloefogo.com/2018/07/gelo-e-fogo-analisando-o-titulo-da-obra-de-george-r-r-martin.html/feed 2 86797
História imaginária https://www.geloefogo.com/livros/historia-imaginaria?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=historia-imaginaria https://www.geloefogo.com/livros/historia-imaginaria#respond Sat, 16 Jun 2018 20:09:25 +0000 https://www.geloefogo.com/?page_id=88780 “História imaginária” ou “história falsa” é como George R. R. Martin chama o material escrito na forma de relatos históricos […]

O post História imaginária apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>
Edição brasileira de 2017 de O Mundo de Gelo e Fogo. Esse volume inclui uma árvore genealógica das Grandes Casas dos Sete Reinos, que a equipe do Gelo & Fogo ajudou a elaborar.

“História imaginária” ou “história falsa” é como George R. R. Martin chama o material escrito na forma de relatos históricos dentro do universo de As Crônicas de Gelo e Fogo. Atualmente, as obras que compõem a História imaginária são o livro O Mundo de Gelo e Fogo, publicado pela primeira vez em 2014, e os contos A Princesa e a Rainha (2013), O Príncipe de Westeros (2014) e Os Filhos do Dragão (2017), além de Fogo e Sangue (2018).

O que é “História falsa” ou “História imaginária”?

Os termos frequentemente criam confusões entre os leitores, principalmente em língua portuguesa, em que “história” tem múltiplos sentidos. A ideia central é que George R. R. Martin está tentando emular a produção histórica do mundo real: as obras são escritas pelo ponto de vista de um historiador dos Sete Reinos, registrando em um livro os eventos que acontecem e aconteceram no continente (e além).

O uso do termo “história” por George se refere ao estudo e registro de fatos passados (até porque, no inglês, o termo history serve para designar isso, ao contrário de story, que tem como sentido a narrativa).

O termo “falsa” não é usado porque essa História não seria verdadeira para o universo ficcional, como poderia parecer à primeira vista (embora os meistres historiadores também não sejam oniscientes e apresentem relatos conflitantes). George adjetiva sua História de “falsa” ou “imaginária” porque ela não trata do mundo real, e sim eventos passados de um mundo que não existe de verdade.

Ao longo dos anos, Martin usou com mais frequência o termo “História falsa” (“fake history”) para se referir a essas obras, mas mais recentemente passou a adotar também a nomenclatura “História imaginária”. Uma explicação dele pode ajudar a compreender os termos:

Alguns de meus fãs se opuseram ao termo “História falsa” que lancei informalmente em posts passados no blog e em anúncios sobre A Princesa e a Rainha e Filhos do Dragão e afins. Pois bem; vamos chamar este de “História imaginária” ao invés disso. O ponto essencial aqui é “História”. Amo ler livros de História populares, e foi isso que tentei fazer aqui. Não é ficção histórica, não é fantasia, não… mas algo mais parecido com o livro monumental de história dos Plantagenetas de Thomas B. Costain.

Escrita

Diante do tamanho do universo criado por Martin, em meados da década de 2000 sua editora teve a ideia de publicar um livro de referência sobre a história e a geografia do mundo fictício. Em 2008, o plano era que o livro fosse baseado nas informações que já constavam dos livros principais, que seriam compiladas por Elio García e Linda Antonsson (do Westeros.org). George ficaria responsável apenas por revisar e escrever algumas notas laterais complementares. O plano inicial era que o livro tivesse aproximadamente 50 mil palavras.

Na prática, para o livro de referência, García e Antonsson revisaram todo o cânone anterior e organizaram uma cronologia, e George preencheu as lacunas com suas notas laterais. Ele escreveu como um historiador dentro de seu universo, o Arquimeistre Gyldayn, que viveu 100 anos antes dos eventos das Crônicas. No entanto, Martin se empolgou ao escrever essas notas, e chegou a 300 mil palavras de material extra.

Como o texto de George excedeu o tamanho esperado para o livro, Elio e Linda fizeram versões resumidas do material de “Gyldayn”. Dentro do livro, criaram outro personagem-autor: Meistre Yandel, que vive na época de As Crônicas de Gelo e Fogo. O livro recebeu o título de The World of Ice and Fire (O Mundo de Gelo e Fogo), e nele Yandel faz um grande resumo de tudo o que a Cidadela conhece sobre história, geografia e cultura de Westeros e Essos. Por vezes, o texto faz referência ou cita diretamente os escritos originais de Gyldayn.

A Rainha Rhaenys montando Meraxes, de Douglas Wheatley. Arte para Fire and Blood.

O texto original de George deu origem também a outras obras. Algumas partes foram editadas na forma de contos independentes, publicadas em antologias: The Princess and the Queen (A Princesa e a Rainha), The Rogue Prince (O Príncipe de Westeros) e The Sons of the Dragon (Os Filhos do Dragão). O primeiro trata da Dança dos Dragões, uma guerra civil da Casa Targaryen, para a qual o segundo conto é uma espécie de prelúdio. O terceiro relata as vidas de Aenys I e Maegor, filhos de Aegon I Targaryen, o Conquistador. Esses “contos” são versões um pouco reduzidas do texto bruto de Gyldayn, mas atribuídos a ele.

Muito material bruto ainda restou, principalmente sobre a Casa Targaryen. Com isso surgiu a ideia de um novo livro, que seria completado e publicado depois que George terminasse As Crônicas de Gelo e Fogo. Porém, como grande parte do material já está escrito, decidiu-se que o livro será dividido em dois volumes. O primeiro foi lançado em novembro de 2018, com o título Fire and Blood (“Fogo e Sangue”). Ele inclui as versões completas dos três contos menores já publicados, e o material que Antonsson e García utilizaram para elaborar o texto principal de O Mundo de Gelo e Fogo.

Publicação

The Princess and the Queen foi publicado originalmente em 2013, na antologia Dangerous Women, editada pelo próprio George R. R. Martin e Gardner Dozois. Ela foi publicada no Brasil pela editora Leya em 2017, com o título Mulheres Perigosas. O conto de Martin foi intitulado A Princesa e a Rainha.

Em 2014, foi a vez de The Rogue Prince, publicado na antologia Rogues, também editada por Martin e Dozois. No Brasil, metade dela foi publicada em 2015 pela editora Saída de Emergência, com o título O Príncipe de Westeros e Outras Histórias. O conto recebeu o título de O Príncipe de Westeros.

The World of Ice and Fire foi publicado em outubro de 2014, e no Brasil em dezembro do mesmo ano, com o título O Mundo de Gelo e Fogo, pela editora Leya. Em 2017, o livro ganhou uma nova edição revista, com uma árvore genealógica das Grandes Casas de Westeros, que a equipe do Gelo & Fogo ajudou a elaborar.

The Sons of the Dragon foi lançado em 2017, na antologia The Book of Swords, editada por Gardner Dozois. No Brasil, será publicada pela Leya em 2018 como Crônicas de Espada e Feitiçaria, com o conto de Martin recebendo o título Os Filhos do Dragão.

Fogo e Sangue foi publicado nos Estados Unidos e no Reino Unido em novembro de 2018, e teve publicação simultânea no Brasil pela editora Suma.

O post História imaginária apareceu primeiro em Gelo & Fogo.

]]>
https://www.geloefogo.com/livros/historia-imaginaria/feed 0 88780